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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Entrevista ao chefe da polícia de Kharkiv: “Durmo fardado todas as noites desde que a guerra começou”

O convite uma hora depois do início da guerra. A viagem a 200 km/hora. A caça aos sabotadores russos. E a bomba no seu gabinete. O Observador na segunda cidade mais destruída da Ucrânia.

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Tudo passa por este homem na cidade de Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia, com 1,5 milhões de habitantes, e a segunda mais atacada pelos russos a seguir a Mariupol. Ao longo dos 67 minutos que durou a entrevista que o chefe da polícia concedeu ao Observador, teve nove chamadas não atendidas — e duas que teve mesmo de atender.

Entre as dezenas de mensagens que recebeu nesse período, a ser informado de todas as questões de segurança, encontravam-se fotos de um carro bombardeado pelo inimigo onde morreu uma criança de 13 anos. E várias informações sobre a destruição de um museu nessa manhã.

O cargo de chefe da Polícia Nacional na Região de Kharkiv estava vago na madrugada em que começou a guerra. Volodymyr Tymoshko, 48 anos, foi nomeado para o ocupar às 6h da manhã.

A entrevista não se realizou na sede da polícia, porque o edifício foi bombardeado a 2 de março. Vários agentes morreram ou ficaram feridos, mas Volodymyr sobreviveu. No fim da entrevista, aceitou regressar aos escombros do seu gabinete destruído, para ser fotografado pelo Observador.

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O Chefe da Polícia de Kharkiv regressa ao edifício dos serviços secretos, bombardeado a 2 de março

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Como é que foi o início da guerra para si?
No dia 24 de fevereiro, acordei em Kiev às 4h15 da manhã. A minha mulher, que se encontrava em Kharkiv, ligou-me e disse: “Estamos a ser bombardeados.” Em Kiev, pela mesma hora, 4h15/4h30, começaram os bombardeamentos. Às 5h da manhã, cheguei à sede do Departamento de Investigação do Estado, que chefiei até 23 de fevereiro. É um órgão que investiga crimes dos altos funcionários do governo, autoridades, polícias, funcionários dos Serviços de Segurança da Ucrânia, juízes, militares, etc. Às 6h da manhã, ligaram-me o ministro dos Assuntos Internos e o Chefe da Polícia Nacional e disseram: “Precisamos de ti em Kharkiv”. E convidaram-me para ser o Chefe da Polícia da região.

O que aconteceu ao anterior chefe da polícia em Kharkiv? Não confiaram nele ou suspeitaram que pudesse ser pró-russo?
Não, não foi relacionado com a guerra, já tinha saído antes. Naquele momento, dia 24, este cargo estava vago. Como os militares russos já estavam a tentar entrar em Kharkiv, era necessário com urgência que existisse um responsável, portanto o ministro ligou-me.

Porque é que foi escolhido para esta função?
Por um lado, eu e a minha família somos de Kharkiv. Por outro, já tinha trabalhado 20 anos na polícia. E nos anos de 2014 e 2015, durante um ano e meio, trabalhei como polícia na região de Donetsk, quando começaram os combates com os separatistas, logo, já tinha a experiência de trabalhar em contexto de guerra.

Viagem a 200 km/hora: “Consigo chegar a Kharkiv antes de os russos capturarem a cidade”

De volta ao seu primeiro dia, o que fez depois de receber o telefonema?
Às 8h da manhã já estava na sede da Polícia Nacional em Kiev. E às 10h saí em direção a Kharkiv. Muitos diziam-me que eu não conseguiria chegar a tempo, mas eu apostei: “Consigo chegar a Kharkiv antes de os russos conseguirem capturar a cidade”. Fui de Kiev até Kharkiv a 200 km/hora e às 13h entrei no gabinete de Chefe da Polícia Nacional da região.

O que encontrou pelo caminho? Viu alguma destruição? Encontrou pessoas assustadas a fugir?
Não vi russos pelo caminho. Eles queriam entrar em Kharkiv pelo lado oposto. Ainda hoje, a cidade encontra-se semicercada e a estrada para Kiev é a única que permite sair da região de forma pacífica. No sentido Kiev-Kharkiv, a estrada estava livre. Mas, no sentido contrário, a sair de Kharkiv, a estrada estava cheia com inúmeras colunas de carros de refugiados. Esse primeiro dia foi mesmo caótico no que toca à retirada de pessoas. Os polícias assumiram logo a missão de organizar a retirada dos civis. Nos dias seguintes, até 1 de março, a polícia retirou diretamente as pessoas das povoações que estavam debaixo de fogo.

Até este momento, morreram em Kharkiv pelo menos 28 crianças — atenção, este é apenas o número de óbitos registados. A minha filha tem 12 anos. Até dia 24, ela estudava inglês, alemão e começou a aprender francês. Três línguas. Todos os anos viajava para a Europa, é uma cidadã europeia, tal como os filhos dos europeus. De um momento para o outro, vieram pessoas selvagens que destruíram tudo isto. Nos primeiros cinco dias, a minha filha escondeu-se na cave, praticamente deixou de comer, vomitava tudo devido ao stress provocado pelos constantes bombardeamentos. Ela sobreviveu, mas há muitas pessoas em Kharkiv que perderam os seus familiares e amigos.
Volodymyr Tymoshko, Chefe da Polícia Nacional na Região de Kharkiv

Em que é que pensava no caminho enquanto vinha a 200 km/hora? O que achava que ia acontecer na guerra?
Sabia perfeitamente o que me esperava, com base na minha experiência de 2014 em Donetsk. Sabia que seria difícil. Sabia como são os russos, que haveria homicídio em massa de população civil e inúmeros bombardeamentos. Conheço a mentalidade deles, os objetivos de vida deles, o que eles querem e o que eles veem. Percebi logo que isto seria uma guerra duradoura.

Quando chegou, como é que foi recebido pelos polícias?
Admito que estava bastante contente. Aliás, continuo muito feliz, porque toda a polícia da região de Kharkiv conseguiu aguentar aqueles primeiros dias difíceis da guerra. E como é que conseguimos? Nós não saímos dos nossos postos. Trabalhámos 24 horas por dia desde o dia 24 de fevereiro até hoje. Os agentes dormem nos locais de trabalho. Tenho muito orgulho por liderar esta equipa, onde praticamente 5 mil agentes da polícia não deixaram o trabalho nem por um segundo. Logo nos primeiros dias, de 24 a 28 de fevereiro, a polícia participou nas ações de combate contra os sabotadores russos e “limparam” estes ocupantes da cidade, tendo dado um grande apoio às nossas Forças Armadas para os russos serem completamente derrotados em Kharkiv.

Volodymyr Tymoshko mostra onde se encontrava, no seu gabinete, quando caiu o primeiro rocket

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“O impacto do primeiro rocket rebentou os vidros todos e fez-nos ‘voar’ pelo gabinete”

Houve ataques russos a envolver paraquedistas em Kharkiv?
Sim, houve paraquedistas nos primeiros dias. Mas, atualmente, Kharkiv é uma cidade segura graças ao enorme trabalho das forças policiais. Outra demonstração do trabalho da polícia é o facto de a Rússia ter lançado dois rockets, que são muito caros, contra o edifício principal da direção da Polícia, a 2 de março, no momento em que eu me encontrava no gabinete.

Quantos polícias morreram ou ficaram feridos?
Prefiro não dizer quantos, mas sim, houve funcionários da polícia que ficaram debaixo dos escombros e alguns morreram.

Como foram esses instantes depois de o edifício ter sido atingido pelo primeiro rocket?
O meu gabinete está no segundo piso. Nesse momento, encontravam-se comigo o meu adjunto e o Governador da Região de Kharkiv. (Na véspera, à mesma hora, quando dois rockets atingiram o edifício da administração regional de Kharkiv, o governador também estava comigo no meu gabinete.) O impacto do primeiro rocket rebentou os vidros todos e fez-nos “voar” pelo gabinete. Foi imediatamente ordenado que toda a gente corresse para a cave, porque achávamos que havia a hipótese de ser lançado um segundo rocket. Quando chegámos à cave, sentimos o impacto do segundo rocket, o edifício ruiu [parcialmente] e nós ficámos meio debaixo dos destroços.

Volodymyr Tymoshko vai à galeria do telemóvel e mostra várias fotos tiradas logo a seguir, onde aparece ainda com o rosto todo empoeirado, na sequência do impacto das explosões no edifício.

O que fizeram a seguir?
Primeiro, foi preciso retirar as pessoas. Depois, tentámos aproveitar o equipamento que não ficou destruído, para podermos continuar a trabalhar noutros locais. A polícia não parou de trabalhar nem por um segundo, continuou sempre a trabalhar, mas em diferentes escritórios.

O chefe da polícia com o seu adjunto (à esquerda) depois de terem sobrevivido ao bombardeamento do gabinete
DR
Volodomyr com o governador de Kharkiv (à direita) e os adjuntos no bunker do edifício dos serviços secretos, instantes depois de ter sido atingido pelo segundo rocket
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O gabinete do chefe da polícia antes da destruição
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Volodomyr num retrato com os adjuntos, todos armados e prontos a entrar em ação
DR

“Os alemães ainda tinham a aprender com os russos na forma como torturam as pessoas”

Morreu ou ficou ferido algum amigo ou familiar?
Até este momento, morreram em Kharkiv pelo menos 28 crianças — atenção, este é apenas o número de óbitos registados. A minha filha tem 12 anos. Até dia 24, ela estudava inglês, alemão e começou a aprender francês. Três línguas. Todos os anos viajava para a Europa, é uma cidadã europeia, tal como os filhos dos europeus. De um momento para o outro, vieram pessoas selvagens que destruíram tudo isto. Nos primeiros cinco dias, a minha filha escondeu-se na cave, praticamente deixou de comer, vomitava tudo devido ao stress provocado pelos constantes bombardeamentos. Ela sobreviveu, mas há muitas pessoas em Kharkiv que perderam os seus familiares e amigos. Ninguém consegue compreender a razão desta hostilidade dos russos para com os ucranianos. Criaram, assim, um ódio global que vai perdurar por várias gerações futuras, até esta situação ser ultrapassada.

Em que situações é que os polícias têm de ir à linha da frente?
Em caso de tiros ou bombardeamento contra qualquer habitação de civis, os polícias têm de ir lá imediatamente, para garantir que as pessoas recebem assistência médica e registar os danos cometidos, por razões legais. Em caso de necessidade, os polícias também combatem contra os russos.

Já aconteceu?
Sim, claro. Nós temos funções diferentes dos militares, mas, se se chegar ao ponto de existir um combate direto, os polícias não se vão embora. Porque é que os russos não conseguiram tomar Kharkiv no primeiro dia? Porque existiu uma união entre as forças armadas, a polícia, a guarda nacional, todos com apenas um objetivo: vitória.

Se encontrasse Putin, disparava contra ele. Honestamente… Isto são emoções, sei que o lugar dele é no tribunal. Desejo disparar contra ele, mas uma coisa é o desejo de uma pessoa e outra é a responsabilidade de um polícia, que é levá-lo a tribunal.
Volodymyr Tymoshko, Chefe da Polícia Nacional na Região de Kharkiv

Tem noção de quantos crimes de guerra foram documentados?
Cada ataque contra um objeto civil é um crime de guerra. Por exemplo, hoje os russos atacaram o museu do filósofo Hryhorii Skovoroda. Porém, nem as forças armadas, nem a polícia estavam por perto, portanto eles simplesmente destruíram um museu [de um filósofo e poeta nascido há 300 anos]. A polícia regista a situação no local do incidente, cria-se um relatório, ao qual são anexados vídeos e fotografias para, posteriormente, provar que a Rússia não é um lado da guerra, mas sim um agressor que veio apenas para destruir e cometer crimes de guerra. Como eram crimes de guerra também as ações de Hitler em 1945. Hitler matava civis em massa, tal como Putin mata civis em massa: não há diferença entre eles, são iguais.

Passaram oitenta anos e não há diferenças?
Este 9 de maio é o Dia da Vitória. Os nossos avós vivenciaram completamente a Segunda Guerra Mundial. Na Ucrânia, praticamente todas as famílias têm elementos que passaram pela Segunda Guerra Mundial. Não há nenhuma diferença entre os fascistas que entraram aqui em 1941 e os russos que entraram aqui em 2022. Aqueles roubavam e matavam civis, e estes fazem o mesmo. Aqueles bombardeavam e destruíam cidades pacíficas, e estes fazem o mesmo. Aqueles criavam campos de concentração, e estes também criaram alguns campos, levando os civis e militares para a Rússia. A única coisa em que a Rússia conseguiu superar os alemães foi na tortura. Os alemães ainda tinham a aprender com os russos na forma como torturam as pessoas.

O que faria se encontrasse Putin?
Eu disparava contra ele. Honestamente… Isto são emoções, sei que o lugar dele é no tribunal. Desejo disparar contra ele, mas uma coisa é o desejo de uma pessoa e outra é a responsabilidade de um polícia, que é levá-lo a tribunal.

O que é que a guerra mudou no seu dia-a-dia?
Durmo fardado todas as noites desde que a guerra começou, a 24 de fevereiro. Os dias de trabalho não acabam, estamos a trabalhar quase 24 horas por dia. Podemos dormir um pouco à noite e, mesmo assim, mudamos de posições para não levarmos novamente com um rocket, os meus adjuntos vão para uns locais, eu vou para outros, tentamos controlar a situação em toda a região. Há turnos para as pessoas poderem dormir, comer e, pelo menos, arranjarem-se minimamente no que toca à higiene e pronto. Desde o dia 24, nunca mais dormi em minha casa. Desde que cheguei no dia 24 ao trabalho, ainda não saí.

É uma das pessoas que recebem em primeiro lugar as informações sobre novos ataques?
Sim, é exatamente isso. O sistema de informação funciona muito bem graças aos polícias responsáveis por esse departamento. Conseguimos reagir de forma muito rápida se recebermos rapidamente as informações. Utilizamos o whatsapp e o telegram. Também temos messenger e chatbots, que as pessoas usam para nos informar sobre os crimes, ou a localização e movimentação dos russos. Nós analisamos isso tudo e filtramos toda a informação.

Nas ruas de Kharkiv, o chefe da polícia circula acompanhado a curta distância por um agente fortemente armado

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“Já há bastantes processos por traição ao Estado, contra quem apoiou os ocupantes”

Como é que tem corrido a investigação a espiões ou infiltrados que colaboram com os russos?
Essa é uma das nossas funções. Estamos constantemente à procura deles no meio de civis. Infelizmente, eles também existem entre as autoridades, incluindo na polícia. Mas felizmente, é um número muito baixo. Praticamente 100% da comunidade da região de Kharkiv, cada vez mais a aproximar-se dos 100%, odeia intensamente os russos e a Rússia como Estado. É um ódio enorme.

Antes da guerra não era assim?
A nossa cidade fica a apenas alguns quilómetros da Federação Russa, portanto muitas pessoas têm lá familiares, pais, irmãos ou irmãs. Mas a cidade sempre foi pró-Ucrânia, por isso os russos não a conseguiram conquistar. E qual poderia ser a reação das pessoas, depois de os russos terem bombardeado tantos prédios residenciais? Os militares russos não respeitam qualquer tipo de regras, não têm dignidade, nem honra. Eles abandonam os seus próprios feridos e os seus próprios mortos. Nós recolhemos cadáveres que já estão abandonados há 2 meses, ninguém sequer tentou tirá-los do campo de combate. Nas cidades que eles ocuparam, vandalizaram muitas coisas, tiraram tudo, até as fichas elétricas das casas.

As pessoas estão a fazer muitas denúncias sobre pessoas suspeitas?
Sim, e essas denúncias também são verificadas, faz parte do nosso trabalho. Infelizmente, encontramos sabotadores e, nessas situações, prendemo-los. Mas diferenciamo-nos dos russos por apenas agirmos dentro dos limites legais.

Quantos colaboradores pró-russos foram presos na região de Kharkiv?
Bastantes. Muitas pessoas. Além disso, nos primeiros dias, a polícia era responsável por prender os militares russos capturados pelas nossas forças armadas, depois de serem derrotados em combate. Estão em locais oficiais de privação de liberdade, não são campos de concentração. São locais que, antes da guerra, também recebiam indivíduos que cometeram crimes. A outra criminalidade baixou bastante, embora continue.

Apanham muitas pessoas a tentar roubar casas bombardeadas?
Infelizmente, sim. Há sempre ladrões, prendemos um a dois por dia.

Em Kharkiv também há situações em que esses ladrões são despidos e atados a um poste?
Sim. Os próprios civis que localizam esses saqueadores inventaram este tipo de castigo. Quando a polícia chega, desamarramo-los e detemo-los oficialmente. Na região de Kharkiv, entre 80 a 90% da população apoia a polícia.

Como será a vida após a guerra? Existirão conflitos com os ucranianos que apoiaram os russos nas povoações ocupadas?
Nós temos uma população muito pró-ucraniana. Sim, existem territórios ocupados. Sim, nesses territórios existe uma quantidade muito pequena, quase insignificante, de pessoas que apoiam ativamente os ocupantes. E nós apenas iremos agir com elas de acordo com os procedimentos legais, serão julgadas por traição ao Estado. Vão ser apresentadas provas contra essas pessoas, a polícia está a trabalhar nisso com os Serviços de Segurança.

Já há muitos processos abertos por traição ao Estado?
Isso é maioritariamente responsabilidade dos Serviços de Segurança, portanto não é correto eu revelar números. Porém, tendo em conta que nós trabalhamos em parceria em relação a esse assunto, posso dizer que há bastantes processos.

Volodymyr (de costas) a celebrar o casamento de um polícia em tempo de guerra. E em retratos com o bispo ortodoxo e o bispo católico; com o vocalista dos Boombox; e com o cantor Svyatoslav Vakarchuk

DR

“Gostaria de desejar à população de Portugal que nunca saiba o que isto é”

Já falou com o Presidente Zelensky? Conhece-o pessoalmente?
Não quero responder a essa pergunta. Todo o país conhece o Presidente Zelensky, qualquer civil conhece o Presidente Zelensky, porque o Presidente nunca abandonou o país desde o dia 24 e o apoio das pessoas ao Presidente é enorme. Simplesmente, a polícia é um órgão apolítico, logo eu não devo partilhar as minhas opiniões como polícia.

Como pensa que a guerra vai acabar?
Eu não sei quanto tempo ainda vai durar, mas sei que a Ucrânia já venceu. Agora falta esperar que os russos assumam oficialmente a sua derrota.

Acha que a Ucrânia ainda vai conseguir recuperar Mariupol?
Sim! Sim! Quem julgaria até dia 23 de fevereiro que o exército russo, tão forte e tão assustador, a segunda maior potência, iria ser completamente destruído na Ucrânia? Eles contavam ocupar totalmente a Ucrânia em três dias. Já passaram dois meses e eles têm perdas de mais de 20.000 pessoas. O exército deles foi destruído de todas as direções de onde vieram, há poucos territórios que eles conseguiram ocupar temporariamente. Eles julgam que vão continuar a conseguir conquistar uma vitória? Foram derrotados tanto no plano militar como no plano moral: o mundo inteiro viu como eles são cabrões.

Já teve de utilizar a sua arma?
Felizmente, nesta guerra ainda não tive de utilizar a minha arma. Mas sei que poderei necessitar dela a qualquer momento.

Dos cinco mil polícias de Kharkiv, quantos morreram desde 24 de fevereiro?
Há polícias mortos e feridos, mas não vou dizer os números, não acho correto, nem necessário. Mas estive em funerais de agentes e o mais difícil é olhar os pais deles nos olhos.

Chorou desde o início da guerra?
Não vou dizer que chorei, mas… quando se olha para crianças feridas ou mortas, as lágrimas vêm aos olhos de qualquer um, independentemente de ser uma mulher ou um homem muito forte. São cenários muito intensos. E eu gostaria de desejar à população de Portugal que nunca saiba o que isto é.

"Estive em funerais de agentes e o mais difícil é olhar os pais deles nos olhos", admite o Chefe da Polícia de Kharkiv

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