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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Engenheiro mecânico é a vítima mortal da explosão na Omnidea. "Quando estamos a explorar tecnologia de fronteira, pode haver acidentes"

Empresa estava a realizar testes de pressão com recurso a gases, mas algo correu mal numa quinta-feira de muito calor. A Faculdade de Ciências garante que regras de segurança eram "seguidas".

Nuno Gonçalves ouviu “um grande estrondo” por volta das 13h. Dono de um picadeiro próximo do campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova, no Monte da Caparica, em Almada, Nuno correu para o local assim que ouviu a explosão, juntamente com o trabalhador de umas obras ali próximas. Foi das primeiras pessoas a chegar ao edifício da Omnidea e conta que encontrou o funcionário deitado na estrada, ainda com sinais de vida. Os meios de socorro chegaram alguns minutos depois — mas já era tarde. Ainda ninguém consegue explicar o que correu mal.

Apesar de o perímetro dos campus da FCT ser, nesta zona de descampado, delimitado por uma cerca, existe um espaço (junto ao picadeiro) em que não se vislumbra qualquer barreira física. Depois de uma caminhada de não mais de 50 metros por um caminho de terra batida, é possível chegar muito perto da zona onde tudo aconteceu.

Num espaço amplo, com um parque de estacionamento ao lado, ergue-se um edifício (o Ydreams) onde funcionam duas empresas — a A2it e a Omnidea, esta última dedicada à área aeroespacial. Trata-se de uma empresa portuguesa, que desenvolve tecnologia aeroespecial e que se instalou no campus da Universidade Nova há cerca de três anos.

Jovem engenheiro mecânico conduzia testes com gás num dia de calor

A explosão ocorreu, não no edifício principal, mas num contentor montado a poucos metros da Omnidea e que era utilizado pelos trabalhadores mais especializados para realizar testes de pressão com vários gases e produtos químicos, segundo apurou o Observador no local. Algo terá corrido mal esta manhã, mas ninguém sabe exatamente o quê.

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A explosão, ouvida a várias centenas de metros de distância, provocou a morte ao funcionário da Omnidea — um engenheiro mecânico, que tinha ingressado na empresa há quase três anos, apurou o Observador — e que estava a realizar os testes num dia de muito calor. O jovem, de 25 anos, encontrava-se fora do contentor, garantem Sérgio (que não quis indicar o apelido) e Nuno Gonçalves.

  • Perímetro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova
  • Complexo onde se encontra o edifício YDreams e, à esquerda, o local onde ocorreu a explosão

Quando os dois homens chegaram ao local, o jovem que acabou por morrer ainda tinha pulsação — que acabou por se desvanecer antes da chegada da equipa do INEM. “Quando chegámos, já lá estavam as pessoas dos escritórios, e o homem estava deitado no meio da estrada, com uma ferida muito grande nas costas. Não estava dentro do contentor, porque o contentor ficou todo destruído”, diz Nuno Gonçalves, acrescentando que o jovem foi “cuspido para a estrada”.

Os primeiros socorros, conta a testemunha, foram prestados por um trabalhador do edifício Ydreams e incluíram manobras de reanimação, inclusive com recurso a “respiração boca a boca”. Nuno Gonçalves conta que a equipa do INEM demorou 15 minutos a chegar. “Quando chegaram, já não tinha pulso”, diz Sérgio, que ajudou o funcionário da Ydreams que prestou os primeiros cuidados ao jovem. O homem, de meia idade, conta que, ainda antes da chegada do INEM, o jovem “tinha pulso”, embora irregular. “Quando o segurava, reparei que tinha pulso, que subiu rapidamente e depois começou a descer”, conta Sérgio.

Quando o Observador esteve próximo do local, cerca das 15h30, o corpo da vítima mortal já se encontrava coberto, mas ainda não tinha sido recolhido pela equipa do Instituto Nacional de Medicina Legal de Lisboa, que entretanto também já tinha respondido à chamada. No local, estava ainda a Guarda Nacional Republicana, mas já não se vislumbrava a presença do INEM. Aliás, a Brigada de Minas e Armadilhas da GNR foi de imediato destacada para a FCT assim que foi dado o alerta.

“Quando estamos a explorar tecnologia de fronteira, pode haver acidentes”

O edifício da Ydreams, junto ao qual ocorreu a explosão, encontra-se numa área periférica do campus, no limite sul do perímetro — o que permitiu que as atividades da faculdade (que alberga mais de oito mil estudantes e onde, por esta altura, decorre o período de exames) continuassem com a normalidade possível. Na entrada principal da FCT, o Observador abordou um grupo de jovens, que já tinham sabido da explosão, mas não se tinham apercebido do incidente.

Para além da morte de um homem de 25 anos, avançada inicialmente pela Proteção Civil e confirmada pela Universidade Nova, a explosão provocou ainda outros dois feridos, segundo informação prestada pela Universidade Nova. Um deles um homem, que deu entrada cerca de uma hora depois da explosão no serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta, confirmou ao Observador fonte oficial daquela unidade hospitalar. Ao que Observador apurou, era um funcionário da Omnidea que terá ficado em choque com a situação e com a morte do colega e que precisou de receber cuidados hospitalares. Quanto ao outro ferido, não existe informação detalhada.

Testes de pressão decorriam num contentor, fora do edificio da empresa Omnidea

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Mas o que terá falhado, nomeadamente no que diz respeito às normas de segurança utilizadas nos testes, para levar a uma explosão como esta?

Ao Observador, um especialista da área aeroespacial explica que a Omnidea estaria provavelmente a desenvolver testes com gases em estado líquido, em “reservatórios de alta pressão”, com o objetivo de testar a propulsão de foguetões. “Normalmente são explosões controladas, mas quando estamos a explorar tecnologia de fronteira, pode haver acidentes”, reconhece, dando o exemplo da Space X, que teve de enfrentar vários explosões durante o lançamento de foguetões.

Faculdade admite que sabia da utilização de gases no campus, mas garante que havia segurança

Aos jornalistas, o Diretor do Conselho Científico da FCT explicou que as empresas instaladas no campus “exercem [atividade] de forma independente” e “têm de garantir todos os protocolos de segurança relativos à atividade que exercem”. Essa parte não é da responsabilidade da faculdade, diz José Paulo Santos, uma vez que se trata de “atividades empresariais”.

Já no que diz respeito ao plano de segurança geral do campus, o responsável da FCT assegurou que foi posto em prática depois do incidente e foram tomadas as “devidas precauções”. José Paulo Santos acrescentou que a faculdade ainda está a averiguar que procedimentos vai adotar em resposta ao incidente. No entanto, adiantou, já está a decorrer um inquérito judicial.

José Paulo Santos garantiu que a FCT estava informada da utilização de gases e de produtos químicos no campus e que visitou as instalações da Omnidea, tendo verificado que “os princípios de segurança estavam a ser seguidos”. Na sequência da explosão, e de acordo com a informação da Proteção Civil, foram destacados 50 operacionais e oito viaturas dos bombeiros, além de viaturas do INEM.

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