O bom dia de Marisa chegou de quatro patas esta sexta-feira. Sol foi o primeiro. Ainda a candidata entrava na primeira sala do Hospital Veterinário SOS Animal quando o pequeno cachorro fazia de tudo para conseguir atenção. Marisa esticou-lhe os braços. “Queres sair daí, vem cá.” Já no chão, agarrou-se às pernas de quem por ali estava. Devia sentir o cheiro da Gaia, a cadela da eurodeputada. Não há como resistir. Enquanto Sol procura novos espaços para explorar, Cometa salta para o colo de Marisa e é lá que fica durante praticamente toda a visita.  Tommy, Dançarina, Freud e muitos outros animais que por ali passam foram abandonados, recebem tratamento veterinário e procuram uma causa. A candidata a Belém está ali por uma razão: chamar a atenção da sociedade para a causa dos animais abandonados.

A felicidade que transparecia nos olhos de Marisa não fazia prever o que estava para vir. Aliás, o arranhão que com que saiu do hospital veterinário não se compara com a história que lhe caiu no colo ali mesmo, ao virar da esquina. Uma imigrante brasileira — que está há mais de um ano em Portugal — está “desesperada” por não encontrar emprego. Ao aperceber-se do bulício de jornalistas resolveu aproximar-se e pedir ajuda. A candidata ficou visivelmente emocionada com a situação e só queria “poder dar um abraço”. “Lamento tanto, tanto”, repetiu vezes sem conta.

Estava na hora de arrancar rumo a Norte onde vão decorrer os próximos dias da campanha. Pelo meio, uma paragem pelas Caldas da Rainha para se encontrar com as auxiliares de saúde que travaram uma enorme batalha contra a precariedade no Centro Hospitalar do Oeste. Marisa foi a primeira a dar-lhes a mão e não esquecem. “É a nossa Marisa, a nossa Presidente.” E a candidata também não esquece. À chegada ofereceu até um cravo a uma das caras desta luta.

No fim do dia, já em Aveiro, recebeu o apoio socialista de Manuel Strecht Monteiro e apontou novamente forças ao SNS. É preciso “coragem” para agir, para proteger o SNS, para requisitar os privados e sociais na resposta à situação que se vive na Saúde em Portugal. Coragem e, já agora, uma “bazuca” para que se invista seriamente na contratação de profissionais e criação de incentivos para que as pessoas queiram e tenham condições para trabalhar no SNS.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O dia fica marcado pelo pedido de socorro de Dalila Teixeira a Marisa Matias. É o momento que traduz o que a candidata a Belém vem a dizer desde o arranque da campanha. É preciso estar na rua para ouvir as pessoas e é preciso distanciamento físico, mas não social. Se já tinha acontecido Marisa Matias ter sido ‘catapultada’ para um movimento de campanha que não começou, com o #vermelhoembelem, agora voltou a cair-lhe no colo uma história que encaixa numa das suas lutas. Faltou o abraço que a candidata tanto queria dar. Mas esta imigrante trouxe para a campanha o que Marisa quer por cá e que tanto tem faltado: pessoas.

Além deste momento, é inevitável não voltar a falar do batom vermelho e da onda de solidariedade em torno da candidata. Depois de todo o movimento no Twitter, das fotos, dos apoios anónimos, dos apoios do partido, e de dezenas de figuras públicas, faltava a resposta de Marisa: a primeira vez que tirou a máscara, lá estava o batom vermelho. Andou com batom vermelho o dia todo e talvez seja assim até dia 24 de janeiro.

Por vezes a maior arma é o silêncio e foi essa a estratégia de Marisa Matias. No seguimento da onda de solidariedade que é um momentos do dia e um dos momentos mais altos da campanha, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda optou por responder ao insulto de uma forma mais evasiva e sem perder muito tempo com a contra-atacar Ventura: “Esse comentário não diz nada sobre as mulheres, mas diz tudo sobre esse senhor.”