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AFP via Getty Images

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Como Irlanda, Finlândia, Letónia e Lituânia se tornaram nos novos "bons alunos" da segunda vaga

A Irlanda apostou no confinamento, a Finlândia tem mais sucesso na testagem. Letónia e Lituânia são bons exemplos, mas os próximos dias serão cruciais. Os países que mantêm a nova vaga sob a controlo.

Quando o número de novos casos diários de infeção pelo novo coronavírus começou a subir apressadamente na Irlanda, as autoridades não tardaram a impor novas medidas de restrição. A partir de 5 de outubro, apenas os viajantes chegados da Irlanda do Norte, Chipre, Finlândia, Letónia e Lichtenstein tinham permissão para entrar no país sem isolamento obrigatório. Qualquer viajante com origem noutro país, mesmo que estivesse simplesmente de regresso a casa, tinha de cumprir quarentena de duas semanas.

Dois dias depois, mais um pacote de regras foi colocado em vigor: as visitas a casas particulares foram limitadas a seis pessoas de dois agregados diferentes, as reuniões familiares estavam proibidas (e mesmo os casamentos e funerais não podiam receber mais de 25 pessoas), os ajuntamentos ao ar livre só podiam ter até 15 participantes e a capacidade dos transportes públicos foi reduzida a 50% — mas a sua utilização foi desaconselhada. Os próprios residentes irlandeses só podiam utilizá-los “para fins essenciais”.

Mais: de acordo com as novas indicações do governo, eram raros os casos em que era permitido sair do município de residência (trabalhar ou ir à escola eram dois deles), era obrigatório trabalhar a partir de casa sempre que a função assim o permitisse e todos os restaurantes, cafés, bares e pubs que servem comida só podiam funcionar com entregas ao domicílio ou com serviço de esplanada, mas nunca podiam receber mais do que 15 clientes ao mesmo tempo. Uma coisa era certa, avisava o primeiro-ministro Micheál Martin: o número de casos continuaria a subir.

E continuou mesmo. A 18 de outubro, a Irlanda registou 1.284 novos casos de infeção pelo novo coronavírus. O país aproximava-se perigosamente dos 1.508 casos diários que chegou a contabilizar na primeira fase da epidemia de Covid-19 e tinha ultrapassado pela primeira vez em muito meses a marca dos 240 casos cumulativos de novas infeções nas duas semanas anteriores por 100 mil habitantes — uma métrica que várias organizações internacionais utilizam para avaliar a situação epidemiológica de uma região. E que continuaria a subir.

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Logo no dia seguinte, o governo irlandês impunha mais regras de restrição: era preciso confinar novamente. A partir da quarta-feira seguinte, 21 de outubro, todo o comércio não essencial tinha de fechar portas e todas as pessoas tinham de ficar em casa. Ninguém se podia afastar de casa em mais do que cinco quilómetros, ninguém podia visitar família ou amigos na casa uns dos outros (com exceção para quem vive isolado ou no caso de famílias monoparentais) e a capacidade dos transportes públicos foi reduzido para 25%.

“Se trabalharmos juntos nas próximas seis semanas, seremos capazes de celebrar o Natal de uma forma significativa. A jornada não será fácil, mas o futuro está nas nossas mãos. Cada um de nós deve esforçar-se muito e ser perseverante”, pediu Micheál Martin. Duas semanas depois, o resultado começou a surgir: o número de casos diários de Covid-19 está a baixar tão depressa como subia no início do mês passado. E a Irlanda é agora um dos países que melhor controlo tem sobre a segunda vaga da pandemia.

Segundo os dados mais recentes do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), a Irlanda tem agora 126 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus nas últimas duas semanas por 100 mil habitantes quando, a 26 de outubro, tinha alcançado os 300. Agora, é um dos quatro países com melhores métricas entre os países da União Europeia e Reino Unido. Além da Irlanda, a Finlândia, a Estónia e a Letónia seguem à cabeça da Europa.

As pesadas medidas de restrição continuam em vigor na Irlanda pelo menos até à primeira semana de dezembro e, por isso, entre estes quatro países, é o que tem um índice de rigor e severidade impostas pelo governo mais alto— uma medida calculada segundo nove indicadores, incluindo o encerramento de escolas, a obrigatoriedade de teletrabalho ou a proibição de viagens, por exemplo. Numa escala de 0 a 100, a Irlanda pontua em 81,48. Portugal surge a seguir com 62,96.

Mas aquele que tem o menor número de novos casos acumulados ao longo de duas semanas por cada 100 mil habitantes é a Finlândia. De acordo com os dados mais recentes do ECDC, atualizados para os números da última quinta-feira, o país regista apenas 53,93 casos nesta métrica, mas também precisou de impor novas medidas de restrição para estabilizar os valores. É que, a 1 de agosto, a Finlândia só tinha 2,26 casos em duas semanas por 100 mil habitantes, mas a 15 de setembro já havia subido para 10,5. Um mês depois, o valor era de 55,3 — o maior até agora.

Mas as medidas impostas no início de outubro pelo governo finlandês ajudaram a que, depois disso, a métrica começasse a estabilizar e a descer paulatinamente até aos 53,9 casos em duas semanas por 100 mil habitantes registados na última quinta-feira. De forma a evitar um confinamento total — a estratégia adotada numa segunda fase pela Irlanda —, a Finlândia estabeleceu nessa altura que, na generalidade do país, os espaços de restauração não poderiam vender bebidas alcoólicas depois da meia-noite e tinha de fechar à uma da manhã.

Mas, em locais com maior risco de transmissão, como Uusimaa, a região onde fica a capital Helsínquia, as medidas para conter a propagação do novo coronavírus são mais restritas: passou a ser proibido servir bebidas alcoólicas depois das 22h e a capacidade de todos os estabelecimentos foi diminuída para metade. A 10 de outubro, o governo de Sanna Marin anunciou mais medidas que entraram em vigor no dia seguinte: nos distritos mais atingidos pela epidemia, os estabelecimentos de restauração deviam parar de receber clientes às 22h e fechar portas uma hora mais tarde.

A mudança de políticas nas viagens para a Finlândia também deverá ter contribuído para o sucesso do país em controlar a segunda vaga. A partir de 5 de outubro, quem viajasse de países com mais de 25 infeções por 100 mil habitantes nos 14 dias anteriores tinha de cumprir quarentena durante duas semanas — mais tarde, o período foi reduzido para dez dias. Além disso, foi recomendado aos viajantes que cheguem à Finlândia destes países que realizassem dois testes de infeção pelo novo coronavírus com uma diferença de três dias.

De acordo com os dados de 9 de novembro, os mais recentes disponibilizadas pelo ECDC, a Finlândia está a realizar uma média de 2,9 testes diários por 100 mil habitantes — mais do que a Estónia (2,06) e a Irlanda (2,2), mas menos do que Portugal (3,03) e a Letónia (4,04). Mas, neste momento, é o país que mais testes por caso positivo de infeção pelo novo coronavírus faz entre os países em análise: 93,6 testes por caso positivo. E isso faz da Finlândia um dos bons alunos da segunda vaga: é que, quanto maior for esta métrica, mais significa que se está a testar o suficiente para encontrar os casos positivos. Portugal, com 20,78 testes por caso positivo, está no fundo da tabela.

Ao longo do mês de outubro, a Finlândia foi apurando estas regras. Em meados de outubro, por exemplo, as empresas tiveram de criar planos que alternassem o trabalho à distância com o trabalho presencial, os ajuntamentos em casas privadas não podiam ultrapassar as 10 pessoas. Essas têm sido as medidas em vigor na Finlândia até agora. Bastou um mês para estabilizar o número de novos casos bisemanais por 100 mil habitantes na casa dos 50. No índice de severidade, está nos 40,74 pontos. Abaixo da Finlândia só a Estónia com 22,22 pontos.

Os bons alunos que precisam de mais: Estónia e Letónia

No que diz respeito à Estónia, os dados referentes a quinta-feira, 12 de novembro, demonstram que o país está com 166 novos casos acumulados ao longo de duas semanas por 100 mil habitantes, o que lhe confere o terceiro lugar no pódio dos “bons alunos”. Mas com a subida desta métrica de 25,7 em meados de setembro para perto do dobro nos primeiros dez dias de outubro, o governo foi obrigado a intervir. A 17 de setembro, o primeiro-ministro Jüri Ratas aprovou uma restrição nacional à venda de álcool, que passa a ser proibida da meia-noite às dez da manhã.

Uma semana depois, o governo da Estónia apertou ainda mais as regras: a capacidade máxima para eventos com público passou de 1.500 para 750 desde que se cumpra o distanciamento físico e que os organizadores distribuam desinfentante pelos participantes. Mesmo em eventos ou espaços com menos pessoas, como salas de teatro e cinema, a capacidade teve de ser reduzida para 50%. Mas as medidas não chegaram: o número diário de casos estabilizou e diminuiu até 21 de outubro, mas voltou a disparar a partir daí.

Eram precisas mais regras. A 10 de novembro, o governo estónio publicou mais um pacote de iniciativas para conter a propagação do novo coronavírus: o teletrabalho foi recomendado, o cancelamento de todos os eventos em grupo também. No encontro com qualquer pessoa em risco, é obrigatório utilizar máscara, manter o distanciamento e desinfetar regularmente as mãos; e também se tornou obrigatório usar máscara em espaços públicos fechados e nos transportes públicos.

Além disso, não pode haver mais de duas pessoas a circularem juntas e devem manter uma distância de dois metros das restantes. Isso também se aplica à distância entre grupos — que só podem ter até 10 pessoas, exceto se pertencerem todas ao mesmo agregado familiar — em restaurantes e locais de entretenimento, que devem fechar à meia-noite e não abrir antes das seis da manhã. Estas medidas entrarão em vigor na segunda-feira, 16 de novembro. Só o tempo dirá se a Estónia pode ou não manter-se como um bom aluno da União Europeia e travar a subida em flecha dos casos de infeção bisemanais por 100 mil habitantes.

A Letónia vive um dilema semelhante. Com 207 casos de infeção pelo novo coronavírus nas últimas duas semanas por 100 mil habitantes, mantém-se em quarto lugar neste momento. Em setembro, chegou a ser mesmo o país que melhor controlo parecia ter sobre o impacto da segunda vaga, mas algo fundamental mudou a partir daí: o número de testes por caso positivo de Covid-19 desceu acentuadamente dos 196 a 21 de setembro para apenas 59 a 11 de novembro.

Ou seja, a Letónia tornou-se menos eficiente na testagem e, por isso, tem identificado com menos sucesso os casos positivos de infeção pelo SARS-CoV-2. Mas o número de vítimas mortais da Covid-19 nunca ultrapassou as sete e, por isso, a taxa de letalidade da Letónia é a mais baixa dos quatro novos “bons alunos” europeus. 

Ainda assim, o número absoluto de novos casos continua a crescer: de 74 casos registados a 11 de outubro, o valor cresceu para seis vezes mais um mês depois. Isso começa a refletir-se nas admissões hospitalares no país. Segundo a última atualização semanal do ECDC, é a Letónia que vive a situação mais preocupante: 113 internamentos por Covid-19 por milhão de habitantes na semana que terminou a 7 de novembro, contra 32,5 da Estónia e 25,7 da Irlanda. Comparado com estes três países, Portugal tem uma proporção muito inferior que a Letónia: com 34,4 internamentos por milhão de habitantes, fica a 1,9 da Estónia e a 8,7 da Irlanda.

Face a estes dados, em meados de outubro, a Letónia já tinha ordenado que todos os estabelecimentos de restauração deviam fechar entre a meia-noite e as seis da manhã e que todos os viajantes vindos de países com mais de 16 casos nas últimas duas semanas por 100 mil habitantes tinham de cumprir uma quarentena de 10 dias.

Estas medidas ajudaram a estabilizar o número de novos casos, mas não tardou até voltarem a crescer. Por isso, a 6 de novembro, o governo publicou uma tabela com todas as medidas em vigor no país: recomendava-se o uso de máscaras em locais onde não é possível manter o distanciamento físico e em todos os locais públicos interiores, incluindo transportes públicos.

A lista não se fica por aqui: não pode haver ajuntamentos com mais de 10 pessoas e cada uma delas deve ter três metros quadrados e nenhum evento no exterior pode receber mais de 300 participantes. Todos os estudantes no 7.º ano ao 12.º ano, assim como os estudantes universitários, devem ter aulas à distância, exceto em aulas práticas; e não é permitido dançar em eventos privados, ocorram eles em espaços públicos ao ar livre ou não.

Nada disto está a ser suficiente para obrigar os número a baixar e, por isso, o país entrou em estado de emergência esta semana e anunciou mais medidas: todos os eventos públicos, incluindo o cinema ou os concertos, foram proibidos, não pode haver ajuntamentos com mais de 10 pessoas de mais de dois agregados familiares, todos os eventos desportivos foram cancelados e, tal como em Portugal, o fim de semana será de confinamento. Os próximos dias serão um teste à Letónia.

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