Em abril, a inflação portuguesa foi de 1,98%, o valor mais elevado dos últimos quatro anos e meio. Os melhores depósitos a um ano oferecidos pelos cinco maiores bancos portugueses — Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Novo Banco e Santander Totta — têm uma remuneração líquida de impostos de 0,08%, em média.
Os principais organismos económicos nacionais e internacionais, como o Banco de Portugal e o Fundo Monetário Internacional, preveem uma taxa de inflação de cerca de 1,5% em 2017 e 2018. É um problema: atualmente só há dois depósitos a prazo — o Boas-Vindas do Atlântico Europa e o Depósito Novos Clientes 2,25% do Banco Best — que remuneram com uma taxa anual líquida superior a 1,5%. Isto quer dizer que todos os depósitos a prazo concedidos por bancos no sistema financeiro português, excluindo aqueles dois, rendem menos do que se espera que a inflação tire nos próximos anos.
Há um problema adicional: o Boas-Vindas e o Depósito Novos Clientes 2,25% são aplicações promocionais que servem para captar novos clientes. Após os três meses de duração, esses depósitos não podem ser repetidos pelos clientes do Atlântico Europa e do Banco Best. Como aproximar o rendimento à taxa de inflação esperada?
Se é cliente frequente de depósitos bancários — as probabilidades dizem que é, porque 96,1% das famílias portuguesas são-no —, então tem de procurar o banco mais generoso na oferta de depósitos não promocionais. Depois de estudar meia centena de instituições financeiras, encontrámos o Banco BNI Europa: paga uma taxa anual efetiva líquida de impostos entre 0,15% a um mês e 1,43% a cinco anos em aplicações a partir de mil euros.
Ganha mais se aplicar durante mais tempo e se dispensar a possibilidade de mobilização antes do final do prazo. Esta calculadora usa as taxas do BNI Europa válidas a 7 de junho de 2017 e uma taxa de retenção na fonte de 28% sobre os juros.
Prazo:
Montante a aplicar (em euros):
Juro líquido no final do prazo (em euros):
A reduzida dimensão do BNI Europa pode afastar alguns aforradores mais conservadores, mas, neste caso, a pequenez é um ponto a favor: ao contrário do que acontece com os depósitos nos grandes bancos, o Fundo de Garantia de Depósitos (FGD) é maior do que todos os depósitos feitos junto do BNI Europa. O FGD, que funciona junto ao Banco de Portugal, garante até 100 mil euros por titular em cada banco. Portanto, se tiver até 100 mil euros no BNI Europa, mesmo que o banco não tenha capacidade para lhe devolver o dinheiro depositado, o FGD terá recursos para o fazer.
A abertura de conta no BNI Europa para usufruir destes depósitos não tem de ter custos se não pedir meios de movimentação da conta à ordem, como cartões bancários. As transferências interbancárias através do serviço de banca eletrónica são gratuitas.
Mesmo que tenha mais de 100 mil euros, consegue alargar a cobertura do FGD adicionando titulares à conta. Por exemplo, com dois titulares, a garantia é de 200 mil euros. Se não consegue que a cobertura do FGD abranja toda a sua poupança no BNI Europa, pode aplicar o excesso noutros bancos generosos.
Banco | Depósito | Taxa anual efetiva líquida | Prazo | Mínimo | Máximo | Mobilização antecipada | Outras condições |
Atlântico Europa | Boas-Vindas Atlântico Europa | 1,84% | 92 dias | 500€ | 75.000€ | Não permite. | Exclusivo para novos clientes. |
Banco Best | Depósito Novos Clientes 2,25% | 1,65% | 90 dias | 2.500€ | 50.000€ | Não permite. | Exclusivo para novos clientes. |
Banco Carregosa | GoBulling Bem-vindo | 1,47% | 3 meses | 5.000€ | 50.000€ | Permite com penalização de 80% dos juros. | Exclusivo para novos clientes. |
BiG | Super Depósito 3 Meses | 1,47% | 3 meses | 500€ | 50.000€ | Permite sem penalização dos juros. | Exclusivo para novos clientes. |
Deutsche Bank | db Twin | 1,47% | 180 dias | 1.000€ | 50.000€ | Permite com penalização total dos juros. | Exclusivo para novos clientes que contratem crédito à habitação ou produto financeiro. |
Banco Invest | Invest Choice Novos Depósitos | 1,28% | 92, 183 ou 365 dias | 2.000€ | 75.000€ | Permite com penalização de 50% dos juros. | Exclusivo para novos montantes depositados. |
Banco Português de Gestão | BPG Super Depósito G Plus | 1,09% | 540 dias | 100.000€ | 5.000.000€ | Permite com penalização total dos juros. | |
BAI Europa | Depósito Prazo Especial | 1,02% | 24 meses | 2.500€ | 500.000€ | Permite com penalização total dos juros. | |
Banco Português de Gestão | BPG Super Depósito G+ | 1,00% | 365 dias | 100.000€ | 5.000.000€ | Permite com penalização total dos juros. | |
Fonte: bancos a 2 de junho de 2017. Assume uma taxa de retenção na fonte de 28% sobre os juros. |
Pode tentar negociar com o seu banco uma taxa de juro mais elevada, mas, tendo em conta os preçários da maioria das instituições, dificilmente chegará ao nível do BNI Europa e da lista anterior.
Certificados de Aforro não, Certificados do Tesouro sim
A taxa de juro dos Certificados de Aforro subiu muito marginalmente neste mês de junho — de 0,669% em maio para 0,670% —, mas isso não deve ser o sinal de partida para investir neste instrumento de dívida pública.
A remuneração dos Certificados de Aforro está indexada à Euribor a três meses, que continua negativa. Além disso, não há índicios de que regresse em breve a território positivo. Os operadores do mercado monetário não acreditam que a Euribor a três meses seja positiva antes de setembro de 2019, mostram os negócios no mercado de futuro sobre essa taxa.
Se a Euribor a três meses se mantiver, em média, inferior a -0,3%, os depósitos do BNI Europa renderão mais do que as novas aplicações em Certificados de Aforro, exceto num prazo: a três meses, que é a duração mínima de uma aplicação nos Certificados de Aforro, estes títulos rendem uma taxa anual líquida de 0,48% contra 0,29% do BNI Europa 92 Dias. Se deseja aforrar durante um trimestre, pondere se vale a pena o esforço de fazer uma aplicação. Por cada mil euros investidos neste mês de junho em Certificados de Aforro, receberá um juro de 1,21 euros ao resgatar em setembro. No depósito do BNI Europa, ganhará 74 cêntimos.
Para a maioria dos aforradores, constituir ou reforçar agora uma carteira de Certificados de Aforro não é a melhor opção. Todavia, se já tiver títulos antigos, poderá fazer sentido mantê-los.
Há, porém, uma boa solução de muito baixo risco patrocinada pelo Estado português: os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM). Estes títulos de dívida pública, que podem ser subscritos em alguns balcões dos CTT e no AforroNet a partir de mil euros, pagam juros anuais aos aforradores. A rentabilidade fica entre os depósitos BNI Europa que podem ser mobilizados antecipadamente e os que não podem ser reembolsados antes do vencimento.
Taxa anual efetiva líquida | |||
Prazo | Certificados do Tesouro Poupança Mais | Depósito BNI Europa mobilizável antecipadamente | Depósito BNI Europa não mobilizável antecipadamente |
1 ano | 0,90% | 0,88% | não disponível |
2 anos | 1,08% | 1,02% | 1,31% |
3 anos | 1,26% | 1,09% | 1,38% |
4 anos | 1,43% | 1,11% | 1,39% |
5 anos | 1,61% | 1,15% | 1,43% |
Embora sejam produtos substitutos, os CTPM e os depósitos a prazo não funcionam da mesma maneira. Por exemplo, não é possível resgatar a aplicação em CTPM antes do primeiro aniversário e, quando se obtém o reembolso entre duas datas de aniversário, perdem-se todos os juros corridos desde o último pagamento anual. Nos depósitos do BNI Europa mobilizáveis antecipadamente, os aforradores nas aplicações até três anos perdem a totalidade dos juros corridos se saírem antes do final do prazo. Nos depósitos a quatro e cinco anos, a penalização por mobilização antecipada é de 50% dos juros. Ao contrário dos CTPM, que têm juros anuais, os rendimentos dos depósitos são pagos no vencimento ou na data da mobilização antecipada.
Os CTPM também têm um prémio: os juros do quarto e do quinto ano são majorados em 80% do crescimento real do produto interno bruto português, desde que positivo. Se o crescimento alcançar 1%, como o Fundo Monetário Internacional calcula que seja entre 2021 e 2022, os CTPM batem os depósitos a quatro e cinco anos com uma rentabilidade de 1,57% ou 1,83% a quatro ou cinco anos. Se o crescimento for de 2,2% — em linha com a previsão do Ministério das Finanças para 2021 —, os CTPM conseguem fornecer uma taxa anual efetiva líquida de 2,10% a cinco anos. Por isso, se procura uma solução conservadora para quatro ou cinco anos, subscreva CTPM.
Obrigações do Tesouro: fique longe
À primeira vista, as Obrigações do Tesouro — que, tal como os Certificados de Aforro e os Certificados do Tesouro Poupança Mais, representam dívida pública portuguesa — parecem ser soluções interessantes de baixo risco para investir no longo prazo. Afinal, os cupões anuais traduzem-se em rendimentos anuais acima de 2% para prazos superiores a seis anos, como mostram as principais agências de informação. Todavia, essas taxas não contam a história toda.
Rentabilidades brutas até 3,87% por ano
↓ Mostrar
↑ Esconder
Estas são as rentabilidades até à maturidade das Obrigações do Tesouro a preços de mercado.
4 meses: -0,29%
1 ano: -0,15%
2 anos: 0,23%
3 anos: 0,47%
3 anos e 10 meses: 0,68%
5 anos e 4 meses: 1,41%
6 anos e 5 meses: 1,92%
6 anos e 8 meses: 2,20%
8 anos e 4 meses: 2,50%
9 anos e 2 meses: 2,74%
9 anos e 10 meses: 3,02%
12 anos e 8 meses: 3,40%
19 anos e 10 meses: 3,64%
27 anos e 9 meses: 3,87%
Fonte: Bloomberg a 2 de junho de 2017.
Para começar, os rendimentos anuais publicados são brutos, isto é, é preciso retirar a tributação sobre os juros e sobre eventuais mais-valias. Basta este cálculo para perceber que o rendimento anual das Obrigações do Tesouro que se vencem em abril de 2027 — dentro de nove anos e dez meses — não é de 3,02%, mas de 1,92%, por exemplo, assumindo uma tributação de 28%.
Depois, é preciso subtrair as comissões de bolsa. As Obrigações do Tesouro são negociadas na bolsa, tal como se fossem ações. As que se vencem em abril de 2027 estão listadas na Euronext Lisbon. Ao investirem nestes títulos, os aforradores têm de pagar comissões de compra, de pagamento de juros, de guarda de títulos e de venda ou de reembolso.
O fardo dos custos é pesado: quem investir agora cerca de dez mil euros nas Obrigações do Tesouro que se vencem em abril de 2027 para ganhar 270 euros por ano em juros, gasta cerca de 500 euros em comissões bancárias ao longo dos quase dez anos na maioria dos bancos. A sua taxa anual efetiva líquida baixa para perto de 1,4%. Embora os títulos possam ser alienados na bolsa antes do vencimento, é pouco para quem planeia ficar com o dinheiro imobilizado durante quase uma década. Por isso, as Obrigações do Tesouro devem ficar longe das carteiras dos aforradores.
Compre uma carteira diversificada de obrigações
Há dezenas de milhares de obrigações cotadas nas várias bolsas mundiais, além das Obrigações do Tesouro, mas a maioria dos investidores devem permanecer afastados. O mercado obrigacionista é mais complexo do que o acionista.
Em vez de comprar obrigações pode contratar um profissional para investir por si, em particular através de fundos de investimento. Entre os fundos de obrigações menos voláteis, procurámos os que conseguiram render mais do que a inflação portuguesa nos últimos cinco anos sem apresentar quedas demasiado abruptas.
ISIN | Fundo | Rentabilidade anualizada líquida | Classe de risco | Perda máxima em 5 anos | Comercialização | ||
1 ano | 3 anos | 5 anos | |||||
LU0596127604 | T. Rowe Price European High Yield Bond A EUR | 5,51% | 3,95% | 6,75% | 3 | -4,40% | Banco Best |
LU0144751095 | Candriam Bonds Euro High Yield N | 4,11% | 3,48% | 5,96% | 3 | -4,46% | Banco Best, BiG |
LU0512749036 | Schroder Euro Corporate Bond B | 2,77% | 2,84% | 3,80% | 3 | -3,73% | Banco Best, Banco Carregosa |
LU0658026512 | Axa Europe Short Duration High Yield E EUR | 2,09% | 1,56% | 2,79% | 2 | -2,68% | Banco Best |
Fonte: Bloomberg, sociedades comercializadoras a 28 de maio de 2017. Rentabilidade anualizada líquida de taxa de 28% por conta de IRS. Classe de risco entre 1 (baixo) e 7 (alto). |
Ao contrário dos depósitos a prazo, dos Certificados do Tesouro Poupança Mais e das Obrigações do Tesouro, estes fundos de obrigações não têm capital garantido. Porém, os gestores dos quatro fundos do quadro anterior conseguiram minimizar os solavancos ao longo do tempo.
Como funcionam? Por exemplo, Michael Della Vedova, o gestor responsável pelo T. Rowe Price European High Yield Bond A EUR (que já tínhamos recomendado no início do ano), procura títulos de dívida de empresas que pagam cupões elevados. Em média, as obrigações na carteira do fundo têm um cupão anual equivalente a 7% do valor nominal dos títulos. Naturalmente, essas obrigações, quando analisadas individualmente, têm um perfil de risco superior às Obrigações do Tesouro português. Mesmo assim, mais de três quartos do património está aplicado em títulos com notação de risco de B ou superior. A República Portuguesa recebe uma notação de BB+ das principais agências de avaliação de crédito.
Della Vedova investe o dinheiro que os vários investidores lhe entregam para aplicar nos títulos de dívida. Os investidores portugueses que queiram participar têm de subscrever o fundo T. Rowe Price European High Yield Bond A EUR através do Banco Best. Pelo serviço, a sociedade gestora T. Rowe Price cobra 1,15% do património por ano. As rentabilidades do quadro anterior já são líquidas desta comissão, bem como de impostos.
Ao longo do tempo, a cotação do fundo flutua ao ritmo dos negócios bolsistas feitos sobre os títulos na carteira. Todavia, como Della Vedova tem mais de uma centena de obrigações, a volatilidade é suavizada e a tendência é para uma valorização à medida que o fundo incorpora os cupões pagos pelas empresas que emitiram as obrigações na carteira. Mas, como não há garantia de capital, pode haver momentos de pressão. Nos últimos cinco anos, a pior situação foi vivida entre junho e outubro de 2014: o fundo desvalorizou 4,40%. É um risco que é compensado pelos retornos elevados em prazos mais alargados. Desde que foi lançado, em setembro de 2011, o T. Rowe Price European High Yield Bond A EUR rendeu mais de 7% por ano.
Todos os outros fundos do quadro anterior são menos voláteis do que o produto da T. Rowe Price, em particular o Axa Europe Short Duration High Yield E EUR: o seu maior soluço nos últimos cinco anos, que representou uma descida de 2,68%, durou um mês e meio. Apesar de ser possível resgatar o dinheiro investido em até cinco dias úteis, não se deve investir nestes fundos de investimento se não previr que a aplicação durará mais de um ano.
David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas.