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“Só mais uma coisa.” Com um sorriso no rosto, Tim Cook, CEO da Apple, recorreu a uma frase emblemática do antecessor, Steve Jobs, para revelar o primeiro produto em quase uma década que marca a entrada da Apple num novo segmento de mercado.
Foi com estas palavras que Jobs antecedeu a revelação do iPhone, em 2007. Em 2023, Cook usou-a para apresentar os Vision Pro, os primeiros óculos de realidade mista da marca, uma união entre a realidade virtual e aumentada.
A Apple apresenta produtos novos todos os anos, mas a conversa muda de figura quando se fala em novos segmentos de negócio. É preciso recuar até 2014, quando Tim Cook apresentou o primeiro Apple Watch. Há quase 12 anos ao leme da Apple, a revelação dos Vision Pro marca também a primeira vez em que Cook faz uma aposta ambiciosa, levando a empresa para uma área de negócio ainda a dar os primeiros passos e com muitos desafios.
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A Apple não é a primeira a ter um equipamento do género. A Meta já está nesse mercado, embora os seus óculos estejam longe de ser um produto massificado. Em 2014, quando foi lançado o Apple Watch, o negócio dos wearables já mexia. No ano passado, a IDC estima que tenham sido vendidos 8,8 milhões de headsets, quase menos 21% do que em 2021. O negócio dos wearables opera na ordem das centenas de milhões.
Esta segunda-feira, no arranque do evento anual de programadores, a WorldWide Developers Conference (WWDC), já se sabia que Tim Cook ia revelar este headset. Afinal, era um segredo mal guardado da indústria. Cook revelou estava há anos em desenvolvimento no quartel-general da empresa, embora isso nunca tenha sido oficialmente confirmado.
Além dos Vision Pro, houve ainda espaço para revelar três atualizações na gama Mac durante o evento. As atualizações de software, principalmente a revelação do iOS 17, tiveram um papel mais secundário na edição deste ano do evento.
O primeiro gadget da Apple para “olhar através de, não para”
“É o primeiro produto da Apple por onde se olha ‘através de’ e ‘não para’”, disse Tim Cook. O CEO da Apple nunca chegou a pegar no novo produto; na verdade, a revelação das principais características destes óculos foi feita ao longo de pequenos segmentos, numa apresentação já gravada, onde se tentava mostrar os exemplos de usos deste gadget.
Os óculos vão permitir aquilo que a marca descreve como “computação espacial”, em que o equipamento é controlado através dos olhos, das mãos e da voz. Enquanto nas opções de outras empresas, principalmente na área da realidade virtual, há equipamentos para as mãos, nos Vision Pro vai ser destacado aquilo para onde o utilizador olha – quando quiser escolher algo, basta fazer um pequeno gesto com o polegar e o indicador, como se fosse um “beliscão”. Ficou também a garantia de que será possível usar os óculos com outros equipamentos, nomeadamente teclados.
À primeira vista, os Vision Pro assemelham-se a óculos de esqui. No interior têm dois processadores, o M2 e o R1. O segundo componente foi desenvolvido especificamente para estes óculos e vai estar apenas dedicado ao processamento da informação obtida pelos diferentes sensores.
Além de tentar reduzir a demora no carregamento de imagens, também vai ter a tarefa de tentar reduzir o enjoo que o utilizador pode sentir durante o uso de um headset. Alguns utilizadores queixam-se de enjoos quando usam equipamentos do género, já que os olhos estão a ver algo que não corresponde à orientação do corpo (por exemplo, ter à frente dos olhos uma ação intensa quando o corpo está parado).
Os óculos estão equipados com cinco sensores, 12 câmaras, um ecrã 4K para cada olho e ainda um computador que fará tudo funcionar.
Durante vários momentos da apresentação a Apple quis transmitir que, mesmo usando os óculos, o utilizador consegue estar presente e interagir com outras pessoas. Deu nome a esta tecnologia: Eyesight. “Nunca se está isolado das pessoas que estão à volta”, explicou Alan Dye, responsável de interface humana da Apple. “Pode ver as pessoas e elas podem também vê-lo.”
Quando alguém estiver com os Vision Pro postos e chegar outra pessoa, será apresentado o vulto de quem ali está. A pessoa vai conseguir ver os olhos do utilizador, para que haja comunicação. Se o utilizador estiver a ver algo que é mais imersivo, por exemplo, um filme, a outra pessoa vai ver uma espécie de animação.
Estas indicações vão transmitir às outras pessoas a escolha do utilizador no que toca a imersividade. Quando são postos os óculos, o ambiente é o de realidade aumentada: uma imagem digital é apresentada no mundo real e o utilizador continua a aperceber-se do que está à sua volta. Mas, caso queira estar mais isolado, para ver um jogo ou um filme, vai poder rodar uma coroa digital, semelhante à do Apple Watch, para que o ambiente real seja “escurecido”.
Os óculos vão ter uma autonomia de duas horas com uma bateria externa, que não ficará no equipamento, para reduzir o peso. Sem essa bateria, o headset terá de estar ligado à corrente.
A Apple mostrou o uso dos Vision Pro no trabalho, argumentando que apenas com estes óculos o utilizador vai conseguir trabalhar como se tivesse vários ecrãs 4K em cima da secretária. O FaceTime vai poder ser usado nestes óculos, com as pessoas com quem estiver em chamada projetadas à frente dos olhos. Na componente empresarial, aquilo que estiver a ver nos óculos, desde o calendário até às notas, poderá ser partilhado durante a chamada. As ferramentas da Microsoft, como o Word ou o Excel, vão ser compatíveis com estes óculos.
Além da dose de imersão, o utilizador também poderá escolher o tamanho dos ecrãs que são apresentados à sua frente. Por exemplo, se se quiser ver um filme, ficou a promessa de um ecrã de maiores dimensões, possivelmente numa tentativa de reproduzir uma experiência semelhante à de uma sala de cinema.
Durante breves momentos, Tim Cook passou a palavra a outro CEO, Bob Iger, da Disney. As duas empresas estão a trabalhar em conjunto e, para já, ficou a promessa de que será possível ver os conteúdos do serviço de streaming Disney Plus nestes óculos.
A Apple anunciou ainda que está a trabalhar com empresas como a Adobe e a Unity no desenvolvimento de aplicações para este equipamento. E, tendo em conta que o anúncio foi feito numa conferência de programadores, revelou que as empresas interessadas vão poder começar a desenvolver aplicações para este equipamento, que funcionará com o sistema operativo VisionOS. Ficou também a promessa de uma loja de aplicações específicas para este equipamento.
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Os rumores já antecipavam um equipamento caro, mas afinal os Vision Pro são ainda mais dispendiosos do que os 3 mil dólares que eram antecipados. Vão custar a partir de 3.499 dólares (3.266 euros) nos Estados Unidos e só chegarão ao mercado no início do próximo ano e mais tarde chegarão a outros países. Em comparação, os Quest Pro, da Meta, revelados no ano passado, custavam 1.500 dólares no lançamento e agora rondam os mil dólares.
“Acreditamos que é um produto revolucionário”, frisou Tim Cook, falando num equipamento que “vai mudar a forma como colaboramos e trabalhamos”.
“É o novo produto mais ousado da Apple em anos”, diz Leo Gebbie, analista principal da área de dispositivos conectados da consultora CCS Insight, nos primeiros comentários após a apresentação. Em declarações enviadas ao Observador, diz que se trata da “entrada da Apple num mercado onde outras empresas têm tido dificuldades em transformar conceitos futuristas em realidade e oferecer um produto entusiasmante e inovador.”
O preço do equipamento, salienta o analista da CCS Insight, é uma consequência dos materiais usados. “Os Vision Pro têm um aspeto luxuoso, como seria de esperar com preços desta ordem, e o vidro laminado e o chassi em alumínio são certamente chamativos”, reconhece. Resta perceber como vai reagir o mercado. “Vai ser fascinante ver se a Apple é bem sucedida numa área onde outras empresas já falharam e se consegue tornar isto num produto desejável, em vez de ser um gadget mais geek.”
Para já, vê uma vantagem para a Apple em relação às rivais. “O sistema operativo no novo headset vai ser imediatamente familiar para os utilizadores e muitos dos seus conteúdos favoritos, serviços e aplicações ficarão instantaneamente disponíveis.” Para já, há a garantia de que o Safari, FaceTime e a app de fotos vão ser aplicações incluídas no headset. De forma geral, continua o analista, “os Vision Pro e o VisionOS estão feitos para complementar a experiência de utilizador da Apple, algo com que as pessoas já estão familiarizadas.” É uma “extensão lógica para tudo aquilo que a Apple já construiu na última década”, reconhece.
Um MacBook Air mais crescido e um Mac Studio renovado
Nem sempre há hardware na WWDC, mas na edição deste ano, além de óculos de realidade mista, também houve espaço para três computadores.
O MacBook Air cresceu – até agora esta gama tinha apenas computadores de 13 polegadas – e a partir desta segunda há uma versão de 15 polegadas no mercado. Promete continuar a ser um equipamento com pouca espessura e ter até 18 horas de bateria. Em Portugal, arranca nos 1.649 euros, numa versão com um SSD de 256 GB de armazenamento.
O Mac Studio e o Mac Pro também foram atualizados, passando a funcionar com processadores desenvolvidos pela Apple, o M2 Max e o M2 Ultra. São mais dispendiosos em Portugal: o Mac Studio com o processador M2 Max começa nos 2.449 euros, enquanto a versão com M2 Ultra chega aos 4.899 euros. O Mac Pro atualizado arranca nos 8.499 euros.
E o software? Um iOS 17 e o anúncio do macOS Sonoma
No campo do software, saltou uma palavra à vista: widgets. Depois de ganharem destaque no iPhone, vão estar mais dinâmicos no iPad e também nos computadores. O iPad vai ganhar as live activities no ecrã de bloqueio, que também vai poder ser personalizado, como já acontece no iPhone.
No iOS 17, foram reveladas novidades nas mensagens e também no FaceTime. Os utilizadores vão poder deixar uma mensagem de vídeo a outra pessoa quando a chamada não é atendida. Foi ainda anunciada uma ferramenta chamada Check In, claramente virada para a segurança. Se já foi sair à noite e na despedida ouviu a frase “avisa quando chegares”, em breve haverá uma forma mais automática de fazer isso.
Esta ferramenta, que será encriptada, vai registar quando sai de algum local e avisar automaticamente os contactos que pretende “descansar” quando chegar a casa. Também enviará alertas quando estiver atrasado ou se se desviar da rota, além de partilhar a localização e também o nível de bateria do iPhone.
Em breve, vai chegar ao iPhone um modo chamado StandBy – quando o telefone estiver numa orientação horizontal e a carregar, vai apresentar informação de uma forma diferente. Numa das imagens, a Apple exemplifica com um relógio ou uma espécie de moldura digital.
Foi ainda revelado o nome do novo macOs – Sonoma. A atualização vai trazer widgets mais dinâmicos, que vão poder sair do centro de notificações para outras áreas do ecrã, e também um modo de jogo.