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São raros os casos de pessoas completamente vacinadas que chegam aos hospitais, numa altura em que o número de internamentos também reduziu
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São raros os casos de pessoas completamente vacinadas que chegam aos hospitais, numa altura em que o número de internamentos também reduziu

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

São raros os casos de pessoas completamente vacinadas que chegam aos hospitais, numa altura em que o número de internamentos também reduziu

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

DGS, Ministério e INSA não controlam quantos internados por Covid-19 já tinham sido vacinados contra a doença

Informação é registada, mas não é centralizada. INSA diz que é responsabilidade da DGS, DGS não o faz, Saúde aponta para os hospitais. Dado é seguido noutros países para controlar eficácia da vacina.

As autoridades de saúde não estão a controlar quantas das pessoas internadas por Covid-19 já tinham sido vacinadas contra a doença — seja com apenas uma dose, seja com o esquema vacinal completo. A Direção-Geral da Saúde (DGS) sabe apenas quantas pessoas estão internadas a cada dia, seja em internamento geral ou em unidades de cuidados intensivos, sendo que também não tem informação de quantas dão entrada e quantas recebem baixa em cada dia — só o saldo final de internados nas 24 horas anteriores. E não controla quais delas já foram ou não vacinadas.

Fonte oficial do Ministério da Saúde também confirmou ao Observador que os dados relativos aos internamentos em pessoas que já tinham sido vacinadas contra a Covid-19 não estão a ser centralizados. Segundo o gabinete de Marta Temido, os dados sobre o número de internados que já tinham sido imunizados devem ser solicitados aos hospitais portugueses, um a um.

Já o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) apontou ao Observador que o registo desses dados é da responsabilidade da DGS, que é quem monitoriza as situações de falhas na vacinação. O INSA está a preparar estudos retrospetivos de efetividade da vacina que tentarão apurar a percentagem de hospitalizações e óbitos que a vacina foi capaz de evitar, mas com base em dados que serão enviados diretamente pelos hospitais. Isso, porém, só deverá acontecer já perto do fim do verão: os estudos ainda estão a ser preparados e os resultados só deverão ser conhecidos em agosto ou setembro; os dados dos hospitais hão-de chegar pouco antes.

Ao Observador, porém, o Hospital de São João, no Porto, garantiu que essas informações, que estão a ser reunidas, são partilhadas com as autoridades de saúde “sempre que tal é pertinente nos termos das orientações e das normas da DGS”. O Observador pediu para ter acesso a esses números na semana passada, mas ainda os aguarda, tal como aguarda resposta à mesma questão por parte do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

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Quanto à DGS, até agora não respondeu aos pedidos de esclarecimento do Observador.

Sandra Braz, médica internista no Santa Maria e a primeira vacinada contra a Covid-19 naquele hospital, disse ao Observador que o número de internamentos é tão reduzido que “não dá para perceber tendências ou tirar conclusões” sobre os vacinados que acabam internados com Covid-19. Também Margarida Tavares, médica infecciologista do Hospital de São João, diz serem “raríssimos” os casos de vacinados internados naquela unidade com Covid-19 — meia dúzia, contabiliza ela, todos com apenas uma dose. E alguns, pela proximidade entre a data de vacinação e a data com que exibiram os primeiros sintomas, “muito provavelmente já estavam contagiados quando a tomaram”.

Questionado sobre se o facto de se tratarem de doentes vacinados também é apontado na introdução desses dados, António Sarmento explica que as informações sobre as pessoas vacinados estão presentes noutras bases de dados, mas que basta que as autoridades de saúde as cruzem para concluir quais dos internados já estavam imunizados.

Certo é que estes casos existem. António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e diretor do Serviço de Pneumologia do São João, diz que se cruzou com casos de pessoas vacinadas que necessitaram de internamento em janeiro, quando a campanha de vacinação tinha começado, mas que a redução das hospitalizações fez com que a probabilidade de encontrar mais casos desses se tornasse muito baixa. Aqueles que vão sendo detetados ocorrem em pessoas vacinadas apenas com a primeira dose (que, embora tenham alguma proteção contra a Covid-19, não a têm na totalidade) ou em quem tinha recebido a segunda dose muito pouco tempo antes de ser infetado.

O médico explicou que, embora raros, em todos estes casos é registado clinicamente que os doentes já tinham sido vacinados contra a Covid-19 — mesmo quando ainda não passaram duas semanas desde que a última dose tinha sido administrada, período a partir do qual se assume que a imunidade está totalmente desenvolvida. Mas desconhece se esse registo clínicos é depois reportado às autoridades de saúde.

Já António Sarmento, diretor do serviço de doenças infecciosas do São João e primeiro vacinado naquele hospital, também confirma que o internamento de doentes com Covid-19 que já tinham sido vacinadas “tem sido uma ocorrência raríssima”; e que, dos três casos de que se recorda, nenhum deles tinha a vacinação completa. Em nenhum deles foi possível determinar se a infeção ocorreu antes ou depois da administração da primeira dose.

Os cientistas [britânicos] consideraram que é "particularmente importante" monitorizar as variantes do SARS-CoV-2 que infetam os vacinados internados com Covid-19. O objetivo é despistar se aquela infeção ocorreu porque o doente não desenvolveu imunidade com a vacina; ou se foi causada por alguma nova estirpe capaz de escapar ao efeito da vacinação.

Os casos de todos os internados continuam a ser reportados às autoridades de saúde, como habitualmente e desde o início da pandemia, através da plataforma SINAVE. Questionado sobre se o facto de se tratarem de doentes vacinados também é apontado na introdução desses dados, António Sarmento explica que as informações sobre as pessoas vacinados estão presentes noutras bases de dados, mas que basta que as autoridades de saúde as cruzem para concluir quais dos internados já estavam imunizados.

Cientistas britânicos e hospitais espanhóis monitorizam vacinados internados

Outros países têm-se dedicado a registar quantas das pessoas internadas com Covid-19 estão vacinadas contra a doença. No Reino Unido, o Scientific Advisory Group for Emergencies (Sage) — o grupo de aconselhamento científico do Governo — é quem monitoriza esses casos e concluiu que uma em cada 25 pessoas internadas com Covid-19 nos hospitais britânicos desde dezembro (4%) já tinha recebido pelo menos uma dose da vacina contra a doença. O fenómeno não causou estranheza aos peritos britânicos porque a maioria desenvolveu sintomas ainda antes de ter imunidade, que demora cerca de 14 dias a desenvolver-se.

O painel de especialistas confirmou, no entanto, que existem casos de doentes que tiveram Covid-19 sintomática mais de duas semanas depois da vacinação. Mas são raros e também não espantam o Sage porque, como as vacinas não são 100% eficazes, algumas pessoas não ficarão imunes à doença e, uma vez infetadas, podem desenvolver quadros clínicos mais sérios de Covid-19 que necessitem de apoio hospitalar, mesmo depois de totalmente vacinadas.

O que realmente deixou os conselheiros científicos britânicos em alerta foram outras duas questões. Por um lado, os cientistas consideraram que é “particularmente importante” monitorizar as variantes do SARS-CoV-2 que infetam os vacinados internados com Covid-19. O objetivo é despistar se aquela infeção ocorreu porque o doente não desenvolveu imunidade com a vacina; ou se foi causada por alguma nova estirpe capaz de escapar ao efeito da vacinação.

Depois, é igualmente importante sensibilizar a população para não baixar a guarda na proteção individual contra o coronavírus pouco antes ou logo depois da vacinação, uma vez que a falsa sensação de segurança pode ser o principal problema na origem de casos mais graves de Covid-19 entre os recém-vacinados: “A observação de que um número significativo de pessoas desenvolveu sintomas alguns dias após a primeira dose pode sugerir alguma mudança de comportamento após a vacinação e antes que a imunidade se desenvolva”, avisou o grupo.

O CDC olhou para os dados reportados em duas cadeias hospitalares norte-americanas, que incluem 24 hospitais em 14 estados, tanto na Rede de Eficácia da Vacina Contra a Gripe para Adultos Hospitalizados, como no programa de Eficácia Vacinal Contra a Gripe nos Doentes Críticos. Ambos foram adaptados pelas autoridades de saúde norte-americanas para acomodarem dados relativos à vacinação contra a Covid-19 "no mundo real".

Segundo o relatório do Sage, entre as pessoas vacinadas que foram internadas com Covid-19, o tempo médio que decorreu desde a vacinação e a data de início de sintomas foi de cinco dias. É um intervalo temporal tão curto que, na leitura dos peritos britânicos, isto significa que provavelmente estes indivíduos foram vacinados quando já estavam infetados ou então logo depois de serem imunizados. Nestes casos, os peritos apontam as culpas a “mudanças comportamentais em que [os paciente] assumiram erradamente que estavam imunes”.

Além disso, saber exatamente quem são os doentes internados pode ajudar a perceber se alguns deles já deveriam ter sido vacinados e, por opção própria, por exemplo, não o foram. Esse tem sido, aliás, um dos problemas detetados em Inglaterra: em Bolton, Manchester, que tem registado um aumento de novos casos nas últimas semanas, a maioria das pessoas internadas com Covid-19 no Royal Bolton Hospital eram elegíveis para apanhar uma vacina contra a Covid-19, mas não a tomaram. “Acho que a lição número 1 a tirar deste episódio é que, se for elegível, deve chegar-se à frente e tomar a vacina“, apelou Matt Hancock, secretário de Estado para a Saúde do governo de Boris Johnson.

Nos Estados Unidos, a responsabilidade de controlar quantos internados já foram vacinados é do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que já em abril dizia que os adultos com 65 anos ou mais totalmente vacinados com a Pfizer/BioNTech ou Moderna tiveram 94% menos probabilidade de serem hospitalizados do que as pessoas da mesma idade que não tinham sido vacinadas.

Para chegar a estas conclusões, o CDC olhou para os dados reportados em duas cadeias hospitalares norte-americanas, que incluem 24 hospitais em 14 estados, tanto na Rede de Eficácia da Vacina Contra a Gripe para Adultos Hospitalizados, como no programa de Eficácia Vacinal Contra a Gripe nos Doentes Críticos. Ambos foram adaptados pelas autoridades de saúde norte-americanas para acomodarem dados relativos à vacinação contra a Covid-19 “no mundo real”.

Em meados de abril, o CDC revelava à CNN que 5.800 norte-americanos completamente vacinados contra a Covid-19 foram infetados pelo SARS-CoV-2 — 0,0075% dos 77 milhões de cidadãos que já estavam completamente vacinados àquela época. Destes, 396 (7% dos vacinados infetados e 0,0005% das pessoas totalmente vacinadas) necessitaram de ser internados com a doença. Setenta e quatro delas não resistiram e perderam a vida. O CDC não só mantém uma base de dados com estas informações, fornecidas pelos investigadores dos departamentos de saúde de cada estado, como também está a apurar se existe algum padrão entre os vacinados contra a Covid-19 que justifique o desenvolvimento de quadros clínicos que obriguem ao internamento. Mas não encontrou nenhum até agora.

Em Espanha, são os serviços de Epidemiologia e Unidades de Covid-19 que confirmam ao ABC que alguns hospitais têm recebido “poucos casos” de pessoas vacinadas que desenvolvem a doença e necessitam de internamento — embora a maioria ainda não tenha registado casos desses. Nenhum desses doentes deu entrada nas unidades de cuidados intensivos. Mas os clínicos apelam às autoridades de saúde que mantenham as medidas de proteção individual.

Pere Domingo, coordenador da Unidade de Covid-19 no Hospital de Sant Pau de Barcelona, confirmou, no entanto, que o fenómeno não faz ecoar nenhum alarme entre os médicos: há quem precise de hospitalização mesmo com o esquema vacinal completo, inclusivamente após a imunização com a Pfizer/BioNTech (considerada a mais eficaz de todas as que estão disponíveis no mercado), mas não têm quadros clínicos graves.

Blanca Borràs, do Serviço de Medicina Preventiva e Epidemiologia do Hospital Vall d’Hebron, também em Barcelona, explicou que estes doentes costumam ser pessoas imunodeprimidas que não respondem bem à vacina — daí serem internados na mesma. Pere Domingo acrescenta que tipicamente apresentam “quadros de infeção respiratória e inflamação pulmonar”, mas que nunca evoluem para uma severidade que exija a entrada nos cuidados intensivos. Antoni Trilla, chefe do Serviço de Medicina Preventiva do Hospital Clínic (Barcelona) diz mesmo que o número de pessoas internadas que já tinham sido vacinadas “se encaixa na percentagem que escapa à efetividade da vacina”.

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