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Leonel de Castro / Global Imagens

Leonel de Castro / Global Imagens

Balla acerta em GNR experiente

A música de Armando Teixeira e a voz de Rui Reininho em "CHÁ, CAFÉ e etc.". O encontro de dois vultos da música portuguesa deu um livro, com ilustrações de Marta Madureira, e um disco.

O homem Balla não queria chegar atrasado ao lançamento de “CHÁ, CAFÉ e e etc”, na Feira do Livro do Porto. Saiu de Lisboa, entrou na A1, acelerou, subiu com a pressa toda que trazia na ideia. Chegou num instante ao terminal de pagamento instalado num carro da polícia. Pagou a multa, prosseguiu a viagem e lá conseguiu estar à hora marcada nos jardins do Palácio de Cristal. O homem Balla deste prelúdio é Armando Teixeira.

Aqui o temos sentado em frente ao Rui Reininho, com esta história e com um desabafo: “não queria falar mais com GNR’s, mas hoje não me safo”. O GNR do Grupo Novo Rock sorri. Mais adiante a conversa extravasa as páginas do livro, quer falar da cópia privada e das editoras, mas para já não, para já pega no título e pergunta:

Chá ou café?

Rui Reininho – Chá. Sempre chá. Café não. Já sou um bocado acelerado, caí no Red Bull quando era pequenino.

Armando Teixeira – Laranjada.

Vem muito a propósito esta resposta cor de laranja. O título esteve para ser CHÁ, CAFÉ e laranjada”, primeiro, ” e poesia”, depois, culminando em “e etc”, “por causa da editora do Vítor Silva Tavares”, esclarece Rui Reininho. Em dois anos de trabalho, Armando e Rui juntaram dezoito poemas com chá, café e outras coisas, como por exemplo, comboios, o ar da manhã, a arca de Noé ou uma esplanada.

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É precisamente onde estamos. Numa esplanada montada para a Feira do Livro do Porto nos jardins do Palácio. Esplanada é também um poema de Manuel António Pina, trazido ao livro e ao disco, dito pelo Rui Reininho é tocado pelo Armando Teixeira. Poema que vamos espalhando pelo texto como quem cultiva a prosa.

Rui Reininho e Armando Teixeira

“Naquele tempo,

falavas muito de perfeição, da prosa dos versos irregulares

onde cantam os sentimentos irregulares”

A Editora Tcharan aceitou o projeto. Os autores surpreenderam-se. Reininho lembra que estamos a falar de uma pequena editora mais voltada para a publicação de livros infantis. E logo acrescenta: “numa editora tradicional seria kamikaze“. Armando lembra que “as coisas devem ser pagas. Os autores devem ver o seu valor reconhecido”.

Entrámos então numa outra discussão. É aqui que a conversa galga as páginas do livro, vai por aí fora, de encontro à Lei da Cópia Pirata. Armando Teixeira descobre “situações ridículas”. Diz que “estamos a falar de um aumento de 25 cêntimos em 600 euros”. Reininho diz que tudo faz parte de alguma mesquinhez nacional: “há tempos houve alguém que me disse que não punha música no telefone. Algumas pessoas deviam ter era uma cabine telefónica em casa”.

Sem que se saiba muito bem como, entre cópias e piratas, Madonna vem à baila e quem a traz é um rapaz sensivelmente da mesma idade, Rui Reininho:” tenho inveja da Madonna, mas só fisicamente. E agora nem tanto, porque ela andou a fazer umas coisas à cara”.

Capa do livro/disco

Chá, café, música e poemas

A voz da banda portuguesa Balla não entra do disco que acompanha o livro. Armando Teixeira teceu toda a base sonora no seu estúdio, em Odivelas, mediante as frases que iam chegando da latitude muito particular de Rui Reininho. Ora lhe surgia no caminho a senhora chinesa de um loja de chás, ora um amigo lhe punha diante dos olhos um poema com chá e café, sem pressão, sem urgências.

Estão os dois muito satisfeitos com o resultado final, dizem que ” é engraçado poderem ser surpreendentes, de uma maneira quase anónima”. A surpresa está vertida em dezoito poemas. De Maria Alberta Menéres, a Mário Cesariny, de Pedro Mexia a Almada Negreiros, de Adélia Carvalho a Matilde Rosa Araújo. Sem esquecer Manuel António Pina, que não estando nesta esplanada do Palácio, está.

“Envelhecemos todos.

Tu, eu, e a discussão.

Agora lês Saramagos e coisas assim

e eu já não fico a ouvir-te como antigamente,

olhando as tuas pernas

que subiam lentamente

até um sítio escuro dentro de mim”

Feira do livro do Porto, sábado do miolo de setembro, pelas quatro da tarde. Dois miúdos querem autógrafos. Há mais gente pelas bancas, mas não há assim tanta gente. Os livros estão sozinhos no mundo, ou quase.

“Os livros precisam de mais divulgação”, está agora a voz do GNR a tomar conta da ocorrência e logo apontam um episódio de um vídeo onde “um personagem conta que é escritor e outro personagem se espanta e exclama, olha, há mesmo gente que faz livros”. Ali adiante há um palco à espera ter em cena “CHÁ, CAFÉ e etc.”. Será só depois do resto da conversa:

Armando Teixeira – Com o Rui tenho de estar sempre preparado para tudo. É como um quadro. Eu faço as molduras e o Rui pinta.

Rui Reininho – O pintor é o Armando. Sabe tudo sobre as camadas de tinta, sabe quando se deve parar e dizer está pronto!

Rui Reininho e Armando Teixeira

Conheceram-se pessoalmente por causa de uma gravação para a FNAC, talvez há uns dez anos.

Rui Reininho – Vi-o antes no Lux. Achei muito interessante. Já posso dizer que, defeito, não lhe conheço nenhum. É só virtudes. É um dos músicos em Portugal com mais liberdade. Tem este ar tranquilo de quem faz o que quer fazer. É um dos músicos mais visitados em termos de produção. Tenho muita inveja dele. É bom rapaz. Tem muito bom cabelo.

Armando Teixeira – Acompanhei o Rui desde sempre, desde o disco Independança, dos GNR. A mãe de um amigo meu costumava dizer que era muito parecido com o Reininho. Durante a minha carreira fui conhecendo todos os meus heróis. O Rui é o único com quem não me desiludi. É um excelente músico. Tenho por ele uma grande admiração pessoal. Está quase a chegar ao fim o encontro na esplanada dos Jardins do Palácio e na Esplanada do Manuel António Pina.

“O café agora é um banco,

tu professora de liceu.

Bob Dylan encheu-se de dinheiro

o Che morreu.

Agora as tuas pernas são coisas úteis

andantes e não caminhos para

andar como dantes”

Na hora de ir embora, ficam os caminhos por onde vão andar os dois protagonistas deste encontro. Armando Teixeira lançou Cosmic Noise, disco com o projeto Bullet. E para o ano haverá um novo álbum de Balla. Reininho vem aí em 2015 com um novo GNR, talvez um lançamento digital, pela etiqueta IndieFada, “uma fada independente”. Longe dos tempos do lançamento de Retropolitana: “na RFM disseram que não estavam muito interessados em passar GNR, antes de ouvirem o disco. Mais tarde quando vieram ter connosco, dissemos que também não estávamos muito interessados em RFM”.

Rui Reininho e Armando Teixeira

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