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President Biden Welcomes Ukrainian President Zelensky To The White House
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A primeira vez que os dois presidentes se reuniram cara a cara foi em 2001, nos Estados Unidos

Getty Images

A primeira vez que os dois presidentes se reuniram cara a cara foi em 2001, nos Estados Unidos

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A viagem arriscada e secreta de Zelensky começou há dias. Ida aos EUA é sinal de confiança nos militares e bofetada de luva branca na Rússia

Sair de Kiev é um risco, mas visitar a frente da batalha também é. Ao mesmo tempo, mostra que Zelensky confia na máquina montada para combater os russos e dá sinais de quem é o seu principal aliado.

A hesitação de Nancy Pelosi, horas antes da confirmação oficial, mostra a incerteza, o risco e o secretismo à volta da viagem do Presidente da Ucrânia aos Estados Unidos. “Ainda não sabemos. Simplesmente não sabemos”, dizia a presidente da Câmara dos Representantes à imprensa norte-americana, depois de uma fuga de informação ter posto todos os jornais do país (e do mundo) a escrever sobre a então hipotética visita de Volodymyr Zelensky a Washington.

Os rumores começaram terça-feira à noite e Zelensky confirmou-os no dia seguinte, às 6 da manhã (hora de Lisboa). “A caminho dos EUA para fortalecer a resiliência e as capacidades de defesa da Ucrânia”, escreveu no Twitter, acrescentando que a cooperação entre os dois países será motivo de conversa com o Presidente Joe Biden, esta quarta-feira. O discurso no congresso norte-americano também foi confirmado.

Sobre os detalhes da viagem sabe-se pouco. O convite foi oficializado exatamente uma semana antes, a 14 de dezembro (a primeira abordagem aconteceu ainda a 11 de dezembro, numa conversa telefónica entre Zelensky e o Presidente dos Estados Unidos).

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No entanto, há um detalhe importante que Pelosi referiu à imprensa norte-americana: a conversa oficial entre os dois Presidentes só aconteceu depois de a administração Biden ter a certeza de que Zelensky tinha condições para responder “sim”. A primeira e única visita do Presidente ucraniano à Casa Branca foi a 1 de setembro de 2021, quando Zelensky já temia as movimentações russas.

"É claro que o avião em que ele é transportado corre riscos que Zelensky não corre se estiver parado em Kiev. Mas ele corre riscos quando vai a Bakhmut, quando havia mercenários na Ucrânia para matá-lo... Zelensky corre riscos desde o início da guerra."
Luis Tomé, professor da Universidade Autónoma de Lisboa, onde é diretor do Departamento de Relações Internacionais

Riscos existem, mas estar na Sala Oval é mais seguro do que visitar Bakhmut

Desde a invasão, Volodymyr Zelensky ainda não tinha saído da Ucrânia. No início da guerra, quando estava avisado de que mercenários andavam à sua procura para matá-lo, o Presidente recusou a ajuda norte-americana para sair do país. “Preciso de munições, não de uma boleia”, foi a resposta à oferta de ajuda e que marcou a posição do Presidente. O seu lugar era na Ucrânia, com os ucranianos.

Ao longo dos 300 dias de guerra, foram várias as deslocações de Zelensky à frente da batalha, mas a de terça-feira, 20 de dezembro, foi a mais arriscada de sempre. O chefe de Estado esteve naquele que é, neste momento, o epicentro da guerra, na cidade de Bakhmut, apelidada de “trituradora de homens”. “Zelensky em Bakhmut. O presidente mais corajoso da nação mais corajosa”, escreveu o vice-primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, no Telegram.

Esta primeira saída da Ucrânia em tempo de guerra — que acontece dois dias depois da visita do Presidente Putin à Bielorrússia — tem riscos para Zelensky. Todos terão sido ponderados e, segundo, a imprensa norte-americana, a administração Biden terá aconselhado a comitiva ucraniana sobre questões de segurança. Quem acompanha Zelensky é ainda uma incógnita.

“É claro que o avião em que ele é transportado corre riscos que Zelensky não corre se estiver parado em Kiev. Mas ele corre riscos quando vai a Bakhmut, quando havia mercenários na Ucrânia para matá-lo… Zelensky corre riscos desde o início da guerra”, diz ao Observador Luis Tomé, professor da Universidade Autónoma de Lisboa, onde é diretor do Departamento de Relações Internacionais.

Atacar o avião de Zelensky era uma escalada enorme na guerra

A viagem de Zelensky é uma surpresa para o major-general Arnaut Moreira. “Num país em guerra, que tem estado tão marcado por uma presença constante do seu Presidente, mesmo nos espaços difíceis de combate, a visita aos Estados Unidos é uma surpresa.”

Além de inesperada, o major-general afirma que esta não é uma deslocação isenta de riscos. “O Presidente, ao estar presente, alimenta o sentido nacional de resistência e ele tem tido uma liderança de natureza física, com esta presença constante. Sobretudo por ser a primeira vez que o faz, esta ausência não deixa de comportar alguns riscos.”

Luis Tomé concorda: “Não é normal nesta área da Europa, neste antigo espaço soviético, sair-se do país em contexto de guerra. Vladimir Putin também pouco tem saído, apesar da visita à Bielorrússia.” Quanto aos riscos, o professor da Autónoma fala das vantagens de estar presente, junto das tropas, e das desvantagens de se ausentar do cenário de guerra.

“Num país em guerra, que tem estado tão marcado por uma presença constante do seu Presidente, mesmo nos espaços difíceis de combate, a visita aos Estados Unidos é uma surpresa. O Presidente, ao estar presente, alimenta o sentido nacional de resistência e ele tem tido uma liderança de natureza física, com esta presença constante. Sobretudo por ser a primeira vez que o faz, esta ausência não deixa de comportar alguns riscos.”
Major-general Arnaut Moreira

“Ao estar próximo dos militares passa a mensagem de que está a liderar a ofensiva”, diz o especialista em Relações Internacionais. Não sair do quartel-general é um forte sinal interno disso mesmo. Ao sair, pode dar ideias ao adversário. “O inimigo pode sentir-se tentado a intensificar o conflito. Esta ausência pode instigar a Rússia a tentar algum tipo de ataque, aproveitando a ausência do líder”, argumenta o professor catedrático. Não há informações sobre qualquer ataque mais musculado das forças russas perante a ausência de Zelensky do país, até ao momento, mas Moscovo já fez saber que vai reforçar o efetivo militar para cerca de 1,5 milhões de elementos.

Apesar disso, Luis Tomé não acredita que a Rússia tentasse, por exemplo, atacar diretamente o veículo que vai transportar o Presidente ucraniano. Por volta da hora de almoço (13h em Lisboa), o momento da chegada do Presidente ucraniano à estação de comboios de Przemysl — na fronteira com a Polónia — foi filmado. E foi de comboio que Zelensky seguiu até ao país vizinho. Dali, deverá voar até aos Estados Unidos.

“A Rússia não tentará atacar o avião de Zelensky. Seria uma escalada brutal, não creio que o fará. Do ponto de vista estratégico, não se decapita a liderança que pode ajudar a negociar o fim do conflito”, explica o professor. Se o Presidente ucraniano desaparecesse, seria muito complicado para a Rússia identificar um novo interlocutor. Os riscos são de tal forma altos que não acredita que houvesse um atentado à vida do ucraniano.

Visitar os Estados Unidos é uma provocação à Rússia

O destino de Zelensky na primeira vez que sai do país em guerra tem significado político. O Presidente ucraniano escolhe o país que melhor equipamento e maior orçamento tem dedicado à Ucrânia, frisa Luis Tomé. “Mais de metade de todo o armamento recebido veio dos Estados Unidos. É um grande apoio e que resulta nesta viagem”, sublinha o especialista em Relações Internacionais. Além disso, recorda, os Estados Unidos fornecem armamento a outros países que estão a ajudar a Ucrânia.

Já o major-general Arnaut Moreira vê três sinais importantes na ausência do Presidente ucraniano. “O primeiro tem a ver com a confiança que ele tem no dispositivo militar e na condução que é feita da guerra, permitindo dispensar a sua presença durante alguns dias”, argumenta. Assim, Zelensky passa a mensagem de que confia na sua liderança militar, que considera estar à altura do momento, e também na sociedade civil.

O major-general lembra a presença mediática constante de Zelensky, que todos os dias fala diretamente com a população através de vídeos; e deixar de fazê-lo, mesmo que só durante alguns dias, demonstra que o Presidente sente que a sociedade civil pode passar sem esses discursos.

“O segundo aspeto é a primeira visita ser aos Estados Unidos. Tem leitura de natureza política da qual não se pode fugir: é o reconhecimento de que sem a ajuda dos EUA não chegaria às condições a que atualmente chegou”, sublinha o major-general. Por outro lado, espera que a escolha seja lida na Europa com compreensão e que não haja “irritações desnecessárias” por Zelensky ter escolhido Washington.

A verdade, sublinha o militar português, é que por muitos esforços que a Europa faça, não seria possível resistir à Rússia sem o apoio dos norte-americanos.

A terceira e última leitura que o major-general faz desta viagem tem a ver com a continuação da guerra e com o facto de haver muitos opinion makers nos Estados Unidos a proferir sentenças sobre como o conflito deveria ser resolvido. “A ida presencial de Zelensky pode ter um efeito de maior explicação sobre aquilo que é a visão da Ucrânia sobre este conflito. Vão existir muitas perguntas sobre as condições de paz e sobre as cedências que o país está disposto a fazer.”

Além disso, lembra que daqui a dois anos haverá eleições e esta é uma hipótese de Zelensky puxar os republicanos para o seu lado, não dependendo tanto do apoio dos democratas. “Quem não vai gostar nada disto é a Federação Russa, nem da ocasião, nem do cheque, nem do envolvimento político.”

Durante a visita de Zelensky, os Estados Unidos deverão anunciar novas ajudas à Ucrânia que incluem um pacote financeiro de cerca de mil milhões de dólares (942 milhões de euros) em armas, onde deverá estar incluído um sistema de defesa antimísseis Patriot, e mais 800 milhões de dólares (753 milhões de euros) em financiamento.

A visita gera também apreensão entre os responsáveis de segurança do Capitólio — pelo menos de acordo com fontes ouvidas pela ABC News. Alguns oficiais de segurança do governo norte-americano estarão “muito preocupados” sobre a perspetiva de acontecer algo durante a noite desta quarta-feira, quer a nível doméstico como internacional como reação à visita aos Estados Unidos.

A ABC citou um email enviado ao pessoal do Capitólio onde são descritas medidas de segurança “significativas”. Além disso, os funcionários e pessoas com acesso ao Capitólio só vão ser autorizados a entrar numa das alas do Capitólio a partir de certa hora. Outra das fontes partilhou com a ABC que o facto de haver “ativos da Rússia” em território norte-americano também contribui para o nível elevado de preocupação. “Temos conhecimento de que a Rússia tem ativos no país e que pode tentar fazer alguma coisa. Sabemos o que está em risco.”

(Atualizado às 21h16)

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