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A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 já chegou a uma conclusão: vacinar jovens dos 12 até aos 16 anos sim, mas apenas aqueles que tenham comorbilidades — isto é, que tenham outras doenças que representem um risco acrescido. Agora, a Direção-Geral da Saúde (DGS) irá analisar o parecer deste grupo de trabalho. Depois, a decisão final passará para as mãos do Governo — que o deverá fazer no final de julho.
O parecer com a posição desta comissão técnica terá ficado pronto este domingo e será entregue nas próximas horas à DGS, que irá depois decidir sobre ele, ao que o Observador apurou junto de fonte deste grupo de trabalho. Posteriormente, irá tomar uma posição sobre a vacinação contra a Covid-19 nesta faixa etária, que servirá de base para o Governo chegar à decisão final.
Para chegar a esta conclusão, além de reunir e debater o assunto, os 11 especialistas que constituem esta comissão técnica ouviram um outro grupo de pediatras sobre o tema. Em cima da mesa estava a hipótese de abrir a vacinação para todos os jovens dos 12 até aos 16 anos, desaconselhar de todo a vacinação entre os mais novos ou seguir o exemplo do Reino Unido e apenas vacinar aqueles que têm comorbilidades. “A maioria pensa que neste momento é prematuro generalizar a vacinação aos jovens entre os 12 e os 15 e recomenda-se apenas para aqueles que têm comorbilidades de risco para infeção por Covid-19″, segundo explicou fonte desta comissão técnica ao Observador, adiantando: “Não quer dizer que no futuro não venha a avançar-se com isso”.
Reino Unido vai vacinar apenas menores com problemas de saúde
Este grupo de trabalho foi criado no final de novembro do ano passado numa altura em que os ensaios clínicos das vacinas estavam em estado avançado e era preciso começar a planear a vacinação em Portugal. Uma das funções desta comissão é precisamente dar pareceres técnicos sobre estratégias de vacinação a adotar — que, normalmente, a DGS acolhe.
A necessidade de pedir uma recomendação à Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 surgiu depois de a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ter aprovado, no final de maio, a utilização das vacinas da Pfizer em adolescentes entre os 12 e os 15 anos — é, aliás, a única vacina com autorização para ser administrada nesta faixa etária. Contudo, tal como explicou EMA em conferência de imprensa, caberia a cada Estado-membro decidir se as usaria ou não nesta faixa etária.
Task force terá plano para vacinar 600 mil jovens dos 12 aos 17 anos na última quinzena de agosto
O plano de vacinação determinado inicialmente previa que em dezembro só podiam ser vacinados os adolescentes com mais de 16 anos que tivessem trissomia 21. E, depois, na fase dois, que começou em abril, passariam a estar incluídos os jovens entre os 16 e os 18 anos que tivessem patologias de risco acrescido, que seriam chamados dos mais velhos para os mais novos. No entanto, uma norma da DGS sobre a vacina da Pfizer acabou por vir autorizar a administração a todos os jovens com mais de 16 anos.
No entanto, até agora, ainda não havia previsão de quando é que os jovens com menos 18 começariam a ser vacinados — neste momento, o autoagendamento apenas está disponível para pessoas com 23 anos ou mais. O Observador questionou a task force sobre a existência de datas previstas, mas ainda não obteve resposta.
Este domingo, dois comentadores políticos avançaram com possíveis datas para vacinação de menores de idade. Luís Marques Mendes disse, na SIC, que a vacinação contra a Covid-19 para os jovens entre os 12 e os 18 anos deveria arrancar na segunda quinzena de agosto. A mesma informação foi adiantada por Paulo Portas, na TVI, que avançou ainda que a task force tem uma proposta para vacinar cerca de 600 mil jovens entre os 12 e os 17 anos, a partir da última quinzena de agosto:
- 21 e 22 de agosto: disponibilizado o autoagendamento da 1.ª dose para a faixa etária dos 15 aos 17 anos;
- 23 a 27 de agosto: sistema de casa aberta da 1.ª dose para a faixa etária dos 15 aos 17 anos;
- 28 e 29 de agosto: disponibilizado o autoagendamento da 1.ª dose para a faixa etária dos 12 aos 14 anos;
- 11 e 12 de setembro: disponibilizado o autoagendamento da 2.ª dose para a faixa etária dos 15 aos 17 anos;
- 13 a 17 de agosto: sistema de casa aberta da 2.ª dose para a faixa etária dos 15 aos 17 anos;
- 18 e 19 de setembro: disponibilizado o autoagendamento da 2.ª dose para a faixa etária dos 12 aos 14 anos.
Este plano que a task force terá elaborado, segundo o que avançou Paulo Portas na TVI, permitiria assim vacinar praticamente todos os jovens destas faixa etárias contra a Covid-19 antes do arranque do ano letivo, que está previsto começar entre 14 e 17 de setembro. No entanto, se a DGS e o Governo seguirem as indicações da comissão, de apenas vacinar os jovens com comorbilidades, o número deverá ser bem inferior aos 600 mil avançados pelo ex-líder do CDS.
Numa entrevista à TVI no início de julho, a ministra da Saúde avançava que os jovens com menos 18 anos deveriam começar a ser vacinados contra a Covid-19 na última semana de agosto, se o Governo conseguisse manter o plano de vacinação previsto. “Aquilo que nós estimamos é seguirmos este plano que temos e com as quantidades de vacinas a continuarem a chegarem-nos conseguirmos abrir na última semana de agosto vacinação para os menos de 18 [anos]”, adiantava Marta Temido.
O Observador contactou também o Ministério da Saúde, mas até ao momento não obteve qualquer resposta.
A Madeira já se tinha antecipado ao continente, pelo menos na tomada de decisão. No final de maio, o secretário regional de saúde adiantava que o Governo da Madeira pretendia concluir o processo de administração da vacina da Pfizer aos jovens entre os 12 e 15 anos antes do início do próximo ano letivo. “Estamos à espera que a Direção-Geral de Saúde tome a sua posição e a partir desse momento todos os nosso jovens serão vacinados antes do início do ano letivo”, dizia Pedro Ramos na altura.
Comissão técnica seguiu parcialmente exemplo do Reino Unido: vacinar apenas menores de 16 com problemas de saúde
Ainda esta segunda-feira, o governo britânico aceitou a recomendação do Comité Conjunto de Vacinação e Imunização para vacinar apenas menores com certos problemas de saúde no Reino Unido. Tal como a comissão técnica da DGS, também este comité recomendou que crianças de 12 a 15 anos com deficiências neurológicas graves, síndrome de Down, com deficiências de aprendizagem múltiplas ou graves e imunodeficiências devam ser inoculados com a vacina Pfizer.
Ao contrário do que acontece em Portugal, em que o plano de vacinação prevê a vacinação da faixa etária dos 16 aos 18 anos, no Reino Unido, o comité não aconselha a vacinação de menores de 18 anos em geral que estejam fora de grupos de risco. Ainda assim, o ministro da Saúde, Sajid Javid, prometeu que o organismo vai continuar a analisar informação sobre a potencial vacinação de menores sem outras patologias específicas de saúde.
Também o um comité consultivo para a vacinação na Alemanha recomendou que os jovens entre 12 e 17 anos que têm doenças devem receber a vacina, segundo a Reuters. A Noruega deverá escolher esta opção, de acordo com a mesma agência. Apenas estes três países optaram ou estão a planear apenas os jovens com doenças. Caso este parecer seja acolhido pela DGS e, depois, pelo Governo, Portugal pode vir a juntar-se a eles.
Outros países optaram por vacinar todos os jovens, independentemente de terem ou não comorbilidades. O Canadá foi o primeiro a fazê-lo: aprovou a vacinação para esta faixa etária logo no início de maio e todos os jovens como mais de 12 anos podem agora vacinar-se. Não muito longe, os Estados Unidos começou a inocular todos jovens dos 12 aos 18 em meados de maio. Já a China, aprovou em 5 de junho apenas o uso de emergência da vacina de Sinovac para crianças e jovens entre os três e os 17 anos. Na Europa, França começou no início de junho a vacinar a partir dos 12 anos, desde que com consentimento dos pais. Espanha planeia fazê-lo a tempo de arrancar o ano letivo, em setembro. A Hungria começou a vacinar jovens de 16 a 18 anos em meados de maio.
Houve especialistas da comissão técnica a não concordar com o sentido do parecer entregue à DGS
Alguns dos 11 especialistas que compõem a comissão não estão de acordo com o parecer a que se chegou, sabe o Observador. No entanto, não é requerida unanimidade para emitir uma posição e a conclusão a que se chegou dará em breve entrada na DGS: vacinar apenas menores de 16 anos com problemas de saúde.
Este é um tema que tem gerado controvérsia. Sobre este assunto, um dos especialistas da comissão, Manuel Carmo Gomes, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, já se tinha mostrado a favor de vacinar adolescentes. “É importante conseguir normalizar a vida destes adolescentes, na medida em que se sentem protegidos, os pais ficam mais descansados e podem retomar atividades que podem estar a coibir-se de praticar por receio nas consequências”, tinha dito o especialista ao Observador.
É seguro e eficaz, mas será ético vacinar crianças contra a Covid-19?
Mas ainda esta segunda-feira um grupo de médicos emitiu um comunicado, no qual se opõe à vacinação de crianças e jovens saudáveis. “Dado que as crianças e adolescentes têm um risco mínimo de complicações caso contraiam a doença de Covid-19, não devem ser expostos a estes ou a outros efeitos adversos graves de vacinas, ou de algum medicamento, ainda em fase experimental”, lê-se na nota assinada por Jacinto Gonçalves, vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, António Pedro Machado, especialista em Medicina Interna, Teresa Gomes Mota, cardiologista, e Francisco Abecasis, pediatra e intensivista.
O grupo argumenta que “as crianças e jovens já fizeram tudo o que podiam para ajudar no controlo de uma pandemia que não os afeta diretamente, com prejuízos imensos da sua saúde mental, educação e bem-estar”. “A vacinação seria mais um sacrifício, perigoso e sem benefício, que não deve ser imposto socialmente por medidas de limitação de liberdades constitucionalmente garantidas aos cidadãos em Portugal”, remata.