Jorge Vilda, emitiu um comunicado no qual classifica como “comportamento impróprio” a atitude de Rubiales. “Lamento profundamente que a vitória do futebol feminino espanhol tenha ficado prejudicada pelo comportamento impróprio que o nosso até agora máximo dirigente, Luis Rubiales, teve e que ele mesmo reconheceu”, afirmou o selecionador da equipa de futebol feminina de Espanha em comunicado à agência EFE ao final da tarde deste sábado, citado no El País.
A reação de Jorge Vilda acontece no mesmo dia em que a FIFA anunciou a suspensão provisória de Luis Rubiales de “todas as atividades relacionadas com futebol a nível nacional e internacional” por um período inicial de 90 dias, enquanto se aguardam as conclusões do processo disciplinar, segundo um comunicado divulgado este sábado. O presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF) deverá, também, por ordem da FIFA, abster-se de contactar, ele próprio ou através de terceiros, a jogadora Jenni Hermoso ou pessoas próximas a ela.
Em comunicado, a FIFA informa que o presidente do Comité Disciplinar, Jorge Ivan Palacio “decidiu hoje [sábado] suspender provisoriamente Luis Rubiales de todas as atividades relacionadas com futebol a nível nacional e internacional”. “Esta suspensão, que entrará em vigor a partir de hoje, é válida por um período inicial de 90 dias, enquanto se aguarda o processo disciplinar aberto contra Luis Rubiales, na quinta-feira, 24 de agosto”, lê-se ainda.
Para “preservar, entre outros fatores, os direitos fundamentais” de Hermoso, e a “boa ordem dos procedimentos disciplinares perante este órgão disciplinar”, Jorge Ivan Palacio emitiu diretivas adicionais em que ordena que Rubiales “se abstenha”, ele próprio ou através de terceiros, de contactar a jogadora ou pessoas próximas a ela. A mesma ‘ordem’ é aplicada à RFEF e respetivos funcionários.
A decisão já foi comunicada a Luis Rubiales, à RFEF e à UEFA. O Comité diz que não vai fornecer mais informação sobre o processo disciplinar até que seja tomada uma decisão final. “A FIFA reitera o seu compromisso absoluto de respeitar a integridade de todas as pessoas e, portanto, condena com o maior vigor qualquer comportamento contrário”, acrescenta o comunicado.
No comunicado, Jorge Vilda deixa duras críticas ao comportamento de Rubiales, afirmando que “é inaceitável e não reflete em absoluto os princípios e valores” que diz defender na sua vida, “no desporto em geral e no futebol em particular”. Por isso condena “sem paliativos qualquer atitude machista, distante de uma sociedade avançada e desenvolvida”. Para o selecionador, o sucedido criou “um clima indesejável, distante de tudo o que deveria ter sido uma grande celebração para o desporto espanhol e do desporto feminino”. Assume que, além de trabalhar para os êxitos desportivos, também faz parte do seu trabalho “promover iniciativas que fomentem a inclusão, o respeito e a igualdade”.
Vilda começa o comunicado, que está na íntegra no jornal A Marca, por lamentar que os acontecimentos da última semana tenham manchado a vitória da sua seleção. “Os acontecimentos que sucederam desde que Espanha ganhou pela primeira vez na sua história a Taça do Mundo Feminina e até ao dia de hoje tem sido um autêntico despropósito e criou uma situação sem precedentes, manchando um triunfo merecido nas nossas jogadoras e do nosso país”. O selecionador diz ter passado o conteúdo do comunicado ao atual presidente da RFEF e ao “até agora máximo dirigente” Luis Rubiales.
Entretanto, a RFEF informou, em comunicado, que o braço direito de Rubiales na Federação, Pedro Rocha Junco, vice-presidente, vai assumir a presidência interina durante este período, tal como preveem os estatutos da Federação. “Luis Rubiales disse que se vai defender legalmente junto das instâncias competentes, que tem plena confiança nos órgãos da FIFA e reitera que, desta forma, lhe está a ser dada a oportunidade de iniciar a sua defesa para que a verdade prevaleça e se prove a sua total inocência”, lê-se ainda, no comunicado.
A notícia da suspensão de Rubiales surge depois de, este sábado, a RFEF ameaçar processar as 79 jogadoras de futebol feminino que assinaram uma carta na qual se recusam a jogar pela seleção do seu país enquanto o presidente da federação, Luis Rubiales, permanecer no cargo.
No comunicado, divulgado este sábado pelo jornal espanhol Marca, a federação afirma que vai tomar as “ações legais necessárias”, lembrando as jogadoras que “jogar pela seleção nacional é uma obrigação para qualquer membro da federação convocado para fazê-lo”.
A reação surge na sequência do beijo entre Luis Rubiales e a jogadora espanhola Jenni Hermoso após a vitória de Espanha no Mundial há uma semana, beijo esse que Hermoso afirma não ter sido consensual. Pouco depois do incidente, a federação emitiu um comunicado no qual Hermoso afirmava que o beijo não só havia sido consensual como ela e Rubiales tinham um relacionamento próximo. Só que, de acordo com a jogadora, essas palavras foram escritas pela federação sem a sua permissão.
No comunicado emitido este sábado, a RFEF reproduz uma série de fotografias do momento, procurando mostrar que Hermoso levantou Rubiales e que não só concedeu o beijo como o instigou. O texto vai ao ponto de incorrer numa descrição pormenorizada do corpo de ambos em quatro fotografias da situação.
“A RFEF vai ativar todas as ações legais necessárias para defender a honra do Sr. presidente da RFEF”, lê-se ainda.
O beijo polémico tem colhido críticas um pouco por todo o mundo, sendo o caso já apelidado de #MeToo do futebol espanhol.
Parte da equipa técnica da seleção de futebol feminino coloca cargo à disposição da Federação
Em comunicado, onze elementos da equipa técnica da seleção nacional de futebol feminino espanhola anunciam que colocaram os cargos à disposição da Federação “face às atitudes e declarações inaceitáveis feitas pelo dirigente máximo da RFEF”, Luis Rubiales. Na nota publicada na tarde deste sábado, os signatários expressam a “condenação firme e categórica do comportamento de Rubiales em relação a Jennifer Hermoso”.
Entre os que colocaram o lugar à disposição está Montse Tomé, treinadora-adjunta, e outros elementos do staff técnico mais próximo do selecionador Jorge Vilda, que não está entre os signatários e parece, assim, ficar isolado.
No comunicado, os signatários denunciam que, durante o discurso de Rubiales na assembleia extraordinária da RFEF, que se realizou na sexta-feira, várias mulheres do staff técnico tenham sido “obrigadas a ficar na primeira fila, expondo a sua imagem” de forma a “dar a entender à sociedade e às jogadoras que partilhavam as opiniões do presidente da RFEF”.
Federação apaga do site comunicado em que acusava Hermoso de “deturpar a realidade”
A imprensa espanhola escreve que a RFEF apagou do site um novo comunicado em que acusava Jenni Hermoso de “deturpar a realidade”. Segundo o El País, o organismo insistia que o beijo “foi consentido” e alegava que há “graves contradições entre o relato inicial do que aconteceu e as graves acusações feitas por Hermoso”.
“Os factos são o que são e, por mais comunicados que tentem fazer sair para deturpar a realidade, é impossível alterar o que aconteceu”, lia-se no comunicado entretanto apagado, mas que foi publicado na íntegra pelo El Español.
A Federação insistia que dispõe de “toda a informação relevante” que comprova as afirmações de Rubiales e reiterava que iria pôr em marcha as medidas legais “contra todos aqueles que estão a deturpar a realidade e a cometer crimes muito graves”.
Notícia atualizada dia 26 de agosto, às 21h23, para incluir o comunicado de Jorge Vilda.