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JUSTIN LANE/EPA

JUSTIN LANE/EPA

Como Guterres ganhou a ONU. A campanha contada por quem a fez

Esta é a história da campanha e eleição de António Guterres na ONU, contada na primeira pessoa pelos seus principais protagonistas. Guterres é a Figura do Ano, escolhida pela redação do Observador.

    Índice

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Em abril do ano passado, António Guterres — a Figura do Ano 2016 eleita pela redação do Observador — retirou-se em definitivo de uma corrida onde nos últimos dez anos tinha sido colocado como hipótese forte. “Não sou candidato a ser candidato”. A Presidência da República não era o seu objetivo. Seria, então, a secretaria-geral da ONU? Mas com que hipóteses? E com o apoio de que países? As grandes potências mundiais estariam do lado do ex-primeiro-ministro português que cresceu entre Lisboa e Donas, uma pequena aldeia do Fundão? Bastariam as relações estabelecidas nos dez anos em que foi alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados? Esta é a história dessa caminhada, contada pelas pessoas que a geriram ao mais alto nível. Desde o momento em que António Guterres assumiu, numa reunião ultra-privada (com sanduíches), que era candidato, até ao dia em que o seu telefone tocou e do outro lado ouviu líderes mundiais em várias línguas a congratularem-no pela eleição. Esta história oral foi feita com base no testemunho gravado das principais pessoas que estiveram nas reuniões da candidatura de Guterres a secretário-geral da ONU e que acompanharam também as hesitações da tomada de decisão final. Algumas delas têm relações de amizade pessoal com o ex-líder socialista — e falaram com o Observador nas três últimas semanas.

A decisão e as reuniões discretas

O PS tinha chegado ao Governo e já sabia que o seu nome presidencial preferido não estava na corrida a Belém. Em dezembro de 2015, António Costa fala com António Guterres para saber as suas intenções relativamente à ONU — Portugal tinha recebido nessa altura a carta das Nações Unidas a dar conta do perfil pretendido e a questionar sobre a vontade de o país apresentar um candidato.

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Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Não escondo que, para todos os que no PS tinham feito grande esforço para que fosse candidato a Presidente da República, se tinha tornado claro que ele não aceitava ser — mas que ponderava continuar a carreira internacional. E ser secretário-geral das Nações Unidas é o culminar de uma carreira internacional
A ponderação foi feita com seriedade e grande humildade da parte de António Guterres. Foi feita ao nível do primeiro-ministro, António Costa, e eu jantei informalmente com o engenheiro Guterres nos primeiros dias de janeiro. Não era só o ministro dos Negócios Estrangeiro que estava ali, era um amigo que via com frieza as possibilidades. Fomos jantar, sentámo-nos, e aí, com todo o tempo do mundo, com os telemóveis desligados, estivemos a falar sobre isto. Sobre as condições, as probabilidades. Analisámos a situação e tivemos o cuidado de, ainda antes de tomar uma decisão, nos aconselharmos com pessoas que conhecem este terreno. Cada um, ao seu nível, fez contactos para garantir que haveria unidade nacional em torno desta candidatura.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Eu soube há muito tempo, meses antes do início do processo. Mesmo antes de estarmos no Governo já era conhecida essa vontade e disponibilidade dele. Logo no início do Governo contactámos com ele e a primeira reunião é em janeiro, no dia do Seminário Diplomático [6 de janeiro], mas dois ou três dias antes já tinha falado com o primeiro-ministro. 
O ministro dos Negócios Estrangeiros aproveitou o Seminário, onde teoricamente estavam todos os embaixadores portugueses no mundo, e organizou uma reunião com meia dúzia de embaixadores. O critério foi chamar os diplomatas que já tinham estado junto do Conselho de Segurança, ou nas Nações Unidas, ou que tinham uma relação privilegiada com António Guterres. Éramos meia dúzia à volta da mesa. E António Guterres assumiu que estava disponível para ser candidato.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Eu tinha trabalhado com o engenheiro Guterres [como assessor diplomático enquanto este foi primeiro-ministro], sabia que ele tinha deixado o ACNUR e, como presidente do Instituto Diplomático, convidei-o para ser orador no Seminário sobre a questão dos refugiados.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Pudemos testar, durante o discurso, a receção que a personalidade merecia.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Nessa altura não tinha ideia se havia margem ou interesse para ele avançar. No íntimo, eu queria que ele avançasse. Sou confrontado com a ideia de que a nível político já se tinha falado – o engenheiro Guterres já tinha falado com o primeiro-ministro e com o ministro –, e acabo por ser informado quando, no dia em que temos o Seminário, durante a receção dada pelo Presidente da República, me convocam para uma reunião logo a seguir, no gabinete do ministro. É aí que se tem a primeira discussão, se explica que vai ser tomada a decisão de avançar e aquilo que poderíamos fazer nos próximos tempos. 
Participou o ministro, o ex-ministro Luís Amado, participou o meu colega embaixador em Madrid, participou o Diretor Geral de Política Externa do MNE, a chefe de gabinete do ministro e a secretária de Estado dos Assuntos Europeus.”

António Guterres discursa no Seminário Diplomático de 2016, horas antes de a sua candidatura dar os primeiros passos

MÁRIO CRUZ/LUSA

José Moraes Cabral
José Moraes Cabral
Embaixador de Portugal em Paris
“No Seminário Diplomático, o ministro dos Negócios Estrangeiros pediu-me para passar no Ministério para uma reunião com várias pessoas e com António Guterres. Lá estivemos nessa noite de janeiro, com algumas sanduíches. Discutimos a viabilidade da candidatura. Não tinha dúvidas que tinha muitas condições para ser eleito. Não era uma coisa evidente, daria trabalho, teríamos de organizar-nos de maneira tão eficaz quanto possível. 
Tinha experiência, prestígio em Nova Iorque, e junto de atores importantes das Nações Unidas, inclusive do próprio secretário-geral. Não era do Leste, não era mulher. Quanto ao resto, era 10 sobre 10.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“O encontro no Ministério dos Negócios Estrangeiros não foi público e conseguimos manter isto em segredo durante mais de um mês. Até que o primeiro-ministro fez uma fuga de informação…
José Moraes Cabral
José Moraes Cabral
Embaixador de Portugal em Paris
“Na reunião, todos concordámos que era uma excelente candidatura e que tinha condições para vingar. António Guterres disse: ‘Tenho 20% de possibilidades’. Eu respondi-lhe: ‘É um bocadinho mais’.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Na reunião do MNE fizemos um exercício de olhar para a candidatura, olhar para o momento, olhar para o processo e ver se havia hipóteses. Não me lembro de ninguém ter dito que achava que não devia avançar. A dúvida que se colocava era se devia avançar de imediato ou esperar por outras candidaturas.”

As regras da ONU e as de Guterres

O Governo constituiu uma task force que devia preparar a candidatura e a campanha. E decidir qual o melhor timing para a tornar pública.

José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Decidiu-se avançar com uma estrutura que coordenasse esse esforço da candidatura e a sua atividade. A nível político, participava o MNE e a dra. Margarida Marques, e o engenheiro Guterres sempre que podia – isto é, sempre que estava em Lisboa. Também tínhamos representantes do Presidente da República, do gabinete do primeiro-ministro, do gabinete do ministro e do gabinete da secretária de Estado. Tínhamos também o diretor de serviços dos SPM [Serviços Políticos Multilaterais]. Estávamos em contacto com os gabinetes e com as embaixadas. Sobretudo, com a missão em Nova Iorque, que foi a missão principal porque, no fundo, era aí que estavam os 15 eleitores.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Reuníamos todas as terças-feiras com António Guterres, por vezes ele estava fora. Mas o sistema era todas as terças-feiras ao fim da manhã e quando ele não estava reuníamos na mesma, aqui na secretaria de Estado dos Assuntos Europeus. 
A equipa inicial foi sendo alargada, foi criada uma task force, logo depois do Seminário, e o ministro disse que quem o substituía nessa coordenação seria eu. António Guterres chegou a ter aqui um gabinete, na Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, mas algumas vezes ia uma pessoa do meu gabinete trabalhar com ele à Gulbenkian na preparação de documentos.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-embaixador de Portugal na ONU entre 1997 e 2001 (chegou a presidir ao Conselho de Segurança)
“O objetivo dessas reuniões era preparar o engenheiro António Guterres. Ele tinha a sua experiência pessoal. É difícil conhecer a organização melhor do que ele. Mas foram buscar pessoas com experiência dentro do Conselho de Segurança da ONU e cada um de nós deu a sua visão interna sobre o órgão onde, muitas vezes, as decisões são opacas
Havia algo de novo nesta eleição: o processo era completamente diferente. Agora, havia esta ideia nova de os dois dirigentes [Conselho de Segurança e Assembleia-geral] escreverem aos países para apresentarem candidatos. Isso mostrava já que se queria uma maior exposição, transparência e abertura na maneira como o processo ia decorrer. Já não era apenas nos corredores do Conselho de Segurança. Passava a haver algum papel para a Assembleia-geral.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“O engenheiro Guterres explicou de uma forma muito clara que a candidatura seria pela positiva, que não queria a menor das controvérsias.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
Existiam linhas vermelhas, sobretudo a ideia — que vinha do próprio engenheiro Guterres — de não antagonizar ninguém. A candidatura era a promoção do seu próprio caminho, sem antagonizar outros, respeitando os outros. Mas houve tentativas de lançar temas menos limpos.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Ele nunca quis fazer uma grande dinâmica, uma grande estratégia de comunicação à volta da candidatura. Nunca quis atacar nenhum candidato. Mesmo quando tínhamos elementos para isso. A vontade dele era sempre a que prevalecia, às vezes fazíamos uma ou outra sugestão mas ele dizia que não, quando se tratava de explorar fragilidades dos adversários. Nem quis ter uma estratégia de comunicação com grande visibilidade, nem que atacássemos qualquer candidato. Ainda dizíamos: ‘Há aqui esta fragilidade, podíamos colocar um artigo… ‘. E ele dizia: ‘Não’. Sempre. O trabalho dele foi sempre político, de negociação direta.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Na carta, dava-se indicação do perfil pretendido: uma pessoa com experiência, com envolvimento nos valores e princípios da ONU, competências linguístas e diplomáticas, uma vez que os Estados iam ter em conta que ia haver rotação geográfica. 
Havia um entendimento legítimo de que, por força da rotação geográfica, o candidato devia ser da Europa do Leste. Mas isso não era um óbice à candidatura de António Guterres, visto que a diferença entre Europa Ocidental e do Leste constitui uma herança da guerra fria. Essa diferenciação já não fazia sentido. António Guterres cumpria todos os requisitos do perfil escrito.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Essa carta era muito clara e, de certa forma, descreve o procedimento de seleção e apela aos países para que tenham a preocupação de que o candidato seja uma mulher e que venha preferencialmente de um país da Europa Oriental. Já lá está isso na carta, de uma forma mais subtil.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“A defesa desse critério de género era mais em nome da defesa de uma diferença dentro das Nações Unidas. Haver dentro da ONU o real empenho em dar oportunidades iguais e recompensas iguais e acesso igual a homens e mulheres. Mas isso não passa apenas pela eleição de um secretário-geral. Havia que ter maior empenho em que essa regra vigorasse como uma regra normal.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Trabalhámos na argumentação, nos contactos que era necessário fazer. O que fizemos inicialmente foi perceber quais eram as grandes reuniões mundiais a que íamos, conferências internacionais, cimeiras às quais ia o primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, o ministro da Defesa, eu própria, e com quem devíamos falar nessas reuniões. Levávamos sempre trabalho de casa para todas essas conferências em que participávamos. Por exemplo, uma reunião da OCDE em Paris, onde eu ia, levava uma agenda e marcava reuniões bilaterais. A certa altura mandámos a argumentação para os embaixadores. 
António Guterres viajava sozinho porque não havia mais orçamento — e ele não se importa. Viajava sempre sozinho, só no final é que já ia acompanhado. 
Uma vez saiu daqui para o Egito, depois seguiu para Tóquio, dali para Istambul, está quatro horas entre a reunião e o avião, e a seguir passa a noite no avião para Nova Iorque. Foi à Nova Zelândia. Fez um trabalho incrível e deve ter sido das campanhas mais baratas que fizemos.”

Costa faz fuga de informação. A candidatura oficializa-se

Até aqui tudo estava a ser preparado num núcleo muito restrito, para evitar fugas de informação. O timing do anúncio formal da candidatura ainda estava em discussão na task force quando António Costa deu o empurrão final.

Cavaco ainda foi avisado que a candidatura ia mesmo avançar e condecorou Guterres em janeiro

MIGUEL A. LOPES/EPA

Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“O primeiro-ministro informou e colheu o parecer do então Presidente da República, Cavaco Silva, antes de apresentarmos a candidatura, e ele foi 100% a favor. Condecorou António Guterres [a 27 de janeiro] para dar projeção maior. Colhemos também a opinião do Presidente eleito, que foi entusiasta, ouvimos todas as forças políticas: Passos Coelho, o líder do CDS, a liderança do PCP e o Bloco de Esquerda. Em meados de janeiro tínhamos a primeira ideia firme de que o lançamento da candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU podia ser apresentada como candidatura nacional. Isso foi particularmente interessante porque já sabíamos do problema búlgaro. [A Bulgária viria a ter dois candidatos.]”
José Moraes Cabral
José Moraes Cabral
Embaixador de Portugal em Paris
“O momento do anúncio da candidatura foi escolhido pelo engenheiro Guterres, com grande sentido de estratégia. Não foi cedo demais, deu hipóteses para que surgissem outras candidaturas, e também não foi demasiado tarde, como alguém que está a apanhar o comboio quando está a sair da gare.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Durante uma viagem a Cabo Verde [a 19 e 20 de janeiro], o primeiro-ministro disse aos jornalistas e precipitou o anúncio formal. Eu acho que a fuga de informação foi boa e que António Guterres gostou. Porque isso levou a que a carta [de resposta à ONU] tivesse de ser enviada logo a seguir. Ele queria que a carta tivesse seguido ali. António Guterres ganhou em estar na primeira ronda da discussão das visões. 
Já não era o primeiro candidato, já havia dois ou três, e era conhecido de quem se mexe e discute esta coisas que Guterres teria vontade de ser candidato. Guterres tem uma dimensão mundial que levava a que a candidatura dele, se tivesse aparecido muito mais tarde, de facto seria entendida como uma atitude muito táctica. Eu acho que a candidatura dele chegou exatamente no momento oportuno para ser convidado para o primeiro round. As declarações de António Costa aceleraram o processo. Isto ajudou à candidatura
Tive muitos jornalistas a queixarem-se por não terem sido avisados de que ele ia avançar e eu respondi: ‘Pois não, houve uma fuga do primeiro-ministro!’. Foi uma fuga muito oportuna.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Começámos a preparar o engenheiro Guterres e a avançar com os documentos que seriam necessários para acompanhar a candidatura, quer o vision statement quer a carta. O primeiro draft foi preparado pelos serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros mas têm um contributo enorme do engenheiro Guterres, que lê os textos e começa a ditar as modificações que quer. 
Outra questão que era importante tratar era articular as agendas do Presidente, primeiro-ministro e MNE e estruturar as agendas para ver como os contactos deles podiam ser úteis para a candidatura. Lembro-me que foi à margem da tomada de posse do Presidente da República que o engenheiro Guterres teve os primeiros contactos com participantes na cerimónia. Reuniu-se com o Rei de Espanha e com o Presidente de Moçambique, por exemplo.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“A carta foi enviada a 29 de fevereiro e tinha dois anexos: um he is not a woman but e o outro em que se explicava a questão regional. O primeiro anexo tinha um levantamento, feito com a ajuda de Guterres e as pessoas que tinham trabalhado nesta área, daquilo que ele tinha feito como primeiro-ministro e, em termos de gender balance, no Alto Comissariado para os Refugiados. 
E António Guterres fez-nos também uma análise — que aliás foi fazendo regularmente — sobre aquilo que ele achava que eram as suas potencialidades e as suas fragilidades. Trabalhámos sempre nessa base. Foi das coisas que mais me entusiasmou durante todo o processo. António Guterres estava muito consciente daquilo que tinha feito como alto representante das Nações Unidas para os Refugiados. Ele tinha uma análise muito detalhada do que eram os países que reconheciam significativamente o seu trabalho e aqueles que, reconhecendo o seu trabalho, gostariam que em determinados momentos ele tivesse tido opções diferentes. Essa análise ajudou-nos sempre a fazer a agenda. Quem é que tem de visitar, com quem tem de falar, quem diretamente pode ajudar a chegar a um ou outro líder mundial.”

Primeiros contactos e apoios claros

A campanha começou, agora sem secretismos, e por todo o mundo. Os cinco membros do Conselho de Segurança foram a prioridade principal da diplomacia portuguesa.

Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Nos nossos cálculos, a França e a China estavam sempre do nosso lado. No caso do Reino Unido e dos Estados Unidos, a posição pública não era tão calorosa, mas sempre confiámos que não viria daí obstáculo à eleição do engenheiro António Guterres. Provavelmente, esses dois membros poderiam ter outros candidatos que preferissem mas, do nosso ponto de vista, não constituíam obstáculos à eleição de António Guterres.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“A afirmação de apoios não é automática. Ou seja, há de facto uma aproximação às nossas posições. Um dos primeiros líderes foi o presidente do Senegal, que imediatamente nos apoiou. E havia vários países com posição muito explícita, como os franceses, por exemplo. 
Mas inicialmente contavam essencialmente os P5 [membros permanentes do Conselho de Segurança: China, França, Rússia, EUA e Reino Unido]. Nós tentávamos sobretudo perceber, junto desses países, se havia uma ambiente favorável. Não houve à partida nenhum ambiente completamente hostil.
Em relação a estes países, tínhamos mais a segurança do não veto do que do voto.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Nunca encarámos a probabilidade de um veto como séria, visto os membros do P5 terem sido muito calorosos publicamente, desde praticamente o início da candidatura.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Antes das votações e entre as straw polls [espécie de sondagem anónima entre os membros do Conselho de Segurança da ONU], os chefes de missão eram chamados aqui pelo Diretor-geral de Política Externa. E os nossos embaixadores nos P5 faziam diligências e, por vezes, estas diligências eram acompanhadas por cartas, cartas do Presidente da República, cartas do primeiro-ministro, consoante os países. 
O engenheiro Guterres visitou todos os países membros no Conselho de Segurança das Nações Unidas, tanto do P5 como do P10 (10 eleitos para o Conselho de Segurança de forma rotativa). E foi, também, até julho, aos países com influência regional — Índia, Japão, esteve para ir ao Brasil mas não conseguiu devido à situação política interna no país. E a missão do embaixador de Portugal nas Nações Unidas, Mendonça e Moura, foi fulcral. Durante meses entrou em contactos com os diferentes representantes permanentes do P5 e de outros países.”
José Moraes Cabral
José Moraes Cabral
Embaixador de Portugal em Paris
“Tinha a ideia de que os russos não quereriam qualquer decisão enquanto não estivessem na presidência do Conselho de Segurança. A partir do momento em que começaram as straw polls isso tornou-se evidente. Os russos iriam controlar os tempos disto, estava nas mãos dos russos passar imediatamente à votação ou não.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Foi para nós muito importante tentar entender a posição da Rússia, que foi sempre clara, do primeiro ao último minuto. A Rússia sempre nos disse que a questão do género não era questão para eles, que a questão da Europa do Leste era uma questão para eles e preferiam e bater-se-iam por um candidato da Europa do Leste. Mas a fórmula que sempre usaram foi que viveriam bem com António Guterres. Sempre interpretámos essa fórmula como algo que, em termos de votação, se traduziria numa abstenção. Não posso dizer que seja isso que tenha acontecido, este tipo de votação é secreta, mas diria que, se tivesse que fazer uma aposta, faria uma aposta muito alta. 
O facto de a Rússia ter esta posição e ter a presidência do Conselho de Segurança em outubro criava uma boa janela temporal para a eleição de Guterres, visto que os russos compreenderiam que ficariam numa boa posição se o secretário-geral fosse designado por consenso durante a sua presidência.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Não isolo o problema da Rússia. Poria mais a questão entre os EUA e a Rússia. No quadro do P5, isso podia ser o mais difícil. Esses países eram a chave, embora o Conselho de Segurança não fosse menos importante. 
E, se houvesse um impasse nos P5, com esta metodologia, não era impossível que aparecesse uma candidatura de fora para resolver o impasse, ainda que isso fosse uma grande descredibilização para o processo que se pretendia mais transparente.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Desde o princípio, apercebemo-nos de que o engenheiro Guterres não era nem o candidato dos americanos, nem o candidato dos russos, nem dos ingleses. Na realidade, eles tinham outros candidatos, que avançaram. 
Tive sempre a ideia de que se chegaria a um compromisso. Ele estava na posição de poder ser um candidato aceite por todos. E o resultado das votações levam a pensar que ele acaba por ser escolhido por todos.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“Não creio que o engenheiro Guterres fosse o candidato dos membros permanentes do Conselho de Segurança. António Guterres foi verdadeiramente um candidato da Assembleia-geral, da totalidade do conjunto do Conselho de Segurança que os membros permanentes podiam aceitar.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Se houve grande inteligência da parte de Portugal, ela esteve em duas decisões muito importantes. A primeira foi apostar tudo nas novas condições do processo de designação e, portanto, conquistar o Conselho de Segurança a partir do conjunto das Nações Unidas. Nós construímos a campanha na base de mostrar que António Guterres não era um candidato regional. Que era, evidentemente, um candidato europeu — e, por aí, um candidato transatlântico — mas era ao mesmo tempo um candidato de África, da América Latina e da Ásia. 
A segunda foi nunca termos posto os países membros do Conselho de Segurança numa circunstância de tudo ou nada. Claro que dissemos a Angola, ao Egito, ao Senegal, que Guterres era naturalmente o seu candidato. Dissemos ao Japão o mesmo. Sabíamos em França ou na China que Guterres era naturalmente o seu candidato. Mas, por exemplo, aos países do Conselho de Segurança da América Latina — Venezuela e Uruguai — nunca dissemos que só tinham um candidato. Sempre dissemos que compreendíamos que quisessem puxar pelos candidatos latino-americanos. O que pedimos é que puxassem também pelo António Guterres. 
Nunca dissemos a Espanha que estava obrigada — pela amizade connosco — a votar só em Guterres porque entendemos que Espanha também tinha de curar de ter bom relacionamento com os países hispano-falantes da América Latina. O que queremos é que percebam que Guterres é também um candidato vosso. 
Dissemos à Nova Zelândia: ‘Não queremos que renunciem à vossa candidatura. Queremos que olhem para António Guterres como um second best para os vossos interesses’. Isso permitiu chegar ao fim nas condições em que queríamos: Guterres candidato do mundo a que nenhum dos P5 tinha a contrapor nenhuma espécie de reserva.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Os neozelandeses sempre foram claros para nós. Sempre lhes dissemos que não queríamos que apoiassem António Guterres como primeira escolha, visto que tinham a sua candidata. Mas queríamos que eles apoiassem o engenheiro Guterres como segunda escolha, isto é, se a candidata deles não tivesse vencimento.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
O facto de não ter existido um ambiente hostil em sítio nenhum explica a inexistência de votos vermelhos. Todas as pessoas aqui do gabinete que foram connosco às mais diversas reuniões, ou eu tomava a iniciativa ou alguém me dizia: ‘Vocês têm um candidato excelente’. Em todo o lado. Por exemplo, eu fui ao ‘Davos de Leste’, a uma conferência na Polónia, e estava lá um delegado do alto representante das Nações Unidas para os Refugiados e ele disse logo que tínhamos um candidato excelente e que adorava que fosse ele o escolhido. Isso era habitual. Acontecia muito durante o tempo todo. E, quando o [ministro dos Negócios Estrangeiros britânico] Boris Johnson me diz aquilo [em maio, sobre estar “rendido” a Guterres], o Reino Unido ainda não estava de alma e coração connosco. Aquilo foi um sinal, mas o Reino Unido nesse preciso momento, nessa semana, ainda não estava de alma e coração connosco. Essas vontades foram-se construindo. 
António Guterres visitou todos os P5, mas não só. O ministro, por exemplo, esteve com Sergei Lavrov [o MNE russo] e houve também o trabalho das embaixadas. Quando o MNE quer encontrar-se com Lavrov não manda uma carta hoje e ele recebe-o amanhã. Esse trabalho demora a ser feito. Sabíamos com quem queríamos falar mas tínhamos de esperar que os nossos interlocutores marcassem a reunião.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Durante bastante tempo tentámos arranjar a ida do engenheiro à Malásia, que é membro do Conselho de Segurança. Não temos lá embaixada, a nossa representação é a embaixada em Banguecoque [na Tailândia]. Tentámos por diferentes formas, via embaixada em Paris, via embaixada em Pequim, etc. Eu próprio liguei para a Malásia para tentar arranjar datas e os dias iam passando sem que houvesse resposta. Começámos a especular sobre o que se passaria. Acabámos por ter uma resposta em que diziam que depois do Ramadão falaríamos e lá deram uma data para o final de julho. Ele foi lá e, quando chegou, perguntaram-lhe: “Mas porque é que veio cá? A gente apoia-o, já fizemos uma análise e apoiamo-lo”. Sentaram-se e começaram a falar. Ele tinha passado lá férias no ano anterior e começaram a falar sobre essas coisas.”

Começar a acreditar

A 12 de abril dá-se um momento que a equipa vê como decisivo para colocar António Guterres em destaque perante os seus adversários: foi o dia do vision statement, a defesa da visão da sua candidatura para o futuro das Nações Unidas.

Durante o Vision Statement, a 12 de abril

AFP/Getty Images

José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Foi no dia 12 de abril, quando houve a primeira audição pública, que nos apercebemos — e isto foi uma opinião unânime dos meios diplomáticos em Nova Iorque — que o engenheiro Guterres tinha tido de longe a melhor prestação. Ficou público nessa altura que era o candidato mais bem preparado para exercer as funções.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“Nas apresentações públicas, sempre esperei que o engenheiro Guterres fosse, se não o melhor, um dos melhores. Agora, nunca esperei que a margem fosse tão grande. 
A apresentação do engenheiro Guterres é um dos momentos grandes nas Nações Unidas. A apresentação dele foi graus acima. Distinguiu-se pelas ideias que apresentou, pela facilidade de discussão que teve, pela capacidade de comunicação, até nas várias línguas, que mostrava que aquilo não era apenas uma questão preparada à última hora, mas que era uma convicção. 
As Nações Unidas impressionam-se com alguém que transmite essa confiança, essa abertura, essa demonstração de eficiência. Ele mostrou que o que dizia não era plástico, não era de ocasião, não era uma coisa preparada. Era qualquer coisa que vinha dele.”

Riscos, pressões e o desafio de última hora

Entre julho e outubro houve várias votações, que serviram para medir o pulso à cúpula das Nações Unidas e aferir os riscos e pressões mais difíceis de contornar, à medida que se aproximavam as votações finais. E no fim da linha ainda apareceu a concorrente mais temida: Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia.

José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Kristalina Georgieva não nos preocupava diretamente, mas criava dúvidas. Os rumores na imprensa diziam que ela se ia apresentar para a semana e depois era na semana seguinte. Mas não era, de todo em todo, o foco das nossas atenções. 
Havia uma pressão enorme para que fosse uma mulher. Sentimo-la o tempo todo. Aliás, via-se os reflexos na imprensa. Havia grupos organizados na Europa, na América Latina — e compreendemos essa lógica — que se batiam pela ideia de que deveria ser uma mulher o próximo secretário-geral das Nações Unidas. Por outro lado, havia um argumento muito forte: o grupo da Europa do Leste nunca tinha tido um secretário-geral nas Nações Unidas. Praticamente todos os outros grupos importantes tinham tido.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Vinha de Atenas e, quando aterrei em Paris, tinha um SMS a dizer: ‘A Kristalina vai avançar com a candidatura e os alemães apoiam-na’. Já não me surpreendeu. 
Eu tinha falado com Georgieva antes das audições, depois de o Governo búlgaro ter apresentado a Bokova. Tive uma reunião com ela em Bruxelas e, no final da reunião, já nos estávamos a despedir e eu disse-lhe: ‘Então, percebi que abandonaste a tua ambição de seres candidata a secretária-geral das Nações Unidas’. Ouvi ontem as tuas declarações no dia em que o teu Governo apresentou a candidatura da Bokova. E ela disse: ‘Não ouviste as minhas declarações, ouviste o meu Governo a falar em meu nome’. E percebemos que ela continuava [na corrida]. 
Ela também me disse que, se fosse candidata, antes de se apresentar, a primeira pessoa com quem falaria seria com António Guterres. São amigos, conhecem-se bem, ela teve o pelouro da Ajuda ao Desenvolvimento, na Comissão, e ele era Alto Comissário.”
José Moraes Cabral
José Moraes Cabral
Embaixador de Portugal em Paris
“Georgieva hesitou muito porque percebeu que não era fácil. E ela esperaria que fosse um passeio triunfal até à eleição e não era, provou-se que não foi. Não foi um toque de alarme, essa possibilidade estava prevista no radar mas foi um momento que alterou qualitativamente a parada. Era preciso ver.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“À última hora, apareceu a segunda candidatura búlgara. Aliás, em circunstâncias lamentáveis para o próprio país. Foi muito injusto para um país que tinha como candidata a diretora-geral da UNESCO e por isso ela teve uma votação que foi um prémio de consolação para quem tinha sido mal-tratado. 
O nome mais perigoso, para mim, era o de Helen Clark, antiga primeira-ministra da Nova Zelândia, com o apoio anglo-saxónico, com posição favorável da imprensa que domina esta matéria. Irina Bokova também era uma candidata séria, ela sim, que cumpria os dois critérios, geográfico e de género. Mas haver uma disputa dentro do país era um argumento favorável ao engenheiro António Guterres porque, em Portugal, houve praticamente unanimidade em relação à candidatura portuguesa.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“O facto de ela aparecer tão colada aos alemães como apareceu prejudicou-a. E tivemos logo essa perceção. A certa altura, tínhamos algumas informações de que ela poderia ser apoiada por outros países. Mas isso não aconteceu. Tínhamos essa informação e depois percebemos que isso não tinha pés para andar.”

5 de outubro de 2016: a surpresa

O Conselho de Segurança ia para a sexta votação dos candidatos, mas era a primeira com os cartões coloridos que permitiam identificar eventuais vetos de membros do conselho permanente. Guterres tinha dominado nas votações anteriores, mas ninguém esperava que aquele fosse o dia D.

António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“No dia 4 à noite eu tinha claro que isto dependia apenas da vontade dos russos. Julgava que levasse mais 48 horas. Achava que haveria mais votações com cores e que António Guterres consolidaria de maneira inequívoca, como vinha fazendo, a sua dupla mais-valia: obteria uma maior vantagem e não teria vetos dos P5.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“Nessa mesma manhã, 5 de outubro, tivemos a cerimónia da República e depois despedi-me do primeiro-ministro, porque não íamos estar juntos durante o princípio da tarde, dizendo-lhe: ‘António, na minha opinião, acho que tens de estar preparado para ser já hoje ou não ser’. 
O candidato era talvez o mais calmo de nós todos. O padrão de votações de António Guterres foi muito consistente e isso deu-nos bastante confiança. Eu não sou dos que dizem que sempre soube que ele ia ganhar. Pelo contrário, sou dos que dizem que, com toda a humildade, nesse dia, quando esperávamos pelo resultado da votação, António Guterres estava sentado numa sala que servia de centro de operações, no Instituto Diplomático, e eu andava de um lado para o outro, como se estivesse à espera que nascesse um filho.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Eu tinha esperança, não tinha certeza. Ele estava aqui [na sala do embaixador, no Instituto Diplomático]. Eu liguei o computador. Através da webtv vimos sair o Churkin [embaixador russo nas Nações Unidas] cá para fora e dizer umas palavras — apareceu com todo o Conselho de Segurança cá para fora. Foi quando ele disse que tinham resolvido propor o nome do engenheiro António Guterres para secretário-geral e marcaram para dia 6 a votação. 
O som estava muito baixo, o engenheiro Guterres estava sentado à mesa e não estava a ouvir e foi dali que eu lhe disse: ‘Está eleito, está eleito!’. Logo a seguir, o engenheiro começou a receber imensas mensagens de amigos.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Eu estava em casa, telefonei porque sabia que saía àquela hora e o embaixador Freitas Ferraz diz-me: ‘Está eleito’. Eu disse: ‘Não brinque comigo! Diga-me lá o que se passa’. E ele confirmou: ‘Está eleito e amanhã é anunciado o resultado’. Quando ele me disse isso pensei que ele estivesse a brincar comigo, ainda por cima ele tem um sentido de humor imenso.”
António Monteiro
António Monteiro
Diplomata, ex-MNE e ex-embaixador de Portugal na ONU
“Não esperava que fosse tão rápido, o que mostra — e isso foi uma grande lição das Nações Unidas — que o processo mais democrático, mais transparente, com maior participação da própria organização afinal facilita muito o processo de decisão e isso é o que vai ficar da eleição dele.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“A partir do momento em que, no dia 5 de outubro, se verifica que não havia votos de desencorajamento, o Conselho de Segurança tirou a conclusão óbvia de que estava em condições de fazer a aprovação formal por aclamação no dia seguinte.”
Margarida Marques
Margarida Marques
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus
“Ele foi sempre muito realista, no sentido de nunca querer criar falsas expectativas. Ele estava numa missão e, quando perguntávamos, ele colocava sempre a questão do ponto de vista de poder não ser ele o escolhido. A minha análise é que ele beneficiou da visão que apresentou, da grande distância em relação aos outros candidatos, teve sempre uma atitude de grande serenidade. Teve sempre consciência dos riscos da candidatura. Teve sempre enorme serenidade e discrição.”
José de Freitas Ferraz
José de Freitas Ferraz
Embaixador e presidente do Instituto Diplomático
“Uma vez perguntei ao engenheiro Guterres quais tinham sido os elementos que levaram a que ele fosse escolhido. Disse-me que foram três: primeiro, o facto de as audições terem corrido muito, muito bem. O segundo elemento, que nós descuramos em Portugal, é não termos a noção do bom nome e da simpatia que existe no mundo em relação a Portugal. Ele sentiu isso nos encontros que tinha. O terceiro foi que a máquina diplomática portuguesa se portou bem e não cometeu nenhum erro.”
Augusto Santos Silva
Augusto Santos Silva
Ministro dos Negócios Estrangeiros
“90% do sucesso da candidatura tem a ver com o mérito pessoal do engenheiro António Guterres; há uns 10% dos quais eu, humildemente, reclamo 2% para a diplomacia; e nos restantes 8% o que digo é que houve aqui uma harmonização perfeita entre as qualidades e a imagem pessoal do candidato e as qualidades e imagem do país
E o que tenho dito, até para contrariar a ideia de milagre, é que o que havia antes de Guterres não era um nada. Há uns que me dizem: ‘Isto não vai acontecer outra vez’. Não é verdade, não é verdade. António Guterres é fantástico, mas não é um milagre nem é uma coisa irrepetível. É o desenvolvimento de uma lógica em crescendo.”
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