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Rijkaard foi a primeira "unha de leão" de Jorge Gonçalves em 1988, antes de ser o técnico de Dias Ferreira em 2011
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Rijkaard foi a primeira "unha de leão" de Jorge Gonçalves em 1988, antes de ser o técnico de Dias Ferreira em 2011

Rijkaard foi a primeira "unha de leão" de Jorge Gonçalves em 1988, antes de ser o técnico de Dias Ferreira em 2011

Eleições no Sporting. As noites longas com esperas, assaltos e invasões

O Sporting terá as oitavas eleições com mais que uma lista. Conheça as histórias dos bastidores eleitorais desde 1984, o ano em que a democracia chegou ao clube de Alvalade, para o bem e para o mal.

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Se a democracia chegou a Portugal em 1974, os sócios do Sporting tiveram de esperar mais uma década por essa “dádiva”: em 1984, João Rocha e Marcelino de Brito disputaram as primeiras eleições com mais do que um candidato porque até aí quase todos os líderes saíam do Conselho Geral, do Conselho de Presidentes, do Conselho Leonino ou dos órgãos que os antecederam nessa função. Agora, Bruno de Carvalho e Pedro Madeira Rodrigues são os dois protagonistas do oitavo sufrágio com opção de escolha. A campanha tem sido dura? Sim. Mas acredite, é apenas um arrufozito a comparar com aquilo que o clube já viveu no passado.

Das perseguições, esperas e assaltos de madrugada, às promessas mirabolantes, passando pelas agressões e tentativas de invasões, houve um pouco de tudo. Até, imagine-se, um presidente que esteve um dia no cargo antes de resignar e passar a pasta. Aliás, coincidência ou não, foi aqui que tudo começou. 1973, o ano em que João Rocha chegou à presidência do Sporting da forma mais improvável que se poderia imaginar. A “culpa”, no limite, foi de… Marcelo Caetano.

Em 1973, entendeu-se que Orlando Valadão Chagas deveria ser candidato em março. Único. Foi. Ganhou. E foi presidente um dia porque no seguinte demitiu-se: aceitou ser secretário de Estado da Juventude e Desportos de Marcelo Caetano.

Guilherme Brás Medeiros já mostrava há muito sinais de desgaste e pedira ao Conselho Leonino do Sporting para encontrar um outro elenco diretivo, cansado das críticas dos sócios e adeptos. Assim, e em janeiro de 1973, foi criada uma Comissão Delegada (mais uma Comissão, acrescente-se…) com o intuito de estudar a melhor solução para o futuro do clube. Contas feitas, após avanços e recuos, entendeu-se que Orlando Valadão Chagas deveria ser candidato em março. Único. Foi. Ganhou. E no dia a seguir demitiu-se: aceitou ser secretário de Estado da Juventude e Desportos de Marcelo Caetano. Manuel Nazareth, que entrara na lista como vice, subiu a número 1, mas apenas para assegurar o período de transição até o Conselho Leonino encontrar outro líder, que seria João Rocha. O “eterno presidente” assumiu o cargo em setembro de 1973 e apenas em 1984 teria oposição aberta no sufrágio, com Marcelino de Brito a apresentar uma lista contra si.

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1984. Um hotel, 220 mil contos e muitos nomes

Os sócios do Sporting andaram agitados com a campanha eleitoral de 1984. Mais não fosse, pela novidade – nunca tinham vivido uma situação assim. João Rocha partia como favorito no sufrágio, até por ter mais de uma década de trabalho para mostrar. Por isso, o empresário não estava a preocupar-se muito até que Marcelino de Brito começou a largar cartadas para ganhar votos. Inicialmente, prometeu construir um hotel junto ao estádio para que a equipa estagiasse antes dos jogos; depois, voltou-se para o futebol. E choveram nomes.

Arthur Cox, técnico inglês que tinha conseguido a promoção do Newcastle United ao primeiro escalão, era o escolhido para o comando técnico. Reforços? Para início de conversa, cinco: Craig Johnston, médio sul-africano que ganhara três campeonatos pelo Liverpool; Nico Claesen, avançado belga que brilhara no RFC Seraing; Jorge da Silva, dianteiro internacional uruguaio que estava no Valladolid; e a dupla Serra-Dito, na altura no Sp. Braga. Para o caso de não chegar, outra novidade – teria 220 mil contos para resolver os problemas do clube.

Marcelino de Brito prometeu 220 mil contos para salvar o Sporting. João Rocha reagiu e, numa jogada de mestre, disse alto e bom som que, se o adversário mostrasse o dinheiro, sairia da corrida e seria seu apoiante – algo que nunca aconteceu. 

Foi nesta altura que João Rocha reagiu e, numa jogada de mestre, disse alto e bom som que, se o adversário mostrasse os 220 mil contos, sairia da corrida e seria seu apoiante – algo que nunca aconteceu. Ao mesmo tempo, chegou a acordo com o galês John Toschak (grande jogador do Liverpool que na altura comandara o Swansea) e garantiu Jaime Pacheco ao FC Porto (ainda tentaria Sousa, com sucesso, e João Pinto, aqui de forma inglória). O empresário não tardou a dissipar as dúvidas em relação a quem ganharia aquelas eleições, sendo que conseguia na altura “absorver” quase todas as camadas do eleitorado, dos mais jovens (recorde-se que os seus filhos foram fundadores da claque Juventude Leonina) aos de maior antiguidade.

No dia das eleições, os resultados foram conhecidos apenas às seis da manhã, sendo que depois da meia-noite ainda havia muita gente a votar. O Diário Popular tem até um pormenor interessante de reportagem – as filas para exercer o direito de voto só diminuíam à hora em que a RTP estava a transmitir a telenovela. A 29 de Junho de 1984, 10.422 associados deram um voto de confiança grande a João Rocha: 82,4%. O reinado estava para continuar.

1988. Perseguições, assaltos e as unhas do Bigodes

Jorge Gonçalves era despachante alfandegário e dava nas vistas pelo bigode farto, que funcionou como símbolo da campanha eleitoral de 1988. O Sporting tinha perdido a maior referência enquanto líder (João Rocha) e Amado Freitas não conseguira agarrar no clube, que estava mal em termos desportivos e financeiros. Havia um certo desânimo entre os sócios com o rumo tomado e Gonçalves capitalizou esse estado de espírito com uma frase: “Tenho o sangue verde dos sócios contra o sangue azul dos camarotes”.

Esta foi a primeira vez que alguém decidiu desafiar uma espécie de linhagem dinástica que o Sporting teve. E a campanha acabou por refletir isso mesmo. Andava tudo de coração na boca e sangue na guelra. Junho de 1988 não foi quente, escaldou. Em algumas noites, ardeu: António Figueiredo, o coronel “eleito” internamente, foi um dia perseguido após um jogo por uma série de apoiantes de Jorge Gonçalves que lhe fizeram uma espera junto ao carro. Mais tarde, soube-se também que elementos ligados às duas candidaturas foram presos e levados para a esquadra de Telheiras, de madrugada, por terem tentado roubar os dados dos sócios que estavam na sede. António Simões, gerente do Brás&Brás que se tinha predisposto a colocar 600 mil contos no clube, era a terceira via. E acabou mesmo por ficar à frente de António Figueiredo.

António Figueiredo, o coronel "eleito" internamente, foi um dia perseguido após um jogo por uma série de apoiantes de Jorge Gonçalves que lhe fizeram uma espera junto ao carro. Mais tarde, soube-se também que elementos ligados às duas candidaturas foram presos e levados para a esquadra de Telheiras de madrugada por terem tentado roubar os dados dos sócios que estavam na sede.

O Sporting estava em ponto de rebuçado para mudar e Jorge Gonçalves deu aos sócios os rebuçados em falta para essa viragem. Chamou-lhe “as unhas de leão”. Já depois de ter trazido Frank Rijkaard a Lisboa – estamos a falar na altura de uma das maiores promessas do Ajax –, foi continuando a lançar nomes e nomes: os médios Douglas (internacional brasileiro com passagens por Cruzeiro e Portuguesa), Silas (internacional brasileiro do São Paulo), Darío Siviski (internacional argentino do San Lorenzo) e Carlos Manuel (que tinha saído do Benfica para o Sion), além do guarda-redes Rodolfo Rodríguez (internacional uruguaio do Santos) e do avançado Eskilsson (sueco do Hammarby). Sobre o treinador, nenhuma palavra. Mas todos sabiam que António Morais teria os dias contados, pela preferência que tinha por Manuel José (antes ainda veio Pedro Rocha mas o uruguaio acabou por não durar muito tempo em Alvalade).

A 24 de junho de 1988, as filas para o pavilhão tinham centenas e centenas de metros. Todos os caminhos iam dar a Alvalade, dentro daquele espírito de carolice em que muita gente ia buscar os amigos a casa para votarem. Não havia desculpas. Essa seria mesmo a maior votação de sempre a nível de associados: 17.093 sócios exerceram o direito de voto até depois da meia-noite. Mais uma vez, os resultados só foram conhecidos a altas horas da madrugada. E os 72,3% de Jorge Gonçalves não deixaram dúvidas. Pelo menos, durante um ano…

1989. O banho do “Rei das Águas”

Jorge Gonçalves entrou numa espécie de lei de Murphy onde tudo o que podia ter corrido mal correu pior ainda: no futebol, nas modalidades ou nas finanças, o Sporting viu-se mergulhado numa grave crise que, após a demissão em bloco da direção, obrigou a Assembleia Geral a convocar novas eleições apenas um ano depois. Em 1984 tinham sido dois candidatos; em 1988, três; agora, foram a votos quatro listas… incluindo o próprio Jorge Gonçalves e um vice-presidente do seu elenco, Miguel Catela, que teria pouco mais de 1%.

António Simões voltou a apresentar-se a sufrágio, mas várias personalidades do clube de diferentes áreas (política, economia, sociedade etc.) juntaram-se como se fossem quase um Conselho Leonino de antigamente para escolherem um candidato mais abrangente. Muitos nomes foram ventilados nas (pouco) conhecidas reuniões na Fundação Oriente, por exemplo, até que Sousa Cintra avançou (antes falara-se de Pedro Santana Lopes, Carlos Monjardino e Reymão Nogueira, entre outros), ganhando de forma tranquila.

Em 1989, muitos nomes foram ventilados nas (pouco) conhecidas reuniões na Fundação Oriente, por exemplo, até que Sousa Cintra avançou (antes falara-se de Pedro Santana Lopes, Carlos Monjardino e Reymão Nogueira, entre outros), ganhando de forma tranquila. 

Foram feitas algumas promessas, falou-se de jogadores, mas a campanha foi relativamente calma a partir do momento em que o “Rei das Águas” se atravessou com a fortuna pessoal, em caso de necessidade, e ninguém contestou essa intenção. Em paralelo, Cintra garantiu que Figo e Peixe, dois dos maiores talentos da formação, não iriam para o Benfica. E não foram. Afinal, ele tinha o perfil certo: um misto de populismo (para apanhar o eleitorado que tinha votado Gonçalves em 1988, quebrando a série de “eleitos”) e provas dadas (pela vida empresarial).

A 23 de Junho de 1989 a invasão a Alvalade foi quase tão grande como no ano anterior (15.299 votantes) e Sousa Cintra venceu por larga margem (65%). O Sporting entraria então num período de maior acalmia eleitoral e nos sete atos seguintes só uma lista foi a sufrágio.

2006. E, de repente, os números e o património

Os sócios só voltariam a ser chamados às urnas para escolherem entre mais do que um candidato em 2006, altura em que a grande discussão era entre Dias da Cunha, presidente até outubro de 2005, e Soares Franco, que deveria ocupar o cargo até às eleições, mas decidiu recandidatar-se às mesmas, contrariando a vontade do antigo líder em proporcionar a Ernesto Ferreira da Silva esse estatuto.

Em 2006, o universo verde e branco estava remetido a uma realidade onde já não se falava de jogadores e treinadores, mas sim de números e património. 

O universo verde e branco estava remetido a uma realidade onde já não se falava de jogadores e treinadores, mas sim de números e património. Antes, Pedro Santana Lopes, José Roquette e Dias da Cunha tinham sido presidentes por eleição com lista única e/ou cooptação.

Filipe Soares Franco defendia que o Sporting deveria fazer uma reestruturação financeira tendo como base a venda do património não desportivo (Alvaláxia, Holmes Place, clínica CUF e edifício Visconde de Alvalade), que renderia um valor a rondar os 50 milhões para abater dívida e melhorar as taxas de juro. Já Abrantes Mendes, desde sempre contra aquilo que se intitulou o “Projeto Roquette”, argumentava que o objetivo do adversário era transformar o Sporting num clube só de futebol, ao mesmo tempo que se rodeava de figuras carismáticas como Manuel Fernandes Jordão ou Oceano. Pelo meio, a equipa liderada por Paulo Bento, que rendera José Peseiro logo à sétima jornada, ganhava jogos de forma consecutiva. O título era uma possibilidade real. E isso, mesmo não se confirmando no final da época, também teve uma relevância grande no escrutínio.

A 28 de abril de 2006 a afluência ficou um pouco aquém das expectativas, mas Soares Franco conseguiu uma vitória esmagadora com 74,2%, contra 25,3% de Abrantes Mendes e 0,5% de Guilherme Lemos, um desconhecido que não teve a mínima hipótese de aparecer.

2009. Bento forever, Eriksson… never

O tabu de Soares Franco prolongou-se durante meses, mas o líder acabou por anunciar a saída do clube em 2009. Todos sabiam que, quem saísse desse nicho do eleitorado seria de certeza o futuro presidente, até porque o futebol do Sporting com Paulo Bento, mesmo sem ganhar o campeonato, ia todos os anos à Champions e conquistara duas taças e outras tantas supertaças. Por isso, muitos foram aqueles que se perfilaram para avançar nos bastidores. Pedro Pinto Souto e Dias Ferreira ainda anunciaram a intenção publicamente, mas acabaram por cair. Outros, como Rogério Alves ou Ernesto Ferreira da Silva, nem a esse patamar chegaram. E foi assim que apareceu José Eduardo Bettencourt, a figura conciliadora que se chegou à frente.

Bettencourt conseguia não só garantir a continuidade do trabalho feito até então – até por ter estado na equipa da SAD no último campeonato, em 2002 –, mas também chegar a uma franja do universo verde e branco a que Soares Franco, por exemplo, não conseguia: todos reconheciam ser um fervoroso adepto do clube, daqueles que vai de cachecol para os estádios e que seguia de quando em vez as modalidades. Nem o facto de assumir que seria o primeiro presidente remunerado lhe tirou votos, também porque tinha “Paulo Bento forever”.

Nem o facto de assumir que seria o primeiro presidente remunerado tirou votos a José Eduardo Bettencourt, também porque tinha “Paulo Bento forever”.

Do outro lado surgiu uma figura conhecida da sociedade ,mas não pela ligação ao Sporting: Paulo Pereira Cristóvão, antigo inspetor da PJ que tinha estado envolvido no “caso Joana”. Com uma lista jovem mas com algumas ideias, tentou combater aquilo que seria uma corrida desigual com uma postura séria, credível e de aproximação aos sócios. Como Bettencourt sempre se recusou a fazer um debate, tinha de aproveitar as entrevistas que ia dando para ir mostrando qualquer coisa de novo. Ainda assim, todas as sondagens continuavam a dar larga vantagem ao adversário.

Arriscou… e piorou tudo: ao anunciar Sven-Goran Eriksson como treinador, gerou-se uma novela estéril sem razão durante dois dias, com a imprensa a colocar em causa esse acordo, quando Cristóvão tinha fotografias da assinatura de contrato com o sueco. Isso prejudicou-o. Tanto como a possibilidade de contratar Nedved, Miccoli ou Juninho Pernambucano, como surgiu nos jornais na véspera do sufrágio.

A 5 de junho de 2009, José Eduardo Bettencourt venceu de forma esmagadora com 90,4% dos votos, entre um eleitorado de 11.360 votantes, numa noite estranhamente calma em Alvalade e que terminou com o novo presidente a saltar de cachecol nas mãos no auditório Artur Agostinho e Paulo Pereira Cristóvão a dizer que “Bettencourt era o presidente de todos os sportinguistas”.

2011. Cinco treinadores, 25 jogadores e uma noite de horror

Bettencourt durou apenas um ano e meio na presidência do Sporting. Falhou, em toda a linha: desportiva, financeira, de militância. Tudo correu mal e em janeiro de 2011 demitiu-se, tendo sido marcadas eleições para março. Não havia nenhum paradigma que não estivesse em causa nesta altura. O “Projeto Roquette”, acima de todos. Era um momento vital no Sporting.

Em 2011, os sócios teriam de escolher entre cinco nomes. Cada um com o seu treinador, os seus jogadores e as suas promessas – o clube tinha regredido aos anos 80, numa espécie de 'Vale Tudo' sem mãos nem ringue. E, para ajudar à festa, foi nesta campanha que se realizaram os primeiros debates entre candidatos.

Entre as candidaturas prometidas, ameaçadas e confirmadas, os sócios verde e brancos teriam de escolher entre cinco nomes. Cada um com o seu treinador, os seus jogadores e as suas promessas – o clube tinha regredido aos anos 80, numa espécie de Vale Tudo sem mãos nem ringue. E para ajudar à festa, foi nesta campanha que se realizaram os primeiros debates entre candidatos, algo que seria a chave para bipolarizar a luta entre Godinho Lopes, antigo dirigente do Sporting, e Bruno de Carvalho, jovem desconhecido que tinha estado no hóquei do clube. Mas vamos por partes, vale a pena: quer ver o plantel nunca chegou a ser?

Godinho Lopes conseguiu juntar várias personalidades na sua lista, entendendo que esta seria a única forma de dar uma segunda vida ao trabalho que tinha começado em 1995. Assim, foi com alguma surpresa que Carlos Barbosa, Paulo Pereira Cristóvão, Nobre Guedes e Rogério Alves, entre outros, formaram equipa com o apoio também de José Maria Ricciardi. As cartadas, essas, foram lançadas logo na apresentação – Luís Duque e Carlos Freitas ficariam com o futebol. O treinador nunca chegou a ser anunciado durante a campanha, mas todos percebiam que estava escolhido (Domingos Paciência) e que só não saíra oficialmente cá para fora porque liderava na altura o Sp. Braga. Nélson, Beto, Vidigal e Manuel Fernandes também regressariam a Alvalade. Jogadores? Falou-se de oito: Garay (central do Real Madrid), Rodríguez (central do Sp. Braga), Alex Silva (central do São Paulo), Wendt (lateral do Copenhaga), Zahavi (extremo do Hapoel), Jô (avançado do Manchester City), Hugo Almeida (avançado do Besiktas)e Bobô (avançado também do Besiktas). Como dizia Duque, “havia cheque e vassoura” para mudar o futebol.

Bruno de Carvalho foi a grande surpresa da campanha, com dois momentos-chave que o catapultaram como principal adversário de Godinho Lopes: o primeiro debate entre todos os candidatos, onde brilhou de forma intensa; e uma sondagem feita por um jornal desportivo em dia de jogo em Alvalade, que o colocou colado ao antigo vice-presidente. Depois de apresentar investidores russos para um fundo de 50 milhões (que proporcionaram imensas notícias, a maioria delas numa ótica negativa, mesmo depois de ter mostrado quem eram e o que faziam numa conferência em Moscovo), escolheu os ex-campeões Inácio e Virgílio para o futebol, que seria comandado pelo holandês Marco Van Basten. De jogadores, apenas três nomes vieram para a imprensa: Breno (central do Bayern), Vágner Love (avançado do CSKA Moscovo) e um tal de Bruno César, médio do Corinthians que está hoje no plantel.

Dias Ferreira também apostou forte no futebol, escolhendo Futre para diretor desportivo. Ainda hoje a conferência de imprensa de apresentação do antigo jogador é recordada, num dos episódios mais surreais da campanha. Frank Rijkaard seria o treinador, numa linha da escola holandesa e do Barcelona (aquela com a qual as pessoas do Sporting mais se identificam ainda hoje na teoria, verdade seja dita), e os jogadores referenciados eram pelo menos 12, apresentados por Futre com currículo, situação contratual e, em alguns casos, passaporte: Stekelenburg (guarda-redes do Ajax), Breno (central do Bayern), Taiwo (lateral do Marselha), Wendt (lateral do Copenhaga), Drenthe (ala do Hércules), Donadel (médio da Fiorentina), Trochowski (médio do Hamburgo), Pedro Léon (extremo do Real Madrid), Elia (extremo do Hamburgo), Canales (médio ofensivo do Real Madrid), Bojan (avançado do Barcelona) e Bryan Ruíz, avançado que também está hoje às ordens de Jorge Jesus e que na altura jogava no Twente. Além disso, havia o célebre jogador chinês, o melhor da atualidade, que iria trazer charters para Alvalade (muita gente se riu da ideia, mas a verdade é que fazia sentido…).

Pedro Baltazar, ao contrário de Bruno de Carvalho, perdeu espaço após o primeiro debate. Ainda assim, o maior investidor da SAD na altura não se coibiu também de apresentar o novo elenco para o futebol, com José Couceiro na estrutura e Zico como treinador. Possíveis reforços seriam quatro: Santon (defesa do Inter), Pedro Léon (extremo do Real Madrid), Adriano (avançado da Roma) e Quaresma, a grande aposta, então no Besiktas.

Por fim, Sérgio Abrantes Mendes acabou por ser secundarizado pela postura nos debates, onde nunca quis entrar em discussões “em nome da verdade e contra o populismo”. Além de contar também com Couceiro para o futebol, via em Dunga o melhor treinador para recuperar o Sporting – apesar de ter conseguido entrar em contacto indireto com Marcelo Lippi, sem sucesso – e apontava a dois avançados em caso de triunfo: Klose (Bayern) e Elmander (Bolton).

A noite eleitoral de 26 de março de 2011 ficou perpetuada como um dos momentos mais negros da história verde e branca. Depois de um dia onde houve alguns momentos de tensão entre listas e apoiantes, a sondagem à boca das urnas apresentada pelo jornal Record pouco depois das 20h00 deixou tudo e todos em alerta: Bruno de Carvalho seria o próximo presidente do Sporting.

A altas horas da madrugada, Godinho Lopes era dado como vencedor. Mas, ao mesmo tempo, Eduardo Barroso, da lista de Bruno de Carvalho, tinha ganho a Assembleia Geral. Gerou-se a confusão. A informação, que começou desde logo a correr em todo o lado, foi uma espécie de gatilho para episódios de violência.

No entanto, e numa observação mais atenta, percebia-se que a diferença era de 0,2%, o que numa sondagem deve corresponder a empate técnico. Centenas de pessoas apoiantes do gestor começaram a juntar-se no interior e no exterior do hall VIP gritando “Acabou-se o tacho!”, enquanto nos camarotes disponibilizados para cada candidatura havia um ambiente de cortar à faca. Aos jornalistas chegava a informação de uma vitória de Bruno de Carvalho por cerca de 400 votos.

A altas horas da madrugada, Godinho Lopes era dado como vencedor. Mas ao mesmo tempo, Eduardo Barroso, da lista de Bruno de Carvalho, tinha ganho a Assembleia Geral. Gerou-se a confusão. A informação, que começou desde logo a correr em todo o lado, foi uma espécie de gatilho para episódios de violência.

Quando o novo presidente, escoltado por dezenas de polícias e seguranças, tentou ir ao palanque discursar, houve tentativas de invasão e agressões entre associados. Choveram pedras e garrafas. E Godinho Lopes teve de refugiar-se de novo no estádio, com Bruno de Carvalho a vir ao exterior pedir calma aos apoiantes. O líder não tinha tomado posse e já muitos pediam a sua demissão. O ato ainda foi alvo de uma providência cautelar, mas não havia nada a fazer. Ainda hoje são muitos aqueles que não acreditam na transparência do sufrágio, sobretudo pelas cerca de 400 pessoas que pagaram quotas no dia, não passando pela zona de controlo onde passaram os 14.619 votantes. Mas o que nasceu torto nunca se endireitou.

2013. Os votos ensopados e os carimbos de restaurante

Quase dois anos depois, o Sporting estava novamente mergulhado numa grave crise diretiva, além da pior prestação de sempre no campeonato. Já tinham entrado e saído dirigentes, técnicos e jogadores. Os resultados da SAD eram constantemente negativos, aos largos milhões. Uma confusão autêntica, adensada pelas acusações de golpe de Estado da Direção a Daniel Sampaio, vice-presidente da Assembleia Geral (que recebeu elementos das claques num escritório no Saldanha é um facto). Até que Godinho Lopes, no rescaldo de uma novela à volta de uma assembleia geral extraordinária, acabou por demitir-se.

Quase dois anos depois, o Sporting estava novamente mergulhado numa grave crise diretiva, além da pior prestação de sempre no campeonato. Já tinham entrado e saído dirigentes, técnicos e jogadores. Os resultados da SAD eram constantemente negativos, aos largos milhões. Uma confusão autêntica.

Bruno de Carvalho, como seria natural, voltou a avançar. Carlos Severino, ex-jornalista que tinha sido diretor de comunicação do Sporting, também o fez. Faltava o “outro” – e foram várias as tentativas. De Luís Figo a Rogério Alves, muitas personalidades foram sondadas para avançar com uma candidatura, tendo a garantia do apoio da banca nessa ação. José Couceiro, antigo treinador e diretor do futebol, chegou-se à frente. E foi um combate renhido.

Bruno de Carvalho manteve a estrutura para o futebol, mas adotou uma postura bem mais contida ao longo da campanha, como se percebeu na questão do treinador: mesmo sabendo que Jesualdo Ferreira, na altura técnico dos leões, não seria para continuar, defendeu sempre a estabilidade da equipa e não falou de qualquer nome. A sua prioridade era, sobretudo, mostrar que tinha um plano para resgatar o Sporting sem necessidade de enveredar por um PER (Processo Especial de Revitalização) que poderia afastar o clube das competições europeias pelo menos uma época.

Já José Couceiro foi defendendo que teria o cariz certo para assumir a liderança, porque o futebol devia estar entregue às pessoas que por lá tinham andado, um pouco à semelhança do modelo do Bayern. Em paralelo, e para não ser visto como “a continuidade”, assegurou que ninguém da SAD iria transitar para um novo mandato, ao mesmo tempo que mostrou abertura para a entrada de investidores, mesmo se o clube, no limite, perdesse a maioria do capital.

Na estreia do voto eletrónico e do voto por correspondência, a 23 de março de 2013, nem tudo correu bem e, mais uma vez, teve de esperar-se pelas duas da manhã (já depois de uns pequenos incidentes em redor do estádio) para se saber o vencedor. Razões? Apesar de ser fácil saber em dez minutos os resultados do voto eletrónico, os votos por correspondência só começaram a ser contados após o fecho das urnas e com um cuidado extra, além do reconhecimento de assinaturas de notário ou advogado – uma inundação nos correios tinha deixado em muito mau estado os envelopes. Curiosidades: havia votos com carimbos, por exemplo, de restaurantes; e 400 duplicações, de pessoas que votaram por envelope e de forma presencial.

A noite acabou com Bruno de Carvalho a ouvir no auditório Artur Agostinho que era o novo presidente e a sair para a rua, junto dos seus apoiantes, gritando “O Sporting é nosso outra vez!”. A festa, com algumas tochas à mistura, durou até depois das cinco da manhã.

2017. Uma luta inquinada que teve direito a imitações

O primeiro mandato de Bruno de Carvalho teve o condão de esvaziar possíveis focos de contestação que assumissem o risco de ir a votos contra si sabendo que era uma luta complicada de travar. Ainda houve muitas conversas entre mais pessoas do que na altura se poderia pensar mas acabou por ser Pedro Madeira Rodrigues, gestor que deixou então a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa para concorrer, a surgir como candidato frente ao então número 1 do Sporting.

Eleições no Sporting. Eles só têm uma tríade em comum: Oliveira-Jordão-Manel

Com uma estrutura nova para o futebol pronta para entrar em caso de triunfo, com Juande Ramos no lugar de Jorge Jesus, Laszlo Bölöni como coordenador geral e Delfim como team manager, Madeira Rodrigues foi tentando passar a ideia de que era possível fazer tanto ou mais ainda assente num outro estilo de liderança, com menos guerrilha e veia bélica, mas Bruno de Carvalho, escudado também pelas promessas cumpridas como a reestruturação financeira, a criação da Sporting TV, o Pavilhão João Rocha ou aumento do número de associados, esteve sempre na frente, imagem que se adensou no único debate entre ambos que aconteceu na Sporting TV. Mais tarde, o líder entretanto destituído chegou a fazer uma “imitação” do adversário.

Os últimos dias tiveram algumas trocas de acusações mais graves, mas as eleições ratificaram de forma inequívoca a continuidade de Bruno de Carvalho, que venceu com um total de 86,13% contra apenas 9,49% de Madeira Rodrigues.

Artigo atualizado a 7 de setembro de 2018, antes do dia de novas eleições do Sporting

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