“Lisboa, 21 de setembro de 2015. Hoje é segunda-feira. O tempo está maravilhoso!”, lia-se no quadro de ardósia verde de uma sala muito soalheira. Faltou escrever isto:

Lição número um. Sumário:

  • Inauguração da Escola Básica do Convento do Desagravo.
  • Visita às instalações.
  • Discursos.
  • Início do ano escolar.

No dia em que as aulas começaram para milhares de crianças, a Câmara Municipal de Lisboa inaugurou uma escola acabadinha de ter obras profundas, junto ao Panteão Nacional, num edifício onde em tempos funcionou um convento. O novo espaço educacional vem substituir cinco escolas do centro histórico da capital e tem condições de “excelência”, como sublinhou várias vezes o presidente da autarquia, Fernando Medina.

Para receber centenas de crianças do jardim-de-infância e do primeiro ciclo, o antigo Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento sofreu obras que deixaram o interior irreconhecível. As antigas celas monásticas são hoje amplas salas de aulas. Há também várias salas dedicadas à expressão artística e uma outra à expressão dramática. “Tem palco e tudo”, ouviu-se a vários circunstantes. No exterior há três recreios com campos de basquete, jogos da macaca e comboios de brincar. Apesar das muitas mudanças, o claustro mantém enormes painéis de azulejos com cenas da vida de Cristo e os rodapés também são decorados com azulejos. “Isto aqui é a coqueluche”, anuncia alguém à entrada da sala de música e auditório escolar, onde se mantiveram os estuques trabalhados nas paredes e um fresco no teto. Antes de ali chegar, Fernando Medina andou com vários vereadores da câmara a deambular pela nova escola, a distribuir sorrisos e a falar com as crianças. Na biblioteca, com vistas desafogadas sobre o Tejo, o presidente ajudou mesmo uma rapariga a encontrar os jogos no computador.

“Não há muitas escolas que tenham esta magia, esta alma”, admitia o autarca aos jornalistas já depois dos discursos que marcaram a cerimónia. Um dos mais emocionados foi o de Natalina Moura, presidente da Junta de Freguesia de São Vicente (onde a escola fica), que afirmou ser “uma mulher de afetos”. Citando Sophia, Luís de Camões e Natália Correia, a autarca comparou esta inauguração ao primeiro dia em que foi à escola. E não se esqueceu de António Costa:

Para memória futura, quero deixar aqui expresso o meu bem-haja para os que sonharam transformar este espaço em defesa da escola pública. Estou a falar do primeiro decisor, o ex-presidente da câmara, António Costa, e toda a equipa que o acompanhou.”

A outra referência ao ex-presidente da câmara viria da boca do atual presidente, Fernando Medina, que dedicou ao secretário-geral do PS um “agradecimento evidente, que sobressai”:

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Quero destacar o nome do presidente António Costa, que teve a visão de perceber que a centralidade da escola pública é essencial na política de desenvolvimento da cidade.

É dele essa liderança, esse ímpeto.”

Comer saudável não significa passar fome

Nesta “escola absolutamente excecional”, como a classificou a vereadora da Educação Graça Fonseca, foi feito um investimento de 3,8 milhões de euros que fazem parte de um pacote de 102 milhões que a câmara destinou à reabilitação e à construção de diversos equipamentos educativos. Só para esta semana, estão previstas mais três inaugurações: a Escola Básica Sarah Afonso na terça; a Escola Básica dos Lóios na quarta e o Jardim de Infância de Belém na quinta-feira. “Temos de fazer da escola pública um pilar absolutamente essencial das políticas públicas”, disse Medina.

No seu discurso, o presidente da câmara falou não só de Lisboa mas também do país.

Só a escola pública, só a qualidade da escola pública, só a excelência da escola pública, só a exigência da escola pública é que está à altura de permitir que Portugal resolva os nossos problemas de desenvolvimento e também os nossos problemas de coesão.”

A escola agora aberta no Convento do Desagravo “tem meninos de mais de 30 nacionalidades”, disse Medina, que lembrou a diversidade social, cultural e étnica de Lisboa e, em particular, do centro da cidade, onde “residem munícipes com dificuldades severas”. Foi a pensar nisso (mas não só) que a câmara escolheu este novo espaço para lançar um programa de alimentação saudável, que quer ver alargado a outras escolas do concelho.

O Trinca, assim se chama o programa, era “um sonho que eu perseguia há mais de 10 anos”, afirmou o chef Nuno Queiroz Ribeiro, recebido pelas crianças do pátio com evidente entusiasmo, entre gritos de “chefe! chefe! chefe!”. O Trinca está focado em “trabalhar com produtos nacionais, trabalhar com os pais, as famílias e os miúdos para comerem melhor”, salientando a “importância da produção nacional e do combate ao desperdício alimentar”, disse Graça Fonseca, que espera que a iniciativa se alargue brevemente a outras zonas da cidade.