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Brazilians Go to Polls in Tight Elections Polarized between Lula and Bolsonaro
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Bolsonaro obteve 43,25% dos votos

Getty Images

Bolsonaro obteve 43,25% dos votos

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Bolsonaro sobrevive ao primeiro embate, mas agora tem a História contra ele

Com 43% dos votos, Bolsonaro passa à 2.ª volta, apesar do que diziam sondagens "desmoralizadoras". Estratégia é agora mostrar que políticas de esquerda não resultam e que economia "está a recuperar".

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As sondagens dos últimos dias não eram animadoras para Jair Bolsonaro. Vários estudos de opinião apontavam uma vitória de Lula da Silva à primeira volta e um resultado na ordem dos 36% para a sua candidatura. Mas o atual Presidente surpreendeu — e angariou mais de 50 milhões de votos (43%), preparando-se agora para disputar uma segunda volta. Ainda assim, a tarefa não será fácil; não só terá de lutar contra uma desvantagem de mais de seis milhões de votos como terá de desafiar a História, uma vez que nenhum candidato que terminou em segundo lugar conseguiu virar o resultado.

“A campanha não atingiu a camada mais importante da sociedade”, reconheceu Jair Bolsonaro em conferência de imprensa, momentos após serem conhecidos os resultados eleitorais, sublinhando que “pela frente” há um “segundo tempo” que lhe vai permitir inverter a tendência. No entanto, o Presidente brasileiro assumiu ter feito uma autoanálise, mostrando entender as razões para este resultado, incluindo a perda de votos nos maiores colégios eleitorais e o facto de a vida dos cidadãos “estar um bocadinho pior”.

Tendo obtido 43,25% dos votos (menos cinco pontos percentuais que Lula da Silva), Jair Bolsonaro assegura que vai mostrar aos eleitores que o “Brasil se saiu melhor na questão da economia” e que a “vontade de mudar” — que o Presidente até “entende” — pode levar a um “mau caminho”, à semelhança do que aconteceu em países como a Argentina, o Chile ou até a Venezuela.

As sondagens “desmoralizadoras”

“Vencemos as mentiras.” Bolsonaro reagia assim à diferença entre as sondagens publicadas nos últimos dias e os resultados finais. Este sábado, dois estudos de opinião (um publicado pela Globo, outro pela Datafolha) davam a vitória a Lula da Silva com mais de 50% dos votos. Por sua vez, o Presidente brasileiro obteria um resultado na ordem dos 37%. 

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Press conference of Jair Bolsonaro

As sondagens davam 37% a Bolsonaro

Anadolu Agency via Getty Images

Este cenário acabou por não se confirmar. Lula da Silva ficou-se pelos 48%, enquanto Jair Bolsonaro conseguiu 43%. A diferença de 13 pontos percentuais encolheu para, somente, cinco. “As sondagens são desmoralizadoras”, atirou o atual Presidente, sinalizando que isso pode ter influenciado os resultados finais.

De acordo com as sondagens mais recentes (publicadas antes de serem conhecidos os resultados finais), uma reeleição continua a ser uma hipótese muito improvável. Lula da Silva deverá obter 54% dos votos, enquanto Jair Bolsonaro não terá mais de 37%. Mas “agora é confiança total”, garantiu o Presidente brasileiro.

Novas sondagens põem Lula perto de vitória à primeira

Bolsonaro vai focar-se na economia e mostrar as desvantagens das políticas de esquerda

Na campanha para a segunda volta, Jair Bolsonaro compromete-se a mostrar à “sociedade”, em particular “às classes mais afetadas” pelo atual estado da economia, que as políticas de esquerda “que alguns querem” podem ser “piores” para o Brasil, lembrando o que aconteceu com o Chile, a Argentina (“em que 40% da população está no limiar da pobreza”) e até a Venezuela, “que já estava em crise antes da Covid-19”.

“A mensagem para o segundo turno? A mensagem é que o Brasil é um dos países do mundo que melhor se está a sair na questão económica”, afirmou Jair Bolsonaro. Muito criticado pela gestão da pandemia, o chefe de Estado brasileiro decidiu igualmente salientar os feitos durante o seu mandato, tais como o facto de o “Brasil ter comprado 500 milhões de doses de vacinas”. “Temos dados positivos. Acredito que quatro semanas dá para explicar bem isso”, esclarecia o chefe de Estado.

"A mensagem para o segundo turno? A mensagem é que o Brasil é um dos países do mundo que melhor se está a sair na questão económica"
Jair Bolsonaro

Ainda assim, Jair Bolsonaro admitiu que a “vida ficou um bocadinho pior” nos últimos tempos para algumas camadas da população. E apontou três fatores: a pandemia de Covid-19, a “guerra lá fora” — aludindo ao conflito na Ucrânia — e até uma “crise ideológica”.

“As pessoas buscam um responsável e culpam o chefe do executivo”, lamentou Jair Bolsonaro, que depois passou a elencar os dados económicos positivos. “Estamos no terceiro mês de inflação, mas a cesta básica [os produtos usados, em média, por uma família durante um mês] baixou, apesar de ainda não estar aos níveis pré-pandemia”, apontou. Os preços dos combustíveis “também diminuíram” e até os “roubos em agência de banco” são menores.

“Logicamente, o debate vai continuar e vamos convencer as pessoas de qual é o melhor lado”, disse Jair Bolsonaro. Apesar de a “vida ter ficado pior”, a sua campanha passará por “dar mais ênfase” às melhorias registadas na economia, “que está a recuperar bem”.

O que vai Bolsonaro fazer?

Para mostrar “às pessoas qual é o melhor lado”, Bolsonaro teve de analisar quais foram os principais problemas e as áreas em que pode cativar o eleitorado. Em primeiro lugar, o Presidente brasileiro reconheceu que perdeu votos nos maiores colégios eleitorais: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Em Minas Gerais, o Presidente brasileiro conseguiu 43% contra os 48% obtidos por Lula da Silva. Há quatro anos, havia conseguido uma vitória confortável com 48% (contra 27,65% do candidato do PT, Fernando Haddad). Já Rio de Janeiro e em São Paulo, Jair Bolsonaro manteve a vantagem, mas com um resultado menos expressivo. Na primeira cidade, obteve 59,79% em 2018 (agora conseguiu 51%), enquanto na segunda passou de 53 para 47%. O objetivo passa agora por reconquistar os votos perdidos.

Além disso, o chefe de Estado brasileiro adiantou que “vai contar com alguns aliados”, nomeadamente com alguns responsáveis políticos regionais que acabaram eleitos na primeira volta. Segundo Jair Bolsonaro, um deles será Romeu Zema, que foi reeleito este domingo governante de Minas Gerais.

Em cima da mesa também está a possibilidade de conversar com os candidatos que ficaram em terceiro e quatro lugar nesta primeira volta, Simone Tebet e Ciro Gomes, para garantir alguns votos que permitam a Jair Bolsonaro superar Lula da Silva. “As portas estão abertas para conversar.”

Bolsonaro vai tentar captar votos de Simone Tebet e Ciro Gomes

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Descartada fica, por agora, uma possível impugnação das eleições por conta de uma alegada fraude eleitoral. Instado pelos jornalistas a comentar o tema, o Presidente do Brasil evitou dar uma resposta contundente e limitou-se assumiu que o voto eletrónico pode ter “falhas”, salientando a importância de perceber se houve erros.

Quais são as reais chances de Bolsonaro ser reeleito?

“A confiança é total”, vincou durante a conferência de imprensa o Presidente brasileiro. Mas, para ganhar na segunda volta, Bolsonaro precisa mais que confiança, de ir buscar votos a outras candidaturas e evitar que elas fortaleçam ainda mais Lula da Silva.

A História não está a seu favor, dado que, desde a implementação do sistema de duas voltas, nenhum segundo lugar na primeira volta conseguiu ‘virar’os resultados. Jair Bolsonaro também não ganhou Minas Gerais — o segundo maior colégio eleitoral e que tradicionalmente aponta o vencedor das eleições.

Relativamente ao eleitorado de Simone Tebet e Ciro Gomes, a questão também não é fácil. De acordo com uma sondagem publicada na Folha, 31% dos eleitores da candidata do MDB referiram que, numa possível segunda volta, votariam em Lula da Silva contra os 15% que dariam o seu voto a Jair Bolsonaro; 34% preferiam não votar ou então votar em branco. Entre os votantes em Ciro Gomes, a tendência é semelhante: 22% escolheriam o atual Presidente, contra 31% para o candidato do PT; 32% não votariam.

Esta transferência de votos deve-se, em parte, às diferenças ideológicas entre os candidatos Ciro Gomes, que se assume de centro-esquerda, e Simone Tebet, que é uma candidata de centro. Sendo Bolsonaro um Presidente (e candidato) de direita, será difícil cativar aquele eleitorado, que deverá, em teoria, preferir votar em Lula da Silva, ainda que o petista também tenha desenvolvido anticorpos — inclusive no seu espetro político.

A sondagem da Folha também mostra uma taxa de rejeição elevada para Bolsonaro. Cerca de 52% dos inquiridos asseguraram que nunca votariam em Jair Bolsonaro. Neste parâmetro, Lula da Silva fica-se pelos 40%. Estas duas percentagens altas devem-se a uma bipolarização da cena política brasileira, em que o centrão perdeu muita da sua força, criando mais espaço para os extremos.

Brazilians Go to Polls in Tight Elections Polarized between Lula and Bolsonaro

Jair Bolsonaro tem, de acordo com as sondagens, uma taxa de reprovação de 52%

Getty Images

Em contrapartida, os resultados parecem ser mais animadores no que diz respeito ao Congresso e ao Senado. Os candidatos apoiados por Bolsonaro estão em vantagem em ambas as câmaras. “Temos um quinto do congresso. Isso é bastante”, salientou o Presidente brasileiro, que avançou que vai começar “já a negociar” para “formar boas alianças” antes “mesmo da segunda volta”.

A 30 de outubro, Jair Bolsonaro vai novamente a votos. E vai esperar que os brasileiros “não tenham vontade” de mudar.

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