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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Chega sonha ultrapassar PSD na corrida a Sintra e a Loures

Partido liderado por André Ventura acredita que pode ficar à frente do PSD em dois concelhos-chave. Suzana Garcia, na Amadora, e Marco Pina, em Odivelas, travam expectativas do Chega de conseguir mais

A aposta está feita: o Chega entende ter condições para ficar à frente do PSD em Sintra e Loures, zonas da grande Lisboa onde o partido acredita que a mensagem de André Ventura, os candidatos apresentados e as propostas defendidas têm forte aceitação. Pormenor: a acreditar nas contas que os vários protagonistas vão fazendo — do PS ao Chega –, esse cenário não é inteiramente impossível. Em contrapartida, autarquias como Amadora e Odivelas são dadas como praticamente perdidas.

“São nesses sítios, onde a classe média foi obrigada a fixar-se. Essa classe média está a desaparecer. É nesta cintura urbana, onde as pessoas estão cada vez mais pobres, onde os transportes públicos são cada vez piores, onde há maior insegurança, onde não existem creches e onde há violência nas escolas, é aí que estão os nossos eleitores. A aposta é óbvia”, explica ao Observador Nuno Afonso, coordenador autárquico do partido e candidato precisamente a Sintra.

Em todas as eleições a que foi a votos, o partido tem conseguido ter nesta zona do país resultados acima da média nacional. E de forma constante: foi assim na primeira versão do Chega, quando foi a votos nas europeias com a roupagem de “Basta”; foi assim nas legislativas de 2019; e foi assim nas presidenciais de 2021. Três eleições que deram continuidade ao resultado conseguido por André Ventura em Loures nas autárquicas de 2017, então ainda com as cores do PSD.

As duas corridas — Sintra e Loures — serão feitas em circunstâncias diferentes. Em Sintra, além de Nuno Afonso, Basílio Horta enfrenta a concorrência de Ricardo Baptista Leite, pelo PSD. O socialista é, em teoria, um vencedor antecipado e a questão pode muito bem vir a resumir-se à disputa sobre quem consegue capitalizar mais o voto de protesto.

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Com um aparelho partidário estilhaçado, os sociais-democratas têm somado resultados tímidos nas últimas autárquicas. Em 2013, Marco Almeida rompeu com o partido, foi como independente e quase conquistava a autarquia, com mais de 25% dos votos. Basílio teve 26,83%. Quatro anos depois, em 2017, Marco Almeida foi com as cores do PSD e teve 29% — Basílio teve mais de 42%.

Este ano, Marco Almeida queria ser candidato, a direção do PSD tentou Pedro Santana Lopes, a estrutura local não queria nenhum dos dois, Santana recusou, Marco Almeida afastou-se e a direção apostou em Ricardo Baptista Leite, médico, deputado, ex-vereador em Cascais e uma das vozes mais respeitadas no PSD nos últimos 18 meses de pandemia. O social-democrata, que foi considerado como hipótese em Lisboa, chega a estas eleições como segunda escolha do partido, num terreno politicamente armadilhado e com uma montanha difícil de escalar.

Nuno Afonso, candidato e coordenador autárquico, ex-vice do partido afastado do cargo no último congresso, conhece bem a política local e partilha com André Ventura as origens na Linha de Sintra, mais concretamente Algueirão-Mem Martins. O pai, Artur Afonso, foi autarca na junta de freguesia, eleito pelo PSD, e era uma figura muito respeitada na comunidade.

O objetivo de colar os sociais-democratas a Basílio Horta é manifestamente assumido por Nuno Afonso. O candidato do Chega tem insistindo na narrativa de que o PSD é a “muleta” de Basílio Horta na Câmara de Sintra e chegou a interpelar Ricardo Baptista Leite nas redes sociais. “Ricardo deixa lá isso, desiste já, ficar em terceiro vai ser mau para o teu futuro político”, escreveu o candidato do Chega. Resta saber se as lhe darão razão.

“São nesses sítios, onde a classe média foi obrigada a fixar-se. Essa classe média está a desaparecer. É nesta cintura urbana, onde as pessoas estão cada vez mais pobres, onde os transportes públicos são cada vez piores, onde há maior insegurança, onde não existem creches e onde há violência nas escolas, onde estão os nossos eleitores. A aposta é óbvia.” 
Nuno Afonso, coordenador autárquico do partido e candidato precisamente a Sintra

Loures e a “herança” de Ventura

A corrida a Loures tem outras nuances. Bernardino Soares, do PCP, terá, em teoria, todas as condições para revalidar o seu terceiro (e último) mandato. Os socialistas apostaram em Ricardo Leão, deputado, ex-vereador na autarquia e agora presidente da Assembleia Municipal, para tentar fazer alguma sombra ao PCP. Com  os dados hoje conhecidos, a disputa será entre os dois, com clara vantagem para o comunista.

O eleitorado do centro tenderá a mobilizar em torno da candidatura de Ricardo Leão para retirar força a Bernardino Soares. É essa, pelo menos, a expectativa que faz com que o Chega ambicione o terceiro lugar, à frente do PSD. De resto, 2017 foi o ano de estreia de Ventura na primeira liga da política portuguesa: foram as primeiras entrevistas e as declarações sobre a comunidade cigana que o tornaram conhecido da generalidade dos portugueses e foram essas mesmas declarações que provocaram a cisão entre Assunção Cristas e Pedro Passos Coelho — o CDS retirou o apoio à candidatura de Ventura; o PSD manteve-o.

Numas autárquicas globalmente más para o PSD, em Loures, André Ventura, com 21,55% dos votos, conseguiu eleger mais um vereador e crescer mais de cinco pontos percentuais em relação às autárquicas de 2013 — PCP e PS, em contraciclo, caíram. É preciso recuar até 1993 para encontrar um resultado do PSD acima dos 20% na Câmara de Loures. Ventura conseguiu atingir esse patamar numas autárquicas que foram desastrosas para os sociais-democratas e que precipitaram a queda de Pedro Passos Coelho.

É este capital político que o Chega vai explorar. O partido de Ventura apostou em Bruno Nunes, deputado municipal eleito pela coligação PSD/PPM, em 2017, ao lado de Ventura. Nas suas várias intervenções públicas, Bruno Nunes, de resto, tem feito questão de lembrar a proximidade ao líder do Chega e de garantir que tudo fará para respeitar a “herança” de Ventura.

Os sociais-democratas apostaram em Nélson Batista, líder da concelhia do PSD/Loures e presidente da junta de freguesia de Lousa em final de mandato — Lousa e a União de Freguesias de Moscavide e Portela são os dois únicos pontos laranja no mapa.

No entanto, o PSD falhou as negociações com o CDS e vai mesmo sozinho a votos nesta corrida. Tudo somado, o Chega acredita que pode explorar a fragilidade dos sociais-democratas, aproveitar a popularidade de Ventura e discutir o terceiro lugar nas autárquicas. É outro duelo a acompanhar.

André Ventura na apresentação pública da sua candidatura pelo PSD a Loures, em 2017

NUNO FOX/LUSA

Suzana Garcia e CMTV. Amadora e Odivelas tapadas

Em contrapartida, o partido liderado por André Ventura está convencido que os desafios autárquicos na Amadora e em Odivelas serão incomparavelmente mais difíceis. A razão? As escolhas dos sociais-democratas: Suzana Garcia e Marco Pina.

O Chega dá como praticamente impossível superar o PSD nestas duas corridas. Na Amadora, o Chega apresentou como candidato José Dias, presidente do Sindicato do Pessoal Técnico da PSP (SPT/PSP) e ex-vice do partido. Para Odivelas, o partido ​​lançou o líder do núcleo local, Nuno Beirão — o Hugo Ernano, militar da Guarda Nacional Republicana (GNR) condenado por homicídio por negligência grosseira de uma criança de oito anos, será cabeça de lista à Assembleia Municipal.

Os dois terão de enfrentar candidatos com força mediática. Suzana Garcia chegou a ser sondada pelo Chega para ser candidata a Lisboa, recebeu rasgados elogios de Ventura e, na direção do partido, existe a convicção de que o eleitorado que poderia votar no Chega estará com Suzana Garcia.

“É uma candidata muito forte. Não há ninguém do Chega que não goste dela. Ela capta grande parte do nosso eleitorado”, reconhece ao Observador fonte do partido. Sobretudo quando o exemplo vem de cima. Quando foi conhecido o nome da candidata social-democrata, André Ventura não poupou nas palavras.

Que haja mais Suzanas Garcias no PSD, é sinal que o Chega e o PSD têm um caminho a percorrer no futuro. Se Rui Rio colocasse mais Suzanas Garcias no PSD, certamente teríamos um futuro brilhante na direita em Portugal”, afirmou na altura o líder do Chega.

O Observador sabe que a direção deu orientações às estruturas locais para evitar qualquer tipo de ataque direto a Suzana Garcia. O conselho caiu em saco roto. À primeira oportunidade, José Dias usou as redes sociais para acusar a adversária de não ser “uma personagem real”, mas antes uma “caricatura”, uma “boneca de barraca de fantoches”, “um balão cheio de ar” ou “quatro balões…“.

Seja como for, Suzana Garcia tentará derrotar a socialista Carla Tavares, que em 2013 sucedeu ao histórico Joaquim Raposo, tendo chegado à maioria absoluta em 2017. Em teoria, a candidata do PSD vai agregar os votos dos que querem derrubar os socialistas, deixando muito pouca margem à candidatura do Chega.

Marco Pina está numa situação semelhante. Antigo árbitro dos quadros da Federação Portuguesa de Futebol, comentador desportivo da CMTV e vereador do PSD eleito em 2017, já mereceu o apoio de Futre, Calado, o antigo árbitro e comendador Pedro Henriques, a fadista Kátia Guerreiro ou da apresentadora de televisão e taróloga Maya.

É uma aposta forte do PSD, que tentará contrariar a hegemonia do PS na autarquia —  o município de Odivelas foi criado em Novembro de 1998 e é socialista desde as primeiras eleições, em 2001. Há quatro anos, e mesmo depois de substituir Susana Amador na presidência da Câmara, o então praticamente desconhecido Hugo Martins venceu sem dificuldades as eleições e ainda conseguiu reforçar a maioria absoluta quando tinha pela frente Fernando Seara. A relação de forças — PS em primeiro, PSD em segundo — dificilmente se vai alterar.

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