Enviada especial do Observador em Budapeste, Hungria
Budapeste. Com cerca de um milhão e 800 mil habitantes espalhados por 525 metros quadrados, a capital da Hungria é a nona maior cidade da União Europeia e a área metropolitana da cidade concentra cerca de 33% da população total do país. É aqui, na cidade que Danúbio divide entre Buda e Peste, que a Seleção Nacional vai montar o quartel-general a partir desta quinta-feira e, se tudo correr bem, até às meias-finais do Euro 2020, altura em que todas as equipas ainda em competição pegam nas bagagens e viajam para Londres.
Ora, numa cidade dividida a meio — e que tem nesse pormaior uma das principais características que a definem –, Portugal decidiu não ficar nem em Buda nem em Peste. Seguindo de forma literal o provérbio que diz que no meio é que está a virtude, a Seleção vai ficar hospedada na Ilha Margarida, ou Margit-Sziget em húngaro, o território de cerca de 2,5 quilómetros que fica em pleno Danúbio e entre as duas metades da cidade. Com vários espaços verdes e uma clara propensão para a prática de desporto ao ar livre, a ilha será a casa da equipa de Fernando Santos e o hotel Ensana Grand Margitsziget Health Spa Hotel, de quatro estrelas e meia, já começou a ser decorado com as cores portuguesas.
A unidade hoteleira, que fica num edifício construído no século XIX, está a meia hora do Aeroporto Ferenc Liszt, a 15 minutos da Puskás Arena e ainda a 13 minutos do Parlamento húngaro, um dos locais de passagem obrigatória em Budapeste. Ou seja, e se excluirmos a viagem para Munique para defrontar a Alemanha no dia 19 de junho, Portugal acaba por ter uma proximidade confortável em relação aos principais pontos de interesse e a tranquilidade de que beneficiou no Euro 2016 e que escasseou nos Mundiais do Brasil ou da África do Sul. Apesar da deslocação à Alemanha a meio da fase de grupos, que não deixa de quebrar algumas rotinas, a Seleção Nacional vai defrontar Hungria e França num contexto favorável e só precisará de realizar um percurso que poderia ser feito a pé.
Euro 2020. As seleções que já foram vacinadas, como Portugal, e os casos mais complexos
No que toca aos treinos, a equipa de Fernando Santos vai preparar as partidas no estádio do Vasas FC, que fica a nove minutos do hotel. O Vasas FC, que atua no llovszky Rudolf Stadion, é um dos principais clubes da Hungria mas está a atravessar um período particularmente difícil da sua história: apesar de ter um palmarés que inclui seis campeonatos húngaros e presenças na Taça dos Campeões Europeus nos anos 50 e 60, a equipa desceu à segunda divisão em 2017/18 e ainda não conseguiu regressar ao principal escalão, tendo ficado no terceiro lugar da segunda liga na época que agora terminou.
As ligações do Vasas FC a Portugal são escassas mas são possíveis. Ferenc Mészáros, histórico guarda-redes húngaro que foi campeão pelo Sporting e ainda representou Farense e V. Setúbal, fez toda a formação no clube de Budapeste e foi de lá que saltou para os leões, em 1981. Já Quim Machado, que mais recentemente orientou o Vilafranquense, treinou o Vasas FC durante dois meses, em 2012, tendo depois regressado ao comando do Feirense. Agora, 40 anos depois de Mészáros e quase dez depois de Machado, os balneários do clube húngaro vão respirar Portugal: o local onde a equipa de Fernando Santos vai preparar a maioria das partidas já está pronto para receber a Seleção, decorado com as cores portuguesas, com os números de cada jogador em cada compartimento e até com algumas passagens do hino nacional nas paredes. Ordenados precisamente de forma numérica, não deixa de ser curioso que Bernardo Silva e Bruno Fernandes, rivais em Manchester, ficarão lado a lado, e que Sérgio Oliveira, do FC Porto, estará pertinho de Nuno Mendes e João Palhinha, duas das figuras da época bem sucedida do Sporting.
Todas as conferências de imprensa da Seleção Nacional vão decorrer no pavilhão junto ao estádio do Vasas FC, de forma presencial mas com lotação limitada. Na véspera dos jogos e nos dias dos jogos, porém, a comitiva portuguesa tem de obedecer às regras estipuladas pela UEFA — o que significa que as conferências de antevisão e de rescaldo serão somente virtuais, que as flash interviews estão restritas aos meios de comunicação social que detêm direitos de imagem e que não existem as habituais zonas mistas.
Em relação à pandemia, de uma forma mais prática, Portugal vai seguir as regras da UEFA que já têm estado em vigor nas competições europeias ou na Liga das Nações e realizar baterias de testes antes das respetivas partidas — uma situação que será alterada, naturalmente, se algum jogador testar positivo ou se o plantel for exposto a um adversário infetado, como aconteceu recentemente com Sergio Busquets. As deslocações serão mais limitadas do que aquilo que é habitual nas fases finais de Europeus ou Mundiais e a escolha da Ilha Margarida também estará relacionada com isso mesmo, para garantir um maior isolamento e a possibilidade de realizar os habituais passeios na zona imediatamente circundante ao hotel.
Para além de Busquets, a seleção espanhola também registou o caso positivo de Diego Llorente ao longo da semana e começou a treinar em bolhas separadas de oito jogadores que trabalharam em dois relvados distintos. Confrontado com este problema no início da semana de arranque do Europeu, Luis Enrique chamou 11 jogadores apenas para treinar e sem os convocar: Kepa, Raúl Albiol, Pablo Fornals, Carlos Soler, Brais Méndez, Rodrigo Moreno, Álvaro Fernández, Óscar Mingueza, Marc Cucurella, Bryan Gil, Juan Miranda, Gonzalo Villar, Pozo, Brahim Díaz, Zubimendi, Yeremy Pino e Javi Puado interromperam todos as férias de que já estavam a desfrutar e viajaram para Madrid para ajudar a seleção na preparação das primeiras partidas da fase de grupos. O último jogo de preparação, na terça-feira e contra a Lituânia, acabou por ser disputado pelos Sub-21 mas atualmente, na véspera do primeiro dia do Euro 2020, a situação espanhola parece bem mais controlada.
Segundo a imprensa do país, Sergio Busquets está assintomático, em casa, e não vai sair da lista de Luis Enrique. O selecionador já garantiu, em conferência de imprensa, que vai esperar pelo médio do Barcelona e que espera que este já possa marcar presença no segundo jogo da fase de grupos, contra a Polónia, falhando apenas a estreia contra a Suécia. Já Diego Llorente, ao que parece, não terá passado de um falso positivo — o central do Leeds foi submetido esta quinta-feira a novas avaliações e, ao que tudo indica, poderá regressar aos treinos já esta sexta-feira. Depois de tudo isto, a seleção espanhola vai ser vacinada também esta sexta-feira, mesmo à beira da participação no Euro 2020, numa decisão que só teve luz verde do governo espanhol na terça-feira e que, segundo o presidente da Federação Luis Rubiales, já tinha sido solicitada há cerca de dois meses.
A vacinação da comitiva espanhola será levada a cabo pelas Forças Armadas do país e os elementos que já tiverem estado infetados serão imunizados com a vacina da Pfizer, enquanto que os restantes vão receber a dose única da Janssen. Espanha vai assim tornar-se a mais recente seleção do Euro 2020 a vacinar os jogadores, depois de Portugal — que anunciou tê-lo feito na sequência do caso de Busquets, num processo que decorreu em maio –, Polónia, Bélgica e Itália. Alguns jogadores franceses também estão vacinados, como é o caso dos que atuam no PSG, e os atletas ingleses terão recusado o cenário de serem prioritários e passarem à frente dos restantes cidadãos. O que significa que a outra seleção que também registou casos positivos de Covid-19 durante a semana, a Suécia — Kulusevski e Mattias Svanberg, que vão ambos falhar a estreia contra Espanha –, também não vacinou o plantel.
Depois de ter chegado a Budapeste ao final da tarde desta quinta-feira, Portugal defronta a Hungria na Puskás Arena no dia 15. A 17 e antes do jantar, viaja para Munique e cruza-se com a Alemanha no dia 19, regressando à capital húngara logo após o jogo para treinar novamente em Budapeste no dia 20. A 23, realiza o último encontro da fase de grupos, frente a França. Depois da chegada ao aeroporto Ferenc Liszt, a bordo de um avião decorado com verde e vermelho e a inscrição “Vamos todos, vamos com tudo”, a Seleção Nacional foi recebida por algumas dezenas de adeptos junto ao hotel na Ilha Margarida. Aí, Fernando Santos acabou por prestar algumas declarações ao Canal 11, garantindo que leva “sonhos” na bagagem mas também “convicções”.
“Sonho também, mas temos de ter convicção, se não o sonho vai desvanecer. Vimos bem preparados, com uma equipa coesa, que está unida. Estão com muita vontade. Trabalhámos bem, vamos continuar o trabalho aqui na Hungria nestes dias, preparar o próximo jogo, que é o mais importante. Temos mais três ou quatro dias, penso que vamos apresentar-nos em condições. Os que vêm a seguir não conta. A Hungria joga em casa, tem ambições também, estamos prontos (…) Acredito que vamos ter mais portugueses do que aquilo que pensávamos. Felizmente abriu um pouco e há, pelas informações que tenho, pessoas a quererem vir. Em França, eles eram mais do que nós mas os nossos eram melhores do que eles. Estão aqui outra vez. Contamos com eles e com todos os que estão em Portugal”, atirou o selecionador nacional, que terminou com a ideia de que a “missão” é “ganhar e chegar longe, longe, longe”.
Na Hungria, a Seleção Nacional deve atuar perante mais de 60 mil espectadores, já que a organização húngara foi das primeiras a garantir à UEFA que tinha condições para receber público nas bancadas e pretende deixar o Puskás Arena praticamente cheio. Já na Alemanha, na Allianz Arena, o estádio do Bayern Munique só poderá ser preenchido até 22% da capacidade global, algo como 15.400 pessoas.
Essa discrepância entre Budapeste e Munique é apenas um dos exemplos do que acontece com as restantes cidades-sede deste Euro 2020. Depois de Dublin e Bilbao terem sido excluídas pela organização por não garantirem a presença de público nas bancadas, com os jogos a serem atribuídos respetivamente a São Petersburgo e Sevilha, todas as cidades apresentaram a capacidade máxima de adeptos que poderão receber. O Parken Stadium, em Copenhaga, será o estádio com menos público, cerca de 11.250 adeptos, seguido de perto pelos 12.000 de Hampden Park, em Glasgow, e da Johann Cruyff Arena, em Amesterdão. A Arena Nationala, em Bucareste, também só vai até às 13 mil pessoas, um número distante das 31 mil esperadas em Baku ou das mais de 30 mil previstas em São Petersburgo. Sevilha e Roma acabam por ficar num patamar intermédio, com lotações de 20 mil e 16 mil, respetivamente, e Londres ainda não fechou os planos para as meias-finais e a final. Wembley vai receber cerca de 22.500 adeptos nos três jogos da fase de grupos que ali vão ser disputados, assim como em dois dos oitavos de final, mas a organização inglesa já garantiu que o plano é preencher todos os 87 mil lugares do estádio londrino nas últimas três partidas do Campeonato da Europa.