Não fosse o facto de (quase) todas as atenções estarem viradas para o risco real de um país sair da zona euro, a derrapagem de 30% do mercado chinês estaria a fazer mais manchetes na imprensa internacional. Apesar das várias medidas de estímulo anunciadas, de emergência, pelo banco central chinês, tanto os mercados do Continente chinês como as ações chinesas negociadas em Hong Kong não param de cair e já entraram no chamado bear market, que significa uma queda abrupta que arrisca agravar-se à medida que cada vez mais investidores fogem, tentando conter as perdas, de um mercado que já perdeu mais de 10 vezes o PIB anual grego.

O caos que se gerou na bolsa chinesa nas últimas semanas partiu de alguns sinais pouco animadores sobre a economia chinesa. Porém, ao contrário do que aconteceu com outras ocasiões, nos últimos anos, em que saíram indicadores económicos preocupantes sobre o crescimento, desta vez foi mais a desconfiança entre os investidores sobre a capacidade das autoridades de assegurar que um abrandamento da economia não se transforme na temida “aterragem brusca“.

Ações chinesas em Hong Kong derrapam 20% em pouco mais de um mês

HSCEI Index (Hong Kong Stock Exc 2015-07-07 10-57-10

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Os primeiros meses do ano foram de fortes subidas para a bolsa chinesa, com os investidores a anteciparem uma maior desregulação (e abertura ao exterior) do mercado do Continente chinês. Mas a maré mudou muito subitamente, a partir de final de maio. Para tentar conter a queda súbita das ações chinesas, o governo e o banco central avançaram com vários estímulos, sobretudo a partir da última semana de junho.

A saber, algumas das principais medidas: cortes da taxa de juro de referência e dos requisitos de reservas de capital que os bancos têm de assumir nos empréstimos; diminuição dos limites a que os fundos de pensões possam investir em ações; suavização das limitações à negociação de ações alavancada em dívida; e a criação de um novo fundo para estabilizar o mercado, alimentado por 21 corretoras locais, a partir de 4 de julho.

Apesar de todas estas iniciativas de estímulo, o mercado continua a cair. E os investidores ficaram ainda mais nervosos neste início de semana, depois de o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang ter divulgado um comunicado sobre as perspetivas para a economia chinesa que, para espanto dos investidores, não fazia qualquer referência à turbulência grave que se vive nas últimas semanas no mercado de capitais.

Li Keqiang limitou-se a dizer que tem toda a confiança de que as autoridades terão plena capacidade para responder aos desafios da economia. A declaração não pareceu convencer muitos investidores, que votaram com os pés e continuaram a vender ações chinesas a preços mais baixos, fazendo os índices afundarem esta terça-feira. O índice Shanghai Composite caiu 1,29% (cai 27% desde 12 de junho) e o índice de ações chinesas em Hong Kong derrapou 3,3%.