Pedro Passos Coelho aproveitou uma entrevista na redação do Jornal de Negócios no início desta semana para enviar um recado à administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD). O banco estatal ainda não começou a devolver o empréstimo do Estado, o que contrasta com o BPI e o BCP (que fizeram aumentos de capital que facilitaram esses reembolsos), pelo que o primeiro-ministro diz que a situação o “preocupa”.

“Era suposto que a CGD tivesse podido já obter resultados que permitissem fazer uma parte desse reembolso”, afirmou Pedro Passos Coelho a respeito do banco estatal, que esta quinta-feira apresenta os resultados relativos ao primeiro semestre. No primeiro trimestre, a CGD teve prejuízos de 8,9 milhões de euros, em parte devido à venda das participações maioritárias das seguradoras à chinesa Fosun. Os resultados comparáveis subiram, no primeiro trimestre, para 65,4 milhões de euros.

Passos Coelho reconhece, portanto, que esta situação o “preocupa”. “Preocupa-me e espero que a administração da Caixa não deixe de executar as operações que forem necessárias e que permitirão fazer o reembolso desse valor que foi investido na capitalização da Caixa e que o foi apenas na circunstância de o devolver com os juros que foram estabelecidos e que foram estabelecidos para todos os bancos nos quais o Estado entrou”, atirou o primeiro-ministro. A Direção-geral da Concorrência, o organismo da Comissão Europeia que zela pela concorrência nas economias europeias, está a seguir esta questão.

Marques Guedes diz que é uma “preocupação natural”

Horas depois da publicação da entrevista a Passos Coelho, que falou da “preocupação” do primeiro-ministro sobre a necessidade de a CGD aumentar os seus níveis de rentabilidade para devolver o empréstimo do Estado, Marques Guedes disse que o assunto também não foi discutido em Conselho de Ministros, mas considerou que se tratou apenas de uma referência de Passos Coelho a uma “preocupação natural”.

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“Não é mais do que isso, trata-se apenas de uma nota de que a CGD tem de melhorar os seus níveis de rentabilidade interna para que possa satisfazer os seus compromissos”, sustentou.

Governo maioritário. Passos concorda com Cavaco Silva

O primeiro-ministro acredita que o pedido de Aníbal Cavaco Silva de um governo maioritário é “perfeitamente compatível não apenas com a função do Presidente da República como, penso eu, com o mínimo de prudência e realismo que devemos ter nos próximos anos”. Passos Coelho promete bater-se para “ter um resultado tão próximo quanto possível da necessidade de ter um governo estável”.

Passos Coelho diz que é “muito provável que o contexto externo seja menos favorável durante esse período do que foi neste último ano, ano e meio”, se as taxas de juro e os preços do petróleo subirem.

Na entrevista ao Jornal de Negócios, o primeiro-ministro voltou, ainda, a defender a resolução imposta ao Banco Espírito Santo – “podíamos ter nacionalizado o banco, mas com a experiência que levamos nessa matéria, julgo que essa perda seria certa e imensa” – e recusou “brincar com o fogo” e comentar casos que têm feito correr tinta como a incerteza em torno do Montepio.

Sobre o tema quente da Grécia, Passos Coelho voltou a recusar um perdão de dívida imediato através de um corte do valor nominal da dívida grega. “No dia em que se disser ‘muito bem, então a gente perdoa a dívida da Grécia’, porque é que não há de perdoar também a de Portugal? Por esse princípio, acabou a zona euro”. Passos Coelho admite que se ajude a Grécia de outras formas mas só se “estivermos persuadidos” de que o terceiro resgate é para funcionar.

Passos Coelho mostrou, ainda, “desconfiança” face aos planos de François Hollande de criar um núcleo de países da “vanguarda” europeia.