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André Ventura com o líder, do Vox, Santiago Abascal, durante as legislativas, em janeiro de 2022
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André Ventura com o líder, do Vox, Santiago Abascal, durante as legislativas, em janeiro de 2022

LUSA

André Ventura com o líder, do Vox, Santiago Abascal, durante as legislativas, em janeiro de 2022

LUSA

Dirigentes do Chega tiveram formação com dirigentes do Vox. Partidos têm projeto comum para chegar ao poder na Península Ibérica

O Chega está a aproveitar a experiência adquirida pelo Vox nos últimos anos para melhorar em diversas áreas. De reuniões a conversas, deputados e dirigentes mantêm contacto próximo e procuram ajuda.

A relação de proximidade entre o Chega e o Vox levou o partido liderado por André Ventura a procurar a experiência do partido-irmão em Espanha para obter ajuda para dirigentes e deputados, alguns deles com pouca experiência política no momento em que pisaram a Assembleia da República pela primeira vez.

Além das várias viagens feitas ao longo dos últimos anos por dirigentes do Chega a Espanha e vice-versa, o Observador sabe que entre as eleições que levaram doze deputados ao Parlamento e a tomada de posse, alguns membros do partido estiveram em Madrid a receber uma formação direcionada a várias áreas, ainda que num ambiente descontraído e com conversas informais.

Perante dois partidos cujo percurso e ideais se assemelham — e sendo o Chega o mais novo e com um percurso de afirmação similar ao do Vox há alguns anos –, André Ventura decidiu que seria importante levar uma comitiva a Espanha para adquirir conhecimento sobre a forma como o Chega pode lidar com os desafios de se tornar maior e as consequências adjacentes a esse crescimento exponencial.

Aprender a comunicar (e a chegar aos sindicatos) com o irmão Vox

O primeiro e principal objetivo da formação espanhola era claro: a comunicação. A presença nas redes sociais, a relação com a imprensa e a forma como o partido chega aos potenciais eleitores foram alguns dos temas discutidos. E foi o próprio Gabriel Ariza, responsável pela comunicação do partido espanhol, que esteve reunido com os dirigentes do Chega — o que, no entender do partido liderado por André Ventura, é a prova da dedicação dos espanhóis ao partido-irmão em Portugal.

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As reuniões em causa foram setoriais e um alto dirigente do partido confirma ao Observador que houve a intenção de discutir a forma como se podem alcançar os mais diversos grupos de trabalhadores para manter e fazer crescer o eleitorado — um processo que o Chega tem vindo a fazer, com aproximação de propostas específicas dirigidas a determinados setores, mas também com a tentativa de ocupar uma luta nas ruas que é muitas vezes vista como estando entregue só à esquerda.

Chega quer tomar conta da luta nas ruas e pondera movimento sindical para substituir a esquerda

Foi exatamente na política de proximidade que os dirigentes do Chega e Vox colocaram grande parte do foco destes encontros, pela necessidade de, tendo em conta os poucos anos do Chega, haver uma transmissão de mensagem sem muitos interlocutores (que não precise da comunicação social) e que levasse o partido a falar diretamente com as pessoas — uma ideia que se cruza com a necessidade que o partido sente de privilegiar a comunicação pelas redes sociais.

Além do Facebook, onde praticamente todos os deputados têm páginas em nome próprio em que fazem partilhas periódicas e onde há um grande investimento, nomeadamente de André Ventura, o Chega foi o primeiro partido a apostar em força no TikTok, já depois de marcar presença no Instagram — aliás, a área da comunicação foi uma das que saiu mais beneficiada com o crescimento do partido, com a contratação de várias pessoas e com foco na imagem como produto para chegar às pessoas.

Com um jornal online intitulado Folha Nacional e nas várias redes sociais, o Chega consegue que a sua mensagem chegue aos seus alvos com uma ausência total de um filtro entre quem partilha e quem recebe a informação. O partido consegue, desta forma, passar a mensagem que quer e como quer, longe da comunicação social, que tanto André Ventura como Santiago Abascal se queixam de deturpar as ideias dos partidos de direita populista.

“Falámos da importância de fazer uma política de proximidade, de mostrar às pessoas que não estamos fechados num gabinete e de manter uma atividade de rua não apenas nas campanhas, mas também fora das campanhas”, recorda um dos membros da direção que esteve presente nas reuniões em Espanha.

Por outro lado, também a aposta na juventude foi tida em conta nas reuniões e o Observador sabe que o Vox tem ajudado nas iniciativas da organização juvenil do Chega, nomeadamente com a presença de oradores em vários eventos — como aconteceu na Academia Política do Chega, que decorreu na Nazaré, e onde esteve o líder parlamentar do Vox, Ivan Espinosa de Los Monteros.

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Aos olhos de um dos deputados ouvidos pelo Observador, foi importante haver uma abordagem específica neste tema, para entender a “estratégia que tem sido levada a cabo pelo Vox para se aproximar dos jovens”, mas também “as semelhanças e as diferenças entre a participação política dos jovens em Portugal e Espanha”, o que levou a uma troca de ideias para iniciativas legislativas com base em problemas comuns.

Independentemente dos benefícios que a relação com o Vox possa ou não vir a trazer ao Chega, a ideia com que os dirigentes ficaram é unânime, com destaque para o “espírito de colaboração na persecução de objetivos comuns”, principalmente quando está em causa a defesa dos valores e tradições que os dois partidos têm como prioritária.

Prova disso é o facto de alguns deputados, sabe o Observador, continuarem a ter reuniões, algumas específicas e direcionadas para determinados temas, com parlamentares espanhóis que pertencem ao Vox, com o intuito de perceberem as políticas adotadas no país vizinho e a possibilidade de as mesmas serem replicadas em propostas na AR após serem adaptadas à realidade portuguesa.

André Ventura com o vice-presidente do Vox, Ivan Espinosa de los Monteros, na Academia de jovens do Chega em 2021

JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

“Chegar ao poder na Península Ibérica”

O Chega e o Vox têm uma história em comum, vão trocando experiências entre Portugal e Espanha, com comitivas a deslocarem-se a eventos de um e outro partido e sem pudor em estabelecerem objetivos em comum. Mas um dos dirigentes do Chega ouvidos pelo Observador não esconde que há ambições mais elevadas: “Queremos uma estratégia conjunta para chegar ao poder na Península Ibérica.”

É nesse pressuposto que assenta uma das maiores crenças desta relação: a possibilidade de um crescimento da direita nacionalista em Portugal e Espanha, mas também em conjunto, porque os dirigentes acreditam que a força de um partido pode ajudar à força do outro.

Aos olhos do Chega, o Vox é um exemplo a seguir, até pelas parecenças no percurso, mas acima de tudo pelas conquistas do partido nos últimos anos: desde a forma como utilizou um momento de crise para se catapultar eleitoralmente até à chegada a terceira força política. O Chega segue-lhe os passos e não ignora a experiência do país vizinho para montar a estratégia que tem dado frutos a nível nacional.

André Ventura tem feito questão de referir que existe uma “aliança firmada e consolidada” entre o Chega e o Vox, como fez na pré-campanha das eleições legislativas, num almoço com Santiago Abascal, presidente do partido nacionalista espanhol. Nessa altura, o líder do Vox, fazia uma visita relâmpago a Portugal só para estar presente no almoço-comício com Ventura e o líder do Chega tecia rasgados elogios e esticava a passadeira à continuidade da construção de um projeto comum.

“Provavelmente o que se passa em Portugal e Espanha, hoje, é único em toda a Europa. A capacidade que as forças de direita popular tiveram de se reorganizar, reconstruir e afastar a ideia de que o PP, em Espanha, e o PSD, em Portugal, eram partidos de direita foi o mais difícil de conseguir.” André Ventura aproveitava que Santiago Abascal estava sentado à sua frente para dar provas de que o Chega não só é um aliado e sim a aposta certeira para um trabalho em conjunto. Isto apesar de não pertencerem à mesma família política europeia: o Vox encontra-se nos Reformistas e Conservadores Europeus e o Chega (que não tem representação no Parlamento Europeu) tem como família europeia o partido Identidade e Democracia (onde está a extrema-direita de Le Pen e Salvini).

Já nessa altura, Ventura usava o trunfo da proximidade e recordava uma página de vida que parece longínqua (a passagem pelo PSD) para comparar percursos e para notar que em tudo faz sentido uma proximidade com Abascal. “Durante anos todos fomos enganados e eu e o Santiago temos isso em comum: viemos os dois dos principais partidos ditos de centro-direita em Portugal e Espanha.”

Mas “enganados” em quê? Também aí há semelhanças: Ventura lembra “a semelhança das causas, a luta pela identidade, pelas tradições e pela cultura” (ou seja, no conteúdo), mas também na forma se nota como Abascal e Ventura podiam bem calçar os sapatos um do outro. A maneira como falam, os gestos, a postura, o tom de voz elevado, o apontar de dedo são tudo características que têm em comum — estratégias que, aliás, são diversas vezes encontradas noutros líderes de partidos de direita populista.

E se é mais o que os une do que o que os separa, André Ventura também se identifica com Vox relativamente ao cordão sanitário a que diz que o partido está sujeito. Nesse mesmo almoço, dizia de viva voz que o “bloqueio” que fazem aos dois partidos é “absolutamente incrível” e que a aliança entre Chega e Vox “nasce para quebrar essa força”.

Mais do que isso, a aliança cresce com o foco no poder. Nem Ventura nem Abascal alguma vez esconderam esse objetivo. É nessa ambição dos dois partidos — que têm visto os cidadãos a premiarem-nos eleição após eleição — que assenta a ideia de “grande união” e “grande aliança” na Península Ibérica que permita levar a direita conservadora ao poder em Portugal e Espanha.

Quando, em setembro de 2021, os dois partidos assinaram a “Carta de Madrid”, o líder do Chega não escondia que se estava a firmar um acordo entre “dois partidos que querem ser Governo”, mas também que têm “objetivos internacionais claros”, com intenções de travar uma “uma luta civilizacional, cultural e ideológica” que começa nos respetivos países e se estende à União Europeia.

Um dos focos que Ventura vai deixando transparecer em alguns discursos estava ali bem claro, com a aposta numa “reformulação da Europa”, através daquilo que descreveu como “a luta contra o marxismo cultural, a separação de poderes que tantas vezes está ameaçada pelo socialismo, a luta contra a extrema-esquerda que quer asfixiar a economia”.

Chega e Vox deram esta sexta-feira primeiro passo na união de forças para uma “luta civilizacional”

A anexação, um problema sarado

A união entre o Vox e o Chega parece estar mais forte do que nunca, mas já passou por uma provação. Em outubro de 2021, o partido espanhol divulgou um cartaz em comemoração do Dia da Hispanidade e onde o território português surgia anexado a Espanha, bem como as ex-colónias.

A imagem da dinastia filipina, da altura em que Portugal foi anexado por Espanha, não demorou a ser amplamente partilhada nas redes sociais e o próprio André Ventura sentiu necessidade de pedir explicações sobre o sucedido.

A resposta veio de Santiago Abascal, que sublinhou a partilha como tratando-se apenas de um “facto histórico”, afastando a ideia de ambição de anexar Portugal e assegurando que o partido pretende transmitir uma “ideia de unidade”, sem qualquer desrespeito pela “soberania, história e cultura portuguesa”.

André Ventura não desconfiou das intenções e defendeu o parceiro depois de falar diretamente com o homólogo do Vox, realçando, numa conferência de imprensa, que a mensagem é aquela que fez questão de transmitir ao seu lado, na altura do encerramento da campanha, com a certeza de que “Portugal e Espanha são mais fortes, quando estão juntos, e não quando estão separados”.

É exatamente esse o espírito que Ventura e Abascal têm transmitido, tanto quando estão debaixo dos holofotes, como quando procuram uma estratégia comum delineada atrás das câmaras e que pretende dar força aos dois partidos e, consequentemente, às políticas aplicadas a cada país. Depois dos resultados das últimas eleições, tanto em Espanha como em Portugal, que deram o terceiro lugar aos partidos em causa, os dos líderes apontam agora para uma chegada ao poder.

 
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