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Manchester City v Liverpool: The Emirates FA Cup Semi-Final
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O treinador alemão de 54 anos, que está em Inglaterra desde 2015, renovou recentemente contrato até 2026

Getty Images

O treinador alemão de 54 anos, que está em Inglaterra desde 2015, renovou recentemente contrato até 2026

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As contratações-chave, a mentalidade, uma Premier. As três mudanças de Klopp desde a última final do Liverpool contra o Real Madrid

Chegaram Thiago, Jota e Díaz. A perceção em relação ao clube mudou. A Premier deixou de fugir. As três grandes mudanças que Jürgen Klopp operou no Liverpool desde a final perdida para o Real em 2018.

O Liverpool tinha acabado de garantir a presença na terceira final da Liga dos Campeões em cinco anos. A eliminatória tinha sido difícil, com o Villarreal a esboçar uma reação já na segunda mão e a empatar as contas antes de os ingleses recordarem a Europa do porquê de terem seis troféus da Champions no museu. Jürgen Klopp saltou, gritou, abraçou jogadores. No primeiro momento que teve, enviou uma mensagem à mulher. Logo depois, enviou outra a dois nomes improváveis: Nathaniel Phillips e Rhys Williams.

“Enviei-lhes uma mensagem porque sem eles não estaríamos aqui. Lembro-me do último jogo da época passada e eles saíram de campo com a cabeça ligada, com cortes na cara… E isso foi mesmo um símbolo daquela fase. Apuramo-nos com uma perna, com um olho… Foi incrível. Foi uma temporada tão difícil. Espero que ninguém se esqueça do quanto lutámos para chegar aqui. Sentimos tudo aquilo, mentalmente. E os adeptos nunca deixaram de nos dizer que estávamos a jogar abaixo do exigido”, explicou o treinador alemão, em declarações à Sky Sports, depois do jogo decisivo nas meias-finais. A questão é que praticamente ninguém se lembra do quanto o Liverpool lutou para aqui chegar.

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Nathaniel Phillips e Rhys Williams formaram a dupla de centrais titular com que o Liverpool jogou na última jornada da Premier League da época passada. Sem Van Dijk, Joe Gomez e Matip, todos lesionados, com Ozan Kabak a revelar-se uma contratação apressada de mercado de inverno que nunca foi solução, Phillips e Williams eram os únicos centrais de raiz que Jürgen Klopp tinha à disposição. Atualmente, já nenhum faz parte do plantel dos reds: o primeiro está emprestado ao Bournemouth, o segundo está cedido ao Swansea. Há um ano, contudo, faziam parte do onze inicial de uma equipa que só se qualificou para a Liga dos Campeões no último dia da liga inglesa.

Passaram 12 meses. E o 2021/2022 do Liverpool não poderia ter sido mais diferente do 2020/2021 do Liverpool. Os reds lutaram pela conquista da Premier League até ao último minuto do último jogo, conquistaram a Taça da Liga e a Taça de Inglaterra e carimbaram o feito extraordinário de disputar todas as partidas possíveis — todas as jornadas da liga inglesa, todos os jogos das duas Taças, todos os encontros da Liga dos Campeões. Este sábado, na terceira final da Champions em cinco anos, reencontram o Real Madrid que lhes partiu o coração em 2017/18. Mas Jürgen Klopp mudou muita coisa de lá para cá.

Real Madrid v Liverpool - UEFA Champions League Final

Em 2018, em Kiev, o Liverpool deixou escapar a Liga dos Campeões para um Real Madrid que ainda tinha Cristiano Ronaldo

Getty Images

Alisson, Thiago, Jota, Díaz. As contratações-chave (mas pouco previsíveis)

Em 2018, quando o Liverpool perdeu a final da Liga dos Campeões para o Real Madrid em Kiev, Philippe Coutinho tinha deixado Anfield há poucos meses. Em janeiro desse mesmo ano, no mercado de inverno, o internacional brasileiro rumou ao Barcelona e deixou os reds aparentemente órfãos da sua grande referência ofensiva. O que ninguém esperava, porém, era que Klopp iria arranjar uma maneira de o substituir sem ter de contratar outra estrela internacional — no fundo, ninguém esperava que Klopp resolvesse o problema de não ter referência ofensiva com a decisão de abdicar de uma referência ofensiva.

Em janeiro de 2018, o Liverpool surpreendeu o mundo inteiro quando gastou 85 milhões de euros na contratação de um defesa central. E não era um defesa central com grandes provas dadas, não vinha de um gigante europeu nem sequer tinha grande experiência na alta roda do futebol internacional. Virgil Van Dijk, a atuar na altura no Southampton, tornou-se o defesa mais caro de sempre (registo entretanto ultrapassado por Harry Maguire) mas trouxe consigo uma bagagem cheia de dúvidas e questões. Klopp não teve receios na hora de lhe atribuir responsabilidade, de lhe explicar desde a primeira hora que seria o próximo líder do Liverpool e de garantir a toda a gente que o dinheiro dado pelo central neerlandês tinha até sido pouco para tudo aquilo que Van Dijk acabaria por dar ao clube. A ascensão do jogador não teve e continua sem ter limites: e é o maior exemplo da política de contratações seguida por Jürgen Klopp desde que chegou a Inglaterra.

O que ninguém esperava, porém, era que Klopp iria arranjar uma maneira de o substituir sem ter de contratar outra estrela internacional — no fundo, ninguém esperava que Klopp resolvesse o problema de não ter referência ofensiva com a decisão de abdicar de uma referência ofensiva. 

Klopp quis Van Dijk para colmatar uma falha evidente do eixo da defesa, quis Alisson no verão de 2018 e depois de ter perdido a Liga dos Campeões graças aos erros de Loris Karius contra o Real Madrid e quis Salah logo em 2017, com poucas preocupações em tornar um jogador que tinha passado pelo Chelsea deixando poucas saudades na contratação mais cara do Liverpool à altura. Da final de Kiev para cá, as mudanças no plantel são algumas — mas com a particularidade de as entradas serem muito mais impactantes do que as saídas.

Em resumo, entre os jogadores que eram mais utilizados, saíram Wijnaldum, Lovren, Lallana e Emre Can. Em resumo, entraram Minamino, Harvey Elliott, Tsimikas, Diogo Jota, Thiago Alcântara, Konaté e Luis Díaz. E é aqui que voltamos à decisão de deixar de ter uma referência ofensiva: a aposta no trio de ataque muito móvel, sem um ‘9’ claro e com Salah, Mané e Firmino e trocarem de lugares entre si e a destruir defesas com recurso à profundidade, obrigou a uma injeção de soluções que pudesse permitir algum descanso ao egípcio, ao senegalês e ao brasileiro. Minamino chegou logo em 2020, Jota apareceu na época passada, Díaz foi contratado ao FC Porto em janeiro e encaixou que nem uma luva na lógica de Jürgen Klopp. De repente, o alemão deixou de ter três avançados e passou a ter seis.

Liverpool v Leicester City - Premier League - Anfield

Diogo Jota e Luis Díaz chegaram para ser alternativas ao trio ofensivo e encaixaram na perfeição nas pretensões de Klopp e na dinâmica da equipa

PA Images via Getty Images

Konaté chegou do RB Leipzig para colmatar os problemas no eixo defensivo que obrigaram à tal titularidade de Phillips e Williams — ou à adaptação de Fabinho — e Thiago Alcântara deixou o Bayern Munique para render Wijnaldum após a saída do neerlandês para o PSG. Depois de um início atribulado, com a maioria dos críticos a defender que o espanhol piorava o Liverpool e não era o jogador ideal para um meio-campo orientado por Klopp, Thiago é agora o eixo por onde passa todo o perfume dos reds. Entre as funções defensivas, o critério ofensivo e um talento com a bola nos pés que faz com que tudo o que faça pareça saído de um jogo de PlayStation, o médio é talvez a cara do enorme salto qualitativo e quantitativo que o Liverpool deu de 2018 para 2022.

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Um clube vencedor que deixou de ter pena de si próprio

Na primeira reunião com os jogadores como treinador do Liverpool, Jürgen Klopp entrou no balneário e escreveu “TEAM”, equipa, no quadro branco. “É isto que quero que sejamos”, acrescentou. “‘T’ é para Terrível de enfrentar. ‘E’ é para Entusiasmados. ‘A’ é para Ambiciosos. E ‘M’ é para Máquinas de Mentalidade”, explicou. A mensagem era simples e o objetivo era precisamente esse, simplificar ao máximo o que era pretendido e ser claro nas comunicações.

A aposta no trio de ataque muito móvel, sem um '9' claro e com Salah, Mané e Firmino e trocarem de lugares entre si e a destruir defesas com recurso à profundidade, obrigou a uma injeção de soluções que pudesse permitir algum descanso ao egípcio, ao senegalês e ao brasileiro.

“Quando cheguei, ninguém gostava da equipa. Nem sequer a equipa gostava da equipa! Eles não o diziam mas nem precisavam, porque eu conseguia ver. Achavam que não eram bons o suficiente para estar no Liverpool porque toda a gente lhes dava essa sensação. A única pessoa que estava contente com a equipa era eu. Era uma boa equipa, especialmente porque era a nossa equipa. Quando não a podemos mudar naquele momento, porque é que vamos pensar sobre isso? Não conseguia perceber”, disse mais tarde o alemão, citado pelo The Independent.

A relação entre treinador e jogadores, assente numa base de confiança mútua e de proximidade acima da média, ficou desde logo expressa na última jornada da Premier League de 2018/19. Ainda antes de conquistar a Liga dos Campeões pela sexta vez na história do clube, o Liverpool também perdeu a liga inglesa para o Manchester City no último fim de semana, apesar de ter alcançado um registo recorde de pontos numa única época. Quando chegou ao balneário, o ambiente era de óbvia desilusão. Mas o treinador depressa recordou à equipa que o mais difícil já tinha sido feito.

Real Madrid v Liverpool - UEFA Champions League Final

A final da Liga dos Campeões de 2017/18, entre o Real Madrid e o Liverpool, ficou muito marcada pela lesão precoce de Salah num duelo com Sergio Ramos

Getty Images

“Não podia estar mais orgulhoso de todos vocês. O que vocês conseguiram fazer esta temporada é inacreditável. Estou tão feliz por ser vosso treinador, não trocava este grupo de gigantes de mentalidade por ninguém. Vocês vão ser vencedores porque é aquilo que todos vocês são”, disse o treinador, que mais de um ano depois se tornou o líder da equipa a conquistar a Premier League mais cedo numa temporada, já que ainda faltava disputar sete jornadas do Campeonato.

A ligação próxima entre Klopp e o plantel, porém, nunca apagou o nível de compromisso exigido pelo treinador alemão. Quando chegou, o técnico acabou com uma tradição que existia há décadas no Liverpool como forma de motivar a equipa. À saída dos balneários e à entrada do relvado do estádio, existe uma placa onde se lê “This Is Anfield”, instalada pelo histórico treinador Bill Shankly de forma a impor desde logo o poderio do recinto ao adversário. Todos os jogadores dos reds, de Shankly para cá, tinham o hábito de tocar na placa antes de entrar no relvado, quase em formato de amuleto da sorte. Quando chegou, Klopp proibiu a equipa de o fazer e disse que só voltariam a tocar no quadro quando conquistassem um troféu para o Liverpool. Só em junho de 2019, depois de vencerem a Liga dos Campeões, é que Van Dijk, Henderson, Firmino, Salah e companhia puderam finalmente tocar na porta de entrada para o relvado de Anfield.

"Quando cheguei, ninguém gostava da equipa. Nem sequer a equipa gostava da equipa! Eles não o diziam mas nem precisavam, porque eu conseguia ver. Achavam que não eram bons o suficiente para estar no Liverpool porque toda a gente lhes dava essa sensação. A única pessoa que estava contente com a equipa era eu."
Jürgen Klopp

O treinador alemão construiu um grupo habituado a ganhar, seja a cada jornada da Premier League ou nos palcos mais importantes da Europa, e ensinou-o a usar cada derrota enquanto gasolina para a vitória seguinte. “Esta temporada tem sido absolutamente incrível e não acabou hoje. Acaba na próxima semana. E vamos dar tudo o que temos. Temos cinco dias para preparar a final e vamos enfrentar uma equipa com muita experiência. Mas é ok. Perder a liga hoje aumenta o desejo de pôr as coisas no sítio certo na próxima semana”, disse o técnico no passado domingo, logo depois de o Manchester City carimbar o bicampeonato. A conquista da Premier League em 2020, porém, levou o Liverpool para outro patamar.

A conquista da Premier League — e o fim dos impossíveis

Foram 30 anos. Três décadas inteiras. De 1990 a 2020, o Liverpool não foi campeão inglês, não conquistou o título mais importante do futebol inglês e não subiu ao topo incontestável do futebol inglês. 30 anos em que, apesar das duas Ligas dos Campeões, das Taças da Liga e de Inglaterra e até de uma Taça UEFA que foram parar ao museu, o Liverpool não chegou ao patamar mais pretendido. O Liverpool foi campeão europeu e campeão mundial e só depois conseguiu ser campeão inglês — e esse momento é um dos grandes pontos de viragem que marca a diferença entre a final da Liga dos Campeões de 2018 e a deste sábado.

Everton v Liverpool - Premier League

Thiago Alcântara, que demorou a adaptar-se ao futebol inglês, é agora a principal referência do meio-campo do Liverpool

Liverpool FC via Getty Images

Até pela forma como aconteceu. O Liverpool conquistou a Premier League a sete jornadas do fim, quase como se o facto de o Manchester City ter sido campeão na época anterior precisasse de ser corrigido com uma das vitórias mais retumbantes dos últimos anos na liga inglesa, e nunca permitiu que existissem grandes dúvidas acerca do título. E nem a pandemia, o facto de as primeiras medidas de desconfinamento no Reino Unido e no resto do mundo terem apenas algumas semanas, impediu milhares de adeptos de festejar algo que não era festejado há três décadas.

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Para os reds, chegar ao primeiro lugar da Premier League foi provar que não existem impossíveis. Que era possível voltar a chegar lá como o Arsenal chegou no início do milénio; que era possível voltar a chegar lá como o Manchester United chegou diversas vezes com Alex Ferguson; que era possível voltar a chegar lá como o Chelsea chegou, como o Manchester City chegou, como até o extraordinário Leicester de Claudio Ranieri chegou. Com Jürgen Klopp, o Liverpool voltou a ter certezas e largou os contos de fadas. E esse foi o grande salto que uma equipa inteira deu no espaço de quatro anos.

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