Discurso de encerramento do VIII Congresso do PAN

Primeiro discurso da líder Inês Sousa Real e encerramento do VIII Congresso em Tomar

Agradeço também todo o apoio interno e público dado a esta candidatura. Se é certo que é uma lista única, é apesar disso muito mais certo de que foi criada e construída em torno de uma grande motivação, empenho e sentido de missão , por isso, em nome de toda a lista, o nosso muito obrigada!”

Depois de muita tinta ter corrido sobre a falta de união e tormento dentro do PAN, Inês Sousa Real encabeçou uma única lista ao Congresso numa tentativa de demonstrar unidade dentro do partido. Recorde-se que André Silva anunciou a saída depois de vários militantes do partido e eleitos se terem desvinculado e de haver uma cisão grave que culminou na perda de uma deputada e de um eurodeputado para o partido. Sousa Real quer afastar fantasmas de falta de união ou suporte e começa este primeiro discurso como líder do PAN precisamente nesse ponto. Agradece “todo o apoio interno e público” que recebeu e olha em frente e fala numa lista construída em torno de “uma grande motivação, empenho e sentido de missão”. Ou melhor: uma lista que tem em conta as várias sensibilidades do partido e integra as duas correntes num equilíbrio de forças: Norte e Sul.

Exemplo disso é o facto de hoje me tornar apenas na quinta mulher em Portugal a assumir a liderança de um partido político! A quinta mulher em 47 anos de democracia portuguesa.”

É a primeira mulher a liderar o PAN e destaca o facto de ser apenas “a quinta mulher em 47 anos de democracia portuguesa”. Antes de Inês Sousa Real, Carmelinda Pereira liderou o Partido Operário de Unidade Socialista (POUS) durante vários anos, Manuela Ferreira Leite foi presidente do PSD entre 2008 e 2010, Catarina Martins chegou a coordenadora do BE em 2012 e Assunção Cristas à liderança do CDS-PP em 2016. Não sendo inédito é pouco habitual uma mulher liderar um partido e Inês Sousa Real puxa por esse feito.

O PAN está aqui para dizer: Basta!Basta de financiar indústrias poluentes com subsídios perversos que nos custam 500 milhões de euros ao ano. Basta de destruir os meios naturais! Aeroporto do Montijo, Alagoas Brancas, Quinta dos Ingleses ou campos de golfe em duna primária, são alguns dos exemplos da visão distorcida dos sucessivos governos, são alguns dos exemplos da visão distorcida dos sucessivos governos! Basta de desvarios que põem em causa a sustentabilidade ambiental”

A nova líder do PAN passa depois à parte política para criticar opções governamentais, em jeito de linhas vermelhas do partido: subsídios para a indústria pecuária, aeroporto no Montijo, subsídios aos setores da caça e tauromaquia, canis municipais que não cumprem a legislação, apoios à banca, corrupção, fugas de impostos para paraísos fiscais ou apoios sociais. Fala para dentro, começando pelo tema ambiental.

O investimento tem de ser feito na promoção e no garante dos direitos das pessoas, no Serviço Nacional de Saúde, em apoios sociais e na educação. Nos direitos humanos, no combate à pobreza e a todas as formas de discriminação e de exclusão social. Mas também na saúde do nosso planeta e dos nossos ecossistemas, sem os quais é a nossa própria sobrevivência que está em risco. A todos os que nos ouvem: o PAN está cá para fazer esta diferença!

A pouco tempo de começarem as negociações para o Orçamento do Estado do próximo ano, Inês Sousa Real começa os recados ao Executivo de Costa: SNS, apoios sociais, educação, direitos humanos, combate à pobreza, discriminação de exclusão social. Mas não chega, o Pessoas-Animais-Natureza não esquece o que está na base: “A saúde do planeta e dos ecossistemas”.

Somos, orgulhosamente, o único partido animalista e ambientalista em Portugal. Somos um partido forte, unido e diferente dos partidos convencionais que se limitam a olhar – sem verdadeiramente ver – para o ambiente e para as restantes formas de vida como meros apêndices nas suas políticas. Se conseguirmos manter esta força, vamos conseguir, e doravante com o apoio da futura Juventude PAN, lutar pelas nossas causas.

Do VIII Congresso sai também a criação da Juventude PAN que Sousa Real quer como suporte e não deixa de fora neste primeiro discurso como líder do partido. Uma líder forte precisa de ter quem a secunde e Sousa Real quer a Juventude do PAN nessa entourage para “manutenção da força”. Mais uma vez, Sousa Real afirma o PAN como “único partido ambientalista e animalista em Portugal”, numa indireta ao PEV e ao Bloco de Esquerda, que têm ao longo dos anos dedicado parte dos programas a esses temas, mas que o PAN acusa de os reduzirem a “meros apêndices das políticas”.

Saímos deste congresso com a convicção de que temos e somos futuro nas eleições autárquicas, nas eleições à Região Autónoma da Madeira e, daqui a dois anos, nas eleições legislativas, às quais nos apresentamos, evidentemente, para ser Governo.

E agora, a ambição. A nova líder quer afastar a sombra das sondagens menos favoráveis ao PAN e, mesmo que ainda não tenha avançado qualquer nome para as autárquicas, Sousa Real não desvaloriza as provas que a sua liderança terá que enfrentar. Mais além, já depois de o ex-líder ter afirmado que o PAN não devia aspirar a ser Governo, Sousa Real mostra que há mesmo coisas que vão mudar: o PAN vai apresentar-se às próximas legislativas “para, evidentemente, ser governo”. O advérbio de modo reforça a ambição: “Evidentemente”. Em entrevista ao Observador, quando questionada sobre a renovação no ministério do Ambiente que o PAN deseja, Inês Sousa Real já tinha admitido — em jeito de brincadeira — não querer tutelar essa pasta, mas o cargo de primeira-ministra, na condição de líder do partido que concorrerá a Governo.

A tradicional dança entre a esquerda e a direita não serve como resposta aos problemas do presente nem às soluções do futuro. Tanto assim é, que muitas vezes, o PAN é uma voz isolada quando procura taxar a pecuária intensiva, quando quer impedir a mineração do mar profundo ou quando quer determinar a instalação de circuitos fechados de televisão em matadouros como forma de garantir alguma da pouca, pouquíssima dignidade que os animais de pecuária têm no nosso país, exponenciada em violência nos momentos de abate.”

Sousa Real fala aos eleitores do PAN para garantir que não irá desviar o partido daquilo que são as causas que o motivam. Têm sido várias as críticas à deriva do PAN das causas animais ou ambientais para outras como a corrupção, mas a nova líder garante que “mesmo que o PAN continue sozinho”  não irá desistir destas batalhas. Há que garantir que quem votou PAN o repetirá nos próximos testes eleitorais e, por isso, o primeiro discurso faz questão de passar em revista todas as bandeiras do partido.

No imediato, aproximam-se momentos fundamentais para o PAN: Eleições Autárquicas e a discussão do Orçamento do Estado para 2022.

Sousa Real está bem ciente das provas que tem pela frente ainda este ano. Eleições autárquicas — para as quais o partido se atrasa em apresentar candidatos — e o Orçamento do Estado para 2022. Dois testes duros de uma líder que conhece bem a máquina do PAN e sabe que pode sofrer em consequência de um mau resultado nas urnas. Se falhasse nestes dois atos, a sua jovem liderança poderia ficar em risco e Inês Sousa Real sabe disso.

Esta é a nossa mensagem clara para o Governo de António Costa: queremos mais. Exigimos mais. Queremos proteger os oceanos, as florestas, os animais, reduzir o número de pessoas em risco e em situação de pobreza, o número de pessoas sem acesso à saúde e ao trabalho, reaproximar o ordenado mínimo da média europeia e trabalhar para um melhor nivelamento do salário médio. Queremos também ter mais e melhores investimentos na saúde, nos profissionais da educação, das forças de segurança, dos vigilantes da natureza e tantos outros profissionais-chave. Mas queremos também que os dinheiros da “bazuca europeia” sirvam para potenciar o empreendedorismo e a economia verde.”

Inês Sousa Real até diz que a “mensagem é clara”, mas de facto não é. O truque de usar conceitos abrangentes permite ao PAN ir para as negociações com uma margem negocial muito maior. Diz tudo, mas não especifica quase nada. Cabe tudo no rol de exigências que Sousa Real diz serem “claras”. É certo que a direção do partido sai renovada do Congresso e que esse já foi um dos argumentos usados por Sousa Real para não avançar com as propostas que irá levar para a mesa das negociações, mas isso não a impediria de definir de forma clara algumas linhas vermelhas. Até André Silva, no discurso de despedida, conseguiu ser mais concreto.

Que trabalhemos arduamente neste próximo mandato, para daqui a dois anos estarmos numa posição ainda mais forte, numa posição que nos permita proteger as causas que defendemos de uma forma absolutamente inquestionável. Numa posição que nos permita implementar ideias para o país com uma visão integrada e sustentável (…) E não descansaremos, não baixaremos os braços, demore os anos que demorar, até chegar à altura da história política em que possamos dizer: este Orçamento do Estado é um Orçamento PAN, este Governo é um Governo PAN.”

Neste que é o primeiro discurso, Sousa Real não mostra qualquer contenção nas aspirações: quer reforçar a bancada na Assembleia da República, para ter maior capacidade negocial, e quer conseguir condicionar as políticas nacionais. Depois vincar a diferença face à anterior liderança de André Silva, Inês Sousa Real não tem medo de pedir “uma posição ainda mais forte”, o que significa aumentar a representação na Assembleia da República e eleger mais representantes nas autárquicas. Deixa ainda a maior das ambições quando diz que “demore os anos que demorar” o PAN não baixará os braços até poder dizer: “Este Governo é um Governo PAN”.