O candidato da CDU, o mais formal desta campanha. Nunca foge ao protocolo, não arrisca momentos de falso divertimento montados para a televisão e dedica-se só a distribuir panfletos e a divulgar a mensagem que tem para passar àqueles que vai encontrando na rua. Esta quarta-feira, de regresso à Grande Lisboa para uma arruada na Baixa da Banheira, João Ferreira teve o seu “momento Marcelo”, com pedidos de selfies e beijinhos pela rua, após uma receção calorosa pelos apoiantes da CDU no concelho da Moita (cuja autarquia é liderada pela coligação). À tarde, recebeu a companhia do líder parlamentar do PCP, João Oliveira, que desvalorizou as sondagens e assegurou que o principal é eleger os deputados e não comparar percentagem.
Na margem sul, perto do local onde funcionará o aeroporto do Montijo — e na zona que os aviões irão sobrevoar quando o terminal complementar ao aeroporto Humberto Delgado estiver concluído —, João Ferreira criticou duramente a opção do Governo PSD/CDS de “entregar uma empresa que dava todos os anos lucros ao Estado” (a ANA) a “uma multinacional francesa” (a Vinci), e igualmente a opção do Governo PS de deitar fora “o trabalho que durante anos o país andou a fazer” de estudo das opções, e que concluiu que a melhor hipótese seria o novo aeroporto em Alcochete.
Numa arruada na Baixa da Banheira, mesmo ao lado do futuro aeroporto do Montijo, João Ferreira, candidato da CDU às #Europeias2019, criticou a opção e o impacto que vai ter na saúde dos habitantes desta zona e na natureza #EE2019 pic.twitter.com/oF5roPURnQ
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) May 22, 2019
Lembrando que as populações se têm “insurgido contra esta solução”, que “funciona em função dos interesses de uma multinacional e não do país”, João Ferreira lamentou que a nova opção do Montijo venha agravar os problemas já existentes para a saúde e para o ambiente com o aeroporto de Lisboa. O candidato disse que ter um aeroporto “dentro da malha urbana”, como em Lisboa, é “algo que não acontece em nenhuma outra capital europeia”, sendo a cidade “sobrevoada dia e noite, minuto sim, minuto não, por aviões”.
A solução Alcochete, que foi considerada “a melhor opção” por um estudo feito por “entidades técnicas e científicas competentes” é que tem de ser “executada”, considerou João Ferreira, sublinhando que o país não pode fingir que “não perdeu anos e recursos a estudar a melhor localização”. Até porque a opção pelo Montijo põe em causa não só o ambiente como a saúde dos que ali moram. “Esta é a demonstração daquilo que acontece quando um setor estratégico, com os aeroportos, funciona em função dos interesses de uma multinacional e não do país”, destacou.
PS “não é claro” sobre o que fez no Parlamento Europeu
Da Baixa da Banheira, João Ferreira seguiu para a Amora, no Seixal, para uma ação em tudo semelhante. A mesma descida de uma rua, as mesmas bandeiras, os mesmos panfletos, e o mesmo discurso em frente à carrinha da coligação no fim do percurso. Na terra da festa do Avante!, João Ferreira ainda foi questionado, num café, sobre os preços dos bilhetes — que deviam ser gratuitos para quem ali vive, de acordo com uma moradora. “Se comprar antes são mais baratos”, respondeu-lhe João Ferreira antes de seguir caminho.
Só mudou o que disse, a meio, aos jornalistas, trazendo na agenda as questões sociais e o ataque cerrado a Pedro Marques e ao seu “contrato social para a Europa”. “No Parlamento Europeu, livre de condicionamentos, os alinhamentos do PS foram sempre à direita”, considerou João Ferreira, antes de argumentar que a CDU não esconde “à volta de formulações vagas como o contrato social”. “O PS defendeu o aumento da idade da reforma”, abriu caminho à “privatização da Segurança Social” e “aprovou a desregulação do horário de trabalho”, acusou João Ferreira.
“É tudo isto que quer dizer o tal contrato social”, assegurou o cabeça de lista da CDU, assegurando que as propostas do PS vão ao encontro do tal “alinhamento com partidos mais à direita”. E avisou todos aqueles “que acreditam no progresso social”, dizendo que é “necessário pensar duas vezes e garantir que aqueles que, como o PS, defenderam retrocessos e aumento da precariedade não levam por diante os seus intentos”.
Para João Ferreira, “o PS não está a ser absolutamente claro relativamente às posições” que teve no Parlamento Europeu, e “o importante é que para lá de bandeiras que se agitam, se seja concreto quanto àquilo que se pretende”.
Questionado sobre a posição da CDU sobre a pertença à moeda única, o candidato da CDU afirmou que não pode “ser mais claro” e insistiu que “o país precisa de recuperar a sua soberania no plano monetário”. E voltou ao “não se pode servir a Deus e ao diabo”, lembrando que “se o primeiro-ministro disse que o euro foi o maior bónus que a Alemanha teve”, então tem de dizer se quer retirar esse bónus à Alemanha ou não.
E para justificar a posição, explicou que não vai “fingir que ao longo dos últimos 20 anos Portugal não foi dos países que menos cresceu no mundo”, que mais se endividou e onde o investimento “reduziu de forma drástica”.
João Oliveira: “Não temos nenhuma fasquia, queremos melhores condições para intervir no PE”
Quem se juntou ao final da tarde à campanha de João Ferreira foi o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, que percorreu as ruas da Amora ao lado do cabeça-de-lista. Aos jornalistas, quando foi questionado sobre as sondagens que têm dado a possibilidade de a CDU perder um eurodeputado, João Oliveira assegurou que a coligação não tem “nenhuma fasquia” e apenas quer “melhores condições para intervir no Parlamento Europeu em defesa dos trabalhadores e do povo”.
Líder parlamentar do PCP, João Oliveira, junta-se a João Ferreira numa ação de campanha da CDU na Amora, Seixal #Europeias2019 #EE2019 pic.twitter.com/AOyk0mgY5M
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Na mesma linha de João Ferreira, o líder parlamentar do PCP considerou que a campanha dos outros partidos tem sido uma “tentativa de defender o que é contraditório com a ação política”, ao passo que a da CDU tem “tentado esclarecer as pessoas”.
Na reta final da campanha eleitoral, João Ferreira regressou à Grande Lisboa para contactos com a população na Baixa da Banheira e no Seixal, antes de rumar de novo a norte — esta noite tem um comício em Alpiarça e na quinta-feira passa o dia entre o Porto e Braga. Na manhã passada pelas ruas da Baixa da Banheira, teve ao lado Heloísa Apolónia, dos Verdes.