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[em atualização]
O que tenho de fazer e onde me devo dirigir se tiver sintomas?
Qualquer pessoa que tenha regressado “de uma área afetada” — isto é, China, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Irão e as regiões italianas de Emiglia-Romagna, Lombardia, Piemonte e Veneto — e que apresente “sintomas sugestivos de doença respiratória, durante ou após a viagem”, a primeira coisa que deve fazer, antes até de ir a um serviço de saúde, é ligar para o SNS24 (808242424), dar conta da “condição de saúde e história de viagem” e seguir as orientações que forem dadas. Esta é a recomendação da Direção-Geral de Saúde (DGS).
Que sintomas são mesmo relevantes?
Os sintomas mais comuns do Covid-19, a doença infecciosa provocada pelo novo coronavírus, são febre, cansaço e tosse seca, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a que a DGS acrescenta ainda a dificuldade respiratória (falta de ar). Muito poucas pessoas espirram ou têm congestão nasal, mas alguns doentes podem ter dores musculares, indica Maria Van Kerkhove, diretora interina do departamento de doenças emergentes da OMS. Apesar disso, a organização destaca congestão nasal, dores de garganta e diarreia como possíveis sintomas. E lembra que há pessoas que podem estar infetadas e não desenvolver qualquer sintoma.
Nos casos mais graves, refere a DGS, a doença pode levar a “pneumonia com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte”.
Como é que se desenvolvem os sintomas?
Os sintomas costumam surgir de forma leve e gradual, sublinha a OMS. As pessoas que cheguem de algum dos locais acima referidos, mas que estejam assintomáticas, devem estar à mesma atentas nos 14 dias seguinte, uma vez que podem desenvolver sintomas. Isto porque se estima que o período de incubação — isto é, o tempo entre contrair o vírus e começarem a surgir sintomas — seja de um a 14 dias. No entanto, na maioria dos pacientes os sintomas aparecem ao fim de cinco dias. A DGS recomenda que a temperatura corporal seja medida duas vezes por dia e que os valores sejam registados.
É possível recuperar da doença?
Cerca de 80% dos infetados recupera do vírus sem precisar de um tratamento específico. Uma em cada seis pessoas fica gravemente doente e tem dificuldades respiratórias, sendo que os idosos e as pessoas que já tenham problemas de saúde como hipertensão, problemas cardíacos ou diabetes são os que têm uma maior probabilidade de ficarem gravemente doentes. Apenas 2% morre devido ao Covid-19.
Quem não esteja ou não tenha viajado para uma zona com casos confirmados, ou não tenha tido um contacto próximo com alguém que tenha estado num desses países e não se esteja a sentir bem, tem uma probabilidade baixa de contrair este vírus, refere ainda a OMS.
If you are not in an area where #COVID19 is spreading, or if you have not travelled from one of those areas or have not been in close contact with someone who has & is feeling unwell, your chances of getting it are currently low
WHO Situation Report https://t.co/aZhYaCUzei pic.twitter.com/jqsZaAVmk2
— World Health Organization (WHO) (@WHO) February 27, 2020
O que posso fazer para evitar ser contagiado?
Antes de ter sintomas, há alguns cuidados que se pode ter para tentar evitar o contágio por coronavírus. Com o que se sabe atualmente sobre a forma de contágio, semelhante à da gripe, há alguns conselhos que Nuno Taveira, professor catedrático no Instituto Universitário Egas Moniz e investigador da Faculdade de Farmácia, tem dado aos seus alunos. “Evitar ajuntamento públicos em espaços fechados como centros comerciais, restaurantes apinhados, cantinas, ginásios, concertos. Em espaços ao ar livre será menos problemático. Não beijar, nem cumprimentar de mão. É um pouco paranoico, mas mais vale prevenir”, defende.
Nuno Taveira sugere ainda comportamentos mais atentos. “Abrir torneiras, autoclismo, fechar e abrir portas, usar máquinas de café… Tudo que tenha sido tocado por outras pessoas só devemos tocar com papel que em seguida vai para o lixo.” Para além disso, sugere lavar as mãos constantemente e trazer algo que tenha álcool para desinfetar as mãos quando não é possível lavá-las com água e sabão.
Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, também sublinha que é fundamental a higienização das mãos: “Lavar frequentemente as mãos, com água e sabão, esfregando-as bem durante pelo menos 20 segundos e reforçar a lavagem das mãos antes e após a preparação de alimentos ou as refeições, após o uso da casa de banho e sempre que as mãos estejam sujas.”
O especialista em Saúde Pública fala de recomendações gerais, uma vez que não há circulação de coronavírus em Portugal. “Acima de tudo, são medidas de etiqueta respiratória: usar lenços de utilização única, espirrar para o braço com o cotovelo fletido, e não para as mãos.”
As indicação de Ricardo Mexia são as mesmas da DGS e da OMS, que acrescentam as seguintes:
- Lavar regularmente as mãos — e sempre que se assoar, espirrar ou tossir — com água e sabão ou produtos à base de álcool para matar o vírus;
- Manter distância (pelo menos um metro) de pessoas que estejam com sintomas visíveis de gripe ou semelhantes a constipação, como tosse e espirros para não contaminado com as gotículas que se espalham através de espirros ou de tosse;
- Evitar tocar nos olhos, no nariz e na boca: se as suas mãos tiverem contaminadas com o vírus e se tocar nos olhos, no nariz ou na boca, o vírus pode entrar no seu corpo;
- Evitar consumo de carne crua ou mal passada e cozinhar bem os ovos;
- Se visitar mercados de animais, evitar contacto direto com eles e superfícies em contacto com animais;
Q: What can I do to protect myself from #coronavirus?
A: https://t.co/PKzKaO2yfK pic.twitter.com/eNhlhR0PEq
— World Health Organization (WHO) (@WHO) January 17, 2020
E se tiver sintomas?
Caso tenha sintomas, a DGS recomenda que não permaneça em locais fechados e muito frequentados nos 14 dias após o regresso e também sugere que evite contacto físico com outros, para além de dever evitar tocar nos olhos, no nariz e na boca com as mãos sujas ou contaminadas com secreções respiratórias.
Além disto, a OMS sublinha a importância de estar atento às informações mais recentes sobre a epidemia, “que está disponível no site da OMS e através das autoridades de saúde pública locais e nacionais”.
Há algum tratamento ou vacina para o Covid-19?
Não. Tanto a DGS como a OMS referem o mesmo: atualmente não existe uma vacina, embora estejam a decorrer várias investigações para a desenvolver. Também não há nenhum tratamento específico para o novo coronavírus, havendo apenas tratamento para os sintomas que o doente possa apresentar (tosse, febre, entre outros).
A OMS reforça ainda que os antibióticos não servem para tratar vírus, uma vez que só têm efeito em infeções bacterianas.
Devo evitar hospitais?
Sim. A recomendação tanto da DGS como de Ricardo Mexia é a de ligar para a linha Saúde 24, antes de qualquer outra coisa, no caso de ter os sintomas já descritos, de tiver viajado para algum país onde haja foco de infeções ou se tiver tido contacto com alguém infetado.
E outras áreas públicas?
Quanto a outras áreas públicas, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública é claro: “Ainda não estamos nessa fase.” No entanto, a partir do momento em que haja circulação do vírus em Portugal deve evitar-se contactos mais pronunciados com terceiros e grandes concentrações de pessoas, como centros comerciais e supermercados. Isto porque a probabilidade de nos cruzamos com uma pessoa infetada torna-se maior.
Devo evitar zonas com muitos turistas?
Havendo circulação do vírus, deve evitar zonas com muitas pessoas. Ponto. Se são turistas ou portugueses não é relevante, explica Ricardo Mexia. “Não é por aí. Temos cidadãos que viajam porque vão de férias e portugueses que viajam por motivos de trabalho”, sublinha, referindo que qualquer uma dessas situações pode tornar-se no primeiro caso de vírus importado. “Um turista que venha de Angola, por exemplo, à partida não traz riscos acrescidos de ter sido infetado. Terá mais um português que tenha estado em Itália em trabalho”, esclarece.
É perigoso importar produtos da China ou de outro país com casos de Covid-19?
É seguro encomendar produtos da China. Isto porque “os coronavírus não sobrevivem por longos períodos em objetos”. “As pessoas que recebem encomendas ou cartas da China não estão em risco de ser infetadas pelo novo coronavírus”, lê-se numa publicação da DGS na sua página de Facebook.
“A probabilidade de uma pessoa infetada contaminar um produto é baixa e o risco de contrair o vírus que provoca o Covid-19 de uma encomenda que foi transportada, que viajou e foi exposta a vários ambientes e temperaturas também é baixa”, explica ainda a OMS.
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública também diz que “não há qualquer indicação nesse sentido”. O vírus fora do organismo hospedeiro é muito frágil e, até agora, não há episódios de pessoas infetadas por terem manipulado produtos vindos de zonas onde haja infetados, explica Ricardo Mexia.
E comer em restaurantes chineses é perigoso?
Tal como não faz sentido evitar nem restaurantes chineses nem italianos em Portugal, nem de nenhum outro tipo de cozinha típica, defende Ricardo Mexia. “Neste momento, não há circulação do vírus em Portugal”, lembra. Se houver, aí as medidas poderão ser diferentes, mas “sempre dentro da racionalidade”.
Vale a pena usar máscaras?
Se estiver ao ar livre, não faz sentido nenhum, diz Nuno Taveira, que faz trabalho de investigação em HIV, hepatite B, C e febre amarela. A situação muda se estiver ao lado de alguém que possa estar infetado. “Por exemplo, se o meu filho tivesse regressado de uma viagem a Itália, mantinha-o em casa, e o resto da família também. Ele punha máscara, e eu punha máscara, para tentar conter a transmissão do vírus que ele pudesse estar a incubar.”
Para já, o investigador da Faculdade de Farmácia não aconselha às pessoas que usem máscaras em sítios como o metro, fechados e com muita gente, porque parece alarmista. Mas admite que ele próprio o faria: “Se eu andasse de metro, usava máscara. A partir do momento em que o primeiro caso estiver confirmado, fará todo o sentido usar em espaços fechados”, defende.
Contudo, a recomendação da OMS é a de que as pessoas que estejam doentes ou que tenham sintomas de doença respiratória usem máscaras. Estas protegem os outros e não a pessoa que a está a usar — ou seja, as máscaras servem apenas para impedir que as gotículas que podem ser projetadas quando uma pessoa espirra ou tosse cheguem aos outros, explica Maria Van Kerkhove, da OMS.
Ask your questions on #COVID19 to @mvankerkhove – use hashtag #AskWHO
— World Health Organization (WHO) (@WHO) February 26, 2020
A própria DGS já referiu que a população em geral não precisa de utilizar protetores faciais, mas, esta sexta-feira, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, indicou dois grupos que devem usar máscaras: os doentes, que devem escolher as máscaras cirúrgicas, “para constituir uma barreira entre a boca e o nariz do doente e as suas gotículas em relação a terceiros”, e os profissionais de saúde, que devem usar as máscaras apelidadas de “respirador”. Isto porque estes profissionais têm um contacto muito próximo com o doente, especialmente quando estão a realizar exames como zaragatoas orais e nasais e, nessa altura, os pacientes não podem estar a usar máscaras.
Também a presidente da Associação de Farmácias Portuguesas diz que o uso de máscaras só faz sentido “no caso de pessoas que já estejam debilitadas e que saiam à rua para um local onde haja um possível foco de contágio”. “Na maior parte dos casos, não faz sentido de todo“, considera Manuela Pacheco, em declarações ao Observador.
Coronavírus esgota máscaras cirúrgicas nas farmácias portuguesas. Desinfetantes começam a faltar
A verdade é que o vírus também se pode transmitir através do contacto com superfícies contaminadas, portanto utilizar máscaras não garante que se evite a propagação. Aliás, o que pode ser perigoso para a saúde é descartar as máscaras sem cuidado. Isto porque o vírus pode permanecer na máscara, se o seu utilizador estiver doente, e tornar-se assim num foco de disseminação. A OMS faz mesmo uma ressalva: as máscaras têm de ser descartadas “num lixo que seja coberto”.
“É importante usar e descartar corretamente [da máscara]. Caso contrário, em vez de a proteger, a máscara pode tornar-se uma fonte de infeção devido aos germes que pode permanecer nela”, explica Christine Francis, consultora da OMS.
[A portuguesa trancada na casa de banho em Cantanhede por suspeita de ter Coronavírus. Quem deve usar máscara? E o fact-check: a cocaína mata o vírus? A Rádio Observador lançou um podcast diário para acompanhar este surto e a forma como está a preocupar o mundo. Pode ouvir aqui o primeiro Explicador Coronavírus]
Caso decida usar máscara, é importante ter em conta as seguintes regras de utilização: lavar as mãos antes de a colocar, evitar tocar na máscara enquanto a usa e, ao retirá-la, não tocar na parte da frente. Se por algum motivo tocar na parte da frente da máscara, lave as mãos com água e sabão ou com produtos à base de álcool. Se ela ficar muito molhada, é necessário substitui-la por uma nova.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=103&v=lrvFrH_npQI&feature=emb_logo
Os desinfetantes matam ou não o coronavírus?
Só se tiver álcool, explica Nuno Taveira. O melhor é usar álcool a 70 graus, que é antisséptico. O álcool a 95 graus não tem o mesmo efeito e deve ser evitado. “Parece um contrassenso, mas o que é eficaz é o álcool a 70 graus.”
Aliás, a OMS recomenda que se lave as mãos ou com água e sabão ou com produtos à base de álcool precisamente porque matam o vírus.
Ainda assim, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos — citada pela CNN — diz que não há 100% de certeza. Isto porque se trata de uma nova estirpe de coronavírus e os estudos sobre a eficácia dos desinfetantes têm por base outros tipos do vírus. Nesses casos, os desinfetantes matam o vírus. Embora possam ser também eficazes contra este, é necessário fazer testes para que haja uma comprovação científica da sua eficácia, considera a EPA.
Um estudo publicado no “The Journal of Hospital Infection” e que analisou dados sobre diferentes epidemias como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês) e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), concluiu que a maioria dos coronavírus são sensíveis a desinfetantes e agentes químicos à base de etanol, peróxido de hidrogénio ou hipoclorito de sódio.
Os nossos animais de estimação podem contrair o vírus?
As autoridades e os especialistas dizem que não, mas esta sexta-feira surgiu a notícia de um cão que foi colocado em quarentena, em Hong Kong, depois de os testes realizados ao animal darem um “fraco positivo” — apesar de ele não apresentar “quaisquer sintomas relevantes”. Ainda assim, as autoridades dizem que não há “evidências” de que o cão tenha Covid-19 e vão fazer novos exames para confirmar se está efetivamente infetado “ou se isto é o resultado de uma contaminação ambiental da boca e do nariz do cão”, refere a CNN.
No site da OMS, lê-se que não há evidências de que os animais domésticos, como cães e gatos, tenham sido infetados e possam transmitir o novo coronavírus. Os especialistas contactados pelo Observador também são da mesma opinião.
“Todas as autoridades veterinárias europeias dizem que não haverá risco de transmissão dos animais de companhia para as pessoas e vice-versa“, afirma Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, ao Observador, salientando que o vírus “pode ter tido origem em animais”.
O médico veterinário sublinha, contudo, que este é um vírus ainda pouco conhecido, mas os “primeiros estudos” apontam para que não haja riscos para as pessoas, porque “teoricamente os animais de companhia não transmitem o vírus”. “É evidente que as coisas podem mudar, há um desconhecimento ainda muito grande por parte da comunidade científica sobre este vírus. Até agora só se descobriu que há transmissão de homem para homem.”
Já Nuno Taveira, investigador da Faculdade de Farmácia na área do HIV, hepatite B, C e febre amarela, diz que não são conhecidos efeitos de transmissão inversa, ou seja do homem para os animais. O que se conhece são casos de transmissão dos animais para os homens. Neste caso concreto, a origem terá sido um morcego. Quanto à hipótese de um animal de estimação em Portugal ser infetado por um morcego, defende que essa probabilidade é praticamente inexistente, já que a nossa relação e contacto com este tipo de animais é muito diferente da que acontece na China.
A verdade é que tanto a OMS como a DGS dizem que ainda não há certezas de que o Covid-19 seja de origem animal, porque, apesar de a maioria dos casos estarem associados ao mercado de Wuhan — cidade onde teve origem o novo coronavírus —, há infeções confirmadas em pessoas que não estiveram nesse local. No entanto, há outros tipos de coronavírus, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla inglesa) e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), que estão ligados a animais: o SARS está associado ao civeta (gato dos Himalaias) e o MERS transmite-se através de camelos, lê-se no site da OMS.
Ainda assim, a organização recomenda que, no caso de visitar mercados de animais, as pessoas devem evitar contacto direto com eles e superfícies em contacto com animais.