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Chegar ao estádio de carro e conseguir um local o mais próximo possível da entrada. Entrar sem ser revistado, porque isso é desnecessário. Comer uma bifana e beber uma cerveja. Vociferar. Ver, de preferência, a vitória do seu clube e ir embora. A descrição do típico adepto de futebol é da PSP e se fosse tão simples não seria necessário sequer que a polícia se envolvesse na segurança de um jogo de futebol. “Costumamos dizer que não fazemos falta nenhuma, se todos se comportassem assim não teríamos que lá estar. Era o ideal”, diz ao Observador Pedro Pinho, o oficial da PSP que tem a seu cargo o estádio de Alvalade, com capacidade para 42 mil adeptos, e o estádio da Luz, com lotação de 63500. Mas “há uma pequena franja” que não se comporta assim e que obriga a que estejam lá: os adeptos de risco.
Este domingo acontece o que não acontecia há anos precisamente para evitar que estes adeptos se cruzem e o jogo acabe na barra do tribunal. Os três grande clubes, Benfica, FC Porto e Sporting estão em Lisboa à mesma hora para jogos diferentes. O Benfica confronta o FC Porto em casa, pelas 18h00. Duas horas depois o Belenenses recebe o Sporting no Restelo. Tendo em conta que as portas dos estádios abrem duas horas antes do jogo e que toda a operação policial depende em muito destes momentos, há cuidados redobrados. O evento é considerado de “risco elevado”, mas a PSP transmite uma mensagem de calma e não olha para este dia como extraordinário. Ainda assim, está a ser montada uma mega operação policial. O subintendente Pedro Pinho e o Comissário Sérgio Soares explicaram tudo ao Observador.
Porque é que Benfica, Sporting e FC Porto jogam no mesmo dia?
Segundo a PSP, esta coincidência de jogos está relacionada com fatores que a polícia não consegue controlar, nomeadamente os horários dos organizadores. O Sporting jogou na quinta-feira para a Liga Europa e o calendário UEFA tem primazia. Existem tempos de descanso que têm que ser respeitados e se o Sporting jogasse no sábado não teria tempo de descanso suficiente para voltar jogar, bem como se entrasse em campo na segunda-feira porque na quarta vai receber o FC Porto na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. Na perspetiva da PSP, há outro fator que influencia esta marcação: o da televisão, que negoceia com o organizador as horas do jogo para maximizar os espetadores. “Dificilmente temos dois grandes clubes a jogar à mesma hora em cidades diferentes, para tentar aproveitar ao máximo todos os espectadores”, refere o comandante da 3ª divisão da PSP, subintendente Pedro Pinho, responsável pelo estádio da Luz e pelo estádio José Alvalade.
A regra de que nos jogos da Liga Europa, do Campeonato e da Taça de Portugal os três grandes clubes não deveriam cruzar-se surgiu, segundo apurou o Observador, depois de se terem registado vários incidentes entre adeptos. Recorde-se o caso João Filipe Sério, o adepto do Sporting que foi atacado por elementos dos No Name em 2008. Foi esfaqueado e queimado. O processo, que acabaria por ser denominado de “Fair Play”, resultou na detenção de 38 adeptos do Benfica por suspeitas de associação criminosa, ofensas à integridade física e tráfico de droga. A maior parte dos arguido foi absolvida ou condenada com pena suspensa. Mesmo assim ficou provado que a vítima, um antigo membro do Grupo 1143 (ligado à extrema direita), da Juventude Leonina (JL) estava a chegar a casa, na Amadora, quando foi abordado pelos suspeitos. Nesse caso, a polícia descobriu que alguns membros dos No Name tinham na sua posse uma verdadeira base de informações relativas aos seus rivais.
Os primeiros meses de 2008 foram pródigos em situações de confrontos e esperas de madrugada, também por “culpa” de um calendário que colocava Benfica e Sporting a jogarem nos mesmos dias em Lisboa com apenas um par de horas de distância. No caso do episódio mais grave acima descrito, já tinha havido outro incidente perto do estádio da Luz. Antes, num outro dia, os problemas tinham começado nas imediações de Alvalade. Dois anos antes, uma rixa combinada entre elementos afetos aos dois clubes junto à estação de metro de Telheiras fez dois feridos. Esses incidentes aconteciam sem que jogassem uns contra os outros. E isso era o que mais preocupava.
A polícia está preocupada com esta duplicação de jogos?
A PSP considera que a segurança prevista para domingo não é excecional. Jogos que possam reunir adeptos dos grandes clubes “acontecem todos os fins de semana”, reitera o comandante da PSP de Benfica. E lembra que no sábado Benfica, FC Porto e Sporting vão confrontar-se em jogos das modalidades em Lisboa. “Os designados três clubes grandes, com modalidades muito fortes, naturalmente chegam às fases finais das competições, e isto acontece. O complexo desportivo é o mesmo: o Benfica tem o estádio e dois pavilhões contíguos, o Sporting tem um estádio e um pavilhão contíguo, tal como no FC Porto. Temos que saber gerir tudo isto”, diz o oficial ao Observador.
Foi das modalidades que chegou recentemente o exemplo de uma situação limite que teve de ser controlada: antes do encontro, foram muitos os adeptos azuis e brancos que se concentraram no local por onde chegariam os elementos das claques encarnadas, o que obrigou a polícia a reter os visitantes durante um período na zona do metro por não estarem reunidas então as condições de segurança necessárias para chegarem ao recinto sem problemas.
Apesar de ser frequente haver esses jogos grandes, somando ao futebol as modalidades, existe, no entanto, uma preocupação por parte da PSP. “Tudo nos preocupa, a segurança, preocupa, o que faz o estádio ter 63.500 adeptos, como no domingo, ou o pavilhão número dois ter cerca de 1.500 adeptos é a segurança, não é só o amor ao clube”, diz Pedro Pinho. Ainda para mais numa altura em que os clubes adaptam cada vez mais os estádios às famílias. O Benfica criou a bancada família, o lado norte do piso zero; o Sporting mudou os grupos organizados de adeptos para sul, para trazer mais famílias a norte. “Comportamentos seguros trazem mais gente ao estádio, porque se houver confusão, ninguém vai ao futebol, nem paga quotas”, refere o polícia. “É um negócio”, adverte, lembrando que atualmente os clubes estão constituídos em SAD e por isso têm que ter clientes.
Quais são as principais preocupações da PSP?
Como os jogos em questão acontecem no domingo, um dia antes de começar a semana e ao fim de semana, há preocupações que se sanam logo à partida. Durante a semana, é normal existirem jogos como o de quinta-feira, em que o Sporting enfrentou o Atl. Madrid, e em que as portas do estádio são abertas à hora em que a maior parte das pessoas saem do trabalho para ir para casa. O estádio José Alvalade está localizado no principal ponto de metro de acesso à cidade pelo lado norte, o Campo Grande. E a preocupação da PSP é garantir que não se causam grandes transtornos a estas pessoas. Na última quinta-feira, a PSP conseguiu levar a maior parte de um grupo de 900 adeptos do Atl. Madrid de metro do Rossio para Telheiras — para evitar o movimento do Campo Grande (que estava amplamente reforçado de segurança). Foram num metro reservado para esse efeito, que não parou em qualquer estação, para garantir que não havia cruzamento com os outros passageiros.
À exceção da detenção de dois elementos da claque dos colchoneros na chegada à porta 1 do estádio, não por qualquer confronto com adeptos do Sporting mas pelo comportamento que tiveram na viagem de metro onde houve mesmo agressões a polícias (um teve de ser assistido, sem necessitar de se deslocar ao hospital), e que obrigou a uma intervenção mais musculada e com uso de gás pimenta pela resistência à detenção por parte de outros membros da claque, tudo correu de forma normal e a operação acabou por ser um êxito, tendo em conta as cenas de terror que se viveram em 2010, no confronto anterior entre os dois clubes, que fez vários feridos.
Por outro lado, a PSP considera que os transportes públicos devem ser reforçados nos finais do jogo. Se um jogo termina às 23h00, os adeptos têm que ter alternativas nos transportes públicos, senão vão sempre de carro para os estádios sobrelotando os parques de estacionamento e condicionando o trânsito. “Isto é um caso de polícia, não da polícia. Ou seja, é um problema da polis, da cidade organizada”, explica o oficial da PSP que este domingo coordena a segurança do estádio da Luz.
“Se olharmos para o complexo desportivo do Sport Lisboa e Benfica, está fechado entre dois grandes eixos viários, o que dificulta a mobilidade do cidadão de forma equilibrada. E temos a Avenida Lusíada e a Segunda Circular no topo, a Avenida Eusébio da Silva Ferreira que fecha o estádio, do outro lado desta avenida temos o Centro Comercial Colombo”, refere o polícia. E atira com o número: sabe que em 2017 o Colombo recebeu 26 milhões de visitas?
Ainda assim, sejam os jogos durante a semana ou no fim, a PSP tem sempre que garantir que os grupos organizados de adeptos, supostamente adeptos de risco,”ficam concentrados numa zona, não interferem com o adeptos adversários e que outros adeptos consigam circular em segurança ate chegar à sua porta”.
Como é preparada a segurança?
A informação sobre os jogos e o risco que eles possam envolver é sempre analisada ao momento pela Polícia. Por um lado existem ameaças internacionais, por outro lado as rivalidades entre adeptos podem culminar em episódios de violência. E, para a PSP, o importante é garantir que tudo ocorra em segurança e que, no dia seguinte, os jornais se limitem a relatar os resultados dos jogos e não episódios menos felizes.
Mas tudo é preparado com antecedência. O Comissário Sérgio Soares, da Unidade de Informações Desportiva, explica que antes de um jogo há várias entidades que se envolvem na sua preparação: além da PSP, há bombeiros, proteção civil, juntas de freguesia, empresas de transportes públicos e até, centros comerciais, como o caso do Colombo. “Tudo mexe com a cidade”, lembra. “É mais confuso um Benfica- Sporting, ou um Sporting-Benfica que um Benfica-FC Porto”, ressalva, no entanto. Isto pela proximidade dos dois. Por exemplo, sempre que que há um jogo no estádio da Luz ou em Alvalade, as juntas de freguesia (São Domingos de Benfica, Carnide e Lumiar) prontificam-se a deixar tudo limpo logo de seguida. “Quando a cidade acorda, está tudo limpo outra vez, não pode haver lixo no chão, garrafas…”, diz a PSP. Na quinta-feira, depois do jogo do Sporting com o Atl. Madrid até guardas chuva partidos havia espalhados pelo chão. Na manhã de sexta-feira estava tudo limpo.
O papel das juntas de freguesia é importante a outros níveis. Por exemplo, no Euro2004 — o campeonato que serviu para Portugal reorganizar todo o seu modelo de policiamento dos jogos — a junta de freguesia de São Domingos de Benfica ajudou a PSP a fazer uma carta a todos os moradores dando conta das restrições rodoviárias naquela zona, nomeadamente na zona da tenda VIP da UEFA. “Quem mora ali não gosta, mas a nossa ideia foi pensar nestas pessoas. A cidade [Câmara Municipal de Lisboa] decidiu que ia ser assim, havia um organizador internacional com patrocínio de milhões, não havia volta a dar, tinha que acontecer. O trânsito foi desviado…”, explica Pedro Pinho.
Pedro Pinho sublinha que nem sempre a PSP pode interferir, mas já houve casos em que a autarquia cedeu. Como na final da Champions que coincidiu com as obras do Hospital da Luz, que levaram ao encerramento da Avenida Condes de Carnide ao trânsito durante cerca de um ano. “Conseguimos adiar a obra até à final da Champions. Pedimos para ter canais fluidos para podermos passar, por exemplo, com os grupos organizados de adeptos. E a câmara municipal entendeu, mas isto é tudo um trabalho contínuo”, adverte.
Há uns meses a PSP pediu aos responsáveis do estádio do Benfica para manterem os estádios limpos durante o jogo. Era importante que não existissem garrafas e outros objetos espalhados pelo chão no final dos jogos, que pudessem servir de armas de arremesso. O clube cumpriu e, neste momento, é menos uma preocupação na lista de regras de segurança que a PSP quer ver cumprida. “As coisas vão-se organizando por si só”, garante.
As polícias estão em constante troca de informações policiais sobre os jogos, os adeptos e todas as ameaças externas. Estão também em permanente contacto com o oficial que faz a ligação entre o clube e a polícia. Para tal, usam o Ponto Nacional de Informação de Futebol, um organismo criado a nível europeu e que tem os seus congéneres em todos os Países da União Europeia. É aqui que as polícias de cada país vão buscar informações úteis ao planeamento da segurança de cada jogo. Contam ainda com a Unidade de Informações Desportivas, uma espécie de Serviço de Informações do Futebol, com a diferença que os seus elementos trabalham identificados: são os spotters, ou seja, polícias que trabalham à civil, embora vistam coletes que os identificam, e que acompanham as claques. Antes do jogo são eles que recolhem informações e que depois partilham, a todo o momento, com os restantes operacionais envolvidos na segurança policial aos jogos. “Dialogamos com os adeptos, eles conhecem-nos e nós a eles e temos uma maior interatividade com eles do que o polícia de escala”, diz Sérgio Soares, que ali trabalha. Outra vantagem: como se vestem à civil e não exibem armas, quebra-se o “estigma” do polícia armado.
Mas nem sempre o diálogo pode ser completamente aberto. Em fevereiro de 2014, por causa do mau tempo e da queda de detritos do estádio, o jogo do Benfica-Sporting acabou cancelado. Naquele dia a PSP identificou um grupo de adeptos que se preparava para ir assistir ao jogo sem estarem integrados nas claques. Estavam em Telheiras, na Rua Fernando Namora, quando a PSP os abordou. “Não lhes podíamos dizer que o estádio tinha sido evacuado e que o jogo seria cancelado, a decisão ainda não estava tomada, mas não podíamos deixá-los avançar. E a decisão foi contê-los ali. Se calhar só entenderam aquela ação no dia seguinte, porque perceberam que não ia haver jogo. Naquele contexto não se podia dizer tudo, embora a comunicação seja importante”, diz o comandante da divisão da PSP de Benfica. Esta não é a primeira vez que estes grupos fora das claques são intercetados antes da chegada.
Uns dérbis antes, também na Luz, um grupos de adeptos do Sporting que não viajou na caixa de segurança com elementos das claques acabou por ser intercetada na zona da Praça de Espanha mas não se chegaram a registar quaisquer incidentes: foram acompanhados a partir desse momento, entraram todos numa carruagem do metro e foi feita uma mini caixa para chegarem à zona de entrada dos elementos da equipa visitante. Olhando para os últimos jogos grandes, e num fenómeno que é transversal a todas as equipas, são esses grupos que têm criado os principais problemas fora dos estádios, sendo que muitas vezes nunca chega a registar-se qualquer tipo de distúrbio público por serem detetados por antecipação.
O que é um adepto de risco?
Um adeptos de risco é aquele que põe em causa a tranquilidade e ordem publica, não é o que se limita a ir ver o jogo e a “comer uma bifana”. Normalmente leva objetos interditos para dentro do estádio e, além de vociferar na bancada, faz algo mais que não deve. Procura a confrontação. Podem ser já adeptos referenciados ou tornarem-se de risco, daí a intervenção dos spotters.
A PSP considera que com os adeptos, sejam eles quem forem, a “comunicação é fundamental”. Para Sérgio Soares é importante negociar com os adeptos e intervir não “na massa humana”, mas na origem do problema. “Se temos 100 adeptos e só um cria incidentes, só sobre ele se deve incidir. Primeiro pela comunicação, com um crescendo gradativo e, se necessário, o exercício da força legitimado”. Não se pense que os adeptos não podem estar à vontade: num estádio é possível “vociferar” à vontade, exprimir-se, ao contrário de uma ópera ou de um cinema. “Em determinado contextos há comportamentos permitidos”, admite a PSP.
Como entram no estádio tantos materiais interditos?
“Isso dava uma tese…”, responde Pedro Pinho. Normalmente as revistas são feitas por seguranças privados, mas nem todos os adeptos são revistados. “Essa questão é um problema da Polis, de acordo com a lei são revistados os adeptos dos grupos organizados de adeptos, estejam constituídos enquanto associação ou não”, refere o oficial da PSP.
Numa tese sobre “A PSP e a gestão de adeptos: fatores chave para o sucesso no caso paradigmático do futebol”, assinada por um elemento policial para o Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, há um relato que pode justificar como os engenhos pirotécnicos (tochas, potes de fumo ou very lights), por exemplo, escapam à revista nos estádios. Raro é o jogo em que não se deflagre um. “O problema é que com raquetes, não deteto objetos potencialmente arremessáveis. Deteto sim metais, a chave do carro, o telemóvel, mas não deteto engenhos explosivos ou uma pedra no bolso. Isto não é o que se pretende. Se nós vamos voltar ao tempo em que era a polícia que fazia as revistas de prevenção e de segurança, nós vamos quintuplicar os efetivos. O Estádio do Benfica, só no anel pedonal, tem 32 portas de entrada”, disse um oficial de polícia em 2015.
Grupos de extrema direita continuam a ser uma preocupação?
Houve um grupo organizado de adeptos do Sporting que, para se constituir associação, teve que banir esse subgrupo do seu seio, caso contrário não se conseguia registar (e assim o fez). Quando olhamos para os grupos vemos uma heterogeneidade, uma mescla de raças e etnias que ajudam a combater esses extremismos. “Mas não se tem vindo a esbater, mas é analisado, trabalhado e é um foco de atenção, não estamos descuidados relativamente a essa matéria, vemos os seus modus operandi… Nalguns países da Europa isso é bem visível”.
Como será o policiamento neste domingo?
No dia em que Lisboa recebe adeptos do Benfica, do Sporting e do FC Porto praticamente ao mesmo tempo, a PSP tem um planeamento para “evitar incidentes”. E, apesar de não avançar com um número de polícias no terreno, a PSP garante que qualquer reforço policial está previsto nas competências da polícia. “Mas podemos falar em centenas de polícias nas ruas?”, pergunta o Observador. “Normalmente os números avançados pela comunicação social pecam por excesso. E é um engano pensar que quantos mais polícias mais segurança”, defende Pedro Pinho.
Ainda assim, o policiamento da zona do estádio da Luz (Divisão da PSP de Benfica) e do estádio do Restelo (Divisão da PSP do Calvário) não se vai restringir ao pessoal destas divisões policiais. O dispositivo será reforçado por pessoal de todo o Comando de Lisboa, “mas não será necessário recorrer a outros Comandos policiais”. Haverá duas exceções: o efetivo do Comando da PSP do Porto que já está a dar informações a Lisboa sobre o número de adeptos que compraram bilhetes para a partida de futebol. Serão, pelo menos, 3.500. E a Unidade Especial de Polícia — o corpo de elite onde se inclui o Grupo de Operações Especiais — que trará os adeptos do FC Porto desde a entrada em Lisboa até ao estádio do Benfica. E que depois reforçará a segurança à entrada deste estádio e do Restelo. A ideia é que adeptos rivais não se cruzem.
A entrada dos adeptos do FC Porto será feita pela Avenida Condes de Carnide, parcialmente cortada ao trânsito para permitir, também, o estacionamento de carros e carrinhas de adeptos (há uns anos o ponto de concentração ficava mais na zona de Telheiras, mas adaptou-se ao local com melhores condições de segurança). Neste caso, os desvios e o controlo de trânsito são da responsabilidade da Divisão de Trânsito da PSP. Neste momento, o Centro Comercial Colombo deverá encerrar as saídas do estacionamentos para a Avenida Condes de Carnide, pelo menos até à passagem dos adeptos, para evitar confrontos. “Estes dez minutos são fundamentais”, revela Pedro Pinho.
Partindo do princípio que as claques chegam duas horas antes do jogo, a PSP acredita que, entre a entrada do último adepto no estádio e o pontapé de saída para o início do jogo, haja uma diferença de 15 minutos. Já a saída costuma ser mais fácil. “O comportamento tende a ser mais regrado. Poderá haver uma razão lógica: quando entro tenho uma expetativa, quando saio o resultado está feito. Mas esse resultado influencia. Não deixa de ser um Benfica-FC Porto”, adverte o comandante de Benfica.
Os spotters da PSP vão acompanhar as claques e atualizar em permanência o comando dos ânimos e dos movimentos. A Divisão de Investigação Criminal poderá ter operacionais no terreno por causa de alguns crimes que possam acontecer. São mais de 60 mil pessoas concentradas no mesmo local. Um número apetecível para a prática de crimes de furto ou, mesmo, de especulação de bilhetes (o último, curiosamente, é o que tem levado a mais detenções nos últimos jogos grandes).
Também a Divisão de Transportes Públicos vai ter um papel importante no domingo e estará atenta a alguns pontos estratégicos dos transportes públicos. Na zona de Belém, haverá um reforço policial em zonas sensíveis: “Temos ali muitas embaixadas, o Estado Maior das Forças Armadas, Depósitos Epal, museus nacionais, e património da Unesco”, lembra Pedro Pinho. “Tudo aquilo que possa pôr em causa a segurança é avaliado e considerado”, responde Pedro Pinho, quando lhe perguntam por uma possível ameaça terrorista.
Na cidade, os carros patrulha vão continuar a trabalhar normalmente e a PSP vai continuara responder a todas as chamadas.
O resultado do jogo influencia a operação de segurança?
O resultado de um jogo obriga a adaptar a segurança conforme o vencedor. “A equipa A vence a B, os adeptos A estão mais satisfeitos, mas poderão estar mais propensos a apupar os adeptos da equipa B, que estarão frustrados e estarão menos abertos a estes apupos”, diz Pedro Pinho. Uma explicação que parece simples mas que, adaptada à realidade, já trouxe problemas.
E se o grupo organizado de adeptos não quiser regressar ao Porto e quiser passar a noite em Lisboa? É livre para isso, mas obriga a PSP a estar presente. Na última quinta-feira foi o que aconteceu com os adeptos do Atl. Madrid. Uma parte regressou a Espanha e a PSP deixou de os monitorizar à entrada da ponte Vasco da Gama; outros quiseram divertir-se na noite de Lisboa. A PSP, com a devida distância e discrição esteve sempre lá.
A PSP aconselha a que quem queira assistir aos jogos no estádio se desloque de transportes públicos, cheguem com antecedência e evitem levar grandes volumes.