Não há margem para divisões. Na hora da despedida de Catarina Martins, onze anos depois de ter pegado no leme do partido ao lado de João Semedo, o Bloco quer apresentar-se como uma frente unida e evitar embates entre as principais tendências, que estão a preparar uma moção conjunta. Com vários dos rostos mais conhecidos do partido a colocarem-se prontamente fora da corrida à sucessão, quem se prepara para avançar é Mariana Mortágua, sabe o Observador.

Assim que Catarina Martins fez a curta declaração, na manhã desta terça-feira, em que desfazia o tabu que os dirigentes do Bloco vinham alimentando há semanas, os bloquistas começaram a passar uma mensagem: o partido está unido — incluindo na solução de futuro que promete apresentar já até ao fim do mês.

“A sucessão vai ser muito pacífica. Em termos de direção, de certeza absoluta. As soluções futuras estão a ser construídas com enorme unidade“, apontava ao Observador, minutos depois, um dirigente que acompanhou o processo, enquanto se sucediam as ‘negas’ de vários dos nomes que costumam estar mais bem cotados na bolsa de apostas do Bloco, autoexcluindo-se da corrida.

“Não”, respondeu simplesmente à Renascença, quando confrontado com a questão, o líder parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares. “Não admito”, acrescentaria, aos microfones do Observador, a eurodeputada Marisa Matias, outro dos nomes sempre dados como prováveis para uma sucessão no Bloco.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Dos nomes mais apontados, e dados como prováveis dentro do partido, sobrava assim o da deputada e dirigente Mariana Mortágua, que não se pronunciou, mas que vai avançar, de acordo com as informações apuradas pelo Observador e avançadas antes pela SIC.

Ao contrário de grande parte dos dirigentes bloquistas, que se apressaram a dizer adeus a Catarina Martins nas suas redes sociais ou em declarações à imprensa, a candidata a candidata com mais força para suceder a Catarina Martins teve uma reação simples: limitou-se a republicar, no Twitter, a mensagem com que a coordenadora se despediu dos “ativistas” do Bloco. Depois, acrescentou outra mensagem de força à líder cessante: “Conta connosco porque contamos sempre contigo”.

Embora o Bloco queira manter-se em silêncio e longe de “especulações” — ao Observador, são vários os dirigentes que se recusam a falar em nomes e que recordam que primeiro é preciso construir as moções que levarão à convenção do partido, em maio — a hipótese Mortágua já ganhava força por vários outros motivos: por um lado, apurou o Observador, é a única deputada que não excluiu ser candidata, o que pode ser um fator importante num partido que viu o seu palco parlamentar e mediático reduzido desde as últimas eleições.

Por outro, Catarina Martins disse ter anunciado agora a sua decisão de sair por “lealdade” a quem está a preparar-se para a convenção mas, na verdade, falou a apenas 13 dias do prazo de entrega das moções — o que indicia que será difícil haver grandes surpresas ou nomes que não estivessem já a ser preparados.

Principais tendências rejeitam embate e fazem “caminho” juntas

Do lado dos críticos internos, não demorou a ser agitada a hipótese de a saída de Catarina Martins levar a nova agitação interna, uma vez que havia quem apontasse a recente entrevista de Luís Fazenda (da corrente que veio da UDP, e que inclui os deputados Pedro Filipe Soares e Joana Mortágua) ao Público como um sinal de que agora seria “a vez” de essa corrente chegar à liderança do partido.

No entanto, o Observador confirmou que esses nomes se excluem da corrida e que mesmo na tendência que teve origem na UDP — e que se confrontou com a linha de Catarina Martins na última convenção em que o Bloco esteve partido, em 2014 — a ideia é que a maioria que as duas principais tendências formam desde então “está sólida”.

“Se houvesse cisão já se teria dado a conhecer, não se esperaria por este momento para isso”, sublinha uma fonte associada à corrente encabeçada por Pedro Filipe Soares. Outra acrescenta que “está a ser feito um caminho no sentido” de voltar a juntar as duas tendências principais numa só moção.

No grupo mais próximo de Catarina Martins, garantias na mesma linha: “As tendências que compõem a atual direção estão em total sintonia e a Catarina deu um contributo enorme para isso”, sublinha um dirigente, frisando que “há anos que não há disputas entre as várias sensibilidades da direção”.

Debilitados por nova regra interna, críticos do Bloco tentam “federação” para enfrentar direção

Não há, por isso, quem antecipe um confronto na convenção — muito menos quando a decisão é tomada já tão em cima da data de apresentação das moções.

Sobra, assim, a certeza de um embate apenas entre a linha oficial do partido e a linha minoritária de críticos internos, do grupo Convergência, que já na convenção anterior apresentou um documento próprio — e que agora, com regras novas que exigem um número muito mais elevado de subscritores para avançar com uma moção, tentam federar o que sobra dos críticos internos para apresentar uma frente unida contra a direção.

Artigo atualizado às 15h29 com a informação de que Mariana Mortágua avança com uma candidatura.