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Estreia-se em Portugal no próximo dia 25 a terceira temporada de uma das séries que mais prémios tem conquistado desde 2022: The Bear, a saga de um chef que herda o snack bar em Chicago do irmão que se suicidou. O facto de ser muito premiada não é, em si, polémico, já que é uma série bastante consensual. O que dá azo a alguma discussão é vencer em categorias de comédia. Será a série mais stressante dos últimos tempos, de facto, uma obra humorística?

Só este ano, The Bear ganhou prémios nas categorias de comédia nos Emmy (contra Ted Lasso, Abbott Elementary ou Only Murders In The Building), nos Globos de Ouro ou Critics Choice Awards. E porque está a criação de Christopher Storer nomeada como comédia? A resposta curta é: porque foi assim que os produtores a inscreveram. Segundo as regras originais dos Emmy, as comédias tinham 30 minutos e os dramas 60. Como a saga do chef fica ali na meia hora, a sua categoria acabaria por ser a ligada ao humor. Em 2022, a Academia de Televisão descartou esta diretriz e agora são simplesmente os produtores a escolher como inscrevem os seus candidatos às nomeações. Ainda existem critérios para qualificar (ou desqualificar), como a consistência dos temas ou o tom.

A isto junta-se o facto de que a tendência dos últimos anos tem sido a de apostar cada vez menos em sitcoms clássicas, aqueles produtos com cenários limitados e risos enlatados que passavam nos canais de sinal aberto, e cada vez mais em obras mais pessoais e autorais. Foi assim com Louie CK e Louie, com Aziz Ansari e Master Of None, com Donald Glover e Atlanta, só para dar alguns exemplos. A série de humor mais assente no exagero e na tarimba constante de piadas entrou um pouco em vias de extinção. Se o que melhor serve a narrativa de alguns episódios é a tristeza e a contemplação, assim seja.

Daí, provavelmente, que os fãs de comédia temam que The Bear simbolize de vez que as comédias não precisam de ter graça por aí além desde que tenham outras qualidades, desde que sejam desconcertantes. A própria noção de género pode ter os dias contados, se pensarmos que a aproximação a um certo realismo implica que as séries sejam mais como a vida: nem totalmente comédia, nem totalmente drama. Bastiões recentes de séries dramáticas têm momentos de humor. Succession consegue ser muito divertido; em Guerra dos Tronos, Tyrion Lannister, interpretado pelo ator Peter Dinklage, tornou-se num preferido dos fãs pelas suas respostas sarcásticas.

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Mas para provar que ainda há comédias a apostar no seu formato mais inequívoco, deixamos 12 sugestões que não deixam espaço para dúvidas. Episódios curtos, elencos coesos, um objetivo claro de fazer rir, um sambar na cara do ridículo e do sarcástico. Todas elas são séries com episódios novos estreados ou disponibilizados em Portugal ao longo do último ano.

“Loot”

Apple TV+

Vai na segunda temporada, sem certezas de uma terceira. Com a veterana do SNL Maya Rudolph no papel da recém-solteira Molly Wells, cujo divórcio de um bilionário do ramo da tecnologia tornou a terceira mulher mais rica do mundo. Sem saber bem o que fazer ao dinheiro e aborrecida por não ter como passar os dias, decide administrar o dia-a-dia da fundação de caridade que a própria se tinha esquecido que fundou, para desgosto de seus funcionários. Criada por Matt Hubbard e Alan Michael Yang, ambos guionistas de Parks And Recreation.

“Trying”

Apple TV+

Acabou recentemente a quarta temporada, estando a quinta por confirmar — isto apesar do último episódio lançar vários ganchos. Trying é uma série britânica sobre Nikki e Jason, um casal com um grande desejo de ter filhos, mas com dificuldades de fertilidade. O casal resolve adotar, mas o processo está longe de ser uma linha reta. É claramente uma comédia, apesar de ter muitos momentos comoventes. A quarta temporada começa com um salto temporal de seis anos, mostrando novos desafios. Com Esther Smith e Rafe Spall.

“Such Brave Girls”

FilmIn

Uma temporada já emitida, a segunda confirmada. Criada pela também protagonista Kat Sadler e originalmente emitida pela BBC com produção da A24, é descrita pela autora como “uma sitcom sobre trauma”. O papel da irmã da personagem principal é também desempenhado pela sua irmã na vida real, a hilariante e desconcertante Lizzie Davidson. Such Brave Girls mostra a família disfuncional das irmãs Josie e Billie e da sua mãe solteira Deb, cada uma delas com uma pior capacidade de julgamento e de autoestima que a outra.

“Big Boys”

Filmin

Tem duas temporadas, a última das quais estreada em Portugal recentemente. O protagonista é Dylan Llewellyn, que os fãs de sitcoms britânicas reconhecerão de Derry Girls, dando corpo à vida real do criador da série, Jack Rooke. Vencedor dos BAFTA nas categorias de escrita para comédia, Big Boys relata a vida de Jack na faculdade, meses após a morte do pai e numa altura em que se vê a braços com admitir a sua homossexualidade. É uma poderosa e divertida história sobre a amizade.

“Abbot Elementary”

Disney+

Aguarda-se que a qualquer momento a Disney+ se lembre de estrear por cá a terceira temporada, já há muito exibida nos Estados Unidos. Tendo como pano de fundo a escola pública de um bairro pobre de Filadélfia, a personagem principal é a professora da segunda classe (estou velha e ainda digo assim, larguem-me) Janine Teagues, desempenhada pela criadora da série, Quinta Brunson, a mulher negra mais jovem de sempre a ser nomeada para um Emmy (ultimamente, tem perdido estes prémios para – adivinharam — The Bear). Janine tem como missão de vida marcar positivamente os seus alunos, enquanto claramente expia os traumas da sua própria infância.

“Extraordinary”

Disney+

Tem duas temporadas, aguarda-se a terceira, até porque acabou também com um enorme gancho. Série de estreia da novata Emma Moran, começou por ser o seu trabalho final de um Mestrado em Guionismo. Extraordinary é uma comédia profundamente britânica sobre um mundo de super-heróis diferente dos que vimos até agora. É uma espécie de anti-Marvel. Nele, toda a gente desenvolve um superpoder no momento em que faz 18 anos. Toda a gente menos Jen, que aos 25 continua sem uma aptidão e sem um rumo na vida. O ponto diferencial de Extraordinary é mesmo o quão normal e parecida com a nossa é esta realidade. As pessoas desinteressantes continuam desinteressantes. Citando Morgen, “muitas das histórias de super-heróis focam-se no ser excecional; aqui é uma celebração de ser só OK”.

“Girls5Eva”

Netflix

Tem três temporadas disponíveis, sendo ainda incerto se terá uma quarta. Começou por ser um original da Peacock, o serviço de streaming da NBC, mas na última temporada mudou-se para a Netflix. Criada por Meredith Scardino, guionista de Unbreakable Kimmy Schmidt, Girls5Eva segue a reunião de quatro dos cinco elementos de uma girl band que foi popular durante de algum tempo do início dos anos 2000, antes de caírem no esquecimento como one hit wonders. Insatisfeitas com o rumo atual das suas vidas, aproveitam que um sample de um dos seus temas é usado no sucesso de um rapper emergente para cavalgarem onda do comeback e tentarem encontrar o sucesso musical novamente. Todo o elenco é incrível, mas destaque para a atriz e cantora da Broadway Sara Beth Bareilles, que dá uma inesperada dignidade a temas com letras bem palermas.

“Still Up”

Apple TV+

Tem e terá apenas uma temporada, já que foi, entretanto, cancelada. Still Up acompanha uma relação de amizade que ocorre apenas durante as madrugadas. Lisa (Antonia Thomas), uma ilustradora presa numa relação monótona, e Danny (Craig Roberts), um jornalista agorafóbico, sofrem ambos de insónias crónicas. Enquanto o resto do mundo dorme, eles conversam durante horas, noite fora, apesar de apenas se terem visto pessoalmente uma vez. O The Guardian considerou-a a melhor série do ano, mas mesmo assim não se livrou do cancelamento.

“The Afterparty”

Apple TV+

É uma série que mistura comédia com crime, pelo que cada uma das duas temporadas se debruça na resolução de um homicídio, com os mesmos protagonistas. A Apple já avisou que a série fica por aqui. É uma criação de Christopher Miller, metade da dupla criativa por detrás dos filmes da Lego e do mundo de Spider Verse. A primeira temporada passa-se numa festa de reunião de ex-alunos da escola secundária, com cada episódio a mostrar a perspetiva de uma personagem diferente sobre o que aconteceu naquela noite. Já a segunda temporada ocorre no dia após um casamento, seguindo a mesma fórmula de mostrar a perspetiva de cada convidado sobre a festa e os eventos que a antecederam. Tem um elenco com vários atores habituados a séries de comédia e a stand up, com Tiffany Haddish e Sam Richardson à cabeça.

“What We Do In the Shadows”

Max

Começou por ser um filme em 2014 que juntava as mentes criativas de Jemaine Clement (metade dos saudosos Flight Of The Conchords) e de Taika Waititi (realizador e guionista de Jojo Rabbit e dos filmes de Thor). Hoje é uma série de cinco temporadas, com a sexta a caminho. Os vampiros Nandor, Laszlo e Nadja, juntamente com o vampiro sugador de energia Colin Robinson, partilham uma velha mansão em Staten Island, mantida pelo criado humano Guillermo. Os vampiros entram constantemente em conflito com o mundo moderno, com outros seres sobrenaturais ou entre si, enquanto Guillermo se esforça para equilibrar sua lealdade a Nandor com seu desejo de se tornar ele próprio num vampiro, complicando-se ainda mais quando descobre que é descendente do caçador de vampiros Van Helsing.

“Astro-Mano”

RTP Play

Estreia recente da plataforma online do canal do Estado, dentro do projeto RTP Lab, Astro-Mano é uma pérola que merecia estar a passar mesmo na RTP linear. Além de ser uma comédia, arrisca-se com muita competência num terreno pouco explorado em Portugal, o da ficção científica. Os seis episódios da primeira temporada estrearam de uma só vez em junho, sendo que por cá nunca se sabe muito bem se vão existir segundas temporadas seja do que for. Astro Mano (Filipe Santos) é um extraterrestre cujo valor não é reconhecido no seu planeta. Quando aterra por estas bandas, trava uma improvável amizade com Pedro (Pedro Ferreira), um rapaz com falta de confiança que esconde um amor pela colega de quarto Leonor (Catarina Secca e Cruz). Além de protagonistas, Pedro e Filipe são também os criadores da série — e Pedro é ainda parte da banda humorística Pepperoni Passion, responsáveis pela banda sonora.

“Mythic Quest”

Apple TV+

Tem três temporadas; a quarta foi atrasada pela greve dos guionistas, mas está finalmente em andamento. Quando não está ocupado a comprar clubes de futebol no País de Gales (é ver o documentário Welcome To Wrexham), Rob McElhenney cria e protagoniza ótimas séries de comédia. Mythic Quest não tem o mesmo sucesso de Always Sunny in Philadelphia, mas tem graça, coração e talvez um dos episódios mais divertidos feitos sobre e durante a pandemia de Covid 19. A série acompanha um estúdio fictício de jogos de vídeo que produz Mythic Quest, um popular MMORPG (sigla para “Massively Multiplayer Online Role-Playing Game”, um tipo de jogo de vídeo em que um grande número de jogadores interage entre si em um mundo virtual). A empresa está prestes a lançar um pacote de expansão quando entram em conflito o diretor criativo e a engenheira-chefe. Muito geek, mas perfeitamente compreensível e saboroso para não-.