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Um resultado eleitoral “excecional”. Nem os melhores cenários das sondagens indicavam uma noite tão boa para o Partido Popular (PP). Recuperou o poder em seis comunidades autónomas, ganhou vários municípios, conquistou vários bastiões tradicionalmente socialistas e assistiu a uma derrota em toda a linha de Pedro Sánchez — foi um “KO” ao chefe do governo espanhol, como chegou a descrever fonte dos populares ao jornal El País. Em contrapartida, os socialistas saem como os grandes derrotados destas eleições e veem o controlo do poder local mais débil. Numa reação imediata aos resultados deste domingo, Pedro Sánchez anunciou, já esta segunda de manhã, uma mudança no calendário eleitoral, com a convocação de eleições gerais para 23 de julho — e não em dezembro, como estava previsto.
Numas eleições autónomas e municipais que são interpretadas como uma antecâmara para as gerais (que agora se disputam dentro de dois meses), Pedro Sánchez vê agora a sua reeleição mais ameaçada do que nunca. Tendo assumido grande protagonismo durante a campanha eleitoral, o chefe do governo espanhol encarou este ato eleitoral como um “referendo” à sua aprovação política. E o resultado foi francamente negativo com os socialistas a já admitirem uma “mudança de estratégia”.
É precisamente nessa lógica que surge a reação do chefe do governo espanhol. Depois de um encontro com o Rei de Espanha, Sánchez anunciou a realização de uma reunião do Conselho de Ministros “para dissolver o parlamento e convocar eleições gerais, usando a prerrogativa que a Constituição atribui ao presidente do Governo”. Na curta declaração feita a partir do Palácio de Moncloa, o líder socialista disse assumir, “pessoalmente”, a responsabilidade pela onda eleitoral que resultou numa derrota pesada para o PSOE e “cujo significado vai mais além” de uma leitura regional. “O método através do qual eliminamos as nossas dúvidas é a democracia”, razão pela qual “os espanhóis devem ter a palavra para definir o rumo político do país”, concluiu, para justificar o pedido de dissolução do parlamento e o acelerar do calendário eleitoral.
Por sua vez, aproveitando o efeito da “onda azul” (a cor do partido), o líder do PP declarou, ainda na noite de domingo, a abertura de um “novo ciclo político”, após o resultado que definiu como “excecional”. “Amanhã começa o trabalho para as eleições gerais”, afirmou Alberto Núñez Feijóo. Mas há um elefante na sala para os populares. Apesar das vitórias, a força partidária vai ter de chegar à acordo com o partido de extrema-direita, o VOX, em várias comunidades autónomas e municípios.
O VOX tem motivos para celebrar. “É a primeira pedra da reconquista”, assinalou o líder do partido, Santiago Abascal, no discurso da vitória. Consolidando-se como terceira força política e com isso ganhando preponderância em várias localidades, o partido de extrema-direita terá, em muitas delas, de chegar a acordo com o PP, num primeiro teste para uma possível coligação governamental em dezembro.
O panorama político espanhol mudou nestas eleições regionais: o PP rouba a hegemonia ao PSOE e o VOX ganha força. Além disso, esta noite pode ter representado o início do fim do Unidas Podemos, que obteve uma derrota em toda a linha, ficando fora de muitos parlamentos autónomos e municípios. E este ato eleitoral também terá marcado o fim definitivo do Ciudadanos enquanto força política.
A “vitória contundente” do PP, que nota um “enorme desejo de mudança”: “A próxima vai ser a nível nacional”
O PP obteve 31% das intenções de voto nestas eleições regionais, contabilizando mais de sete milhões de votos. A força de centro-direita conseguiu angariar quase mais dois milhões de votos face a 2019, ano em que se ficou pelos 22%. “É uma vitória contundente”, assumiu Cuca Gumarra, secretária-geral dos populares.
Em termos concretos, o PP conseguiu uma maioria absoluta em Madrid, quer na comunidade autónoma, quer na autarquia da capital. Contrariamente a todas expectativas, Isabel Díaz Ayuso conseguiu um resultado ainda melhor do que em 2021: garantiu a maioria absoluta (prescindindo do VOX) e passou de 65 lugares no executivo autónomo para 71. “Não defraudámos ninguém. Trabalhámos para todos os madrilenos e agradeço imenso o voto de confiança”, destacou a responsável política durante o discurso da vitória.
Na autarquia, em que as sondagens davam a possibilidade de haver uma maioria de esquerda, o autarca da capital, José Luis Martínez-Almeida, conseguiu igualmente uma maioria absoluta. “Ganhámos, arrasámos. O meu obrigado”, frisou o popular, que prometeu que não vai “dececionar os eleitores”. “Isto não é o ponto de chegada é o ponto de partida”, sinalizou ainda, numa clara alusão à leitura que estes resultados podem ter em termos nacionais.
Quer Isabel Díaz Ayuso, quer José Luis Martínez-Almeida fizeram questão de enfatizar que o “que acontece em Madrid ressoa em toda a Espanha”. “Hoje começou a derrogação e a marcha-atrás do sanchismo”, sentenciou o autarca madrileno, ao passo que a presidente da comunidade autónoma disse acreditar que começou um “novo momento” na cena política espanhola.
Fora da capital, o PP ganhou as eleições nas comunidades autónomas de Aragão, Baleares, Cantábria, Comunidade Valenciana, La Rioja e Múrcia. Ainda assim, em todas elas, necessitará do apoio do VOX para governar. O mesmo acontece na Estremadura, em que o PSOE acabou por ficar em primeiro lugar sem maioria absoluta, o que permitiu uma coligação entre as duas forças de direita.
Para além disso, em cidades que eram tidas como bastiões dos socialistas, como Sevilha ou Valência, o Partido Popular saiu por cima. Na Andaluzia, esse resultado foi ainda mais expressivo com praticamente todos os municípios a virarem à direita.
#EleccionesEspaña el mapa de las autonómicas de España ???????? dejaría de estar teñido de rojo por el momento: el PP logra ser el más votado en Cantabria, Navarra, La Rioja, Aragón, Comunidad Valenciana, Baleares, Murcia y Madrid. pic.twitter.com/0A0qFRAcyo
— Radio Caracas Radio (@RCR750) May 28, 2023
Felicitando a todos os vencedores populares, Alberto Núñez Feijóo ressaltou que o PP — um partido “moderado”, como vincou — voltou a recuperar a sua “melhor versão” e voltou a ser “aquele partido que sintonizava com a maioria de Espanha”. “Ganhou o centralismo frente ao radicalismo, o respeito em frente aos insultos e o interesse geral em frente dos interesses minoritários”, indicou o líder da oposição, que reforçou que o PP venceu de forma “limpa” e “democrática”.
É, realmente, um regresso às vitórias por parte do PP. Após sete anos de derrotas sucessivas, os populares parecem ter saído de uma fase menos positiva, resultante da derrota em 2018 de Mariano Rajoy. Mas o partido quer mais. Cuca Gumarra nota que existe um “enorme desejo de mudança” na sociedade espanhola e definiu o PP como a “única alternativa” para satisfazer esse desejo político.
Tendo no horizonte as eleições gerais espanholas, a secretária-geral do PP manifestou-se confiante de que a “próxima mudança vai ser este ano a nível nacional”, assegurando que o partido está “absolutamente preparado” para voltar ao poder. “Vamos tornar uma realidade essa Espanha com que milhões de espanhóis sonham”, prometeu.
Para dezembro, a expectativa dos populares é tomar o poder. Os resultados deste domingo dão um novo ânimo ao partido, se bem que muito provavelmente tenha de governar juntamente com o VOX. Os partidos mantêm alguns diferendos e a formação política de extrema-direita já deixou bem claro que não passará um “cheque em branco” ao PP.
Os “maus resultados” do PSOE
Em sentido inverso, o PSOE sofreu uma verdadeira derrocada. Obtendo 28% dos votos, os socialistas perderam quase meio milhão de votos face a 2019. Em termos práticos, o partido de Pedro Sánchez perdeu alguns dos seus bastiões e perdeu o controlo de seis comunidades autónomas: Aragão, Baleares, Cantábria, Comunidade Valenciana, Estremadura e La Rioja.
Os socialistas ainda conseguiram salvar os móveis nas Astúrias, em Castila La-Mancha (ainda que tenha sido taco-a-taco com a direita) e Navarra. Apesar de ter vencido nas ilhas Canárias, o PSOE está dependente de com quem o segundo classificado — a Coligação Canária, assumidamente de centro-direita — se quiser coligar.
“Foi um mau resultado, não era o que esperávamos”, assumiu a porta-voz do PSOE, Pilar Alegría, que não escondeu a desilusão com os resultados eleitorais. “Esta noite esperávamos mais e não vamos ocultá-lo: aspirávamos a uma maioria progressista, graças à mobilização do eleitorado progressista.” Tentando explicar as razões do insucesso eleitoral, a responsável salientou que o PP “absorveu” os votos do partido centrista Ciudadanos.
No entanto, e ainda antes de ser conhecida a movimentação de Sánchez, Pilar Alegría sublinhou que o PSOE necessita de uma “reflexão” para entender o que correu mal. “A vontade é clara: o PSOE assume que deve fazer as coisas melhores, vamos esforçar-nos mais para conseguir ganhar a confiança do eleitorado nas próximas eleições”, assinalou a porta-voz, que garantiu que os socialistas continuarão a trabalhar com Espanha — mais ainda com “mais intensidade”.
O resultado destas eleições colocam Pedro Sánchez numa posição vulnerável, partindo já em desvantagem para as próximas eleições gerais. Vendo o seu principal parceiro de coligação (Unidas Podemos) praticamente desaparecer da cena política, o chefe de governo espanhol vai ter agora de repensar a estratégia para poder ter hipótese de ser reeleito já em julho.
VOX: a consolidação do partido e a “chave” para vários governos
O partido de extrema-direita, fundado em 2013, obtém um resultado eleitoral bastante positivo. Passa de quinta para a terceira força política mais votada numas eleições regionais (dobrando a percentagem de votos de 3,5 para 7%) e assegura a presença em todas as comunidades autónomas, entrando igualmente em vários municípios, inclusivamente Barcelona.
Servindo como prova para aferir a consolidação da força política, estas eleições mostraram que o VOX não é um fenómeno passageiro na política espanhola. Aliás, o líder do partido destacou o crescimento dos resultados eleitorais — “foi o partido que mais cresceu” —, assim como ressaltou a implementação local que conseguiu obter.
“É o único partido de discurso nacional e é um partido absolutamente necessário para construir uma alternativa aos socialistas, comunistas, separatistas e terroristas”, afirmou Santiago Abascal.
O secretário-geral do VOX, Ignacio Garriga, definiu o papel de partido como “decisivo” e funcionando como a “chave” para retirar a esquerda de vários municípios e de vários parlamentos autónomos. E deixou um recado ao PP. O VOX não vai deixar que o “menosprezem ou o pisem”, contudo, garantiu vai estar à “altura das circunstâncias” para que a direita consiga governar.
O início do fim do Unidas Podemos e a irrelevância do Ciudadanos
Estas eleições foram um duro revés para o Unidas Podemos. O partido piorou os resultados em todas as comunidades autónomas e deixa, praticamente, de integrar as coligações alargadas com o PSOE, à exceção de Navarra. Em termos municipais, a força partidária de esquerda perdeu, entre outros, a representação na autarquia de Madrid e de Valência.
Na sua conta pessoal do Twitter, a líder do partido, Ione Belarra, lamentou que a “direita e a extrema-direita tenham hoje mais poder”. “Pusemos todo o nosso entusiasmo e a nossa valentia, mas os nossos resultados são maus”, assumiu, acrescentando que agora é tempo de “trabalhar”. “Às vezes retrocedemos, mas esta força política vai estar sempre ao serviço das pessoas.”
La derecha y la extrema derecha tienen hoy aún más poder. Hemos puesto todo nuestro entusiasmo y nuestra valentía pero nuestros resultados son malos. Ahora toca ponerse a trabajar porque aunque a veces retrocedamos, esta fuerza política va a estar siempre al servicio de la gente.
— Ione Belarra (@ionebelarra) May 28, 2023
Mas o futuro não se avizinha animador para o Unidas Podemos. As tréguas com a antiga integrante do partido, a vice líder do governo espanhol Yolanda Díaz, terminaram este domingo. Nas eleições gerais, em dezembro, a número dois do executivo vai concorrer por uma nova força política, criada recentemente: o Sumar. Haverá, por conseguinte, dois partidos ideologicamente idênticos no panorama político, vaticinando-se uma possível fragmentação dos votos.
Por último, o Ciudadanos cai na mais completa irrelevância. O partido não conseguiu qualquer representação nas doze comunidades autónomas e ficou de fora de importantes municípios, como Madrid. “Não é o resultado esperado, sem dúvida nenhuma. O que mais nos preocupa é o que se espera neste país. Os extremos têm mais poder”, defendeu Mariano Fuentes, vice-secretário-geral.
Afigura-se, agora, muito improvável que o Ciudadanos consiga manter os nove parlamentares no Congresso dos Deputados. O partido vai debater a estratégia que vai seguir para as próximas eleições, esperando adiar aquilo que parece ser a inevitável dissolução.