A um dia do início da época de incêndios e um dia depois de um debate quinzenal sobre o assunto, Paulo Rangel quis colocar sal nas maiores feridas do Governo de Costa: os incêndios. E outras falhas na proteção de pessoas e bens, como Borba. Além disso, avisou os portugueses que continuam em perigo. Quer os que vivem em Pedrógão Grande ou no resto da zona centro , quer as mais de vinte mil pessoas que passam todos os dias num IP3 maltratado. Sobre os incêndios, Rangel podia aparecer como um profeta da desgraça (a anunciar um diabo que não vem), mas o que disse foi certificado por um dos maiores especialistas em incêndios: Xavier Viegas.
Para o fazer, Rangel começou o dia a sobrevoar as zonas ardidas durante os incêndios de 2017, o que dá versatilidade à campanha. De helicóptero, o que dá colorido à campanha. Já no primeiro dia, tinha andado de bicicleta. É uma campanha-helicóptero: gira e boa. Gira, porque circula em várias ações, boa, do verbo “boar” em terras de Viseu e Coimbra, por onde tem andado.
Pedro Marques anunciou melhorias no IP3. E o que aconteceu? “Nada”
Rangel denunciou as falhas e também os culpados. Se em tempos a direita criou a expressão “a culpa é do Passos” para ironizar a forma como a esquerda atribuía tudo o que ia mal no país a Passos Coelho, agora Rangel esforça-se por provar que a culpa é do Costa. Mas também do Centeno e, acima de tudo, de Pedro Marques. A culpa é dele na forma como o fundo de solidariedade não foi aproveitado, é dele nas falhas na reconstrução das casas de Pedrógão e do não avanço das obras no IP3 (que anunciou algo que ainda não começou).
“Em 2009 vencemos o candidato Vital, em 2019 vamos vencer o candidato virtual”
A frase não é do segundo dia de campanha, mas quase. Foi dita na segunda-feira à noite já perto da meia-noite e entra no top dos soundbites. Rangel quer transmitir nesta frase que ambiciona ganhar como há 10 anos, que acredita em algo que poucos julgam possível e ainda insiste que Pedro Marques é uma espécie de avatar de Costa.
Numa noite inspirada em termos de frases, Rangel disse ainda que não quer “mais Berardos”, defendendo que foram os socialistas no tempo de Sócrates que ajudaram o comendador a conseguir empréstimos no BCP, tendo como objetivo o controlo da banca. Sobre as esperas na Loja do Cidadão, Rangel afirmou ainda que num Estado “simplex, onde tudo é rapidex, não há um cartão do cidadex” que chegue rápido às pessoas.
Alto. Embora haja outros meios importantes, como as redes sociais, a campanha ganha-se e perde-se na televisão. Nas feiras, percebe-se que é “pela televisão” que os portugueses vão sabendo das eleições de 26 de maio. Desse ponto de vista, a campanha de Rangel foi desenhada de forma a dar muitos “bonecos”, que são complementados com discursos políticos “à Rangel”: rasgados, anti-PS e populares. Tem a imagem e o conteúdo. Depois da bicicleta na ria de Aveiro, o helicóptero é um exemplo disso.
Baixo. O presidente da câmara da Pampilhosa da Serra, autarca do PSD, considerou uma “afronta” Rangel ter sobrevoado a Pampilhosa da Serra. José Brito diz que lhe apeteceu “gritar”, já que Rangel não visitou o concelho. A irritação de José Brito terá uma justificação: a campanha de Rangel tinha previsto passar por ali, mas o evento saiu da agenda. Isso terá motivado a ira do autarca. É sempre negativo ter um autarca do próprio partido a criticar uma ação que marcou o dia.
A viagem de helicóptero é um marco no dia de campanha. Rangel sobrevoou as zonas ardidas e alertou para o perigo que continua a existir naquelas zonas a um dia do início oficial da época de incêndios. Teve um bom “boneco” mediático, mas também teve o primeiro dissabor da estrutura, com as críticas de um autarca à viagem de helicóptero.
A manhã começou entre o Aeródromo de Cernache, Coimbra, e o Aeródromo da Lousã: o carro do Observador fez 32 quilómetros, mas Paulo Rangel e alguns jornalistas (incluindo João Porfírio do Observador) fizeram muitos quilómetros pelo ar em mais de uma hora de viagem de helicóptero; até Penacova, com paragem no Leitão do Aires (a equipa do Observador também parou num típico almoço-backoffice) foram mais 25 quilómetros até Penacova, onde foram denunciadas falhas no IP3. Até à fábrica Frisalgados, em Tábua, foram mais 38 quilómetros. Dali para o Museu do Azeite, na Bobadela, mais 18. A esses somaram-se mais 33 para o jantar-comício em Arganil. O dia vai acabar com uma viagem noturna para Lisboa que será qualquer coisa como 258 quilómetros. O dia 2 somará assim 404 quilómetros. E o acumulado sobe para 569.