E vão três. Este sábado, com o segundo lugar na corrida sprint do Grande Prémio do Qatar onde só precisava de três pontos, Max Verstappen sagrou-se tricampeão mundial de Fórmula 1 e prolongou um percurso absolutamente hegemónico que começou na última corrida de 2021 e não tem fim anunciado.
Aos 26 anos, o piloto neerlandês superou Alonso ou Fittipaldi e juntou-se à elite da prova rainha do automobilismo, igualando Jack Brabham, Jackie Stewart, Niki Lauda, Nelson Piquet e Ayrton Senna com três títulos mundiais. A partir de agora, no cume da montanha que ainda existe para escalar, só estão Sebastian Vettel (quatro), Alain Prost (quatro), Juan Manuel Fangio (cinco), Lewis Hamilton (sete) e Michael Schumacher (sete).
Num ano em que ainda pode quebrar vários registos históricos – incluindo alguns que já lhe pertencem –, Max Verstappen fez o absoluto xeque-mate depois da surpresa de 2021 e da afirmação de 2022. Pelo meio, a Aston Martin nunca se tornou rival, a Ferrari falhou naquilo a que se tinha proposto e a Mercedes não teve capacidade para ser obstáculo. E Max, o predestinado da Red Bull, só teve de se preocupar consigo mesmo.
A hegemonia que nunca esteve em causa e que ainda tem espaço para crescer
Os números são impossíveis de contrariar. Em 16 corridas realizadas em 2023, Max Verstappen venceu 13. Só não ganhou na Arábia Saudita e no Azerbaijão, onde Sergio Pérez foi mais rápido, e no recente Grande Prémio de Singapura, onde Carlos Sainz foi o primeiro a cruzar a meta, naquele que foi o único fim de semana desde o início do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 em que a Red Bull não festejou e o neerlandês não acabou pelo menos no pódio no final da prova (quinto).
O poderio do RB19, de forma geral, e de Max Verstappen, de forma particular, tornou-se a linha constante num Mundial onde a principal decisão ficou tomada este sábado, no Qatar. Ao ser 2.º na corrida sprint do Grande Prémio qatari que Oscar Piastri venceu, o piloto neerlandês nem sequer prolongou qualquer tipo de indecisão para domingo e sagrou-se desde logo tricampeão mundial de Fórmula 1, podendo celebrar na corrida propriamente dita.
Passaram menos de dois anos desde que Verstappen, no final de 2021, destronou Lewis Hamilton para vencer um polémico Grande Prémio de Abu Dhabi e conquistar o Mundial pela primeira vez. Seguiu-se um ano de 2022 que foi de verdadeira afirmação, com o neerlandês a carimbar o bicampeonato também em outubro e ainda no Japão, mas a verdade é que até esse ponto tinham existido cinco corridas que não conseguiu ganhar – incluindo três em que nem sequer foi ao pódio, no Bahrain, na Austrália e na Grã-Bretanha. 2023, porém, foi o ano da hegemonia absoluta.
Os dois triunfos nas quatro primeiras provas do ano nem sequer foram ilustrativas para tudo aquilo que acabou por acontecer. De Miami a Monza, dos EUA a Itália e de maio a setembro, Max Verstappen ganhou dez corridas consecutivas – algo que nunca tinha sido alcançado na Fórmula 1, com Sebastian Vettel a ser quem ficou mais perto com nove vitórias seguidas em 2013 e também na Red Bull.
Se é certo que a Red Bull tem claramente o melhor carro, os melhores engenheiros e a melhor equipa, também é certo que a temporada não tem sido igual para os dois pilotos que a representam: apesar das duas vitórias nas quatro primeiras corridas da temporada, Sergio Pérez tem estado claramente abaixo do nível exigido pela marca austríaca e até já ouviu críticas do próprio Verstappen, mantendo-se a dúvida sobre a permanência do mexicano no lugar que atualmente ocupa.
Horner vs Wolff. A rivalidade entre dois diretores que agita a Fórmula 1 fora de pista
Ainda assim, aquilo que poderá ser um problema para Pérez só demonstra o monstruoso momento de forma do agora tricampeão mundial – algo que foi recentemente detalhado pelo próprio Christian Horner, o diretor da Red Bull. “Acho que existe superioridade em relação a todos, neste momento. Tem sido extraordinário e aquilo que estamos a testemunhar com o Max, neste momento, é algo que se vê uma vez numa geração. Como todos os grandes pilotos, ele tem aquela capacidade extra. Aquilo que estamos a ver nele, neste momento, é uma capacidade extra para ler os pneus, para ler a corrida, para extrair absolutamente tudo o que é importante. É ótimo de ver. Acho que está no topo da forma dele, neste momento”, explicou o britânico em agosto, numa linha de pensamento corroborada por Fernando Alonso.
“Acho que a Red Bull e o Max estão completamente conectados este ano. São extraordinários em tudo o que fazem. A Red Bull tem o carro mais rápido e está a cuidar dos pneus melhor do que todos os outros. Tem os melhores arranques, as melhores pit stops. São os melhores em qualquer área. Os melhores na velocidade de ponta, na performance a baixa velocidade, no DRS. Não existe qualquer aspeto daquele carro que possa ser igualado, neste momento. E com o Max é igual. É o melhor na qualificação, o melhor na corrida, o melhor nos duelos”, atirou o piloto espanhol.
Em resumo, a superioridade total e absoluta de Max Verstappen prendeu-se com a capacidade de quase nunca cometer erros e de aproveitar todos os erros que os outros cometeram. No fim, nunca existiram dúvidas de que era o melhor piloto a pilotar o melhor carro. E 2023 tornou-se o xeque-mate de um 2022 vencedor na sequência de um 2021 histórico.
A rivalidade que não chegou a acontecer e o esvaziamento da Ferrari
Apesar de Max Verstappen já ser tricampeão mundial numa altura em que ainda faltam cinco corridas até ao final da temporada, a verdade é que o início do Campeonato do Mundo até abriu a porta à possibilidade de uma nova rivalidade – com a surpreendente Aston Martin, que fez quatro pódios nas primeiras cinco provas do ano.
Com Fernando Alonso a perseguir a primeira vitória no espaço de uma década e Lance Stroll a procurar afirmar-se no lote da próxima grande geração de pilotos, a Aston Martin reforçou-se ao longo da paragem entre temporadas ao contratar vários elementos da estrutura da Red Bull, incluindo Dan Fallows, o antigo chefe de aerodinâmica dos austríacos.
“É certo que aquilo que [Dan] Fallows tinha na cabeça não pode ser apagado. A cópia não está proibida, mas como é que podes copiar tão detalhadamente sem teres a documentação do nosso carro? Tivemos três Red Bull no pódio, só que o último tem um motor diferente. Eu disse ainda antes da corrida que o [Fernando] Alonso seria terceiro. A luta com [Lewis] Hamilton foi incrível. Foi um duelo duro, mas justo. Algo ao nível da velha escola. Se o Fernando tivesse largado mais à frente, seguramente que tinha sido uma ameaça para nós”, explicou Hermut Marko, o principal consultor da Red Bull, depois do inaugural Grande Prémio do Bahrain em que o espanhol ficou no pódio atrás de Verstappen e Pérez.
A ameaça de rivalidade, porém, ficou só mesmo pela metade. Fernando Alonso leva sete pódios esta temporada, é certo, mas a Aston Martin ainda não conseguiu colocar Lance Stroll nos três primeiros lugares de uma corrida nem levar o piloto espanhol à tal primeira vitória em 10 anos. Ao mesmo tempo, e num ano em que se acreditava que a Ferrari iria representar o maior obstáculo à hegemonia da Red Bull, a scuderia italiana afundou e provavelmente vai ver Carlos Sainz e Charles Leclerc ficarem atrás de Lewis Hamilton e do próprio Alonso na classificação geral.
A Ferrari leva apenas cinco pódios em toda a temporada, sendo que pelo meio teve o mérito de ter sido a única equipa a roubar uma vitória à Red Bull com o recente triunfo de Carlos Sainz em Singapura. No ano de transição depois da saída de Mattia Binotto e a entrada de Frédéric Vasseur, a equipa não conseguiu dar continuidade ao arranque positivo da temporada passada e foi somando erro atrás de erro conforme os fins de semana foram passando, com Charles Leclerc a viver um 2023 azarado e sem grandes chances de sucesso.
Na Mercedes, apesar de as feridas de quem foi campeão mundial sete vezes consecutivas ainda estarem a ser curadas, o ano correu melhor do que o expectável. Mesmo com um início mais complexo, Lewis Hamilton leva cinco pódios em 2023 e George Russell acrescenta outro à contabilidade, com os dois pilotos britânicos a colocarem a equipa no segundo lugar do Mundial de Construtores – à frente da Ferrari, da Aston Martin e da própria McLaren. Ainda assim, e como é evidente em praticamente todas as corridas, o ritmo do Mercedes está muito longe de poder competir com o RB19.
Vitórias, pódios, pontos: os recordes que ainda podem ser alcançados em 2023
Max Verstappen já quebrou um dos recordes mais impressionantes da história da Fórmula 1, com as tais 10 vitórias consecutivas que destronaram a incrível época de Sebastian Vettel em 2013, mas a verdade é que o piloto de 26 anos ainda pode conquistar mais registos históricos até ao final da temporada.
Logo à partida, o máximo de vitórias num único Mundial – um recorde que já lhe pertence, com as 15 que carimbou em 2022. Se ganhar o Grande Prémio do Qatar este domingo, soma a 14.ª vitória em 2023, ficando a apenas uma de igualar o registo e a duas de o superar. Ainda assim, e tendo em conta que as atuais temporadas de Fórmula 1 têm mais etapas do que as do século XX ou até do início do século XXI, torna-se mais relevante falar sobre a percentagem de vitórias.
Atualmente, a maior percentagem de vitórias da história da Fórmula 1 pertence a Michael Schumacher, que em 2004 ganhou 13 das 18 corridas do Mundial (72.2%). Atualmente, com 13 triunfos em 16 provas, Max Verstappen tem uma impressionante percentagem vitoriosa de 81.25%, estando muito perto de anular por completo o registo do piloto alemão que dura há praticamente duas décadas.
Seguem-se os pódios – outro recorde que também já lhe pertence, com os 18 que conquistou em 2021, o ano em que se sagrou campeão mundial pela primeira vez. Atualmente, em 16 corridas, leva 15, estando muito bem encaminhado para melhor o próprio registo. Para trás e depois do quinto lugar em Singapura, porém, já ficou a possibilidade de quebrar o recorde de Michael Schumacher, que em 2002 conseguiu terminar no pódio de todas as 17 etapas do Mundial.
Por fim, os pontos. E também um recorde que já é dele. Max Verstappen amealhou 454 pontos em 2022, na temporada passada, e entrou para este Grande Prémio do Qatar já com 400 com ainda seis corridas e três sprints por disputar, o que significa que deve novamente aumentar o máximo de pontos conquistado por um único piloto num Campeonato do Mundo de Fórmula 1.