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Entrevista a Ádám Sanyó, analista eleitoral. "O Fidesz compreendeu bem a psique húngara"

Analista de dados, Ádám Sanyó tem-se especializado em observar tendências de voto na Hungria. Para a eleição deste domingo, prevê uma vitória do Fidesz com uma maioria clara no Parlamento.

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Enviada especial do Observador à Hungria

Uma maioria de mais de 80 lugares no Parlamento para o Fidesz. É essa a previsão para esta noite eleitoral de Ádám Sányo, analista de dados que desde 2015 se dedica a observar tendências de voto na Hungria. Apesar de os números revelarem que a oposição liderada por Pétér Márki-Zay (unida pela primeira vez na história do país) ainda tem hipóteses de vencer as legislativas deste domingo, o analista considera que o mais provável é o partido de direita de Viktor Orbán manter o controlo do Parlamento.

Isto porque, para Sányo, o Fidesz de Viktor Orbán tem sido muito inteligente a compreender o eleitorado. “Na Hungria, existe uma corrente muito forte de individualismo na política, uma ideia de ‘Se eu e a minha família estamos bem, o resto não me interessa’. O Fidesz percebeu isto, compreendeu bem a psique húngara e a forma como funciona”, diz o analista.

A isto somam-se instrumentos como o controlo da maioria dos media, as estratégias de influência de minorias através de empregos públicos e uma mensagem de campanha clara. Algo que, diz, faltou à oposição. “O maior problema da campanha [de Márki-Zay] é que não conseguiu criar uma mensagem central forte que explicasse às pessoas porque é que o voto na oposição fazia sentido. Já o Fidesz foi claro: ‘Queremos dar dinheiro às pessoas e queremos paz.'”

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A guerra na Ucrânia mudou ligeiramente o cenário da campanha, porém. Com a adoção de uma estratégia por parte da oposição de que o voto é entre “Putin e a Europa”, Sányo diz que a oposição tem agora mais hipóteses de conquistar os votos de indecisos nas grandes cidades e pode vencer — por curta margem — se as conquistar a todas. Um cenário, porém, improvável para o analista, que estima uma vitória do Fidesz por maioria — uma maioria absoluta, porque Sányo prevê que o Fidesz tenha mais deputados que toda a oposição junta, mas ainda assim uma maioria que não chega a dois terços do Parlamento e que permitiria ao partido de Orbán introduzir alterações constitucionais sem necessitar de outros partidos.

E mesmo que a oposição saísse vencedora destas eleições, Ádám Sányo não antevê grandes possibilidades de uma legislatura estável. “Se for uma maioria pequena, de três ou quatro deputados, consigo ver o Fidesz a comprar alguns daqueles políticos e a fazer com que o Orçamento não seja aprovado”, admite o analista.

Certo é que, quem quer que seja o vencedor este domingo terá um cenário difícil pela frente para governar, até porque as sondagens mostram que uma maioria de dois terços como a de que o Fidesz dispunha agora (133 lugares em 199) é altamente improvável. “Quem quer que chegue ao governo vai certamente ter de reestruturar o Orçamento do Estado, o que deverá traduzir-se em cortes nos serviços públicos e possivelmente nos apoios sociais, o que deve reduzir o apoio ao governo nos primeiros dois anos”, prevê o analista.

Mas, aconteça o que acontecer, a noite eleitoral adivinha-se renhida. Se a diferença no final da contagem for de menos de cinco deputados, tudo pode ficar em suspenso mais uma semana, até que sejam conhecidos os resultados dos votos de húngaros que vivem no estrangeiro.

“No início da guerra houve uma subida clara no apoio ao Fidesz, mas agora isso reduziu-se”

Hoje vai passar o dia a acompanhar os resultados. Em concreto, o que estará a fazer?
Bom, trabalhar como analista eleitoral. Este projeto é uma espécie de hobby para mim — trabalho a tempo inteiro como analista de dados —, mas tenho acompanhado projeções eleitorais desde 2015. O meu primeiro grande projeto foi a iniciativa de voto tático para as eleições de 2018. Fiz esse projeto porque os partidos da oposição não conseguiram escolher um candidato único e quis mostrar aos eleitores quem era o candidato com melhores hipóteses para derrotar o partido no poder, o Fidesz, em cada círculo eleitoral e acabei por conseguir prever corretamente o candidato mais competitivo em 90% dos círculos eleitorais. Nesta eleição, aquilo que estou a fazer é tentar prever os resultados em cada círculo eleitoral com base nos resultados de eleições anteriores — desta vez não irei influenciar eleitores, porque há um único candidato contra o Fidesz.

"O resultado final deverá ir de uma maioria curta para a oposição (com cerca de 5 mandatos de vantagem) até uma maioria de dois terços para o Fidesz. Esse é o espectro total. A minha previsão fica algures no meio: creio que o Fidesz deve ganhar com 117 deputados, em 199."

Acha que esse projeto influenciou a oposição, ao perceber que seria mais fácil para eles derrotarem o Fidesz se se unissem?
Sem dúvida. Nas eleições de 2018, um em cada cinco eleitores votou de forma tática e seguiu as recomendações do meu site. E desta vez também é necessário algum voto tático, porque ainda há outros dois partidos mais pequenos — O Partido do Cão com Duas Caudas e o Mi Hazánk, um muito à esquerda e o outro de extrema-direita. Eles podem decidir os resultados de alguns círculos mais pequenos, há uns 15 ou 20 que podem influenciar o resultado nacional.

O que as sondagens mostram agora é que, mesmo com uma oposição unida, haverá uma vitória do Fidesz, embora sem maioria de dois terços.
Exato.

Considera que as sondagens estão corretas ou pode haver surpresas?
Podem surgir surpresas. As nossas sondagens não são suficientes, temos apenas quatro ou cinco empresas a fazê-las e publicam os resultados mensalmente. Isso significa que não é fácil acompanhar as mudanças pequenas que acontecem a cada dia. Nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, há sondagens diárias que ajudam a perceber essas alterações. O melhor exemplo é o da guerra entre a Rússia e a Ucrânia: no início da guerra houve uma subida clara no apoio ao Fidesz, mas agora isso reduziu-se e voltámos aos níveis de fevereiro. Se houvesse sondagens diárias, teríamos percebido esta descida mais cedo e não apenas dois dias antes da eleição.

A guerra tem dominado a campanha e parece que a postura de não-envolvimento do Fidesz é muito popular. Mas está a dizer que já não tanto…
Sim. A campanha teve basicamente três fases. A primeira foi de outubro a dezembro do ano passado, quando aconteceram as primárias da oposição e tivemos a vitória surpreendente de Márki-Zay. Por causa disso, houve uma subida no apoio à oposição e chegou a parecer que eles poderiam ter uma maioria curta, olhando para a média das sondagens. Depois, nos três meses seguintes, eles não se mexeram. Disseram: “Há um novo candidato, temos de o deixar montar a sua campanha” e isso demorou muito tempo. Isso significa que não houve nenhuma mensagem clara para o eleitorado e por isso muitos eleitores desmobilizaram, pensaram: “Talvez isto não seja para mim.” Agora entrámos numa terceira fase, com a guerra da Ucrânia. Primeiro o apoio ao Fidesz subiu, mas depois desceu e agora temos uma previsão de 4% a 5% de vantagem para eles. Tendo em conta a distribuição de mandatos, isso dá-lhes uma maioria clara. Mas o professor Gabor Toka, da Universidade da Europa Central, diz que a margem de erro é elevada, quando se faz a média das margens de erro das várias sondagens. Portanto, na prática, o resultado final deverá ir de uma maioria curta para a oposição (com cerca de 5 mandatos de vantagem) até uma maioria de dois terços para o Fidesz. Esse é o espectro total. A minha previsão fica algures no meio: creio que o Fidesz deve ganhar com 117 deputados, em 199. É uma maioria clara, mas não de dois terços, como eles têm neste momento [com 133 deputados].

É interessante como os votos se distribuem por região na Hungria, com a oposição a ter muita popularidade em Budapeste, mas o Fidesz a dominar as zonas rurais. O que acha que influencia esta distribuição?
Está relacionado com a geografia eleitoral da Hungria. Quando se olha para os dados de outros países, como o Reino Unido, que conheço melhor, os maiores fatores que influenciam a tendência de voto são a idade e o nível de ensino. Na Hungria também é assim, mas há um fator ainda mais relevante: o lugar onde se vive. Veja um exemplo: um eleitor com ensino universitário e menos de 40 anos que viva em Budapeste geralmente vota na oposição; mas um eleitor com um perfil semelhante que viva na zona ocidental da Hungria tem muito mais probabilidade de votar no Fidesz, que domina aquela região.

Portanto a localidade acaba por ser a característica mais definidora do voto?
Sim. Na Hungria não há muita mobilidade, ela quase só ocorre nos arredores de Budapeste, no condado de Pest. É por isso que só nesta área é que devemos assistir a maiores mudanças nos resultados eleitorais desta vez, comparado com os de 2018. A maioria das pessoas vai votar no mesmo sítio onde votou há quatro anos, há oito anos e por aí fora. E, mesmo que as suas opiniões estejam a mudar, elas acompanham a tendência nacional. Portanto, o padrão geral não se deve alterar, a não ser nesses círculos de Pest.

Isso significa que uns poucos eleitores indecisos podem decidir a eleição?
Sim. Numa eleição tão renhida, é assim.

“O Fidesz não só influencia os eleitores mais pobres, como também já capta votos das elites”

Ao fim de 12 anos de governo do mesmo partido, mesmo a oposição toda unida não parece conseguir contrariar claramente o domínio do Fidesz. O que acha que o torna tão popular?
Creio que tem sobretudo a ver com a forma como o Fidesz comunica com os eleitores. Por exemplo, eles sabem apelar aos eleitores com menos qualificações porque usam uma mensagem muito simples. No caso da guerra, dizem apenas “Queremos a paz”. E apesar de a maioria dos húngaros saber que fazemos parte da NATO e da União Europeia [UE] e de ser a favor dessas alianças, no que se refere à guerra pensam sobretudo “Não me quero envolver, não quero ter de pagar nem mais um cêntimo pelo combustível ou pela eletricidade porque a Rússia atacou a Ucrânia”.

Acha que tem sobretudo a ver com a questão económica?
Exatamente. Um terço dos húngaros estão abaixo do limiar da pobreza. Os números oficiais não são publicados desde 2017 porque há cada vez mais gente abaixo desse limiar e o Gabinete Nacional de Estatística não quer que as pessoas saibam. Estamos a falar de eleitores que não têm acesso a media livres, que não usam a internet e que apenas acompanham a rádio e a televisão estatais. A mensagem que recebem por ali é propaganda do Fidesz. A oposição não consegue chegar a estas pessoas, não tem canais de televisão nem ativistas em pequenas vilas com menos de 1.500 habitantes. Portanto, estes eleitores apenas conhecem a narrativa do Fidesz, que é a de “Vamos proteger-vos”. E isso resulta muito bem.

"Alguns amigos meus estão muito satisfeitos com as políticas de redistribuição do Fidesz. Alguns vão votar neles só por isso, dizem 'Recebi um empréstimo sem juros no valor de 20 milhões de florins [cerca de 60 mil euros] e com isso consegui comprar uma casa grande'. E isso é verdade."

Na União Europeia, há muitas críticas ao Fidesz e a Viktor Orbán. Crê que não têm noção de quão popular o partido é aqui?
Creio que o principal problema é que não percebem quão pobres são os países da Europa de leste, incluindo a Hungria. Alguém que chegue da Alemanha ou do Reino Unido fica chocado quando descobre que o salário médio aqui é abaixo dos mil euros, quando a única coisa mais barata aqui são os serviços. E quando se é pobre, às vezes, nem aos serviços se recorre, portanto falamos de pessoas com custos semelhantes aos de um país da Europa Ocidental, mas com metade do rendimento. E os políticos europeus não entendem que, quando se é muito pobre, é mais fácil ser-se persuadido, por vezes até contra os seus próprios interesses. O melhor exemplo é a política de família do Fidesz, que dá mais benefícios fiscais aos que recebem mais. Isso significa que não só influenciam os eleitores mais pobres, como também já captam votos das elites agora, mesmo daqueles que sabem quão corrupto é o sistema.

Ou seja, o Fidesz consegue captar votos em todas as classes sociais.
Sim. Vejo isso com alguns amigos meus, que estão muito satisfeitos com as políticas de redistribuição do Fidesz. Alguns vão votar neles só por isso, dizem “Recebi um empréstimo sem juros no valor de 20 milhões de florins [cerca de 60 mil euros] e com isso consegui comprar uma casa grande”. E isso é verdade. Durante os governos socialistas não era assim, só havia apoio aos mais pobres e pronto, e as pessoas não gostam disso. Diria que na Hungria existe uma corrente muito forte de individualismo na política, uma ideia de “Se eu e a minha família estamos bem, o resto não me interessa”. O Fidesz percebeu isto, compreendeu bem a psique húngara e a forma como funciona. Na lista de prioridades das pessoas, a solidariedade só vem em segundo ou terceiro lugar.

E como é que isso se conjuga com a tentativa de obter votos da comunidade Roma [cigana]? O Fidesz parece estar a apostar nesses votos, conta com o apoio de várias figuras da comunidade como músicos e estrelas de reality-shows
Essa é uma boa pergunta. A comunidade Roma costumava votar no partido socialista, sobretudo na zona noroeste do país, onde 80% da comunidade vive. Nesses círculos eleitorais, os socialistas costumavam ter uma maioria de 60% a 65%, que é enorme. No antigo sistema eleitoral de duas voltas costumavam conquistar essa área à primeira volta, com maioria absoluta. Em 2014, o Jobbik, partido de extrema-direita, conquistou esses votos. E em 2018 o Fidesz roubou esses votos ao Jobbik, através dos empregos públicos e da intimidação, dizendo aos ciganos “Não vais obter um cêntimo do governo se não trabalhares para nós e não tens trabalho se não votares em nós”. Isso deu-lhes cerca de mais 150 mil votos e foi um fator decisivo para eles obterem a maioria de dois terços em 2018. Houve um estudo de um doutorando que olhou para a relação entre os empregos públicos oferecidos pelo Fidesz e os votos que o partido obtém que encontrou uma correlação forte: nos locais onde o autarca é do Fidesz e onde há mais pessoas inscritas no programa de emprego público, o Fidesz tem mais votos. É assim que funciona e é um sistema eficaz.

“Se a oposição perder será sobretudo pelos problemas com a sua campanha”

Como acha que tem sido a campanha da oposição? Na questão da guerra da Ucrânia, por exemplo, têm tido uma linha firme: acha que é estratégia eleitoral ou uma postura ideológica que lhes pode custar votos?
Esta pergunta é sobre o profissionalismo deles ou sobre a sua mensagem na campanha?

Ambos.
Em termos de profissionalismo, acho que a equipa do Márki-Zay tem falta de capacidades para gerir uma campanha nacional. Não é uma crítica, é algo que já se esperava. Se o candidato tivesse sido [o presidente da Câmara de Budapeste, do Partido Verde] Gergely Karácsony ou [a candidata de centro-esquerda] Klára Dobrev, a campanha seria muito mais forte, porque estes candidatos são apoiados por partidos. Já conseguimos ver, e há analistas a comentarem isto em privado, que se a oposição perder será sobretudo pelos problemas com a sua campanha. E o maior problema da campanha é que não conseguiram criar uma mensagem central forte que explicasse às pessoas porque é que o voto na oposição fazia sentido. Já o Fidesz foi claro: “Queremos dar dinheiro às pessoas e queremos paz.”

Que são duas ideias muito populares.
Sim, muito: “Vamos proteger o vosso rendimento” e “Não queremos envolver-nos na Ucrânia”. No caso da oposição, primeiro não tinham mensagem e, depois, de forma um pouco mórbida, conseguiram ter uma graças à guerra. Decidiram focar-se nos seus eleitores de base ao dizer “Vamos aderir ao Euro, vamos voltar a ser um país europeu e vamos sair da trapalhada em que o Fidesz nos meteu”. É uma ideia de “Putin ou Euro”, “Leste ou Ocidente”. Não é uma mensagem tão forte como a do Fidesz, porque não resulta tão bem junto dos eleitores de zonas rurais. Mas resulta com os eleitores urbanos. E em termos de campanha, não é possível vencer sem conquistar votos rurais, mas é possível ter um bom resultado caso se vença em todas as cidades. Acho que a decisão não planeada deles acabou por ser a de se focarem nas cidades, onde estas mensagens resultam junto da classe média e dos eleitores desiludidos com o Fidesz e indecisos.

"[O referendo] era uma espécie de Plano B para o Fidesz, o de arranjar uma mensagem suficientemente polarizadora para fazer subir a participação eleitoral, puxando mais à extrema-direita."

Ou seja, a guerra acabou por não ser assim tão má para a oposição?
Exato. E é uma mensagem honesta, acho que eles acreditam nela. Com exceção do Jobbik, que só está na coligação para captar os votos rurais. Pelo menos é uma mensagem credível.

Este domingo também há um referendo, para além da eleição. Como acha que pode influenciar a noite eleitoral?
Tenho pena dos que estão a trabalhar nas urnas e que vão ter de contar todos estes boletins de voto. Vai atrasar a contagem, isso é certo. Mas o Gabinete Nacional de Eleições anunciou que vai publicar os resultados em separado, o que significa que os resultados das legislativas serão conhecidos primeiro, a partir das nove da noite.

E como acha que o referendo influenciou a campanha? Parece ter desaparecido como tema nas últimas semanas.
Sem dúvida. Acho que era uma espécie de Plano B para o Fidesz, o de arranjar uma mensagem suficientemente polarizadora para fazer subir a participação eleitoral, puxando mais à extrema-direita.

Referendo na Hungria. A solução para “proteger as crianças” de conteúdos sexuais ou um cheque em branco para “discriminar”?

Para tentar motivar as bases mais conservadoras a irem votar?
Sim. Creio que a seguir à Covid eles não sabiam exatamente o que fazer e decidiram apostar no referendo. Acho que pode fazer baixar a abstenção, mas não acho que seja um tema fulcral. São só sete mil milhões de florins desperdiçados em papel para os boletins de voto [risos].

“O novo governo alemão gostaria de ver uma situação diferente na Hungria”

Seja qual for o vencedor, é pouco provável que tenha uma maioria de dois terços…
Bem, pode acontecer, mas não parece provável, sim.

Isto significa que quem quer vença não terá uma tarefa tão facilitada como o Fidesz teve no mandato anterior. Isso pode fazer diferença, numa situação em que há uma guerra e a inflação está a subir?
Acho que vai ser muito semelhante ao que aconteceu no segundo governo de Orbán, entre 2010 e 2014. Na altura, eles focaram-se muito em reformular as instituições e consolidar o controlo do poder, mas em termos económicos houve problemas. Quem quer que chegue ao governo vai certamente ter de reestruturar o Orçamento do Estado, o que deverá traduzir-se em cortes nos serviços públicos e possivelmente nos apoios sociais, o que deve reduzir o apoio ao governo nos primeiros dois anos. Isso é normal, é o que costuma acontecer quando não há uma maioria de dois terços, o vencedor perde algum apoio até meio do mandato e depois recupera na segunda metade. A única exceção que vejo é caso a oposição ganhe, porque creio que não conseguirão manter uma maioria tão curta e deverá haver eleições ao fim de um ano ou dois.

Porque os partidos da oposição podem não se entender entre si?
É uma possibilidade, sim. Se for uma maioria pequena, de três ou quatro deputados, consigo ver o Fidesz a comprar alguns daqueles políticos e a fazer com que o Orçamento não seja aprovado — o que implica a convocação imediata de novas eleições.

Imagino que seja difícil manter unidos deputados socialistas, do Jobbik e o Márki-Zay…
Exato [risos].

Neste momento os fundos europeus para a Hungria estão congelados pela UE e, com a questão da Ucrânia, a Polónia tem mostrado descontentamento em relação ao governo húngaro. A política internacional pode ser outro problema?
Se o Fidesz se mantiver no poder, vai ser mais difícil para eles. Não acredito que mudem da noite para o dia a sua política em termos de relações externas. Quanto muito, substituem o ministro dos Negócios Estrangeiros, depois de ser conhecido este escândalo de que havia espiões russos nos serviços secretos húngaros. Não é algo que se consiga defender durante muito tempo, o mesmo com o escândalo Pegasus [de espionagem de jornalistas e ativistas]. Se a oposição vencer, assistiremos a uma mudança abrupta da política externa e os fundos europeus provavelmente serão descongelados de forma rápida. Muitos governos europeus, em particular o novo governo alemão, gostariam de ver uma situação diferente na Hungria. Angela Merkel nunca se chateou muito com as políticas de Orbán, mas creio que sociais-democratas, verdes e liberais não serão bem assim.

Nesta noite eleitoral, prevê que quem perder vai assumir rapidamente a derrota ou é melhor preparar-nos para pedidos de recontagens?
Depende de quão renhida for a eleição. Sabemos que em cinco círculos eleitorais os resultados podem ser demasiado próximos para ter um resultado oficial antes de sexta-feira ou sábado, quando forem contados os votos do estrangeiro. Se a diferença no número de deputados entre vencedor e vencido foi superior a cinco, teremos um vencedor claro. Se for menor, espera-nos uma longa semana.

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