Risco zero não existe. Mas a verdade é que, se nas idas ao supermercado ou ao restaurante, com as medidas adequadas de proteção, os riscos de contágio são iguais para todos, o caso muda de figura na vida profissional, dependendo das funções desempenhadas e do tipo de trabalho.
A conta é simples: quanto maiores forem a proximidade a outras pessoas durante o horário de trabalho — sejam elas colegas ou o público —, e quanto maior for a exposição de cada função a doenças ou outro tipo de agentes infecciosos, maiores são também os riscos de infeção. E isto é válido para tudo o que são vetores de contaminação, sejam eles biológicos ou químicos — e, necessariamente, também para o novo coronavírus.
O levantamento foi feito com base em dados do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, que cruzam valores de proximidade e exposição para apurar níveis de risco inerentes a várias centenas de profissões, e que estão disponíveis no portal Occupational Information Network. O The New York Times fez um trabalho com base nessa lista e ela serviu também para analisar a realidade no Reino Unido (através do seu Instituto Nacional de Estatística). O ABC fez uma adaptação ao que se passa em Espanha — e este texto parte dessa lista para a realidade portuguesa.
Sem surpresas, os profissionais de saúde, que têm de tocar em inúmeros pacientes durante um dia de trabalho, a grande maioria deles com problemas de saúde, contagiosos ou não, são os que em teoria mais riscos correm. E, dizem as estatísticas da Covid-19 em Portugal, na prática também: os profissionais de saúde representam cerca de 10% do total. O que surpreende é o facto de, dentro desta categoria profissional, não serem os médicos ou os enfermeiros dos serviços de urgência ou de infecciologia os que estão no topo da pirâmide de contágio.
Com dois valores que rebentam a escala de zero a 100 em ambos os critérios, são os higienistas orais os mais propensos à contaminação. Logo a seguir, como seria de se esperar, vêm os enfermeiros especializados, os dentistas e os médicos de família.
Nos primeiros 14 lugares da lista só há espaço para profissionais de saúde. Assistentes de bordo, a trabalhar tanto em aviões como em navios ou comboios, surgem no posto número 15 — proximidade de 96, exposição de 77.
No caso do primeiro critério, em que zero significa que a profissão pode ser desempenhada a pelo menos 30 metros de distância de quaisquer outras pessoas e 100 determina que o trabalho tem de ser feito em contacto físico direto com terceiros, explica o jornal espanhol, há outras medidas pelo meio.
Uma classificação de 25 significa ter colegas de trabalho, mas poder manter uma distância entre eles, como acontece por exemplo num escritório; sendo que um risco de 50 já quer dizer que, no máximo, os outros trabalhadores estão a um metro de distância. Aos 75 ainda não há toque entre pessoas, mas quase, como acontece em muitos locais abertos ao público — no posto 142 da lista, os trabalhadores em bilheteiras apresentam um risco de proximidade exatamente de 75 mas, habitualmente protegidos por guichés, têm zero no grau de exposição.
Para apurar esta variável, o Departamento do Trabalho americano colocou uma questão hipotética a cada uma das profissões analisadas: com que frequência implica o trabalho, por si só, uma exposição a doenças ou a outro tipo de agentes infecciosos? As respostas vão do zero, que, como no caso dos vendedores de bilhetes significa nunca, ao 100, que quer dizer “todos os dias”. Pelo meio, 25 quer dizer que uma ou mais vezes por ano esse risco pode ser efetivo; 50 passa para uma ou mais vezes por mês; e 75 significa o mesmo mas numa base semanal.
Com 100 pontos neste critério, para além dos higienistas orais, só surgem enfermeiros especializados e médicos de família mas o que não faltam, sobretudo nas profissões da área da saúde, são valores a rondar ou mesmo acima dos 90 — é o que acontece com auxiliares de fisioterapia, veterinários e profissionais de acupuntura, naturopatia, homeopatia e medicina tradicional chinesa, por exemplo.
Uns furos abaixo, os bombeiros são os primeiros a aparecer de entre a lista de profissões ligadas à Lei e à Segurança Pública — ocupam a 17.ª posição. Na categoria Educação e Formação, sem surpresas, os auxiliares de educação infantil (22,º lugar) são os que mais arriscam; seguidos imediatamente pelos cabeleireiros, no número 1 do top das profissões ligadas à Assistência Social e Serviços.
Para saber qual é o risco associado à sua profissão basta consultar a tabela e procurar entre as 335 listadas. No meio, nos lugares 167 e 168, estão os instaladores de painéis de energia solar e os supervisores das indústrias alimentar e do tabaco. No final, no top 3 invertido, estão, por ordem decrescente de risco de contágio, trabalhadores agrícolas, escritores e artistas de artes plásticas e visuais.