Os novos iPhone podem ser “mais finos” ou prometer “fotografias mais detalhadas”, mas todo o destaque da apresentação da Apple deste ano foi mesmo para a inteligência artificial (IA).
A Apple Intelligence, o nome-chapéu dado pela empresa de Tim Cook para descrever várias ferramentas de IA, vai estar presente em várias competências dos novos smartphones. A empresa diz que os novos equipamentos “foram desenvolvidos para a Apple Intelligence”, que considera ser um “sistema pessoal de inteligência [artificial] feito para um uso fácil”. Foi necessário desenvolver um processador mais adaptado às necessidades da IA: o A18 nos iPhone 16 e o A18 Pro nos modelos Pro.
Os modelos base, iPhone 16 e 16 Plus, distinguem-se pelo tipo de câmara e pelo tamanho do ecrã, que varia entre 6,1 e 6,7 polegadas, respetivamente. Os modelos Pro têm um conjunto de câmaras mais avançado e também dimensões maiores: o iPhone 16 Pro Max tem 6,9 polegadas — é o maior da linha.
Craig Federighi, o vice-presidente sénior responsável pela engenharia de software da Apple, explicou durante a apresentação que a ideia é que os modelos generativos de IA possam funcionar no iPhone para ajudar a escrever emails, gerar imagens ou mesmo dotar a assistente Siri de outras competências. Será uma atualização de software gratuita, que chegará nos próximos meses aos iPhone, em versão beta (de teste), e que é fruto de uma parceria com a OpenAI, a criadora do ChatGPT.
Na área da escrita, a Apple Intelligence vai ajudar a compor emails e mensagens de texto, a fazer revisões e a procurar gralhas ou a sumarizar informação de aplicações como o email, as notas ou ainda de apps externas à Apple. Basicamente, muito do que já consegue fazer com o ChatGPT, com a diferença de que tudo estará integrado no iPhone, sem precisar de uma aplicação ou site específico. Com essas funcionalidades de raiz no telefone, também é possível fazer sumários das chamadas de voz — uma ferramenta que também já marca presença no Android, ainda que com limitações de idioma e disponibilidade geográfica.
Por exemplo, as notificações também vão ficar mais organizadas com a IA. Se tiver notificações prioritárias a serem apresentadas no telefone, logo no ecrã de bloqueio vai ter acesso a um pequeno resumo do que está no email, em vez de ver apenas o assunto e a primeira linha do email. Numa das imagens de exemplo, a Apple mostra um email de um médico com o resumo: “Está livre dentro de 30 minutos? Houve um cancelamento”.
A Siri, a assistente digital da Apple que parecia cada vez mais desatualizada, assumirá um papel mais flexível e capaz de compreender pedidos mais complexos. Também vai ter uma ligeira mudança de visual. Quando quiser ativar a Siri, surgirá à volta da moldura do ecrã uma luz colorida.
Outra vertente da Apple Intelligence está ligada à capacidade de pesquisa dentro do próprio telefone. Se é daquelas pessoas que nunca consegue encontrar uma fotografia ou vídeo de forma rápida, bastará pedir em linguagem natural ao telefone para ajudar a encontrar um vídeo que gravou nas férias de 2019.
Muitas das competências da Apple Intelligence passam pelas interações em linguagem natural — perguntas ou pedidos diretos, por exemplo, ‘mostra-me a que horas é o meu voo para Londres’. O idioma pode ser uma barreira e habitualmente é escolhido o inglês como primeira língua para arranque de um lançamento deste tipo. Primeiro, vai ser lançado em inglês dos EUA. Para mais tarde fica a promessa de uma “expansão rápida”. Em dezembro deverá estar disponível em inglês para a Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Reino Unido. No próximo ano, chegará a mais idiomas, como o chinês, francês, japonês e espanhol. Não há indicação sobre o português nesta lista.
Ben Wood, analista-chefe da consultora CCS Insight, explica em comentários enviados ao Observador que a IA “vai ser central para a próxima década do iPhone”. “Há um sentimento crescente de que as atualizações dos smartphones se tornaram um pouco chatas. A Apple não é imune a essa tendência e está a apostar em software e IA para dar um novo fôlego ao seu produto mais importante e para reacender o interesse dos consumidores e impulsionar as compras de ‘upgrade’”, quando um utilizador quer mudar para um equipamento mais recente.
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A novidade do botão de controlo de câmara, que também vai ajudar a pesquisar
A cada ano, a Apple vai anunciando pequenas mudanças nas câmaras, com as promessas de imagens mais detalhadas e cores mais chamativas. Mas, desta vez, o destaque não foi apenas para o sistema de câmara presente nos modelos Pro, mas sim para o novo “botão” de controlo de câmara.
Na prática, não é um botão físico, mas sim uma pequena área na lateral do telefone que vai ser usada para interagir com a câmara. A Apple explica que é o resultado de uma “interação entre hardware e software”. Por exemplo, um toque rápido abre a app de câmara, dois toques permitem passar para vídeo, mas também pode ser usado para tirar uma fotografia, com uma reação semelhante ao disparo de uma máquina fotográfica. Mas, por não ser só um botão, também vai permitir que o utilizador controle questões como o zoom, exposição ou a profundidade de campo.
Além do controlo de câmara, haverá ainda o botão de ação, que permitirá fazer ações rápidas, como acionar a aplicação de reconhecimento de música Shazam ou pôr o telefone no silêncio. Já era uma função do iPhone 15, que agora transita para todos os modelos 16, e que pode ser personalizada ao gosto do utilizador.
Para os próximos meses, fica a indicação de que o botão de controlo de câmara também vai servir para ajudar na pesquisa visual, desde que use o Google. Por exemplo, está na rua e encontra um cão mas não sabe de que raça é. Com a câmara ligada, bastará tocar no botão para que possa pesquisar essa informação. Ou, se encontrar um cartaz de um filme que quer ver, o botão de controlo de câmara vai servir para que o telefone consiga reconhecer a informação com IA e pesquisar uma sessão numa sala próxima ou adicionar um evento ao calendário.
Ben Wood, da CCS Insight, considera que este novo botão “é uma das maiores histórias” saídas do evento, “além da Apple Intelligence”. Acredita que represente “um esforço concertado da Apple para permitir aos utilizadores interagir com os iPhone de novas formas na era da IA”. Ainda que vá permitir “melhorar de forma geral a experiência” de fotografar e captar vídeos no iPhone, “também vai permitir às pessoas acionar pesquisas com base naquilo que estão a ver”. Porém, nota que a pesquisa visual já é algo em que “a Google já trabalha há alguns anos” e que já tem presença nos equipamentos Android.
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Em relação às câmaras usadas, o iPhone 16 tem um sistema de câmara dupla composto por uma câmara com sensor de 48 MP e uma câmara ultra grande angular de 12 MP. Nos modelos Pro, é usado um sistema com câmara principal de 48 MP, uma ultra grande angular de 48 MP e uma teleobjetiva. Nas duas versões vai ser possível captar fotografias de “altíssima resolução”, de 24 MP e 48 MP. Porém, no sistema Pro, há a possibilidade de captar fotografias macro (usadas para captar detalhes de natureza, por exemplo) de 48 MP. Os dois modelos vão conseguir também captar fotografias e vídeos espaciais que vão ser compatíveis com o Vision Pro, o equipamento de realidade mista lançado pela Apple.
Mais modelos e funções de saúde nos AirPods e um novo Apple Watch
A apresentação da Apple começou pelo Apple Watch, que este ano assinala uma década. O Apple Watch Series 10 foi atualizado para ter um ecrã de maiores dimensões, mas também mais fino, e a promessa de poder carregar até 80% de bateria em meia hora.
A nível de funcionalidades, vai ter mais competências para desportos aquáticos: por exemplo, detetar alterações na temperatura da água ou apresentar informação sobre a evolução das marés. Em Portugal arrancará nos 459 euros.
Já no áudio, foram lançados os AirPods 4, que vão ter um novo processador, o H2, e duas versões: um com cancelamento ativo de ruído, que custará 199 euros em Portugal, e outra sem, que custará por cá 149 euros. Vão ter algumas funções de saúde, como a proteção de audição: com o novo processador, capaz de fazer escuta ativa do ambiente, os AirPods vão conseguir adaptar-se para tentar proteger o utilizador de sons demasiado ruidosos.
Outra funcionalidade nesta área é a possibilidade de os AirPods Pro, quando usados com o iPhone, funcionarem como um teste auditivo reconhecido medicamente. A ideia é que estes resultados possam ser registados e partilhados com profissionais de saúde. Até agora, não há informação sobre se isto chegará a todos os mercados. Os AirPods também vão poder assumir funcionalidades semelhantes às de um aparelho auditivo, ainda que isto não vá funcionar em todos os mercados, já que dependerá de autorização regulatória.
Os AirPods Max foram renovados com novas cores e carregamento por USB-C e em Portugal vão custar 579 euros.