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Os números falam por si. Dúvidas houvesse sobre a dimensão da vitória do lado republicano nesta Super Terça-Feira, bastava olhar para o número de delegados conquistados só nesta noite: mais de 600 para Donald Trump, pouco mais de 20 para Nikki Haley.
Quanto ao Partido Democrata, o domínio de Joe Biden também foi claro — vencendo em todos os estados com exceção da pequena Samoa Americana. Mas é sempre assim nas primárias quando o candidato ocupa nesse momento a presidência. O verdadeiro recorde pertence a Donald Trump, que conquista um feito nunca visto no Partido Republicano: um não-incumbente chegar ao final da Super Tuesday praticamente sem derrotas (até agora perdeu para Haley apenas em Washington DC e no Vermont, faltando ainda conhecer os resultados finais no Utah e no Alasca).
Não é por isso de admirar que William Galston, um dos maiores teóricos da Ciência Política nos Estados Unidos, lhe chame “o terceiro grande transformador” da História do partido, depois de Dwight Eisenhower e Ronald Reagan. “E, tal como os dois anteriores, as consequências ficarão connosco durante bastante tempo”, previu numa entrevista à CNN.
A noite eleitoral desta terça-feira consolidou assim a tendência que já se fazia sentir há semanas: a de que esta vai ser uma corrida à presidência entre Donald Trump e Joe Biden. E os dois candidatos refletiram essa ideia nas suas reações, não mencionando sequer Haley. A candidata que se opõe a Trump não discursou esta noite e persiste a dúvida sobre se irá desistir da corrida. Mas, neste momento, tal pouco importa. O combate para chegar à Casa Branca, a 5 de novembro, vai ser um remake de 2020 e os dois candidatos estão prontos para o combate.
Eleitores de Nikki Haley podem ser decisivos a 5 de novembro
A única breve referência de Trump no seu discurso ao facto de ainda ter uma adversária dentro do seu próprio partido foi um comentário sobre “a unidade”: “Queremos ter unidade, vamos tê-la e isso vai acontecer muito depressa”, garantiu o ex-Presidente.
Para Trump, a continuação de Haley na corrida tem sido um espinho encravado, com fontes da campanha a revelarem aos jornalistas que o candidato se tem queixado da persistência da adversária.
Mas a principal mossa que a antiga embaixadora dos EUA nas Nações Unidas pode causar-lhe não é tanto se continuar na corrida, mas sim se, quando desistir, recusar apoiá-lo (algo que, até agora, se recusou a confirmar). Uma grande parte da base de apoio de Haley são eleitores independentes e republicanos que não gostam de Trump e que podem seguir a toada da sua candidata no confronto final contra Biden.
Como alertava o republicano Karl Rove na Fox News na noite de terça-feira, continua a ser preciso “unir o Partido Republicano”. “Isso depende se ele pára ou não de fazer coisas como dizer que ela tem cérebro de pássaro e ameaçar banir permanentemente os que fazem donativos para a campanha dela”, avisou o estratega. Quanto mais tempo o período de campanha interna se arrastar, mais ataques continuarão a voar e mais difícil será uma possível reconciliação entre os dois candidatos (e os seus eleitorados) a tempo do dia 5 de novembro.
A campanha de Joe Biden está consciente disso e pretende explorar todas as fissuras junto dos eleitores de Haley. Eles são “possíveis de agarrar” e estão “desanimados com Trump”, alertavam à CNN fontes da campanha ao longo da noite. O Politico ilustra onde podem ser agarrados: na Carolina do Norte, por exemplo, só 21% dos que votaram em Haley dizem que vão votar no nomeado do partido a 5 de novembro, seja ele quem for; já na Virginia, metade dos que votaram em Haley aprovam a prestação de Joe Biden como Presidente.
Para Trump, quanto mais tempo passa sem uma desistência e apoio claro de Haley à sua candidatura, mais a situação se complica. Não há dúvidas sobre o seu domínio entre o eleitorado republicano neste momento; mas os poucos dentro dele que o rejeitam podem ser decisivos no confronto com Biden.
Biden e Trump partem para o ataque. E política externa torna-se arma de arremesso
As reações de Biden e Trump aos seus triunfos nesta Super Terça-Feira também deixam claro como cada um está pronto para partir para o ataque, aproveitando as respetivas plataformas para atacar repetidamente o adversário.
Em comunicado, Biden mal referiu as suas vitórias nesta noite eleitoral, aproveitando todo o texto para se focar em Trump. “Vamos voltar a permitir que Donald Trump nos arraste novamente para o caos, divisão e escuridão que definiu o seu mandato?”, questionou. Acusando o adversário de ter um plano “extremista”, Biden não poupou nas palavras: “Ele está determinado a destruir a nossa democracia e a retirar os nossos direitos fundamentais”.
Do outro lado, Trump fez exatamente o mesmo. Num discurso a partir do seu resort em Mar-o-Lago, na Florida, declarou à plateia que Biden é “o pior Presidente da História”. E, para além de se referir aos temas da inflação e da imigração que estão no topo das preocupações dos eleitores de acordo com as sondagens, cavalgou um tema que tem estado no topo da agenda mediática; a política externa.
“Comigo não houve guerras”, decretou relativamente ao seu mandato como Presidente. Trump elencou aquilo que diz ter sido uma série de sucessos nesta área quando estava à frente dos destinos do país: o combate ao Estado Islâmico, as cimeiras com a Coreia do Norte, a redução do número de mortes de soldados americanos no Afeganistão e o “respeito” que diz existir na altura por parte dos outros países face aos Estados Unidos.
“Se eu fosse Presidente, não teríamos a Rússia a atacar a Ucrânia, não teríamos Israel atacado”, garantiu. Pode haver dúvidas sobre esse exercício especulativo, mas não há dúvidas de que a campanha para as primárias já acabou. Daqui para a frente, mesmo que Haley não desista formalmente, já só há dois nomes na corrida: Joe Biden e Donald Trump.