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"De Sarajevo à Conferência de Paz": as origens e consequências da I Guerra Mundial

No âmbito do centenário do armistício, o embaixador Joaquim Rafael Caimoto Duarte lança o livro "De Sarajevo à Conferência de Paz", onde reflecte sobre as origens e consequências da Grande Guerra.

Em julho de 1991, Joaquim Rafael Caimoto Duarte integrou uma missão da “troika” da União Europeia na Jugoslávia, com o objetivo de tentar impedir a guerra que se tinha iniciado entre a Sérvia e a Croácia. Foi nesse momento, quando a guerrilha sérvia recusou receber a equipa, que o embaixador português decidiu iniciar uma reflexão sobre o que levou a que a Primeira Guerra Mundial tivesse origem “numa das mais atrasadas e violentas regiões da Europa”, entre 1914-1918 — e também sobre as suas consequências, os tratados e a Conferência de Paz de Paris de 1919. Da análise surge agora o livro “De Sarajevo à Conferência de Paz”, uma obra editada pela Âncora Editora e que será publicada esta quarta-feira no âmbito do centenário do Armistício da Grande Guerra.

O Observador faz a pré-publicação de um excerto do livro, onde Caimoto Duarte analisa as diferentes visões sobre a questão da responsabilidade pela guerra, que provocou mais de cinco milhões de mortos e desaparecidos entre os Aliados e mais de quatro milhões no conjunto dos impérios centrais.

O livro é publicado pela Âncora Editora

Evolução da historiografia sobre a questão da responsabilidade pela grande guerra de 1914-1918

A Grande Guerra de 1914-1918 foi tema de milhares de livros publicados ao longo de um século, com períodos de algum consenso e outros de debate polémico sobre a questão da responsabilidade pelo conflito. Com efeito, as análises dos historiadores sobre a matéria são frequentemente antagónicas, verificando-se, no entanto, uma evolução da historiografia nos anos recentes, em particular por parte de historiadores anglo-saxónicos, beneficiando da possibilidade de acesso aos arquivos soviéticos e da Alemanha Oriental.

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Em 1916, Lenine sustentou no seu panfleto “O imperialismo, fase mais avançada do capitalismo” que a Grande Guerra era consequência da competição das potências capitalistas em busca de novos mercados e matérias primas. A teoria leninista sobre as origens da Primeira Guerra mundial vigorou nos países de regime comunista e, ainda em 1968, os autores da Alemanha Oriental consideravam que o conflito tinha sido “uma disputa entre os imperialistas para uma nova divisão do mundo” (Ruth Henig, “The Origins of the First World War”, p.38). Sucede, porém que o imperialismo existiu ao longo da História, milhares de anos antes do processo de produção capitalista. Por outro lado, a Rússia estava longe de ser um país capitalista avançado em 1914, apesar da recuperação económica nos anos anteriores ao início da guerra.

Até 1930, a opinião dominante sobre as origens da guerra considerava tratar-se um conflito acidental, como afirmou Lloyd George, primeiro-ministro britânico de 1916 a 1922, que, nas suas memórias, escreveu que não existia vontade geral para provocar o conflito e que “as Nações de 1914 escorregaram no abismo para dentro do caldeirão a ferver da guerra”.

Na mesma época outras orientações sobre a causalidade da guerra atribuíram especial importância a factores estruturais respeitantes à rigidez das alianças na Europa e à diplomacia secreta, que teriam levado ao conflito, pelo que seria indispensável uma profunda transformação das relações internacionais, mediante a criação de uma Sociedade das Nações, susceptível de prevenir conflitos. Tal era a posição do presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson, que, como se verá na segunda parte deste trabalho, procurou fazer aceitar na Conferência de Paz o estabelecimento de uma nova ordem internacional.

Posições críticas semelhantes à de Wilson foram sustentadas por dois académicos americanos Harry Barnes e Sidney Fay, embora com conclusões diferentes, pois Barnes em “The Genesis of the World War” atribuía a responsabilidade da guerra à Sérvia, Rússia e França que “do princípio ao fim tiveram a ideia de uma guerra europeia generalizada e trabalharam para isso”, enquanto a Alemanha, Áustria e Inglaterra foram “incapazes de evitar o conflito”. Quanto a Sidney Fay em “The Origins of the First World War” considera ter existido responsabilidade de todos os beligerantes no desencadear da guerra. O terceiro autor americano desta época a escrever sobre questão foi Bernadotte Schmitt que se inclina para a maior responsabilidade da Alemanha.

Na Alemanha, Karl Kautsky, dissidente do SPD, publicou um relatório muito crítico da política externa alemã, na sequência das posições assumidas pela sua facção ao longo da guerra, entendendo ser a Alemanha plenamente responsável pelo conflito, opinião que não era partilhada por Hermann Lutz, membro da Comissão de Inquérito nomeada pelo Parlamento, que publicou um relatório em 1930 intitulado “A Política europeia na crise de Julho de 1914”, segundo o qual “todas as potências europeias em 1914 deram prioridade aos seus verdadeiros ou supostos interesses e ambições em relação à paz no mundo. Nenhum beligerante, com excepção da Bélgica, foi isento de culpa e nenhum foi o único culpado”.

Quanto à França, Pierre Renouvin em “Les Origines immédiates de la guerre” sustenta que a mobilização russa foi provocada pela tensão diplomática causada pela Áustria, que tinha razão em recear o nacionalismo sérvio mas que, tal como a Alemanha, se recusou a negociar e preferiu o recurso à força. O historiador Jules Isaac em “Un Débat historique”, reconhece que a França não aconselhou moderação à Rússia, cuja mobilização tornou a guerra inevitável, embora se incline para maior, mas não exclusiva, responsabilidade dos impérios centrais. A polémica mais acesa em França, foi causada pela obra de Alfred Fabre-Luce em “La Victoire” que considera que “a Alemanha e a Áustria tinham tomado atitudes que faziam a guerra possível e que os Aliados tinham actuado de maneira que tornava a guerra inevitável”. Mais radical ainda foi a obra de Georges Demartial que alegava haver falsidades e distorções no “Livro Amarelo”, colectânea oficial de documentos franceses, publicados após a guerra. Além disso, Demartial acusava a França e a Rússia de serem responsáveis pela guerra e em especial Poincaré, Paléologue, Isvolsky e Sazonov. Mathias Morhardt, sustentava que Poincaré tinha modificado a aliança defensiva com a Rússia em ofensiva e que se entendera com o embaixador russo em Paris, Iswolsky, para entrar em guerra para que a França recuperasse a Alsácia-Lorena e a Rússia dominasse Constantinopla e os Estreitos. O conhecimento de tal acordo explicaria a acusação pública de Jean Jaurès feita ao embaixador da Rússia em Paris, Iswolsky, nas vésperas do conflito, afirmando “aquele canalha ainda vai ter a sua guerra”. (vide p.223)

"Perspectivas diferentes da História dão especial ênfase a factores como a corrida aos armamentos nos anos que antecederam a guerra, fenómeno generalizado entre as grandes potências europeias, mas que, posto em destaque, dilui as responsabilidades nacionais e individuais. Tal é o caso da posição do ministro de Negócios Estrangeiros britânico, Sir Edward Grey, que escreveu nas suas memórias que 'o enorme crescimento dos armamentos na Europa e os sentimentos de medo e insegurança que provocou, fizeram a guerra inevitável'."

Em 1942-43 foi publicado o livro “Le Origini della Guera del 1914” (traduzida para inglês em 1952), obra póstuma de Luigi Albertini, em três volumes, a que o autor, político e jornalista italiano dedicou grande parte da sua vida, após ter sido demitido por Mussolini da direcção do influente “Corriere della Sera”. Trata-se de uma obra fundamental sobre as origens da Grande Guerra de 14-18, pelo rigor e isenção das suas análises. Albertini fez investigações nos arquivos das potências envolvidas e entrevistou pessoalmente muitos dirigentes políticos, militares e diplomáticos, bem como dois participantes no atentado contra o Arquiduque Francisco Fernando, o juiz instrutor do processo, membros comité central da organização terrorista “Mão Negra”, personalidades políticas sérvias que podiam dar informações sobre o coronel Dimitrievich e ainda o general Artamonof, adido militar russo em Belgrado, em 1914. Os três primeiros capítulos do segundo volume são assim um estudo incomparável sobre o atentado, causa imediata da guerra, ao qual se referem com frequência, os outros historiadores, mesmo os da geração mais recente.

O mesmo rigor e exigência se encontra nos capítulos respeitantes à crise de Julho de 1914, com a análise dos mais importantes documentos, incluindo os telegramas trocados entre as capitais das grandes potências e as suas Embaixadas, e em especial, a correspondência, também telegráfica, entre o Kaiser Guilherme II e o Czar Nicolau II, sem esquecer a indicação precisa da hora de envio e chegada dos mesmos, para se poder determinar com exactidão a evolução dos acontecimentos e a responsabilidade dos dirigentes do países envolvidos. Albertini avalia em pormenor a parte de culpa de todas as potências que intervieram no conflito. Na opinião do historiador John Keegan, a obra de Albertini “é a base sólida de qualquer discussão sobre a Grande Guerra de 1914-18” (John Keegan La Première Guerre Mondiale”.Ed.Tempus, p.537).

Para L.C.F.Turner “a obra de Albertini é merecidamente reconhecida como uma dos maiores sucessos da historiografia moderna. Combina investigação monumental com um estilo lúcido e vigoroso e o seu extraordinário conhecimento dos documentos é demonstrado a cada página”. (L.C.F.Turner “Origins of the First World War”, Ed.W.W.Norton & Company, p.116) Outro historiador, David Calleo, descreve a obra de Albertini como “cheia de análise lúcida, equilíbrio e paixão, ou seja, História diplomática no seu melhor” (David Calleo,”The German Problem Reconsidered”, Cambridge University Press,p.216.). Quanto a David Stevenson, considera a obra de Albertini “a mais completa análise dos antecedentes diplomáticos da guerra, jamais escrita” (David Stevenson,ibid.p.279). Albertini considerou a Alemanha o país mais responsável pela guerra, embora admita que seus dirigentes pretendessem limitar o conflito à questão austro-sérvia. Os Aliados também são parcialmente culpados, sobretudo a Rússia por ter mobilizado primeiro e a França, por nada fazer para travar a Rússia. Nem a Sérvia, nem a Inglaterra são inocentes, ainda segundo Albertini.

Perspectivas diferentes da História dão especial ênfase a factores como a corrida aos armamentos nos anos que antecederam a guerra, fenómeno generalizado entre as grandes potências europeias, mas que, posto em destaque, dilui as responsabilidades nacionais e individuais. Tal é o caso da posição do ministro de Negócios Estrangeiros britânico, Sir Edward Grey, que escreveu nas suas memórias que “o enorme crescimento dos armamentos na Europa e os sentimentos de medo e insegurança que provocou, fizeram a guerra inevitável. Isto parece-me ser a mais verdadeira leitura da História…o autêntico e final balanço das origens da Grande Guerra” (Edward Grey “Twenty Five Years”,vol. I,p.90).

A campa de um soldado francês, marcada pela sua arma e capacete, na batalha de Verdun, uma das principais batalhas da Primeira Guerra Mundial

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Posição semelhante foi sustentada pelos historiadores David Stevenson e David Herrman, considerando o primeiro que “a corrida aos armamentos foi uma pré condição essencial na conjuntura que levou ao desastre” (David Stevenson “Armaments”, pags.412 e seguintes) e o segundo que, criando a sensação de que a oportunidade de vencer a guerra se extinguia , “a corrida aos armamentos precipitou a Primeira Guerra mundial” e que foi a especulação sobre uma guerra iminente ou preventiva que fez do assassinato do Arquiduque Francisco Fernando o “gatilho da guerra”. (David Herrman ,”Arming of Europe” ,ps.228 e segs).

Vários factores contribuíram para a previsão, por parte da Alemanha, da crescente probabilidade da guerra preventiva: a aliança militar franco-russa, o afastamento de políticos moderados na Rússia, como o primeiro-ministro Kokovtsov, as negociações para um acordo secreto naval anglo-russo, de que o Governo alemão teve conhecimento e o apoio russo à Liga balcânica . Causou profundo receio em Berlim o grande programa de armamento aprovado pela Duma em Junho de 1914 , que levaria Rússia a dispor de um exército de dois milhões de homens, três vezes mais do que o que a Alemanha. A este respeito, Jack S.Levy escreve que “estudos recentes tornam cada vez mais claro que que uma interpretação mais satisfatória das causas da guerra exige mais atenção para o papel das outras grandes potências e da Sérvia (Jack S.Levy “Sources of Preventive Logic in German Decision-Making” p.164, em “The Outbreak of the First World War, Struture, Politics and Decision-Making”, Cambridge University Pess,2014) .

A resposta da Alemanha, estava financeiramente limitada pela rejeição pelos conservadores de novos impostos directos e pela recusa do SPD, partido mais votado nas eleições legislativas de 1912, em relação ao aumento dos impostos indirectos. Em Novembro de 1909, Churchill tinha escrito um memorandum no qual afirmava que “o endividamento externo da Alemanha mais que duplicou nos treze anos de paz sem interrupção. O efeito de recorrer, por sistema, a novos empréstimos, para pagar despesas anuais ordinárias, comprometeu os benefícios do investimento estrangeiro e dissipou a ilusão de que Berlim podia superar Londres como centro financeiro do mundo. O crédito do Império alemão caiu ao nível do da Itália. Estas circunstâncias forçam a conclusão de que se aproxima na Alemanha um período de severas dificuldades”.

Para Niall Ferguson, que cita este texto de Churchill, “o efeito dos constrangimentos financeiros sobre as capacidades militares da Alemanha foi talvez o factor fundamental nos cálculos do Estado-Maior alemão” (Niall Ferguson, ibid. pg. 138,140). Além das limitações de ordem financeira, outros factores fundamentais contribuíam para pôr em causa a capacidade da Alemanha e sua aliada Áustria-Hungria para enfrentar os seus potenciais inimigos, dado que os dois impérios centrais contavam com 46% da população e 60% do Produto Bruto da França, Rússia e Grã-Bretanha, em conjunto. Os receios dos dirigentes alemães de que, pelas diversas razões indicadas, o equilíbrio de forças no continente fosse alterado com prejuízo dos impérios centrais , suscitou a crescente pressão no sentido do recurso à guerra preventiva por parte dos chefes militares. Os historiadores Klaus Hildebrand e Andreas Hillgruber entendem que a guerra foi consequência da posição geopolítica cada vez mais insustentável da Alemanha. Também para A.J.P.Taylor “todas as guerras entre as grandes potências desde 1848 a 1914 começaram como guerras preventivas não como guerras de conquista” (A:J.P.Taylor “The Struggle for Mastery in Europe”, p.166).

Nos anos anteriores à guerra, o desenvolvimento industrial e tecnológico das grandes potências tinha proporcionado a produção de novas armas de grande poder de destruição como artilharia de tiro rápido e metralhadoras, além da capacidade de mobilização de milhões de homens e seu transporte para as frentes de combate, graças à expansão dos caminhos de ferro. Acresce, como referido ao longo deste trabalho, que a doutrina dominante ensinada nas academias militares na Europa, nomeadamente em França, (“l’offensive à outrance”) era a da superioridade da ofensiva, implicando a importância da iniciativa no ataque, como condição para alcançar a victória. Em comentário feito a 6 de Julho de 1914 ao seu secretário, Kurt Riezler (cujos Diários foram publicados em 1972), o chanceler alemão Bethmann-Hollweg afirmou que “o poder militar da Rússia cresce rapidamente e com a extensão dos caminhos de ferro na Polónia a situação é indefensável. Com a Áustria cada vez mais fraca e imóvel, a acção contra a Sérvia pode levar a uma guerra mundial. Da guerra, seja qual for o seu resultado, o chanceler espera uma revolução generalizada…O futuro pertence à Rússia que cresce e cresce, causando-nos um pesadelo cada vez maior” (citado por Dale Copeland, “The Outbreak of the First World War”, p.181). Este autor considera que “a guerra que estalou naquele verão fatal de 1914 teve uma e apenas uma causa fundamental: o profundo medo, entre os dirigentes alemães, de que o seu país entrasse em declínio irreversível em relação ao crescente colosso russo”. (Dale C. Copeland,”The Origins of Major War”, Cornell Univerity Press, capítulos 3 e 4).

"No inicio da década de 50, coincidindo com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), uma comissão de historiadores franceses e alemães concluiu que 'não há provas documentais que permitam atribuir a vontade premeditada de uma guerra europeia por parte de qualquer governo ou povo em 1914'. Foram dadas instruções para que os manuais escolares, de ambos países, adoptassem a referida orientação."

O Chefe de Estado-Maior do Exército alemão, Moltke, via na Rússia a maior ameaça, que aumentava com o decurso do tempo, pelo que era vital, na sua opinião, entrar em guerra quanto antes. No que respeita aos políticos germânicos, o Kaiser, tal como os dirigentes austríacos, pensava poder limitar o conflito sem provocar uma guerra europeia. Por seu lado, o chanceler Bethmann-Hollweg contava também com a localização do conflito austro-sérvio e, erradamente, com a neutralidade britânica, procurando nos dias decisivos 29 a 31 de Julho de 1914 travar o agravamento da crise instruindo, demasiado tarde, o seu embaixador em Viena na noite de 29 de Julho, para comunicar ao Governo austríaco que a Alemanha “não se deixaria arrastar para um conflito mundial, contrariamente à sua vontade e sem consideração pelo seu conselho” (John A. Vasquez,”Was the First World War a preventive war?”, em “The Outreak of The First World War, Structures, Politics and Decision Making”, p.214).

No inicio da década de 50, coincidindo com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), uma comissão de historiadores franceses e alemães concluiu que “não há provas documentais que permitam atribuir a vontade premeditada de uma guerra europeia por parte de qualquer governo ou povo em 1914”. Foram dadas instruções para que os manuais escolares, de ambos países, adoptassem a referida orientação. (Citado por David Stevenson “Cataclysm, The First World War As Political Tragedy”, p.479 e por Annika Mombauer em “The Origins of the First World War, Controversies and Consensus” p.124). Estava-se, então, em plena época de admissão da Alemanha Ocidental na NATO e na Comunidade Europeia.

Em 1961, Frizt Fischer, Professor de História da Universidade de Hamburgo publicou um livro intitulado “Griff nach der Weltmacht”, ou seja, “A Tomada do Poder Mundial”, traduzido para inglês com o título “Os Objectivos da Alemanha na Primeira Guerra Mundial”, que teve a maior influência na década seguinte, no que respeita à responsabilidade pelo desencadear do conflito. Fischer sustentou que a Alemanha premeditou e planificou a guerra e que o seu expansionismo tinha como causa questões de política interna e não factores de ordem geopolítica e de rivalidade internacional. Segundo Fischer, as tensões causadas pela contradição entre uma sociedade altamente industrializada e a persistência de estruturas sociais do período pré-industrial levaram as antigas elites a procurar na expansão territorial para o exterior uma forma de evitar a perda de poder. Trata-se da afirmação do primado da política interna da qual a política externa apenas seria um corolário. No seu outro livro, “Guerra de Ilusões”, o mesmo autor escreveu que a política alemã, entre 1911 e 1914, consistiu em “consolidar a posição das classes dominantes com o sucesso de uma política externa imperialista” e discordou da opinião dos historiadores que salientavam existir uma visão pessimista nas chefias políticas e militares alemãs que levou a admitir o recurso à guerra preventiva, perante a sensação de cerco à Alemanha e o crescente desequilíbrio de forças a favor dos potenciais inimigos dos impérios centrais.

As teses de Fischer e dos seus discípulos como Immanuel Geiss e Hans-Ulrich Wehler causaram grande polémica na Alemanha, não só pela questão da responsabilidade da guerra, mas também porque entendiam ter existido continuidade entre o regime monárquico de 1870 a 1918 e o regime nacional-socialista. Segundo Wehler, o factor comum dos regimes em causa era “o social-imperialismo que serviu para defender as estruturas do poder tradicionais do Estado prussiano-germânico e de servir de escudo contra os efeitos destabilizadores da industrialização” (Citado por Holger Herwig “Industry,Empire and the First World War”, in “Germany Reconsidered”, p.60). Holger Herwig considera, porém, haver na obra de Wehler “uma deplorável falta de compreensão e de apreciação da política internacional, uma insistência exagerada no social-imperialismo, uma omissão do factor humano nos processos de decisão, características que resumem os processos históricos a algo parecido a um teatro de marionetas” (Holger Herwig, ibid, p.64).

Em 1978 outros historiadores como Richard Evans, autor de “Política e Sociedade na Alemanha de Guilherme II”, bem como Geoff Eley e David Blackburn contestaram a análise de Fischer e da sua escola e afirmaram que a prevalência da classe aristocrática prussiana tinha sido suplantada pela burguesia industrial e liberal. Posição semelhante é defendida por Eric Hobsbawn que entende que o projecto do almirante Tirpitz , que não pertencia à classe aristocrática, era “construir uma frota de couraçados tinha a vantagem de não representar os velhos Estados alemães e de contar com um corpo de oficiais que não pertencia aos “junkers” e às suas tradições guerreiras, mas sim à classe média, ou seja a nova Nação (Eric Hobsbawn “The Age of Empire”; Weidenfeld and Nicholson , p.31).

A polémica causada pelas obras de Fischer e seus seguidores levou outros historiadores como Gerhard Ritter, professor na Universidade de Freiburgo e Karl Erdmann de Kiel a intervir junto do Ministro de Negócios Estrangeiros, para cancelar o subsídio atribuído a Fischer para proferir conferências nos Estados Unidos, alegando que isso seria uma “tragédia nacional”. Ritter, membro da resistência anti-nazi (preso em1944 e 1945), foi o maior opositor das teses de Fischer e, num ensaio publicado pelo Conselho Internacional de Filosofia e Estudos Humanísticos, com o apoio da UNESCO, escreveu que “não tinham sido Frederico o Grande, Bismarck e Guilherme II os precursores de Hitler mas sim os demagogos e Césares da época moderna, de Danton a Lenin e Mussolini”. (Gerhard Ritter “The Third Reich”,Weidenfeld & Nicholson , p.381).

Soldados britânicos em 1917

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No seu livro “The Politics of Illusion : The Fischer Controversy in German Historiography” (George Prior Publishers,London, 1975), o historiador John A. Moses faz uma análise da historiografia alemã no século XIX, que teve como autor predominante Leopold von Ranke (1795-1886) e, cuja influência no século XX levou historiadores como Max Lenz, Friedrich Meinecke e Hans Delbruck a aplicar a teoria de Ranke sobre a tendência de cada Estado-Nação a expandir o seu poder, entrando em competição com os demais, numa luta constante pelo equilíbrio de poder. Esta orientação partia do princípio de que cada Nação tem o seu próprio espírito específico, segundo a teoria de Herder, cuja salvaguarda depende do que Ranke chamava a “energia moral”, o que tem como consequência que as nações tendem a uma rivalidade permanente, implicando o primado da política externa sobre a política interna, ou seja, visão antagónica da assumida por Fischer. Lenz considerava que todas as grandes potências são agressivas por natureza e dava o exemplo, na sua época, da guerra dos Britânicos contra os Boers.

Também na Alemanha, o historiador Wolfgang Mommsen contesta as teses de Fischer, afirmando que aquele autor “nunca foi explícito sobre qual o sector da sociedade alemã que optou pela guerra. Foi o Governo, o Kaiser, os militares, os conservadores ou a indústria? Foi só um destes sectores, mais do que um, ou o país, no seu conjunto?”. Mommsen contesta ainda a importância atribuída à reunião do Kaiser com os chefes militares e 8 de Dezembro de 1912, na qual, segundo Fischer, teria sido decidido que a Alemanha entraria em guerra na melhor oportunidade, dado que “não há rigorosamente nenhuma prova de que fossem tomadas medidas para que o país se preparasse para a guerra a partir daquela reunião na qual o Chanceler e o Secretário de Estado de Negócios Estrangeiros estavam ausentes.” (Wolfgang Mommsen,”Imperial Germany 1867-1914: Politics, Culture and Sociey in an Authoritarian State”, ps. 169.170).

Outro aspecto importante, para o qual Mommsen chama a atenção, é o que respeita à premissa principal de Fischer e que consiste em afirmar que o nacionalismo agressivo era a raiz da política germânica, considerando que as outras potências se limitaram a reagir às iniciativas da Alemanha, o que não explica o nacionalismo francês e o militarismo russo (W:Mommsen,ibid.p.170).

Mommsen considera, no entanto, que a cabe à Alemanha uma “considerável parte de responsabilidade pelo deflagrar da Primeira Guerra Mundial”, não em virtude de uma vontade de domínio mundial, mas sim em resultado da “fraqueza e confusão existente nos mais elevados círculos de chefia do Império alemão. As tensões e divisões da elite dirigente manifestaram-se nos complicados cálculos que fizeram as decisões da Alemanha depender, nitidamente, em grande medida, das decisões de outras potências, como a Rússia e a Áustria-Hungria”. Posição muito próxima é sustentada por Richard F.Hamilton e Holger Herwig que, na análise da crise de Julho de 1914, ponderam, dia a dia, as constantes hesitações, ordens e contra-ordens do pequeno grupo de dirigentes composto pelo Kaiser, o Chanceler Bethmann-Hollweg , o Ministro da Guerra Falkenhayn, o Chefe de Estado-Maior von Moltke .

A descoberta, nos anos 90, nos arquivos da extinta RDA, do Diário de Falkenhayn, que tinha sido entregue pela viúva do referido militar ao “Reichsarchiv”, em 1927, com o pedido de confidencialidade, permitiu compreender melhor o caos e a confusão dominantes entre os responsáveis máximos do poder na Alemanha, nos últimos dias que antecederam a guerra. Segundo os mencionados autores, a pequena elite militar e política de cujas decisões dependia o destino da Alemanha “não estava à altura da responsabilidade”.

Assim, “longe de preparar a ‘tomada do poder mundial’, aquela elite estava dominada por dúvidas, conflitos e falta de visão”. Com efeito, “o Diário de Falkenhayn reforça a suspeita de que Berlim era uma casa sem direcção, as ordens dadas eram anuladas e depois confirmadas. O Kaiser e Moltke mudavam radicalmente de posição quanto à guerra. Cada telegrama de Londres e cada informação proveniente da Prússia Oriental provocava acesos debates e mudanças radicais de política” (Richard F.Hamilton e Holger H. Herwig, “Decisions for War,1914-1917”). Recorde-se que, já em 1912, durante as suas negociações em Berlim sobre a redução do programa naval alemão, Lord Haldane tinha ficado impressionado com as grandes divergências que tinha verificado entre os dirigentes alemães, que provavam que o Kaiser estava longe de ser o chefe absoluto, pelo que a situação a que assistiu foi qualificada pelo Ministro da Guerra britânico como um verdadeiro “caos policrático”.

"Em capítulo intitulado 'July 1914 revisited and revised; The erosion of the German paradigma', que faz parte da obra colectiva já citada 'The Outbreak of the First World War' (2014),o historiador Samuel Williamson Jr. afirma que 'investigações mais recentes mostram uma Sérvia mais culpada, uma aliança franco-russa mais agressiva, uma Áustria-Hungria mais desesperada, uma política externa russa mais determinada, uma Grã-Bretanha mais ineficiente nos seus esforços para conter a crise, bem como tensões internacionais entre todos os poderes, em vésperas de Sarajevo'."

Como já indicado, a propósito do conflito entre o almirante Tirpitz e o Chanceler Bethmann-Hollweg, acerca da política naval alemã, o general De Gaulle, escreveu que “o recuo do poder supremo é a prova indiscutível da crise de autoridade que foi, apesar das aparências, a verdadeira causa moral da derrota do império” (Charles De Gaulle, “La Discorde chez l’Ennemi”, Plon.p.44)

As teorias de Fischer foram muito contestadas nos últimos anos, não só na Alemanha mas por historiadores de outros países. Tal é o caso de Georges-Henri Soutu, francês, autor do livro “L’Or et le Sang”, (1989), premiado pela Academia de Ciências Morais e Políticas de França. No prefácio da referida obra, Jean-Baptiste Duroselle acrescenta que “a ideia de que um objectivo fixado antes, durante e depois da guerra, segundo a teoria do Professor alemão Fritz Fischer, considerando como tal o programa de Betmann-Hollweg em Setembro e 1914, afigura-se como pouco conforme à história real.” Georges-Henri Soutu escreve que “ para outros historiadores as coisas passaram-se de um modo menos simples e com menos continuidade: a Alemanha não foi a única responsável pela guerra; não foi a única a ter objectivos de guerra que, variaram consideravelmente durante o conflito e, por outro lado, o seus dirigentes não foram unânimes”. (Georges –Henri Soutu,”L’Or et le Sang” p.18)

A constituição da união económica da Europa Central era sustentada pelo chanceler alemão como meio de garantir a segurança da Alemanha, sem recorrer a anexações territoriais pretendidas pelos círculos pan-germanistas. A União aduaneira da Alemanha extensível à Europa central e ocidental, foi mantida como objectivo essencialmente político, sem intenção de entrar em conflito com outras potências, como salienta Soutu afirmando “opomo-nos absolutamente à tese (popularizada por Fischer e os seus discípulos) segundo a qual Bethmann tinha em vista com o seu projecto de união aduaneira, preparar um grande confronto com o Império britânico e com os Estados Unidos”. (G.H.Soutu “L’Or et le Sang” ,p.24).

Em capítulo intitulado “July 1914 revisited and revised; The erosion of the German paradigma”, que faz parte da obra colectiva já citada “The Outbreak of the First World War” (2014),o historiador Samuel Williamson Jr. afirma que “investigações mais recentes mostram uma Sérvia mais culpada, uma aliança franco-russa mais agressiva, uma Áustria-Hungria mais desesperada, uma política externa russa mais determinada, uma Grã-Bretanha mais ineficiente nos seus esforços para conter a crise, bem como tensões internacionais entre todos os poderes, em vésperas de Sarajevo.”(p.30)

O referido autor salienta que, desde a queda do regime comunista na Rússia e a recuperação de arquivos alemães, dados por destruídos pelos bombardeamentos da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, novas fontes foram acessíveis aos historiadores. A evolução da historiografia mais recente, segundo Samuel Williamson Jr., tende a fazer um estudo comparativo do comportamento de todos os países envolvidos no conflito, em vez de concentrar toda a atenção sobre o papel da Áustria-Hungria e da Alemanha, considerados exclusivamente culpados pela guerra, como decidido na Conferência de Paz de 1919 e definido nos Tratados de Versailles e Saint-Germain- en- Laye. Tal atribuição de culpa implicou uma afirmação de inocência em relação às outras potências, o que é contestado pela historiografia mais recente. Samuel Williamson Jr. começa por analisar a situação interna da Sérvia e refere-se ao recente livro de Christopher Clark “The Sleepwalkers” que, “tal como Sidney Fay e Albertini, recorda aos académicos que a Sérvia teve responsabilidade significativa no desencadear da Primeira Guerra Mundial…O que Clark deixa bem claro, como Fay e Albertini já tinham feito, é que o Governo sérvio tinha conhecimento da conspiração para assassinar Francisco Fernando, em principio de Junho”. (p.41). A propósito do apoio dado pelos militares sérvios aos jovens ultra nacionalistas que assassinaram o Arquiduque Francisco Fernando, recorde-se que os Estados Unidos acusaram o Afeganistão,em 2001, de ser “uma base de terroristas” para justificar a sua intervenção naquele país.

No que respeita ao comportamento das outras potências, Samuel Williamson Jr. escreve na obra acima indicada que “novas pesquisas nos arquivos da França e da Rússia apontam para política externa da daqueles países muito mais agressivas a partir de 1911” (p.48) e que o Presidente francês Poincaré apoiou a ajuda financeira da França à Sérvia, vinculando a aliança franco-russa à situação nos Balcans, concordando com a estratégia russa em relação à região e aceitando entrar em guerra, se necessário, em caso de crise local, que afectasse a Sérvia. A este respeito, o mesmo autor considera que “a Alemanha deu um cheque em branco a Áustria, Paris deu um cheque em branco à Rússia e a França e a Rússia deram um cheque em branco à Sérvia”. Samuel Williamson Jr. considera ainda que a França “não fez qualquer esforço para travar a Rússia, uma vez que os seus planos de guerra dependiam da intervenção russa. Poincaré nada faria que pudesse impedir tal intervenção”. As suas instruções a Joffre para recuar as tropas para dez quilómetros da fronteira, facto indicado como prova do pacifismo da França visava na realidade evitar que os Britânicos pensassem que a França tinha começado a guerra “ e conseguir assim a entrada em guerra da Grã-Bretanha, vencendo as hesitações do Governo de Londres (p.53). Quanto à Grã-Bretanha, Samuel Williamson Jr, refere as críticas não só de Albertini mas, mais recentemente, de Zara Steiner dirigidas contra o ministro dos Negócios Estrangeiros Edward Grey, acerca do qual aquela historiadora escreve que “não era nem um profundo pensador, nem um grande estadista. Havia muita coisa que não compreendia. Não compreendeu os efeitos das mudanças contemporâneas nas posições relativas dos Estados ou na conduta da guerra. Grey julgou mal as situações e subestimou as novas formas de nacionalismo, o poder dos movimentos revolucionários, o papel dos Exércitos de massas, as novas tecnologias e as formas de competição económicas”. (Zara Steiner, “Britain and the Origins of the First World War” G, p.273).

Grey foi criticado também por não ter afirmado claramente que o seu país interviria na guerra, pondo fim às dúvidas que deixou criar sobre a hipótese de neutralidade, como o Chanceler alemão especulava. Noutra perspectiva, completamente diferente, Grey foi acusado de inventar uma ameaça alemã, para justificar o entendimento com a Rússia com o fim de proteger o Império britânico. Tal é o parecer de Keith Wilson que escreve que “fazendo a sua mentalidade recuar cem anos, identificando Guilherme II com Napoleão I, o Foreign Office conseguiu continuar a sua tradição a que entendia pertencer. A invenção da Alemanha era um elemento indispensável da projecção britânica” (Keith Wilson “The Policy of the Entente”, Cambridge University Press,p.120). Opinião semelhante é assumida por Niall Ferguson que considera que Grey e os altos funcionários do seu Ministério, bem como os chefes militares britânicos, imaginaram uma um projecto germânico de guerra napoleónica…precisamente porque queriam a Grã-Bretanha alinhada com a França (Niall Ferguson, “The Pity of War” ,p.75)

Em relação à Rússia, as acusações mais recentes da sua responsabilidade pela guerra constam da obra de Sean McMeekin ,”The Russian Origins of the First World War”, (The Belknep Press of Harvard University Press,2011) que começa por salientar que, desde o colapso da União Soviética em 1991 ,os historiadores ocidentais e russos tiveram acesso a novas fontes nos arquivos da Rússia. No entanto, Mc Meekin afirma (p.239) que “embora já poucos autores aceitem a tese extrema de Fischer sobre os planos de domínio mundial da Alemanha, os historiadores continuam a concentrar a sua atenção sobe as decisões tomadas em Berlim e, secundariamente em Viena”. Ora, acrescenta este autor, “desde o que sabe agora sobre a mobilização russa e a cumplicidade da França em ajudar Sazonov a enganar os Britânicos, a tese de Fischer não é sustentável”.

Mc Meekin manifesta a sua perplexidade pelo facto dos dirigentes russos que contribuíram para provocar a guerra na Europa, escaparem à condenação que recaiu sobre os seus congéneres alemães. Tal é o caso do Ministro de Negócios Estrangeiros russo Sazonov que “disse ao embaixador alemão que a mobilização não podia ser parada, decidindo a mobilização parcial do Exército russo, antes de consultar o conselho de Ministros de 24 de Julho de 1914, uma semana antes de medida equivalente por parte da Alemanha. Os chefes militares e o próprio Czar Nicolau II, decidiram mobilizar os Exércitos colossais do país “sabendo perfeitamente que arriscavam uma guerra com a Alemanha, enquanto Sazonov escondia deliberadamente tudo isso a Londres”. Sean Mc Meekin,ibid.p. 242)

Conforme descrito ao longo deste trabalho o verdadeiro objectivo da Rússia na guerra de 1914-1918 era o controle dos Estreitos e a tomada de Constantinopla, o que, aliás, foi expressamente prometido pelos Aliados e constituía uma ambição secular, incentivada pelo declínio do Império Otomano. Como escreve Mc Meekin, “já é tempo da Rússia receber a sua parte justa de investigação sobre o seu papel no desencadear da terrível guerra europeia de 1914 e por ter ajudado à sua expansão pelo Médio-Oriente”. (ibid.p.243).Tambem Dominique Lieven afirma no seu recente livro “Towards the Flame, Empire, War and the End of Tsarist Russia” (Penguin Books,2016) que se trata de “colocar a Rússia no lugar que lhe pertence, ou seja, no centro da Históra da Primeira Guerra Mundial”. Outro autor contemporâneo que destaca a responsabilidade da Rússia na causalidade da Grande Guerra 14-18 é Alexander Watson que escreve “a Rússia agiu com maldade. Primeiro teve uma intervenção fundamental na aproximação da Sérvia e da Bulgária, núcleo da Liga Balcânica inicialmente criada contra a Áustria-Hungria. Além disso, encorajada pela França, efectuou manobras militares altamente provocatórias no inicio da guerra balcânica”. (Alexander Watson,”The Ring of Steel,Germany and Austria-Hungry in World War I” Basic Books New York,p.26).

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