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Carla Castro é deputada e candidata à presidência da IL
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Carla Castro é deputada e candidata à presidência da IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carla Castro é deputada e candidata à presidência da IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carla Castro: "Fui solidária com a liderança da IL, mas não sou uma 'yes girl'"

Em entrevista, Carla Castro diz que nunca fez críticas à gestão da IL por lealdade à direção, que, sugere, tem sido autocrática. Fecha a porta ao Chega, mas só no Parlamento — nos Açores é para manter

Garante que vai conseguir unir o partido depois da corrida à liderança da Iniciativa Liberal, mas não recua na vontade de convocar eleições para a bancada parlamentar. Assegura que sempre fez críticas à forma como o partido foi conduzido, mas só em reuniões da direção. Escusa-se a classificar João Cotrim Figueiredo como líder autocrático, mas defende como objetivo fazer as coisas de forma “mais descentralizada”. Critica a forma como são escolhidos os deputados, mas não levantou dúvidas sobre o processo que resultou na sua própria escolha como deputada.

Em entrevista ao Observador, no programa “Sob Escuta”, Carla Castro, deputada e candidata à liderança da Iniciativa Liberal, recusa as críticas de deslealdade dos adversários e chega a sugerir que está em curso uma ofensiva própria das campanhas internas de outros partidos.

“Nós não somos um ‘PSD 2’, não estamos aqui com outras práticas partidárias. Eu não ando com liberalómetros, não ando ‘perturbada’, não ando a escrutinar o que é que outros disseram há não sei quantos anos”, diz.

Sobre atuais e futuros acordos com o Chega, Carla Castro põe as coisas nestes termos: “Nos Açores, é para replicar no futuro; na Assembleia da República, não é aceitável”, diz. Nesta entrevista — a terceira de uma série que contou com os três candidatos à liderança da IL e que culminará com um debate entre todos, agendado para esta quinta-feira –, Carla Castro deixa ainda outra certeza: se for escolhida como líder do partido e se falhar a eleição de um eurodeputado, colocará o lugar à disposição.

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[Veja aqui na íntegra a entrevista a Carla Castro]

“Deputados não estão contra mim. Essa narrativa não está correta”

Nesta campanha, tem dito frases como: “Tenho exercido um belíssimo mandato como deputada”; “É-me reconhecida uma atuação proativa”; ou “Eu sou parte do sucesso da Iniciativa Liberal”. Ao mesmo tempo, tem apresentado poucas propostas para o país. Não se foca demasiado nas suas qualidades pessoais para quem quer ser presidente de um partido que diz que o mais importante são as ideias?
Concentro-me muito em mim própria e muito na equipa e no resultado que temos, quer ao longo destes três anos, porque este sucesso é construído ao longo destes anos. Exibo com orgulho o papel que tenho exercido, mas faço questão de falar na equipa que tenho para a própria Comissão Executiva. Farto-me de dizer, com muito orgulho, que dezenas de membros anónimos todos os dias contribuem para o gabinete de estudos. É um desassossego construtivo que nos une muito e que faz com que façamos parte de um projeto de sucesso.

Diz que vai a votos com “uma lista com capacidade unificadora”. Mas não tem o apoio de nenhum dos deputados da IL, que são os seus colegas mais próximos, e já disse que quer eleições para bancada parlamentar sem sequer os consultar. Se não consegue unir os deputados como vai unir o partido?
Tenho um perfil bastante unificador.

Sim, mas os deputados que trabalham todos os dias consigo estão unidos contra si. 
Essa narrativa e os termos não são os corretos. Alguns participam na Comissão Executiva de Rui Rocha. A partir desse momento, é natural que estejam com o Rui Rocha.

Claro, escolheram outra pessoa.
Não. Foram convidados, aceitaram e acho que fizeram muitíssimo bem.

Mas convidou algum que não tivesse aceitado o convite?
De todo. Neste momento, acho que é um sinal muito positivo que a Comissão Executiva não precise de viver de deputados ou de pessoas associadas à Assembleia da República.

Prefere não os ter?
Trabalho em conjunto com eles, estamos unidos a trabalhar na Assembleia da República, tal como estaremos depois das eleições, independentemente do resultado. Não estamos uns contra os outros. Simplesmente, há dois projetos de liderança da Comissão Executiva, um deles inclui deputados, o meu não. Não inclui objetivamente, mas não é uma questão de preferir ou não preferir. Também é certo e sabido que Rui Rocha avançou antes.

Nunca quererá ter deputados numa Comissão Executiva sua?
Nunca é uma palavra bastante forte. Acho positivo que não haja neste momento.

Só a Carla Castro?
Estamos a falar de um presidente que acumula e que é normal nos partidos. E temos de enquadrar a fase em que estamos na IL, que é diferente agora. O partido é mais do que a Assembleia da República, tal como a equipa é mais do que a Comissão Executiva. Foram provocadas eleições, no sentido que não era expectável, e temos de nos projetar no futuro. Estamos num projeto muito mais maduro do que era há um ano, há seis meses, há três anos.

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“Não me revejo nas palavras de Rui Rocha. Acho desajustado”

Disse que no dia seguinte continuará a trabalhar com os deputados. Mas também já disse que quer eleições no grupo parlamentar. Não está a gostar do trabalho de Rodrigo Saraiva?
Há uma tradição parlamentar em que, perante mudança de lideranças, há novas eleições ou se coloca o lugar à disposição, mesmo que seja para reconduções. Essa não é a questão. Não é uma questão de confiança ou não confiança. Teria sempre de haver eleições, até porque eu sou vice-presidente da bancada parlamentar. É um não-caso.

E vota em Rodrigo Saraiva se se recandidatar?
Não vou dizer qual é o meu sentido de voto.

Porquê?
Porque acho que não devemos cair nos erros que apontamos. Na minha opinião, não deve haver uma designação do presidente do partido.

Mas nunca vai revelar o seu voto ou só agora?
Não pensei sobre isso. Mas não acho adequado dar uma indicação prévia, não podemos criticar de manhã e fazer a mesma coisa à tarde. Acho que deve haver um poder efetivo dos deputados escolherem. É uma tradição parlamentar, não tem nada a ver com confiança ou não confiança. É natural, nem sequer é um caso. Estamos em eleições e há situações que se tentam empolar e criar casos.

Vamos imaginar um cenário: os deputados, à exceção de Rodrigo Saraiva, já manifestaram apoio a Rui Rocha, se ninguém aceitar candidatar-se, considera candidatar-se a esse cargo?
O Carlos Guimarães Pinto manifestou claramente a sua equidistância.

Carlos Guimarães Pinto daria um bom líder parlamentar precisamente por ter mantido esta equidistância?
A partir do momento em que qualquer nome seria um bom nome significa que temos um grupo parlamentar com qualidade.

Mas alimenta a ambição de acumular os dois cargos?
Isso não, de todo. Não há uma questão em relação a quem avança e não avança. É uma não-questão. Os deputados liberais são responsáveis e temos missões.

Só para sistematizar: não exclui a hipótese de Rodrigo Saraiva ser reconduzido no cargo?
Claro que não.

Defende que o partido deve voltar a tentar eleger um vice-presidente na Assembleia da República. Na altura em que foi decidido não voltar a concorrer, enquanto deputada disse no grupo parlamentar que discordava?
Toda a decisão foi unânime: a apresentação e a não reapresentação. Foi uma decisão discutida e foi absolutamente tranquilo, tal como foi claro que deixaríamos em aberto a possibilidade de reapresentar mais tarde. Não é nenhum coelho tirado da cartola, não é nada de extraordinário.

Mas acredita que as circunstâncias mudaram e que agora faz sentido reapresentar.
As circunstâncias claramente mudaram. Estamos a falar de uma nova presidência e o próprio enquadramento partidário também é diferente.

Agora é importante ter um cargo de vice-presidente da Assembleia da República? É que um dos seus adversários, Rui Rocha, discorda disso.
Mas sempre concordámos que iríamos reequacionar a apresentação. As declarações de João Cotrim Figueiredo são claras em relação a isso. Não é uma surpresa. Na altura das eleições pode haver estas tentativas de criar questiúnculas.

Foi Rui Rocha que disse não perceber a sua preocupação em, a expressão é nossa, fazer um favor a Augusto Santos Silva.
Como é que é o projeto que vemos da IL? Um projeto de um partido responsável, de ideias, de princípios, de valores e só depois os cargos de poder. Mas temos de decidir qual é a postura que queremos ter: se queremos ser um partido de governo ou um partido de protesto. A representação parlamentar a propósito do vice-presidente está regulamentada, já estava em cima da mesa e não é favor rigorosamente nenhum.

Então qual é a sua interpretação das palavras de Rui Rocha, que sugere que está a tentar fazer um favor a Augusto Santos Silva?
Acho desajustado. As expressões são dele, não me revejo. A vontade institucional que haja um vice-presidente da IL foi manifestada em plenário. Não é surpresa, não há caso nenhum.

“Processo de escolha de deputados não foi participativo”

Na sua moção, diz querer “criar mecanismos mais transparentes e participativos de seleção dos candidatos a deputados”. Era assessora de João Cotrim Figueiredo no gabinete parlamentar quando foi escolhida para número dois a Lisboa: a sua escolha como deputada foi pouco transparente e pouco participativa?
Não participei no processo de escolha dos deputados.

Não lhe apontaram uma arma para ser deputada.
Não, tenho muitíssimo gosto em ser deputada.

Mas quer criar mecanismos mais transparentes e participativos na seleção de candidatos a deputados. Não faz uma autocrítica?
Se não faço o processo de escolha, o critério do processo de escolha anterior não me é oponível.

Supomos que não tenha havido uma oposição da sua parte caso contrário não era deputada. Questionou a forma como os outros deputados foram escolhidos?
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Sou deputada com muito gosto, já tinha sido a número dois por Lisboa quando João Cotrim Figueiredo foi eleito deputado único. Fui assessora parlamentar, coordenava as áreas setoriais, criei o gabinete de estudos e fiz o meu trabalho.

Portanto, achou natural a escolha?
Achei natural, aceitei com muita honra.

Mas achou transparente e participativo?
Acho que o processo não foi participativo. Quer na minha moção, quer na do Rui Rocha, é solicitado um maior envolvimento, nomeadamente do Conselho Nacional em relação aos critérios e ao processo de escolha de deputados. Deve ser visto como uma evolução e um amadurecimento do próprio partido. É uma vontade transversal.

Então, não coloca em causa as decisões que foram tomadas e quer só mudar para o futuro?
Exatamente.

"Nós não somos um 'PSD 2', não estamos aqui com outras práticas partidárias"

“Tive lealdade sempre institucional “

A 4 de outubro de 2022, numa entrevista ao Observador, à pergunta sobre se tinha a ambição de ser líder da IL, respondeu o seguinte: “De todo. Nem sequer é uma questão que se coloca”. Anunciou a candidatura a 25 de outubro. Mudou de ideias em 21 dias?
Nem sequer se perspetivavam eleições.

Mas disse “de todo”, não falou de outro cenário.
Era um cenário que não estava na minha cabeça.

Mas já tinha uma candidatura pensada? Já tinha contactado pessoas?
Claro que não. Eu sei que essa já tinha sido aqui abordada. Não, claro que não.

Já admitiu que fez contactos sobre listas para o Conselho Nacional alternativas à apoiada por João Cotrim Figueiredo antes de ele ter anunciado que ia deixar a liderança. Qual era o seu objetivo?
Muito simples. Os contactos que fiz eram do conhecimento do vice-presidente do partido. Vejo isso com muita tranquilidade. Sim, perguntaram-me por nomes. Sim, dei opiniões. Sim, falei. Sim, há contactos. Mais: quero uma institucionalização das relações entre a Comissão Executiva, o Conselho Nacional, o Conselho de Jurisdição e o Conselho de Fiscalização. Uns não são oposição a outros. Até defendo o fim das inerências da Comissão Executiva no Conselho Nacional.

Então, caso vença, achará normal que alguém da sua Comissão Executiva patrocine listas no Conselho Nacional críticas da sua direção?
É a questão dos termos outra vez. Não é “patrocínio” e não é “críticas”.

Achará normal que alguém da sua Comissão Executiva participe, aconselhe, dê nomes e de alguma forma esteja envolvido em listas que depois sejam críticas da sua direção?
Não é uma questão de serem críticas. Vamos voltar atrás: sim, é importante haver diversidade, não defendo a existência de uma lista única ou ligada à Comissão Executiva com outras que sejam de oposição. Não vejo o Conselho Nacional assim.

Mas acabou de dizer que tem muito orgulho em haver duas listas que a apoiam.
Não, tenho orgulho que haja pessoas nessas listas que me apoiam. É muito diferente.

De facto, há listas que apoiam e outras que não apoiam.
Não, há pessoas que me apoiam dentro da lista. É bom que haja diversidade nas listas que concorrem ao Conselho Nacional. E é bom que haja separação de poderes. Daí a importância das inerências. A IL tem uma especificidade que acho que deve ser alterada que são as inerências da Comissão Executiva no Conselho Nacional. Isto significa que a Comissão Executiva tem um direito de voto dentro do Conselho Nacional, que aprova por exemplo listas e orçamentos, que representa cerca de um terço dos votos. Acho que isso não é correto e defendo que a Comissão Executiva não tenha direito de voto no Conselho Nacional.

Portanto, acha injusta quando lhe apontam o facto de ter estado na direção de João Cotrim de Figueiredo já a trabalhar um certo tipo de oposição através de listas ao Conselho Nacional?
Acho absolutamente desadequado, injusto e incorreto. Defendi dentro da Comissão Executiva, em local próprio, que a direção não devia apoiar uma lista, que os membros da Comissão Executiva pudessem livremente apoiar a lista que quisessem e que o presidente não devia apoiar nenhuma lista. A minha prática é condizente com isto. Mais: ter opiniões diferentes não deve ser considerado ser oposição. Não sou uma “yes girl”, tenho a liberdade de dar as minhas opiniões e de aconselhar no melhor sentido. E depois tenho lealdade institucional.

"Rui Rocha e eu estivemos nas mesmas reuniões Manifestei as discordâncias. Sempre nos locais próprios."

“Cotrim autocrático? É possível fazer as coisas de forma mais descentralizada”

Os seus adversários, nomeadamente Rui Rocha, dizem que nunca lhe ouviram uma crítica. Estão a mentir?
Se for no sentido de crítica destrutiva, tem toda a razão. Apresento sempre as minhas discordâncias com sentido construtivo.

Apresentou essas discordâncias em que pontos e em que momento?
Em vários momentos. Acabei de dar um exemplo em relação ao Conselho Nacional.

Então quando Rui Rocha diz que não lhe ouviu críticas em relação à condução do partido está a mentir?
Estivemos nas mesmas reuniões, manifestei as discordâncias. Sempre nos locais próprios. O José Cardoso disse aqui que não conhecia as minhas discordâncias. Muito bem: ele não está na Comissão Executiva, por isso é natural que não conheça.

Não podia ter manifestado essas reservas no Conselho Nacional?
Fui solidária sempre com as decisões tomadas na Comissão Executiva. São patamares diferentes.

Então, votou contra aquilo em que acreditava no Conselho Nacional?
Fui solidária com a Comissão Executiva e acho que a lealdade institucional também é um valor. Para o futuro, projeto o partido internamente de uma forma colaborativa, integrada, em rede, com os núcleos, com os autarcas, com os membros. E esta visão colaborativa é muito importante.

Em relação a esse ponto, propõe mudanças no partido defende que “o que pode ser decidido e efetuado em proximidade não o será feito de forma autocrática e centralizada”. A direção de Cotrim de Figueiredo agiu de forma “autocrática”?
É possível fazer as coisas de forma mais descentralizada, obviamente, e é isso que proponho.

Alguma vez disse a João Cotrim Figueiredo que estava a gerir o partido de forma autocrática?
Nunca utilizei esse termo.

Mas usa na sua moção, daí a pergunta.
Volto a dizer: sim, devemos ter o partido mais descentralizado.

E menos autocrático? Está a fugir de uma palavra que é sua.
Sim: menos autocrático.

Nos últimos dias, viu-se obrigada a alterar a lista à Comissão Executiva porque não cumpria o regimento que foi aprovado para a Convenção, numa reunião em que esteve presente. Em vez dos 15 membros passou a ter 17. Já está a falhar uma das suas promessas eleitorais?
Não, nós arredondámos 4,5 para 5 e não para 4.

Mas estava no regulamento que o arredondamento, para chegar ao número mínimo de membros, deveria ser feito á unidade inferior.
Sim, mas arredondámos 4,5 pessoas para 5 e não para 4.

Enganaram-se nas contas.
Mas não alterámos nem os pelouros nem as bandeiras. Temos uma organização interna diferente que permitirá cumprir a moção de estratégia e o programa político. Em substância está tudo igual.

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“Jogo sujo dos adversários? Eu não ando com liberalómetros, não ando ‘perturbada'”

Olhando para a sua Comissão Executiva. A sua vice-presidente, Filomena Francisco, filiou-se no Chega para, segundo disse, “procurar informações, ver como funcionava”. Acredita mesmo nesta justificação?
Claro que sim.

Acha que essa é uma boa forma de atuar: entrar em partidos políticos para espiar o seu funcionamento interno?
Pode perfeitamente acontecer. Aquilo em que não me revejo é, perante uma situação destas, alguém dizer que fica “perturbado”. Mais uma vez, é uma não questão.

Ter uma vice-presidente que esteve filiada noutro partido não é exatamente uma não questão.
Ela não exerceu militância ativa. isso já foi esclarecido pela própria, a documentação já foi disponibilizada.

Mas ela esteve a espiar?
Foi consultar o processo, sim.

Fez-lhe perguntas sobre isso? Sabe quando é que Filomena Francisco entrou no Chega e quando é que saiu? Se esteve na IL e no Chega ao mesmo tempo? Sabe o que fez no Chega exatamente?
Foi consultar o processo, desfiliou-se três dias depois — é uma não questão. A Filomena Francisco foi uma brilhante cabeça de lista em Loures, andou ao lado do João, sabia-se desse facto e não foi um elemento sequer considerado importante na altura para ir a Conselho Nacional. É uma questão que surge agora, obviamente, por causa da campanha eleitoral. É uma não questão.

O tesoureiro da sua lista, João Martins Leitão, escreveu no Twitter que “o Bloco e o PCP são mais extremistas do que o Chega”. Concorda?
Aquilo que o João Martins Leitão desprezou e despreza são extremismos e aquilo pelo que ele luta é o liberalismo. Estarmos aqui a discutir o que se despreza mais.

Nós, não; o seu tesoureiro é que decidiu escrever no Twitter que “o Bloco e o PCP são mais extremistas do que o Chega”. Estamos só a tentar perceber se concorda.
A preocupação que ele expressou é que a polarização deteriore o centro político. É uma reflexão democrática sobre a relação entre os extremos e a deterioração de alguma moderação. As políticas de cancelamento são para as esquerdas identitárias, não são para nós. E não vou fazer uma política de casos e casinhos.

Parece o primeiro-ministro: tudo o que é incómodo é um caso ou um casinho. Só estamos a perguntar se acha que “o Bloco e o PCP são mais extremistas do que o Chega” ou se são igualmente extremistas.
Vou considerar um elogio dizer, como ponto de partida, que pareço um primeiro-ministro. Mas não em relação à atitude de transparência.

Diz que o caso da sua vice-presidente é uma “não questão”, estas declarações são um”caso” ou um “casinho”.
Porque nós sabemos todos o que são eleições num partido. Se há coisa da qual me quero afastar é de práticas de outros partidos. Nós não somos um ‘PSD 2’, não estamos aqui com outras práticas partidárias.

Está a sugerir que os seus adversários estão a jogar sujo?
Digo claramente que eu não ando com liberalómetros, não ando “perturbada”, não ando a escrutinar o que é que outros disseram há não sei quantos anos. Estou interessada em ter um projeto para a Iniciativa Liberal e em ter uma equipa dotada.

Na sua opinião, “o Bloco e o PCP são mais extremistas do que o Chega” ou não?
Não vou andar a discutir extremismos. Quero discutir o liberalismo. Andamos a falar pouco de política liberal. E Portugal é pouco liberal e precisa de ser mais liberal. Mais do que andarmos a discutir graus de pureza ou de extremismo, devemos rejeitar claramente extremismos. Depois, sermos uma alternativa. Não somos uma alternativa porque os outros caem de podre — se bem que o governo já está em decomposição. Queremos ser alternativa pela afirmação das ideias liberais.

"Escolha de deputados? Acho que o processo não foi participativo. Deve ser visto como uma evolução e um amadurecimento do próprio partido e é uma vontade transversal."

“Acordo com o Chega nos Açores é para replicar no futuro. Na Assembleia, não é aceitável”

Diz que os “acordos com o Chega são uma linha vermelha”. Ontem, aqui na Rádio Observador, Rui Rocha disse que “não teria feito o acordo dos Açores” e que “não o fará no futuro”. Qual é a sua posição em relação ao acordo nos Açores?
Foi um bom acordo e um bom momento. Contribuímos naquilo a que chamo linhas azuis: não é fazer um acordo para estar no poder porque sim; é com um mandato claro de conquistas liberais. O deputado Nuno Barata e a sua equipa estão a fazer um trabalho muitíssimo importante.

Então admite repetir uma fórmula semelhante a nível nacional?
Estamos a falar de coisas diferentes. Nos Açores, é uma decisão a replicar no futuro. Exatamente nos mesmos moldes? Não vejo porque não.

Nos Açores, acha que correu bem. Admite replicar isso a nível nacional?
O que fizemos foi um acordo com o PSD.

A solução de Governo inclui estes partidos todos — PSD, CDS, Chega e IL.
Certo, mas só para ficar claro: o acordo foi feito com o PSD.

Há um acordo do PSD com a IL. E há um acordo do PSD com o Chega. Tal como em 2015, a seguir às legislativas, o PS fez um acordo com o PCP e outro acordo do PS com o Bloco de Esquerda. A geringonça assentou numa ‘geringonça’ igual a esta. O ponto é: admite uma solução idêntica depois das legislativas?
Vamos lutar por ganhar votos e ganhar espaço negocial. Esse é o primeiro ponto. Em segundo lugar, acordo com o PSD é possível. Sendo que não deve estar nenhuma solução com o Chega nos acordos governamentais, parlamentares, chamem-lhe o que quiserem.

Uma solução igual aos Açores no continente. Sim ou não?
No continente, deve ficar claro que o Chega não integra uma posição governamental.

Portanto, uma solução em que o PSD tem um acordo com a IL e outro acordo com o Chega… Acha que não?
Acho que não. O Chega não deve estar num acordo governamental onde estejamos.

Para os açorianos é bom, para o resto do país não. É isso?
Não, não é isso.

Porque é que aceita nos Açores e não aceita no continente?
Nós fizemos um acordo com o PSD. Posteriormente, o PSD fez um acordo com o Chega.

Foram enganados?
Não, não quero pôr as coisas nesses termos.

Mas se até admite repetir é porque não acha mal.
Sim, acho que devemos repetir.

Porque é que admite nos Açores e não admite no continente?
Volto a dizer: admito a negociação com o PSD, não renego aquilo que se fez nos Açores. O que é uma coisa diferente.

Não só não renega como repete. Admite que é estranho? Admite uma solução para um sítio e não admite para outro. Qual é a coerência?
A coerência é que fizemos um acordo com o PSD baseado naquilo a que chamo “linhas azuis”, ou seja, as condições que achamos importantes para estabelecer um acordo. A [redução] da dívida, privatizações, fiscalidade…

E na Madeira? Vamos ter eleições. Admite uma solução semelhante? PSD com acordo com IL e, em paralelo, existe também um acordo entre PSD e Chega. Pode ser?
Não.

Aí também não pode ser?
Acordos que incluam e que saibamos que estejam [a contar] com o Chega não devem ser promovidos.

Exceto nos Açores.
Não é exceto nos Açores.

Se disse que voltava a repetir…
O acordo com o PSD.

Que inclua o Chega?
O acordo que fizemos não inclui o Chega.

Depois das legislativas, o PSD diz: “Aceito fazer um acordo com a IL, mas tenho de negociar um acordo ao lado com o Chega”.
Não é aceitável.

Não é aceitável para si?
Não.

Assumiu como objetivo eleger um eurodeputado em 2024. Se falhar, mantém-se na liderança?
Devemos sempre ter o nosso lugar à disposição.

Rui Rocha já disse que não se recandidata nesse cenário.
Exato. Devemos sempre ter o nosso lugar à disposição e, quando não cumprimos os objetivos, devemos colocar o lugar à disposição.

Ricardo Arroja é seu apoiante. Vai voltar a apostar nele nas próximas europeias?
Não quero falar de nomes. Ainda é muito cedo, sendo que muito me orgulha o apoio de Ricardo Arroja. E espero poder contar com todos os liberais que construíram o sucesso da Iniciativa Liberal.

Em possíveis alianças, para si, é fundamental que a IL venha a ter lugar no Conselho de Ministros? Ter ministérios? Tem alguma ambição nesse sentido?
Não temos um plano concreto sobre ministérios ou lugares. O que é muito importante é garantirmos o avanço das ideias liberais. Portugal é pouco liberal e Portugal precisa de políticas liberais para ter prosperidade. E nós temos de crescer em eleitorado, em segmentos, perceber como é que saímos para novos eleitores, cidades de média dimensão e o interior do país. O liberalismo faz falta a Portugal inteiro.

E é importante estar em ministérios?
É importante influenciar a política.

"Acordos que incluam e que saibamos que estejam [a contar] com o Chega não devem ser promovidos"

“Os eleitores ainda não conhecem as ideias da IL — só pelo IRS e pela TAP”

Já foi confrontada várias vezes com o facto de não ter propostas para o país na sua moção. A esse propósito chegou a dizer o seguinte: “Estamos a falar de uma candidatura interna à presidência da IL, pelo que as propostas devem ser, sobretudo, para fazer crescer a IL”. Acha que os militantes compreendem que não discuta ideias para o país e que se limite a discutir reformas do partido?
Faço mais do que pôr uma ou duas bandeiras. Para já, mais crescimento e mais mobilidade social dá logo uma indicação bastante grande sobre prioridades em termos de políticas e bandeiras. Mas somos muito claros: ambicionamos gabinete de estudos, academia liberal e a constituição de políticas públicas para nos robustecermos internamente na forma de fazer política. Temos de estar sistematicamente a produzir conhecimento e a fazer programas setoriais. Exemplos: poderíamos ter feito programa de combate à inflação e combate aos efeitos da inflação.

Dê-nos duas ideias concretas para o país e que sejam diferenciadoras face a Cotrim Figueiredo e Rui Rocha.
Muito mais capacidade de marcar a agenda das políticas liberais, nomeadamente nos temas do crescimento mas também da mobilidade social. Outra diferenciação: a forma como vemos o partido, em que os membros têm um papel ativo, os núcleos e autarcas são também embaixadores e atores no projeto liberal.

Mas sobre ideias concretas. Que ideias concretas tem que são diferentes das de João Cotrim Figueiredo e de Rui Rocha?
A própria organização do partido.

Para o país.
Termos um plano diferente e muito mais ativo ao nível da comunicação social.

Mas isso não é uma ideia para o país; e isso é uma ideia de como estar nos media. Que propostas concretas tem?
Na mobilidade social: uma alteração clara na política da Educação, muito mais promotora da igualdade de oportunidades, da qualidade de ensino, da autonomia das escolas, ou seja, fortalecer muitíssimo a componente da parte da Educação.

Cotrim Figueiredo não defendia isso?
Somos ainda conhecidos pelo IRS e pela TAP. Significa que precisamos de pôr as outras bandeiras em cima da mesa. A desburocratização, a descomplicação como Estado, a Saúde, a Educação.

Essas bandeiras são as da comissão executiva de que já faz parte. Há alguma que se diferencie?
Os eleitores conhecem ou não as ideias da IL? Ainda não. Se não conhecem, significa que existe esse trabalho todo para o fazer. Essa é uma diferenciação. Sermos capazes de ir para fora, crescer no eleitorado, nas cidades, no interior, para que as pessoas de classe mais baixa, os abstencionistas reconheçam nas políticas liberais que há um futuro.

Em relação ao Estado, por exemplo. Na sua moção, defende uma reforma da administração pública porque diz que há áreas sobredimensionadas e ineficientes, ao mesmo tempo que outras estão subdimensionadas e muito fragilizadas. Quais são as áreas do Estado que estão sobredimensionadas e quais são as que estão subdimensionadas?
É conhecido o problema das nossas Forças de Segurança, a Educação e a Saúde precisam de ser reorganizadas.

Reorganizadas no sentido de contratar mais pessoas?
Não no sentido de contratação mas de reorganização. Nomeadamente, a separação entre o papel do Ministério das Finanças e da Saúde, por exemplo.

Nas Forças de Segurança, contrataria mais pessoas, é isso?
Dotar de mais meios mas sobretudo reformar a Administração Pública. Reforma não é digitalizar os serviços. Implica reestruturar os serviços. Imagine o exemplo do IRS: simplificar o processo não é passarmos de papéis a um questionário eletrónico.

Também ajuda.
Ajuda, mas é mais do que isso. Vamos ao que está sobredimensionado: o Estado não deve estar no setor empresarial e a TAP é só o exemplo clássico.

As mais de cem empresas que estão no setor empresarial do Estado devem ser privatizadas na sua quase totalidade?
Sim e há muitos serviços que devem fundidos. Há ‘n’ histórias replicação e duplicação de funções. Tem que haver um trabalho muito sério e profundo de reorganização.

Isso implica despedimentos na Função Pública?
O primeiro passo não são os despedimentos.

E o segundo?
Temos de fazer o redesenho dos serviços. Não nos podemos esquecer que estamos com uma Administração Pública muito envelhecidos. Não creio que seja pela questão dos despedimentos.

Propõe a implementação de um projeto piloto a que chama “Género: Liberal!” para fazer “um estudo profundo na Iniciativa Liberal e fora desta sobre a participação das mulheres na política e políticas de maior significado no universo feminino”. A IL precisa de fazer um estudo para perceber as mulheres?
Não sendo um exclusivo, a IL precisa de mais participação feminina. Devemos passar do ‘achismo’ e daquilo que achamos que representamos e das nossas considerações.

Mas não vão fazer um estudo sobre os homens?
Vamos fazer um estudo sobre a participação política.

Das mulheres.
Foca nas mulheres, mas não só. Também [abarca] populações que estão tipicamente subrepresentadas e perceber as motivações.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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