A lista de deputados prioritários para vacinação começou por ser de 50, depois passou para 35 (quando uma parte dos deputados do PSD disse que não queria) e agora está ainda mais encolhida do que isso, com vários deputados do PS a passarem a vez. Depois de ter estoirado a polémica inicial sobre a vacinação da classe política, o ambiente agora é de discrição. Se o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República já tinham sido vacinados na sexta-feira, esta segunda foi a vez dos membros do Governo, mas tudo sem aviso prévio, sem fotografias, nem câmaras de televisão para filmar o momento. A partir de amanhã, sabe o Observador, começam também os deputados a ser vacinados no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa.

O Observador contactou vários deputados que estariam na lista de prioritários para vacinação — ou por serem membros da Mesa da Assembleia da República, ou por serem presidentes de comissões ou membros da Comissão Permanente (órgão que mantém a Assembleia a funcionar em serviços mínimos) — e concluiu que muitos deles já estão a ser contactados para a primeira toma da vacina. Alguns vão já tomar amanhã, outros na quinta-feira, outros mais perto do final da semana em data a marcar. A exceção é a deputada Edite Estrela, na qualidade de vice-presidente da Assembleia da República, que já foi vacinada na sexta-feira no hospital militar, no mesmo dia em que Ferro e Marcelo receberam a vacina da Pfizer/BioNTech. António Filipe, também vice-presidente, não foi ainda contactado para a vacinação, segundo apurou o Observador (e os restantes vices, Fernando Negrão e José Manuel Pureza, abdicaram da prioridade).

Costa vacinado com AstraZeneca. E mais 7 ministros

O primeiro-ministro fez saber esta segunda-feira, através de uma nota do seu gabinete, que já tinha recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19, no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa. Fica agora à espera de ser convocado para a toma da segunda dose. No sábado, António Costa tinha dito que “provavelmente” seria vacinado com a vacina da AstraZeneca e assim foi, num ato que se repetiu com os outros membros do Governo que fazem parte da lista de governantes que entram nesta primeira fase da vacinação.

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De fora ficaram os ministro que integram essa lista mas que estiveram recentemente infetados com o SARS- CoV-2 (ministro da Defesa, da Economia e a ministra do Trabalho). Mas, segundo confirmou o Observador junto de cada um dos gabinetes, já tomaram a primeira dose a ministra de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Mariana Vieira da Silva, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, o da Administração Interna, Eduardo Cabrita, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, a ministra da Saúde, Marta Temido, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

Os governantes foram vacinados também com a vacina da AstraZeneca que a Organização Mundial de Saúde recomendou que não fosse administrada a maiores de 65 anos, o que não é o caso de nenhum destes membros do Executivo que são prioritários entre os prioritários — à exceção da ministra da Justiça que tem 65 anos.

Nesta lista de governantes prioritários está também a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, mas o gabinete não confirmou se já tinham sido vacinada. O mesmo para os secretários de Estado da Saúde. E quanto aos cinco secretários que exercem a função de coordenação regional no combate à pandemia, também ainda não há informação de que tenham sido já vacinados.

Os momentos da vacinação foram sempre mantidos discretos, mesmo no caso do primeiro-ministro que, por exemplo, já fez publicar uma fotografia nas redes sociais oficiais a ser testado para a Covid-19 para dar o exemplo. Neste caso, o entendimento foi outro, segundo fonte do Governo que afirma que “as pessoas já estão ganhas para a vacinação”, pelo que não há necessidade de fazer proselitismo. Na última reunião no Infarmed, o Governo foi informado do resultado de um estudo da Escola Nacional Saúde Pública, apresentado pela especialista Clara Nunes, que refere essa mesmo conclusão: não há medo da vacina.

Grupo de trabalho a zeros, mas deputados já começam a ser vacinados esta semana

Depois de ter rebentado a polémica sobre a lista de deputados prioritários a vacinar, com entradas e saídas, avanços e recuos, cartas e mais cartas, o PS chegou a sugerir a criação de um grupo de trabalho, com representação de todos os partidos, para fazer um “plano interno” de vacinação. Ao que o Observador apurou, contudo, o grupo de trabalho ainda não foi criado, nem sequer foi ainda discutido em conferência de líderes, mas a ideia passa por acompanhar o processo de vacinação dentro da Assembleia da República, que envolve não apenas deputados mas também funcionários dos vários serviços parlamentares.

As 72 horas em que a lista encolheu. Restam 35 deputados a querer a vacina (e pode não parar por aqui)

Segundo fonte da direção da bancada socialista, que propôs a criação do grupo de trabalho — que por sua vez foi visto com bons olhos por Ferro Rodrigues –, o grupo de trabalho não se “esgota” nesta primeira fase de vacinação (que visa os deputados identificados como prioritários em função da estrutura organizativa da Assembleia), mas pretende sim acompanhar o processo nas fases seguintes. “Consoante se vai passando às fases seguintes também tem de haver priorização, é preciso perceber quais os serviços que têm de ter uma natureza presencial, por exemplo”, explica a mesma fonte, que confirma que o grupo de trabalho ainda não foi constituído.

Até lá, a indicação do grupo parlamentar do PS é dar prioridade aos membros da mesa — Presidente e vice-presidente (Ferro Rodrigues e Edite Estrela, que já foram vacinados) — e deixar os restantes para a fase final desta  fase de vacinação que inclui os serviços prioritários do Estado. Mas isso, como sublinha fonte da bancada socialista, vai também depender de cada um. A dada altura o processo passa para as mãos das autoridades de saúde que contactam individualmente cada deputado identificado como prioritário, e cada deputado, individualmente, decide o que fazer. Foi nesse sentido que já foram contactados alguns parlamentares. Outros, antes disso, pediram para ser retirados da lista.

Entre os deputados à esquerda há um pouco de tudo: deputados vacinados em breve, alguns ainda a aguardar as indicações das autoridades de saúde e outros que abdicaram de receber a vacina nesta fase. Até agora, ao que o Observador conseguiu apurar, e excluindo Ferro Rodrigues e a vice-presidente da AR Edite Estrela, Jorge Lacão é o único deputado socialista que já foi contactado para tomar a vacina contra a Covid-19 e já agendou a toma: vai recebê-la esta terça-feira. É também o caso de José Luís Ferreira, do partido ecologista Os Verdes, que confirmou ao Observador que vai receber a primeira dose esta terça-feira.

À direita, a lista do PSD foi encolhendo e resume-se hoje a meia dúzia de deputados que foram considerados prioritários pelo critério de Ferro Rodrigues e que não saltaram fora. Ao que o Observador apurou, também Duarte Pacheco, na qualidade de secretário da Mesa da Assembleia da República, vai receber a sua primeira dose da vacina esta terça-feira, assim como António Topa, que é presidente de comissão de Economia e Obras Públicas, já foi contactado e vai ser vacinado ainda esta semana, na quinta-feira, no hospital das Forças Armadas, segundo confirmou ao Observador. Além de ser presidente de uma comissão parlamentar, António Topa, de 66 anos, tem várias comorbilidades associadas, incluindo doença oncológica. O mesmo para Fernando Ruas, que será vacinado na quinta-feira “provavelmente”, e para Isabel Meirelles, vice-presidente de Rui Rio, que é membro da comissão permanente e que, ao Observador, diz entender que é seu “dever servir o país com saúde”.

“Não quero ter nenhum privilégio mas também não quero ter discriminação negativa”, diz Isabel Meirelles.

Por outro lado, Maria Antónia Almeida Santos, do PS, está entre os deputados já contactados, mas ainda não tem previsão de quando vai levar a primeira dose da vacina. Maló de Abreu, do PSD, também já foi contactado, mas recusou a vacina por entender  que devia haver uma clarificação nas prioridades de vacinação dos deputados, como sugeriu o PSD. Lina Lopes, do PSD, e Telmo Correia, o único deputado do CDS na lista, também ainda não foram vacinados.  António Filipe e Ana Mesquita, do PCP, ainda não receberam qualquer contacto por parte das autoridades de saúde para serem vacinados, segundo confirmou fonte da bancada comunista.

O mesmo acontece com o deputado socialista Pedro Delgado Alves que, ao Observador, explica que o Grupo Parlamentar do PS indicou que deviam ser vacinados em primeiro lugar o presidente e vice-presidentes e que os deputados só receberiam a vacina no fim da fase de vacinação onde estão incluídos os serviços prioritários — esta é a fase que está em curso e, se as recomendações do PS forem seguidas, os deputados só recebem a vacina no final (ou seja, daqui a cerca de um mês).

Entre os socialistas há vários que abdicaram da vacina, mesmo depois da redução da lista apresentada inicialmente por Ferro Rodrigues que continha 50 nomes e que mais tarde passou a ter 35. Hoje são ainda menos deputados. O Observador sabe que é o caso de Luís Capoulas Santos, Constança Urbano de Sousa, Carlos Pereira, Pedro do Carmo, Filipe Neto Brandão ou Luís Testa, do PS, assim como do deputado social-democrata Carlos Peixoto. Todos eles dizem que fizeram chegar a quem de direito que não queriam ser incluídos na lista — mas sem alarido. Também aqui a regra é discrição.

Autarcas em espera

Ao contrário dos deputados, que já estão a ser contactados, o mesmo não se pode dizer dos autarcas, que são considerados igualmente serviços prioritários do Estado. A decisão do Governo de incluir titulares de órgãos de soberania na atual fase de vacinação — que se seguiu à vacinação de profissionais de saúde e idosos residentes em lares — passa também pelos autarcas. Ao que o Observador apurou, contudo, ainda nenhum presidente de câmara foi contactado.

É o caso de Fernando Medina, em Lisboa, ou dos presidentes da câmara de Viseu, Setúbal, Almada ou Vila Nova de Gaia. Todos responderam ao Observador que não tinham recebido qualquer contacto nesse sentido. A lógica pode ser iniciar o processo pelo Presidente da República e Presidente da Assembleia, seguindo-se o Governo, depois os deputados que queiram, e depois então os autarcas. Até ver, contudo, os únicos autarcas que foram vacinados foram os que foram vacinados indevidamente ao abrigo de outras funções associadas, no âmbito dos casos de vacinação indevida amplamente noticiados.

Mesmo que sejam contactados em breve, segundo apurou o Observador junto de vários presidentes de câmara, não é líquido que todos queiram receber a vacina nesta fase inicial do processo. “Não fui contactado, mas quando for é preciso ver quem é prioritário dentro dos prioritários”, diz Eduardo Vítor Rodrigues, da câmara de Vila Nova de Gaia, ao Observador, sublinhando que no seu caso, por exemplo, não se vê como “prioritário”.