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As 7 vidas de Ronaldo que o tornam único (e a que começa depois do Mundial)

Quase a chegar aos 38 anos e sem clube, Ronaldo continua a ser uma das figuras deste Mundial e um dos maiores do futebol. Como chegou aqui? Do início no Andorinhas à saída do United, há segredos que explicam o sucesso do avançado português que parece ter mais vidas que os gatos. Uma viagem pela longa carreira, todos os recordes que "o perseguem", os números que soma e a ciência que explica o seu sucesso. E ainda o lado B, entre o luxo, as polémicas, a família e os negócios.

A longa carreira
Os títulos
Os recordes
A ciência
Os negócios
O lado B
Os segredos

A longa carreira

37 anos, 20 de carreira, um universo conquistado da Madeira para o mundo. A história do homem que nasceu para chegar às nuvens

Do Andorinha para o Nacional, do Nacional para o Sporting à boleia de uma dívida. A importância de Ferguson no United, os anos de sonho no Real, Itália e o regresso que correu mal. As 7 vidas de CR7.

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GETTY IMAGES

Nasceu em São Pedro, cresceu em Santo António. Desde cedo que o destino quis que Cristiano Ronaldo andasse perto das nuvens — e ele próprio fez questão de aprender a chegar perto dos céus. Na Madeira, no Funchal, foi o quarto filho de Dolores e José Dinis e o irmão mais novo de Hugo, Elma e Kátia. Os quatro filhos do casal Aveiro partilhavam um único quarto e Ronaldo, tal como qualquer outro cliché, nunca quis mais nada que não uma bola nos pés e uma baliza pela frente.

Entrou no já mítico Andorinha, onde o pai era o responsável pelos equipamentos, aos sete anos e em 1992. “Ele já jogava muito bem à bola. Começava já desde a manhã, mais os outros miúdos, e passava o dia inteiro a jogar. Tinha o dom da bola e é por isso que se tornou o melhor jogador do mundo. Merece tudo”, contou recentemente Rui Silva, antigo funcionário do clube, à Agência Lusa.

Aos 10 anos, depois de dar nas vistas pelo modesto Andorinha nas competições regionais dos escalões de formação, deu o salto para o Nacional a troco de 22 bolas e dois equipamentos. Em 1997, quando Aurélio Pereira era o homem forte do scouting do Sporting, os leões descobriram Cristiano Ronaldo na Madeira — não pelas fintas, não pelos golos, não pelo potencial. Por uma dívida.

“Havia uma dívida da transferência do Franco [antigo central] que impedia o Nacional de inscrever jogadores se não pagasse direitos de formação, ao Sporting e ao Odivelas. O dr. Marques de Freitas, presidente do Núcleo do Sporting na Madeira e simultaneamente sócio do Nacional, contactou-me, disse que o Nacional tinha um miúdo muito bom e perguntou se podia haver um acerto de contas”, contou o mesmo Aurélio Pereira, há alguns anos, ao jornal Record.

Como é que era possível? 'Ó miúdo, tem calma'... Quando ele era mais novo. Tive a sensação de que estavam todos completamente rendidos ao que tinha chegado naquele dia. Caiu no Sporting como um ovni. Aquele futebol de rua, o à vontade, o não ter medo de nada. Impressionou-me muito"
Aurélio Pereira, considerado o 'pai' da formação do Sporting, que descobriu Ronaldo

O agora capitão da Seleção Nacional tinha 12 anos mas pouco ou nada demorou a mostrar ao olheiro leonino que aquilo que tinham dito dele não tinha sido manifestamente exagerado. “Hoje em dia seriam 25 mil euros. Mas cinco mil contos, em 1997, tinha outro som. Quando a hipótese me foi colocado nunca supus que pudesse ser possível. Mas, pelo respeito que tinha para com a pessoa, não quis ficar na dúvida. Face à insistência, disse-lhe: ‘O doutor manda-me o miúdo e paga as passagens’. Foi o Núcleo do Sporting na Madeira que pagou as duas passagens, porque ele viajou com o padrinho”, começou por recordar Aurélio Pereira.

“Fui ver e confirmei tudo o que eles tinham dito: uma desenvoltura fantástica, velocidade de execução, jogo aéreo, pé esquerdo, pé direito. Mas o que me impressionou foi ver a aceitação dele perante os outros, todos um ano mais velhos. A dada altura volta-se para trás e diz ‘ó miúdo, tem calma!’. Como é que era possível? ‘Ó miúdo, tem calma’… Quando ele era mais novo. Tive a sensação de que estavam todos completamente rendidos ao que tinha chegado naquele dia. Caiu no Sporting como um ovni. Aquele futebol de rua, o à vontade, o não ter medo de nada. Impressionou-me muito”, completou aquele que é considerado o pai da formação leonina e da Academia que, atualmente, leva precisamente o nome de Cristiano Ronaldo.

Sporting 31 jogos, cinco golos

Ronaldo foi para Lisboa enquanto criança, sozinho e longe dos pais e dos irmãos, para perseguir o sonho do futebol. Chegou a viver no Lar do Jogador, que tinha acesso pela entrada da antiga Nave de Alvalade (o último Pavilhão dos leões até à chegada do João Rocha), e também numa pensão na Avenida Duque de Loulé, bem perto do Marquês de Pombal, antes de fazer parte da primeira geração que viveu e cresceu na Academia de Alcochete.

LUSA

Bom miúdo, sem grandes rebeldias ou caprichos, só pecava num capítulo: a escola. “Esforçava-se pouco e não tinha muito jeito. Era uma criança muito simpática, tinha muita energia mas era muito irrequieto e isso refletia-se no rendimento enquanto aluno. Era um menino com um olhar triste, um olhar muito triste. Ele tinha muitas saudades de casa. Ligava para casa a chorar para a mãe. Marcou-me por ser afetivo, por ser muito preocupado com a família”, contou Margarida Miranda, professora do capitão da Seleção, à Rádio Observador.

O foco, portanto, estava todo no futebol. Estreou-se pelos infantis numa vitória por 28-0 em Santa Iria da Azóia em que marcou 10 golos, teve de ser operado ao coração aos 15 anos devido a uma arritmia que ainda lhe colocou a carreira em stand by e chegou à equipa principal na época seguinte e por convicção de László Bölöni — que ficou particularmente impressionado com a capacidade de drible do português. Nessa temporada, para além de ser o primeiro formando da nova Academia a tornar-se profissional, assumiu-se também como o primeiro jogador a atuar pelos Sub-16, Sub-17, Sub-18, equipa B e equipa principal do Sporting num único ano.

Estreou-se em setembro de 2002, no início da única época completa que cumpriu nos leões, contra o Sp. Braga. No mês seguinte, numa partida que entretanto se tornou mítica, fez os primeiros golos pelo Sporting com um bis contra o Moreirense — numa noite fria em Moreira de Cónegos que tem sido constantemente rotulada como o início do conto de fadas. As exibições de Cristiano Ronaldo pela equipa leonina não passavam ao lado dos principais clubes da Europa e o jogador português chegou a ficar perto de assinar pelo Liverpool, pelo Barcelona ou pelo Arsenal (sendo que, neste último caso, chegou mesmo a viajar até Londres para conversar com o treinador Arsène Wenger).

"Os jogadores, no banco de suplentes, só me diziam: 'Boss! Que jogador que ele é!'. E eu respondia 'está tudo bem, temo-lo controlado', como se o negócio já estivesse feito há 10 anos. Disse ao nosso roupeiro Albert para ir ao camarote presidencial e dizer ao Peter Kenyon, o diretor desportivo, para descer ao intervalo. E apertei com ele, disse que não podíamos sair do estádio sem o contratar"
Alex Ferguson na sua biografia

Certo é que, apesar as abordagens, Ronaldo ficou em Alvalade até ao fim da época — fez 31 jogos, marcou cinco golos e assinou três assistências num ano em que o Sporting ficou em terceiro na Liga, a 27 pontos do campeão FC Porto. Até que, em agosto de 2003, tudo mudou. Os leões receberam e venceram o Manchester United na inauguração do novo Estádio José Alvalade e o avançado teve uma exibição brilhante que penalizou, essencialmente, o lateral irlandês John O’Shea.

Em 2013, logo depois de terminar a carreira de treinador, Alex Ferguson explicou a forma como a contratação de Cristiano Ronaldo por parte do Manchester United ficou fechada naquela noite de agosto, em Lisboa — e revelou que o plano inicial já era contratar o jogador, por já estar referenciado e sublinhado por Carlos Queiroz, mas deixá-lo emprestado por um ano ao Sporting.

NICOLAS ASFOURI/AFP/Getty Images

“Os jogadores, no banco de suplentes, só me diziam: ‘Boss! Que jogador que ele é!’. E eu respondia ‘está tudo bem, temo-lo controlado’, como se o negócio já estivesse feito há 10 anos. Disse ao nosso roupeiro Albert para ir ao camarote presidencial e dizer ao Peter Kenyon, o diretor desportivo, para descer ao intervalo. E apertei com ele, disse que não podíamos sair do estádio sem o contratar. O Kenyon falou com as pessoas do Sporting e pediu autorização para o contratar. Ele estava com o empresário numa pequena cabine, no interior do estádio, quando lhe fomos dizer que gostávamos de o ter no Manchester United”, contou o escocês na autobiografia. No dia seguinte, Cristiano Ronaldo, a mãe, a irmã mais velha, Jorge Mendes e um advogado estavam num avião particular a caminho de Inglaterra.

Manchester United 292 jogos, 118 golos

Apesar de chegar com o rótulo de adolescente mais caro da história da Premier League, o jogador português foi apresentado sem pompa nem circunstância e em conjunto com Kléberson, brasileiro de 24 anos que tinha ajudado o Brasil a conquistar o Mundial do Japão e da Coreia no ano anterior e que até ali jogava no Athl. Paranaense. Ao lado dos dois, Alex Ferguson. Estádio vazio, pouca imprensa, pouco alarido. Kléberson era o primeiro brasileiro da história do clube, Ronaldo o primeiro português; mas nem isso entusiasmou os britânicos. Na altura, a notícia do The Guardian tinha como título: “Adolescente fica com a camisola número 7 de Beckham”. O agora capitão da Seleção Nacional até pediu para jogador com o 28 — número que usava no Sporting — mas Ferguson insistiu que aceitasse o sete.

Sete esse que tinha sido de George Best, Bryan Robson, Eric Cantona e, até ao ano anterior à chegada de Ronaldo, de David Beckham. O miúdo de 18 anos que chegou a Inglaterra com 25 jogos no Campeonato português, barba mal semeada e dentes desalinhados aceitou carregar o mítico número nas costas. E foi a primeira vez que o mundo viu uma das uniões camisola-número mais rentáveis da história do futebol. Este pormenor, ainda que para Ferguson fosse a certeza de que o português ia ser um dos símbolos da história do Manchester United, não caiu bem junto dos ingleses.

Nesse mesmo texto que dava conta da chegada de Cristiano Ronaldo, o The Guardian recordava que Ricardo Quaresma teria sido melhor investimento, já que “o jogador de 19 anos está acima de Ronaldo em termos de desenvolvimento”. Na estreia em Old Trafford, quatro dias depois da apresentação, não marcou nem fez uma grande exibição. Mas não foi preciso. Na altura, George Best chamou-lhe “indubitavelmente a estreia mais entusiasmante” que já tinha visto.

"Tem as habilidades todas e faz a festa sozinho, já sabemos isso tudo, mas nada disso é suficiente se não conseguir fazer alguma coisa no fim. Mas temos de nos lembrar, claro, que o rapaz só tem 19 anos. Se tivermos isso em conta temos de dizer que ele tem um talento gigantesco. Os pés dele são hipnotizantes, por vezes. Se conseguir conciliar isso com cruzamentos consistentes, o futuro parece ser assustador"
Alan Hansen, então comentador da BBC, no ano de estreia de Ronaldo no Manchester United

O primeiro golo apareceu em novembro, com um livre direto contra o Portsmouth, mas nem os seis que marcou ao longo dos 40 jogos em que participou durante a temporada — incluindo na final da Taça de Inglaterra, contribuindo para a conquista do título — serviram para convencer por inteiro os adeptos ingleses no geral e do Manchester United em particular. As fintas eram demasiado brasileiras, a rebeldia era demasiado irresponsável, as correrias ficavam demasiado perto do abismo.

“Tem as habilidades todas e faz a festa sozinho, já sabemos isso tudo, mas nada disso é suficiente se não conseguir fazer alguma coisa no fim. Mas temos de nos lembrar, claro, que o rapaz só tem 19 anos. Se tivermos isso em conta temos de dizer que ele tem um talento gigantesco. Os pés dele são hipnotizantes, por vezes. Se conseguir conciliar isso com cruzamentos consistentes, o futuro parece ser assustador”, chegou a dizer Alan Hansen, então comentador da BBC. E o futuro foi mesmo assustador.

EPA

Até 2009, Cristiano Ronaldo nunca fez menos de 40 jogos por temporada e marcou um total de 118 golos, conquistando três vezes a Premier League e atingindo o sonho de vencer a Liga dos Campeões em 2008, o mesmo ano em que levantou a Bola de Ouro pela primeira ocasião. Entretanto, num sucesso paralelo, tornou-se a principal referência da Seleção Nacional no pós-Luís Figo: deu nas vistas no Euro 2004, esteve no Mundial 2006 e brilhou no Euro 2008 antes de aparecer no Mundial 2010 já como capitão. Pelo meio, trocou Inglaterra por Espanha e deu início ao capítulo mais brilhante da própria carreira.

Real Madrid 438 jogos, 450 golos

Os 95 milhões que o Real Madrid pagou por Cristiano Ronaldo foram, na altura, um recorde mundial absoluto. Florentino Pérez queria repetir a era dos galácticos que tinha desenhado com Figo, Beckham, Ronaldo e companhia e para além do jogador português contratou Kaká, Benzema e Xabi Alonso num único verão.

Se seis anos antes apenas Alex Ferguson posou para as fotografias, em Madrid tinha Florentino Pérez, Alfredo Di Stéfano e Eusébio em pano de fundo. A apresentação do jogador madeirense bateu o recorde de uma outra, 25 anos antes – em 1984, 75 mil pessoas correram para o Stadio San Paolo para dar as boas vindas a Diego Armando Maradona, que acabara de chegar ao Nápoles.

Se em 2003 aterrou em Manchester enquanto miúdo de 18 anos que só tinha vencido uma Supertaça Cândido de Oliveira na vida, apresentado em conjunto com outro jogador e apenas com o treinador ao lado, em 2009 teve direito ao aparato todo. E não era para menos. Na altura, o jogador português saltou para o primeiro posto das transferências mais caras de sempre: custou mais de 95 milhões de euros aos cofres merengues. Consigo trazia três Campeonatos ingleses, uma Liga dos Campeões, uma Bota de Ouro e uma Bola de Ouro. Era, oficialmente, o melhor jogador do mundo. E foi assim que foi apresentado.

Se Old Trafford tinha as bancadas despidas naquele longínquo 13 de agosto de 2003, a 6 de julho de 2009 juntaram-se 80 mil pessoas no Santiago Bernabéu para ver chegar Cristiano Ronaldo (com o pormenor de que, dias antes, “apenas” 55 mil tinham assistido à apresentação de Kaká). Se seis anos antes apenas Alex Ferguson posou para as fotografias, em Madrid tinha Florentino Pérez, Alfredo Di Stéfano e Eusébio em pano de fundo. A apresentação do jogador madeirense bateu o recorde de uma outra, 25 anos antes – em 1984, 75 mil pessoas correram para o Stadio San Paolo para dar as boas vindas a Diego Armando Maradona, que acabara de chegar ao Nápoles.

O relvado do Santiago Bernabéu estava a ser retirado e os responsáveis do clube decidiram estender uma passadeira em tons de verde onde Cristiano Ronaldo desfilou, acenou e sorriu. Afinal, como o próprio revelou, estava a concretizar o sonho que tinha desde menino. Fez um breve discurso, gritou o ¡Hala Madrid! da praxe e deu início a uma das histórias mais bonitas do passado recente do futebol espanhol, europeu e internacional. Recebeu das mãos de Di Stéfano a camisola ‘9’, aquela que usou durante a primeira temporada em Madrid, enquanto Raúl ainda estava no plantel. No ano seguinte, agarrou a ‘7’ blanca que acabou por imortalizar.

Real Madrid v Club Atletico de Madrid - UEFA Champions League Final

Getty Images

Estreou-se com quatro jogos seguidos a marcar mas os 33 golos que apontou ao longo da temporada — e que fizeram dele o melhor marcador do Real Madrid — não foram suficientes para conquistar qualquer título nesse primeiro ano. A terceira época no Santiago Bernabéu, com José Mourinho ao comando e a primeira em que conseguiu ganhar a liga espanhola, trouxe-lhe um recorde pessoal absoluto de 60 golos numa única temporada. Tal como já era claro na altura em que deixou o Manchester United, Ronaldo tinha deixado de ser apenas um desequilibrador com influência no corredor e era agora um goleador, uma referência ofensiva, um predador de balizas que colecionava hat-tricks.

A chegada de Carlo Ancelotti ao Real Madrid, em 2013, abriu a porta ao período dourado da história recente dos merengues e teve ligação direta à era de Zidane. Entre 2014 e 2018, os espanhóis conquistaram quatro vezes a Liga dos Campeões, três delas de forma consecutiva, ganharam três Mundiais de Clubes e ainda foram campeões nacionais numa ocasião. Paralelamente, Cristiano Ronaldo venceu quatro Bolas de Ouro em cinco anos e subiu ao patamar de melhor jogador do mundo de forma praticamente unânime.

Enquanto vértice fulcral no triângulo ofensivo que partilhava com Benzema e Bale, o avançado português viveu a melhor fase da carreira com Zidane enquanto treinador. O francês percebeu que Ronaldo, já com mais de 30 anos, não tinha de jogar sempre 90 minutos — tinha de jogar sempre mas não precisava de cumprir cada instante de cada partida quando os resultados já estavam mais do que resolvidos. O jogador aprendeu a gerir o esforço, a preparar-se para os embates mais importantes e focar-se em ser decisivo quando tal lhe era exigido.

No fim, ao longo de nove temporadas e de praticamente uma década no Real Madrid, deixou os merengues enquanto melhor marcador da história do clube, melhor marcador de sempre na Liga dos Campeões, melhor marcador do clube na liga espanhola, jogador com mais jogos com três ou mais golos na história da liga espanhola e ainda o atleta com mais golos apontados numa única época pelo clube.

Na Seleção Nacional, depois dos Mundiais pouco conseguidos tanto em 2010 como em 2014 e do desapontante Euro 2012, Cristiano Ronaldo atingiu o único patamar que lhe faltava na carreira em 2016. Em França, num Campeonato da Europa onde Portugal só esteve porque o avançado fez um hat-trick no decisivo playoff de apuramento contra a Suécia, a seleção de Fernando Santos derrotou a equipa anfitriã e conquistou o primeiro troféu internacional da própria história. Ronaldo lesionou-se ainda na primeira parte da final, saindo do relvado de maca e em lágrimas, e assumiu o papel de principal motivador dos colegas até ao derradeiro instante do prolongamento. Saltou com o golo de Éder, empurrou o selecionador quando percebeu que estava ganho, abriu os braços em direção ao céu e chorou quando soou o apito final. Aconteça o que acontecer, foi o capitão que levou a Seleção Nacional ao degrau mais alto a que alguma vez tinha chegado.

Juventus 134 jogos, 101 golos

Em maio de 2018, ainda no relvado de Kiev e depois de conquistar a terceira Liga dos Campeões consecutiva com o Real Madrid, Cristiano Ronaldo deixou a ideia de que poderia não voltar a vestir a camisola merengue. O comentário surgiu na sequência de meses de avanços e recuos na negociação da renovação com Florentino Pérez — e o jogador partiu para a Rússia e para o Campeonato do Mundo já com a ideia de que não regressaria ao Santiago Bernabéu.

"Foi uma decisão fácil. Vendo o poderio que a Juventus tem, para mim, é uma das melhores equipas do mundo. É um passo importante na minha carreira, o melhor clube italiano, com grandes jogadores e um grande presidente. É mais um desafio, sempre gostei de desafios. Há jogadores que com a minha idade vão finalizar a carreira para o Qatar ou China, eu venho rejuvenescer para um clube grande como este"
Ronaldo na apresentação pela Juventus

Depois do Mundial, onde Portugal foi eliminado nos oitavos de final pelo Uruguai, caiu a bomba: ao fim de quase uma década, Cristiano Ronaldo estava de saída do Real Madrid e ia rumar à Juventus, que fazia um completo all in para ir atrás da conquista da Liga dos Campeões que escapa desde 1996. Os 100 milhões que os italianos pagaram, na altura, foram um recorde na Serie A e o valor mais alto alguma vez pago por um jogador com mais de 30 anos.

“Foi uma decisão fácil. Vendo o poderio que a Juventus tem, para mim, é uma das melhores equipas do mundo. É uma decisão que vem acontecendo ao longo do tempo. Sempre quis jogar aqui e sempre o disse aos meus companheiros mais próximos. É um passo importante na minha carreira, o melhor clube italiano, com grandes jogadores e um grande presidente. É mais um desafio, sempre gostei de desafios. Há jogadores que com a minha idade vão finalizar a carreira para o Qatar ou China, eu venho rejuvenescer para um clube grande como este. Estou feliz, agradecido à Juventus pela oportunidade de continuar a minha brilhante carreira. Não vim aqui passar férias, vou tentar surpreender-vos uma vez mais. Quero brilhar, deixar a minha marca. Vou estar preparado e tenho a certeza de que vai correr bem. É um passo à frente na minha carreira”, atirou Ronaldo na apresentação em Turim, onde se estreou a marcar com um bis frente ao Sassuolo.

A passagem de três anos por Itália, que trouxe duas ligas, uma Taça e uma Supertaça, teve essencialmente uma frustração: a Liga dos Campeões. Cristiano Ronaldo foi uma contratação completamente virada e direcionada para a Europa mas a chegada do jogador português coincidiu com uma quebra de rendimento da Juventus e com algum desnorte a nível institucional e diretivo. Massimiliano Allegri saiu de forma algo inexplicável em junho de 2019, Maurizio Sarri durou uma época, Andrea Pirlo foi chamado com base naquilo que tinha feito como jogador e esquecendo a ausência de experiência e Allegri voltou em maio do ano passado.

Nas três épocas com Ronaldo, a Juventus nunca foi além dos quartos de final da Liga dos Campeões e perdeu até uma hegemonia interna que parecia impenetrável, perdendo o título de 2020/21 para o Inter Milão. No verão de 2021, depois de um Euro 2020 onde Portugal não foi além dos oitavos de final mas onde o avançado igualou o registo de Ali Daei enquanto melhor marcador de sempre por seleções, deixou Turim para trás das costas e apanhou um avião para Manchester. Primeiro, para o City; no fim, para o United.

Manchester United 54 jogos, 27 golos

Durante vários dias, como o próprio admitiu na recente entrevista a Piers Morgan, Cristiano Ronaldo teve tudo acertado com o Manchester City de Guardiola. Um telefonema de Alex Ferguson, porém, abriu a porta ao regresso a Old Trafford. “Segui o meu coração. Ele disse-me: ‘É impossível ires para o Manchester City’. E eu respondi ‘ok, boss'”, contou o português, que recuperou a camisola ‘7’ depois de Cavani aceitar abdicar do número e quebrou todos os recordes de vendas das camisolas nos primeiros dias depois da oficialização da contratação.

"Depois de terem despedido o Solskjaer, contrataram o Ralf Rangnick, que é diretor desportivo. Ninguém percebeu. Um clube como o Manchester United contratar um diretor desportivo para treinador surpreendeu-me a mim e surpreendeu o mundo todo. Se nem sequer era treinador, como é que ia estar à frente do Manchester United? Nunca tinha ouvido falar dele"
Ronaldo na entrevista a Piers Morgan

Voltou a estrear-se logo em setembro, contra o Newcastle e com dois golos, recebendo uma gigantesca ovação por parte dos adeptos. A época que o viu atingir o golo 800 da carreira, porém, não foi bem conseguida: Ole Gunnar Solskjaer foi despedido logo em novembro e o Manchester United optou por contratar Ralf Rangnick para suceder ao norueguês, deixando claro que o alemão iria ocupar a posição de forma interina e que no fim da temporada mudava-se para o cargo de diretor desportivo. Uma decisão que, como o próprio já assumiu, Ronaldo não entendeu.

“Depois de terem despedido o Solskjaer, contrataram o Ralf Rangnick, que é diretor desportivo. Ninguém percebeu. Um clube como o Manchester United contratar um diretor desportivo para treinador surpreendeu-me a mim e surpreendeu o mundo todo. Se nem sequer era treinador, como é que ia estar à frente do Manchester United? Nunca tinha ouvido falar dele”, atirou, também na entrevista a Piers Morgan.

Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador da época dos red devils mas o Manchester United não foi além de um sexto lugar que não garantiu a qualificação para a Liga dos Campeões — ou seja, pela primeira vez na carreira, o avançado português ia disputar a Liga Europa. Ainda antes do fim da temporada desportiva, a família do capitão da Seleção foi afetada por uma tragédia inesperada com a morte de um dos filhos gémeos no momento do parto: um episódio que, como se percebeu nas últimas duas semanas, ditou o futuro desportivo do jogador.

Ronaldo não se apresentou na pré-época do Manchester United, citando “motivos pessoais”, e o mundo passou todo o mercado de transferências à espera de que o jogador português fosse anunciado num qualquer outro clube — entre Sporting, Nápoles, Chelsea, Bayern Munique ou Barcelona. No último dia da janela de mercado, nada mudou. E o avançado apresentou-se aos trabalhos, levantando ondas desde o primeiro dia ao sair mais cedo de Old Trafford e sem esperar pelo apito final num particular contra o Rayo Vallecano.

Perdendo o lugar no onze inicial, por opção e por não estar no melhor momento a nível físico após ter falhado toda a pré-época, Cristiano Ronaldo foi sendo utilizado essencialmente na Liga Europa e fez o primeiro golo da temporada de grande penalidade e contra o Sheriff. Seguiu-se a hecatombe do Manchester United contra o Manchester City em que não chegou a sair do banco, a partida contra o Tottenham em que recusou entrar a instantes do fim e o consequente castigo e também os dois jogos que falhou sem explicação aparente antes da paragem para o Mundial. No domingo antes de se apresentar na Cidade do Futebol, o mundo viu aquilo que não esperava ver.

Numa inesperada entrevista a Piers Morgan, Cristiano Ronaldo criticava o Manchester United e Erik ten Hag, acusava o clube de não ter acreditado nele quando a filha recém-nascida esteve hospitalizada e mostrava-se magoado por um sem fim de atitudes e alegados desrespeitos. Pouco mais de uma semana depois, os red devils responderam de forma efetiva e anunciaram a rescisão por mútuo acordo com o jogador português, que não vai voltar a vestir a camisola do clube onde se tornou o melhor do mundo.

20 anos depois de se ter estreado pelo Sporting, prestes a estrear-se naquele que será o quinto e último Mundial da carreira, o futuro de Cristiano Ronaldo é uma incógnita. E só poderia ser assim na vida do homem que nunca fez o expectável e que sempre quis andar perto das nuvens.

Os títulos

Chegou a ser 9, eternizou-se como 7. Mas os números de Ronaldo são outros

5 vezes Bola de Ouro, 2 vezes Melhor Jogador do Mundo, 4 vezes Melhor Jogador da Europa, Campeão da Europa, vencedor da Liga das Nações, 5 vezes vencedor da Liga dos Campeões (4 no Real Madrid e 1 no United), 3 vezes vencedor da Supertaça Europeia, 3 vezes campeão de Inglaterra, 2 vezes campeão de Espanha e 2 vezes campeão de Itália. Deixando de fora as Taças e Supertaças nacionais dos quatro grandes clubes onde jogou, estes são os números impressionantes de Ronaldo.

ÉPOCA
CLUBE / SELEÇÃO
TÍTULO
O QUE CONTRIBUIU
O QUE TEVE DE SIMBÓLICO
2003/04
Manchester United
Taça de Inglaterra
5 jogos, 2 golos e 2 assistências
Foi o primeiro título pelo United e marcou na final frente ao Milwall
2005/06
Manchester United
Taça da Liga
4 jogos, 2 golos e 1 assistência
Foi a primeira Taça da Liga e voltou a marcar na final frente ao Wigan
2006/07
Manchester United
Campeonato
34 jogos, 17 golos e 8 assistências
Nas três jornadas de Boxing Day em semana de Natal marcou seis golos
2007/08
Manchester United
Supertaça
1 jogo, 0 golos
Ganhou pela primeira vez um título em final a José Mourinho
2007/08
Manchester United
Campeonato
34 jogos, 31 golos e 6 assistências
Foi pela primeira vez o melhor marcador da Premier League
2007/08
Manchester United
Liga dos Campeões
11 jogos, 8 golos e 1 assistência
Teve o primeiro reencontro com o Sporting e marcou nos dois jogos
2008/09
Manchester United
Supertaça
-
Não jogou essa final com o Portsmouth
2008/09
Manchester United
Mundial de Clubes
2 jogos, 1 golo e 1 assistência
Fez a assistência para o único golo da final frente ao Quito de Rooney
2008/09
Manchester United
Taça da Liga
4 jogos, 2 golos
Entrou na 2.ª mão das meias com o Derby County e marcou o golo decisivo
2008/09
Manchester United
Campeonato
33 jogos, 18 golos e 6 assistências
Foi o último troféu conquistado antes de ser vendido ao Real Madrid
2010/11
Real Madrid
Taça
8 jogos, 7 golos e 1 assistência
Marcou o único golo da final frente ao Barcelona no prolongamento
2011/12
Real Madrid
Campeonato
38 jogos, 46 golos e 11 assistências
Foi campeão com o recorde de golos da Liga atrás de Messi (50)
2013/14
Real Madrid
Taça
6 jogos, 3 golos e 1 assistência
Depois de ter sido determinante no apuramento, falhou a final com o Barcelona
2013/14
Real Madrid
Liga dos Campeões
11 jogos, 17 golos e 5 assistências
Bateu o recorde de golos numa só edição da Champions
2014/15
Real Madrid
Mundial de Clubes
2 jogos, 2 assistências
Fez duas assistências na goleada frente ao Cruz Azul nas meias
2015/16
Real Madrid
Liga dos Campeões
12 jogos, 16 golos e 4 assistências
Marcou o penálti decisivo no desempate na final com o Atl. Madrid
2015/16
Seleção
Campeonato da Europa
7 jogos, 2 golos e 2 assistências
Acabou por sair lesionado na primeira parte da final com a França
2016/17
Real Madrid
Mundial de Clubes
2 jogos, 4 golos
Marcou um hat-trick na final da competição frente ao Kashima Antlers
2016/17
Real Madrid
Campeonato
29 jogos, 25 golos e 6 assistências
Acabou a prova a marcar seis golos nos últimos quatro jogos
2016/17
Real Madrid
Liga dos Campeões
13 jogos, 12 golos e 5 assistências
Bisou na goleada na final frente à Juventus
2017/18
Real Madrid
Supertaça Europeia
1 jogo
Foi suplente utilizado e fez apenas sete minutos frente ao Manchester United
2017/18
Real Madrid
Supertaça
1 jogo, 1 golo
Marcou um dos golos frente ao Barcelona fora mas acabou expulso
2017/18
Real Madrid
Liga dos Campeões
13 jogos, 15 golos e 2 assistências
Apontou um dos melhores golos da carreira num pontapé de bicicleta em Turim
2017/18
Real Madrid
Mundial de Clubes
2 jogos, 2 golos
Marcou nos dois jogos e foi decisivo na final com o Grémio
2018/19
Juventus
Supertaça
1 jogo, 1 golo
Fez o golo decisivo da final frente ao AC Milan na Arábia Saudita
2018/19
Juventus
Campeonato
31 jogos, 21 golos e 8 assistências
Foi o melhor marcador da equipa na competição
2018/19
Seleção
Liga das Nações
2 jogos, 3 golos
Marcou um hat-trick frente à Suíça na meia-final
2019/20
Juventus
Campeonato
33 jogos, 31 golos e 6 assistências
Apontou o primeiro hat-trick em Itália frente ao Cagliari
2020/21
Juventus
Supertaça
1 jogo, 1 golo
Marcou um dos golos da final frente ao Nápoles
2020/21
Juventus
Taça
4 jogos, 2 golos
Bisou na vitória na 1.ª mão das meias frente ao Inter em Milão

Os recordes

Todos os recordes que perseguem Ronaldo

A FIFA, e muitas marcas, usaram a mesma foto ou montagem para promover o Mundial: juntaram Ronaldo, Messi e Neymar, três das maiores figuras do futebol. Na internet, uma legenda tornou-se viral. Dizia: "Nesta foto está o melhor marcador da história, o melhor marcador da história de seleções e o melhor marcador da história de clubes. E estão também Messi e Neymar". É um bom resumo dos recordes do avançado português. Mas é apenas isso, um resumo. Conheça-os todos.

Melhor marcador da história em jogos oficiais

(818 golos)

Este foi um daqueles registos que andou em discussão durante algumas semanas, sobretudo porque há algumas décadas a fronteira entre o que era um jogo oficial homologado ou não homologado, um particular ou uma digressão apresentava-se como algo ténue e muito variável. No entanto, e a partir deste ano, até as últimas dúvidas ficaram de vez dissipadas: já depois de Pelé ter sido ultrapassado e de ter reconhecido isso mesmo em mensagens trocadas com o avançado nas redes sociais, Ronaldo chegou aos 805 golos em março deste ano, igualando o registo Pepi Bican, avançado austro-húngaro que se destacou entre os anos 30, 40 e 50. Nesta fase, com aquele último golo pelo Manchester United marcado ao Sheriff em Old Trafford, o capitão da Seleção leva um total de 818 golos marcados desde aquela estreia pelo Sporting em Alvalade frente ao Moreirense: cinco pelos leões, 144 pelo Manchester United, 451 pelo Real Madrid, 101 pela Juventus e 117 pela Seleção, numa história que cumpre por este tempos duas décadas desde o seu início.

Melhor marcador da história das seleções

(117 golos)

O primeiro golo de Ronaldo na Seleção A foi daqueles simbólicos, logo a abrir o Campeonato da Europa de 2004 no Dragão frente à Grécia mas sem conseguir evitar a derrota por 2-1, mas até à fase final do Mundial de 2010 o avançado levava "apenas" 22 golos marcados por Portugal. Essa fase final também não foi a mais conseguida mas a viragem nessa linha estava prestes a assumir proporções que só o próprio considerava serem possíveis: mesmo com um registo muito alto da grande figura de sempre do futebol do Irão, Ali Daei, que em 149 jogos conseguiu marcar 109 golos, o português foi somando temporadas com dez ou mais golos por ano em média e alcançou esse registo durante a fase final do Europeu de 2020 no ano passado, fazendo a ultrapassagem depois na qualificação para este Campeonato do Mundo. Nesta altura são já 117 golos os golos marcados, os dois últimos na goleada à Suíça para a Liga das Nações no mês de junho em Alvalade.

Melhor marcador da história por clubes

(702 golos)

Este é mais um parâmetro que não se consegue propriamente transformar num dado unânime para todos, tendo em conta que entre as décadas de 30 e 50 era complicado avaliar ao certo o que era ou não um jogo oficial e até encontrar registos de todos esses compromissos. Apesar disso, havia uma referência a nível de jogador com mais golos marcados por clubes que era Romário, antigo goleador e campeão do mundo pelo Brasil que marcara 689 golos por Vasco da Gama, PSV, Barcelona, Flamengo, Valencia, Fluminense, Al Sadd, Miami FC e Adelaide United num total de 1.002 contando também com todos os registos pela seleção e em encontros de carácter particular. Também esse registo foi ultrapassado em março deste ano pelo português, que nesta altura tem um total de 702 golos marcados por Sporting, Manchester United, Real Madrid e Juventus entre Campeonato, Taça e Supertaça nacionais (à exceção dos leões ganhou tudo em todos), Liga dos Campeões, Liga Europa, Supertaça Europeia e Mundial de Clubes, num total de 29 títulos.

Melhor marcador da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes

(140 golos e 7 golos)

Depois de duas décadas de completo domínio na Liga dos Campeões, prova que conquistou uma vez pelo Manchester United e quatro pelo Real Madrid (três em épocas consecutivas), Ronaldo ficou em 2022/23 ausente pela primeira vez da principal competição europeia de clubes após o conjunto inglês ter falhado o apuramento e ser relegado para a Liga Europa (que o português nunca tinha disputado antes). No entanto, nem isso apaga aquilo que são as marcas a este nível na Champions, a começar pela mais alta de todas: é o melhor marcador da prova com 140 golos, à frente de Lionel Messi (129) e Lewandowski (91). Mas os seus registos na Liga dos Campeões não ficam por aí: é o jogador com mais jogos (182), com mais presenças em jogos na fase de grupos (98), com mais golos numa temporada (17), com mais golos em jogos a eliminar (67) e é ainda o único a marcar em três finais e a ter uma série de 11 encontros consecutivos a marcar. Em paralelo, e nas quatro presenças (e vitórias) no Mundial de Clubes, Ronaldo tornou-se o melhor marcador da prova com um total de sete golos distribuídos entre uma participação pelo United e três pelo Real.

Melhor marcador da história do Real Madrid

(451 golos)

Quando foi apresentado no verão de 2009 num Santiago Bernabéu cheio tendo ao lado os míticos Eusébio e Alfredo di Stéfano, depois de ter protagonizado aquela que ficou na altura como a maior transferência de sempre do futebol mundial, dificilmente alguém do Real Madrid (ou o próprio Ronaldo) poderia imaginar que entraria tanto na história do clube como conseguiu ao longo de quase uma década. Logo à cabeça, na que foi a maior marca deixada no clube, o avançado tornou-se o melhor marcador de sempre com um total de 451 golos, muito à frente da lenda Raúl González (323 golos). Em paralelo, tornou-se ainda o melhor marcador dos merengues na Champions(105) e na Liga (312), o jogador na história da Liga com mais jogos a marcar três ou mais golos (34), o jogador a marcar mais golos numa só edição da Liga dos Campeões (17) e o jogador do conjunto da capital a marcar mais golos numa só temporada (61). Tudo, "apenas", em nove anos.

Jogador com mais jogos e golos pela Seleção A

(191 jogos, 117 golos)

Por mais que se percebesse desde aquela primeira temporada de Manchester United e consequente chamada ao Campeonato da Europa de 2004 que Ronaldo era um fenómeno à parte, era difícil imaginar que o legado do avançado conseguiria chegar a números como chegou – e ainda pode chegar a mais. Além de ter estado em cinco fases finais de Europeus e ir agora fazer a quinta de Mundiais, ambos recordes, o número 7 atingiu as 191 internacionalizações até este Campeonato do Mundo no Qatar (o mais próximo que tem a seguir na lista é João Moutinho com 164) além dos 117 golos que fazem dele o jogador com mais remates certeiros na história das seleções. Mas pode não ficar por aqui: sendo o jogador europeu com mais internacionalizações, Ronaldo está apenas a quatro do malaio Soh Chin Ann (a FIFA reconhece apenas 195 e não 219 jogos pela seleção do seu país) e a cinco de se tornar também o mais internacional de sempre, batendo o registo que pertence nesta fase a Bader Al-Mutawa, avançado de 37 anos do Kuwait que está ainda no ativo.

O primeiro jogador a conseguir marcar em todos os minutos de jogo

Há mais um sem número de recordes alcançados por Cristiano Ronaldo ao longo das últimas décadas, não só a nível individual e coletivo. Alguns exemplos: é o único jogador da história a ganhar Campeonato, Taça e Supertaça em Inglaterra (Manchester United), Espanha (Real Madrid) e Itália (Juventus) e é também o jogador com mais jogos, vitórias, golos e assistências na Liga dos Campeões. Depois há outros registos mais no plano individual como o facto de ter sido o único jogador até hoje a marcar mais de 60 golos em quatro anos consecutivos, outro feito que colocado em perspetiva dá conta da carreira do número 7. Mas há ainda aqueles recordes mais fora da caixa que não deixam por isso de enriquecer o currículo e destacar o português como um dos melhores de todos os tempos, como facto de ter sido o primeiro a marcar ao longo de 818 golos em todos os minutos de um jogo de futebol, do 1.º ao 90.º, passando ainda pelos descontos.

A ciência

O que tornou Ronaldo especial? Um estudo de 2011 e milhões de anos de evolução cerebral explicam o fenómeno CR7 (mas o envelhecimento pesa)

Coxas maiores que a média e gémeos mais pequenos permitem a Ronaldo concentrar mais energia nas pernas. Tem menos gordura que um supermodelo. E o cérebro adaptou-se para ser um génio com os pés.

Corre como uma gazela, mas é humano. Voa sobre os centrais, mas não é nem uma águia (ou Jardel, como diz a canção). E tem a força de uma máquina, mas é de carne e osso. O fenómeno Cristiano Ronaldo parece difícil de explicar. Mas a ciência ajuda: está tudo nos músculos, no cérebro e na física — mesmo que o próprio não o saiba quando faz coisas que nem ela, a ciência, consegue explicar.

Os segredos que fizeram de CR7 o atleta consagrado em que se tornou, visto como o melhor do mundo, mesmo que agora, aos 37 anos, esteja a caminhar para o fim da carreira, começaram a ser explicados num estudo com 11 anos em que o corpo e a mente de Ronaldo foram escrutinadas por tecnologia de ponta e peritos desportivos. As medições à anatomia de Cristiano Ronaldo revelavam em 2011 que o atleta tem as pernas longas de um velocista, o físico delgado de um atleta de meia distância e a estatura de um atleta de salto em altura.

Nesse ano, um estudo em torno do desempenho de Ronaldo demonstrava que tinha 84 quilos (agora tem menos um), 1,85 metros de altura (novas medições dizem que são 1,87) e menos 3% de gordura corporal que um supermodelo. O perímetro da coxa era superior à média, com quase 62 centímetros, mas o perímetro dos gémeos era muito inferior ao normal.

“Ronaldo tem geneticamente um corpo de atleta, mas desenvolve o seu corpo com exercícios no ginásio” onde trabalha muito a coxa, explicou ao Observador Carlos Fiolhais no Euro 2016. Grande parte da energia armazenada pelo capitão da seleção portuguesa fica concentrada na zona inferior do corpo. Os cientistas descobriram que um pontapé livre de Ronaldo atingia quase 130 km/h e que, num jogo apenas, consegue percorrer 10 quilómetros.

O próprio Cristiano Ronaldo é muito rápido. Uma análise ao desempenho de CR7 no jogo frente à Alemanha no Euro 2020 (que se jogou um ano depois por causa da pandemia) revelou que o avançado português atingiu os 32 km/h quando atravessou o campo para marcar o primeiro golo da Seleção portuguesa. Ronaldo completou os 97 metros, entre a grande área portuguesa e a adversária, em 11 segundos. Três segundos depois, estava feito o primeiro golo português – e com duas desacelerações pelo meio.

A velocidade de CR7 ficou comprovada no estudo patrocinado pela Castrol em que o jogador participou — e em que foi colocado frente-a-frente com o velocista espanhol Ángel David Rodríguez. Em linha reta ao longo de 25 metros, Ángel David Rodríguez está na sua praia e vence a Ronaldo: o espanhol completa o percurso em 3,31 segundos, o português em 3,61. Mas se o percurso for em ziguezague, CR7 vence porque esse estilo é mais comum no futebol: faz 25 metros em 6,35 segundos, Ángel David Rodríguez precisa de 6,86.

São estas características que permitem ao futebolista português colocar a física a seu favor. Carlos Fiolhais, físico teórico e divulgador da ciência, explicou o que acontece em campo quando um atleta comunica com a bola num jogo de futebol. E nesse campo, o rei é Newton: “A bola move-se de acordo com a posição de que a parte e as forças a que está sujeita”.

Sempre que a bola sofre um embate por parte de um atleta, atuam sobre ela o peso e a força de resistência do ar. Ao partir do pé do jogador com uma determinada velocidade, ela vai diminuindo ao longo do tempo até que o peso a obrigue a cair. Nesse trajeto, o facto de a bola girar introduz algumas complicações que se traduzem em efeitos no movimento.

“Se a pressão for maior de um lado e menor no outro, há uma força lateral que às vezes engana os defensores”, explicou Fiolhais. As trivelas, por exemplo, “não são uma magia”: são um produto da física. Claro que os atletas não estão a fazer cálculos newtonianos enquanto tentam marcar golo. Neste caso, “têm é de ter treinado muito, terem muita experiência, para terem uma ideia intuitiva do que podem fazer”: “É uma inteligência que a física não explica”.

A capacidade de salto em altura de Cristiano Ronaldo, tal como ficou comprovado no estudo patrocinado pela Castrol, também justifica o sucesso que alcançou. Saltando sem impulso e sem a ajuda dos braços, Ronaldo não consegue saltar mais do que 44 centímetros através de uma força apenas 1,5 vezes maior que o peso do seu corpo. Está dentro da média.

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Mas, em situação de jogo, Ronaldo consegue elevar-se a 78 centímetros do chão – mais alto do que a média dos jogadores de basquetebol da NBA e com uma força cinco vezes maior à do seu peso, tanto quanto experimentaria dentro de uma nave espacial a caminho do espaço no momento da descolagem. Daí o também famoso golo de pontapé de bicicleta no jogo pela Juventus frente ao Real Madrid, para a Liga dos Campeões, em que parece ficar suspenso e ‘deitado’ no ar. Além disso, consegue levantar o peso equivalente a 16 carros Toyota Prius durante um treino intensivo de pesos, demonstrando também a força física do jogador. Uma força que ganhou pelos treinos a que se sujeita diariamente, sobretudo desde que saiu do Sporting para o Manchester-United, tendo o seu próprio ginásio em casa, e nunca descurando os pesos, a natação e a própria recuperação.

Ronaldo também é Ronaldo pelo que é além da força muscular. “O que o torna excecional é o tempo de reação muito curto que lhe permite uma capacidade de antecipação incrível ao perigo“, descreveu Sérgio Gonçalves, biomecânico do Instituto Superior Técnico. A experiência da Castrol há 11 anos, em que o jogador foi posto num campo e uma bola foi rematada na sua direção, provava isso mesmo.

No teste, assim que a bola é chutada, os cientistas desligaram as luzes do campo para testar a capacidade de antecipação e de instinto de Ronaldo. Os resultados falam por si: apenas 300 milisegundos depois de começar a reagir ao remate — esse tempo de reação é, em média, de 200 milisegundos —, Ronaldo já tinha calculado a trajetória da bola para acertar nela mesmo às escuras.

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Um exemplo em que a capacidade de salto em altura e a intuição de Ronaldo funcionaram a seu favor (e de toda a seleção nacional) é o jogo entre Portugal e o País de Gales no Euro 2016, em que Ronaldo saltou acima dos 2,50 metros de altura e alinhou a cabeça com a trajetória da bola. Carlos Fiolhais explica que, nessa ocasião, “o segredo do salto” esteve nas pernas: “A velocidade inicial é grande, consegue uma ajuda do solo”.

Nesse dia, Ronaldo saltou tão alto quanto um urso pardo e foi mais veloz que um coiote. Perante o passe certeiro de Raphael Guerreiro, o capitão elevou a cabeça até aos 2,61 metros de altura e encaminhou a bola para a rede adversária a uma velocidade de 71,3 quilómetros por hora. A bola chegou à baliza apenas sete décimas de segundos depois do remate. Havia de ser o primeiro passo para a viagem rumo a Paris e festejar a conquista do Euro 2016. Em 2004, CR7 já tinha alcançado esta proeza com uma bola cruzada por Deco.

Quando o avançado português salta, tende a levantar os joelhos e as pernas para a parte de trás do seu corpo. Isto permite elevar o centro de gravidade temporariamente, mas durante o tempo suficiente para permanecer no ar, receber a bola e cabeceá-la para dentro da baliza. Claro que esse período de tempo em que Cristiano Ronaldo permanece no ar não é tão grande como parece. É uma “ilusão de ótica”, como esclarece o físico.

É que o cérebro de jogadores como Ronaldo não é igual ao de uma pessoa comum, garante o neurocientista Jeffrey Holt num artigo sobre como “o futebol reconecta” o nosso órgão pensante: “Mais do que qualquer outro desporto, o futebol exige um brilho que redefina o córtex cerebral, porque o jogador de futebol está limitado a uma regra simples: fazer tudo sem mãos”.

Ora, fazer tudo sem mãos é o mesmo que recuar milhões de anos na evolução que o sistema nervoso do Homem atravessou ao longo da sua presença na Terra: no cérebro da maior parte das pessoas, as mãos são os membros do corpo mais representadas, principalmente nas regiões do cérebro dedicadas à perceção do tato e da posição do corpo e aquelas que controlam a atividade motora dos músculos.

Isso não é o que se passa no cérebro de um futebolista, pelo menos não inteiramente: ao serem obrigados a não usarem as mãos na atividade que lhes preenche grande parte do quotidiano, o cérebro dos jogadores molda-se às exigências a que estão obrigados: “Como os pés dos jogadores são extremamente sensíveis e notavelmente poderosos, as regiões do cérebro a eles dedicadas expandem-se para permitir uma maior representação neural”.

“Não é difícil imaginar que os cérebros de Ronaldo, Messi ou Neymar, atualmente alguns dos maiores jogadores de futebol do mundo, possam ser muito diferentes da média humana, com uma representação expandida para os pés”, prosseguiu Jeffrey Holt. É por isto que “o córtex cerebral remodelado nas mentes dos melhores jogadores de futebol é uma prova da incrível plasticidade do cérebro humano e da sua capacidade de se adaptar e aprender com novas experiências”, conclui.

O peso da idade. Mente pode equilibrar o corpo, mas com CR7 é mais complicado

Mas o tempo passa e Ronaldo já não é o mesmo jogador de futebol que as tecnologias da Castrol demonstraram ser em 2011. Nem mesmo fisicamente: à medida que se envelhece, os músculos e tendões perdem elasticidade e a manutenção do peso torna-se mais difícil, por exemplo.

Uma análise a quase 11 mil jogadores da La Liga na temporada 2017-2018 revelou que a distância total percorrida por atletas com mais de 30 anos é 2% menor do que a percorrida por mais jovens. O número de sprints de alta intensidade e a velocidade máxima alcançada também diminuíram entre 5 e 30%. E o fenómeno repetiu-se na Bundesliga: a distância percorrida diminuiu 3,4%, o número de sprints 21% e o número de corridas rápidas 12% nos atletas a partir dos 30 anos em comparação com os mais novos. A performance diminuiu ainda mais rápido nos jogadores com 35 anos ou mais.

Tudo isto é um reflexo do que se passa no corpo humano: a partir dos 30 anos, segundo um estudo da Universidade de Califórnia do Sul, perde-se entre 3% e 8% da massa muscular a cada 10 anos — e essa percentagem pode alcançar os 10% a partir dos 40 anos e os 15% a partir dos 70. A Universidade de Harvard indica que essa perda muscular é de 1% a 2% por ano a partir dos 35 anos. O exercício físico continuado e um esforço para manter um estilo de vida ativo e saudável pode ajudar os atletas a compensarem o impacto do envelhecimento, nas não totalmente: a idade traz sempre perda de força muscular e diminuição no número de fibras musculares (que pode ser superior a 50%).

Mas essas dificuldades físicas podem ser compensadas pela força mental, aponta João Beckert, especialista em Medicina Desportiva e Medicina Física e Reabilitação na Unidade de Medicina Desportiva e Performance, no Hospital CUF Tejo: “Do ponto de vista cognitivo, de confiança na experiência, a idade pode ser um fator que favorece. Atletas mais experientes, que confiam que estão em forma e com rendimento, pode nem parecer que são afetados por questões fisiológicas”.

Mas o atual estado de espírito pode impactar o desempenho de Ronaldo no Mundial 2022 e perturbar também o rendimento da seleção como um todo, acredita Carlos Fiolhais — o adepto, não o físico, sublinha. Cristiano Ronaldo sublinhou a importância da experiência na polémica entrevista que cedeu a Piers Morgan, quando disse que ele mesmo procurava aprendizagem entre os jogadores mais maduros quando era mais jovem.

“Lembro-me de que quando tinha 18, 19 anos, procurava aprender sempre com os melhores jogadores, o Giggs, o Van Nistelrooy, o Roy Keane. E foi por isso que tive o sucesso que tive, aprendi com os melhores. Não sou muito de dar conselhos, gosto mais de dar o exemplo. Estou lá todas as manhãs, sou o primeiro a chegar e o último a sair, os detalhes falam por mim”, mencionou.

Mas assumiu que a forma física se tem vindo a deteriorar ao longo do tempo: “Dia após dia nós vamos envelhecendo. Não quero ser arrogante e dizer que sou o mesmo que quando tinha 20 anos (…) Quero jogar mais dois ou mais três anos. Quero retirar-me com 40 anos, é uma boa idade”.

E confessou que está numa fase psicologicamente sensível da sua vida. “Parece que sou a ovelha negra”, desabafou: “As pessoas esquecem-se de que sou um ser humano”. Mesmo profissionalmente, Ronaldo assumiu que não está satisfeito com a situação atual: “Sinto que estão a tentar forçar a minha saída. Senti-me traído. Não devia dizer isto, mas não quero saber. Há pessoas que não me querem aqui e não é só este ano, no ano passado também. Os Glazer não querem saber do clube, da vertente desportiva”.

Os negócios

O carimbo CR7 começou na roupa interior, expandiu-se para os hotéis e já vai nos implantes capilares. Os negócios de Ronaldo

O jogador português fundou a marca CR7 em 2006 e tem espalhado o carimbo pelo mundo. Tem as iniciais em roupa, óculos e perfumes, abriu hotéis com o Grupo Pestana e lançou-se nos implantes capilares.

Com um encaixe financeiro de 720 milhões de euros de 2010 a 2019, Cristiano Ronaldo foi destacado pela revista Forbes como o segundo atleta mais bem pago da década, apenas atrás do pugilista Floyd Mayweather. 720 milhões de euros que o capitão da Seleção Nacional investiu — em todo o tipo de negócios e aventuras empresariais.

A primeira aposta do jogador português, naturalmente, foi a marca CR7, que hoje em dia abrange centenas de produtos de todas as vertentes entre roupa interior, calças, uma linha de calçado, óculos, lençóis e até perfumes. A aventura começou logo em 2006, quando Ronaldo ainda estava no Manchester United e abriu a primeira loja de roupa CR7 no Funchal. A marca expandiu-se para o continente, primeiro para Lisboa e depois para Vilamoura, mas sem grande sucesso — as duas lojas, tanto a da capital como a algarvia e mesmo a madeirense, acabariam por fechar anos depois.

Uma colaboração com a Denali levou-o também a assinar uma linha de mantas e cobertores e a insígnia CR7 também foi parar ao jato Gulfstream 200, avaliado em cerca de 20 milhões de euros e que é rentabilizado por cerca de três mil euros/hora sempre que Cristiano Ronaldo não está a usá-lo. A vontade de explorar os céus levou-o mesmo a fundar uma empresa aeronáutica, a Dutton Invest SI, sediada em Madrid e com o nome do português na administração até 2019 — altura em que foi substituído pelo amigo Ricardo Regufe, que conheceu quando este era ainda sports marketing manager da Nike.

No mundo digital, o capitão da Seleção Nacional tem pelo menos duas aplicações com a própria figura enquanto protagonista: “Cristiano Ronaldo Soccer Clash” e “Ronaldo Kick’n’Run”. Em 2017 foi ligeiramente mais longe e tornou-se o investidor maioritário da agência digital Thing Pink, uma empresa especializada no desenvolvimento de várias experiências digitais para clientes de variadas áreas e que o jogador transformou em 7egend.

Hoje em dia, a Thing Pink cria soluções tecnológicas e móveis para grandes empresas como a McDonald’s, a FNAC ou o FC Porto, mas também para os espaços Footlab (laboratórios desportivos que usam a tecnologia para melhorar a performance de atletas e jogadores amadores, uma marca detida por Rui Costa que tem espaços em Lisboa e no Dubai) e para o próprio museu de Cristiano Ronaldo na Madeira. O Museu CR7, inaugurado em 2013, tem 400 metros quadrados, alberga muitos dos troféus conquistados pelo português e motivou um investimento de 1,5 milhões de euros.

A expansão da marca CR7 levou Ronaldo a assinar também parceria com o Grupo Pestana e a explorar a vertente da hotelaria. O primeiro hotel surgiu naturalmente no Funchal, já em 2016, é uma unidade hoteleira totalmente inspirada no mundo do futebol — decorada com camisolas do jogador nas paredes dos corredores e com relvados sintéticos nas casas de banho dos 49 quartos. De lá para cá, foram inaugurados Pestana CR7 em Lisboa, Madrid, Nova Iorque e Marraquexe.

Em 2017, um ano antes de se mudar do Real Madrid para a Juventus, assinou uma parceria com a Crunch Fitness e abriu 11 ginásios em Espanha — sendo que em 2020 chegou a anunciar a abertura de dois espaços semelhantes em Portugal, algo que nunca aconteceu. Por fim, em 2018, Cristiano Ronaldo regressou a Madrid para fundar uma clínica de implantes capilares, a Insparya, num investimento que se revelou um sucesso e que entretanto já abriu um segundo espaço em Marbella. A expansão prevê a inauguração de mais 10 clínicas, um pouco por tudo o mundo, até 2017: sendo que o jogador português já comprou o Grupo Saúde Viável em junho do ano passado, cujos espaços em Lisboa, no Porto e em Vilamoura vão também passar a fazer parte da rede da Insparya.

O lado B

O Lado B de CR7. A vida pessoal de Ronaldo, da pobreza ao luxo (sem esquecer a recente tragédia)

Fora das quatro linhas, longe dos negócios, a história de Ronaldo é de contrastes: as raízes pobres transformaram-se numa vida de luxo. E o amor também lhe trouxe episódios de polémica e tragédia.

É assunto incontornável no Mundial de 2022. Cristiano Ronaldo, capitão da seleção portuguesa, ficou sem equipa onde jogar a dois dias da estreia de Portugal frente ao Gana. O destino de CR7 ficou incerto depois de uma polémica entrevista ao não menos polémico apresentador Piers Morgan em que criticou a estratégia do Manchester United mas também falou da sua vida pessoal e da tragédia recente: a perda de um dos filhos gémeos, no parto, em abril, a que se somou a doença, três meses depois, da gémea sobrevivente. Do seu passado conhecem-se as histórias de pobreza, do menino que cresceu sem nada e que se tornou um dos mais ricos da Forbes, que vive no meio do luxo mas que teve uma adolescência difícil, e que construiu depois uma grande família feliz. À medida que o sucesso crescia, somavam-se as namoradas, as polémicas e até um escândalo sexual complicado na justiça.

A infância e as raízes madeirenses

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro nasceu no Funchal, filho de Maria Dolores e José Dinis, no seio de uma família católica — de resto, é por isso que tem o hábito de beijar a cruz de Cristo num colar antes de entrar em campo e chegou a ostentar ao pescoço um terço como imagem de marca. É o mais novo de quatro irmãos: o mais velho é Hugo, depois Elma e Kátia Aveiro. A família Aveiro continua a ser um pilar para Ronaldo. O pai, no entanto, morreu em 2005, em vésperas de um jogo da seleção portuguesa contra a Rússia de apuramento para o Mundial de 2006, por problemas renais e hepáticos provocados por excesso no consumo de álcool.

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A mãe costuma partilhar a história de como Cristiano Ronaldo esteve para não vir ao mundo. Na biografia “Mãe Coragem”, Dolores confessou que fez duas tentativas de aborto quando estava grávida de CR7 — uma delas junto de um médico, que recusou; e outra com a ajuda de uma vizinha, que lhe cedeu uma receita caseira. A mezinha também não funcionou e Ronaldo acabou mesmo por nascer.

A família Aveiro passou por dificuldades económicas no bairro: vivia numa casa humilde de madeira, com fendas por onde passava a chuva, ele e os três irmãos dormiam no mesmo quarto, e mãe trabalhava longas horas para garantir que havia comida na mesa, quer a fazer trabalhos domésticos, quer na cestaria típica da Madeira. Ronaldo não era bom aluno e faltava às aulas, mas Dolores não seguia os conselhos dos professores para que se impusesse perante o filho: “Não o castigava. Ele tinha que treinar muito para se tornar um grande jogador”. E tornou-se tão grande que a condição financeira de toda a família evoluiu com a dele: “Vê lá tu, mãe, querias abortar de mim e sou eu que sustento esta casa toda”, chegou a brincar Ronaldo.

Ronaldo veio da Madeira para Lisboa para jogar sozinho no Sporting aos 11 anos e viveu sozinho e com colegas primeiro no lar do jogador do Sporting e depois numa pensão pobre na rua Duque de Loulé, quando o lar dos leões entrou em obras e já contou como levou o filho mais velho a ver o local e Ronaldo Júnior não acreditou. Também contou como ele e o seu colega de quarto iam pedir os hambúrgueres que sobravam às meninas do McDonald’s ao lado, ao fim da noite, para comerem melhor. Ou como andava com pesos nos pés, para fortelecer os músculos.

Aos 15 anos, durante exames de rotina, descobriram-lhe um problema cardíaco e precisou de uma cirurgia urgente, mas não invasiva e feita a laser. Foi a mãe quem deu autorização, um passaporte para a carreira que começava já a destacar-se.

Dolores Aveiro acompanhou-o depois quando saiu de Alvalade para Manchester, para lhe fazer a comida favorita, canja, bacalhau e peixe grelhado, e terá sido fundamental para a sua evolução. Ele é hoje de facto o suporte da família: não só da mãe e do seu atual companheiro, como das irmãs e das suas carreiras — Kátia é empresária e cantora, Elma empresária e Hugo gestor da própria carreira e negócios do irmão.

As namoradas supermodelo e a história dos filhos

Cristiano Ronaldo só assumiu quatro namoradas ao longo da sua vida pública: a apresentadora Merche Romero, com quem o jogador esteve por seis meses em 2006 e que mantém uma relação próxima com a família Aveiro; a modelo espanhola Nereida Gallardo, com quem namorou no verão de 2008; a supermodelo Irina Shayk, com quem Ronaldo namorou durante quase cinco anos, até 2014; e Georgina Rodríguez, com quem formou família.

Marie Claire Prix de la Moda awards 2011

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Ronaldo conheceu Georgina em 2016, quando a modelo trabalhava numa loja da Gucci em Madrid. A relação começou mais tarde, depois de os dois se terem cruzado num evento em que o futebolista convivia com o irmão da espanhola. Esta a única namorada com quem Ronaldo teve filhos de modo natural: Alana Martina, nascida em novembro de 2017; e um casal de gémeos, Bella Esmeralda e um menino que morreu no parto, a 18 de abril, a tragédia recente que parece tê-lo marcado profundamente. Os três mais velhos — Cristiano Júnior (2010) e os gémeos Eva Maria e Mateo (2017) — foram concebidos com recurso a barriga de aluguer. Mas nunca se soube qualquer detalhe que fosse sobre o país ou a fórmula usada pelo avançado português.

Irão Ronaldo e Georgina alguma vez casar? É algo em que o casal pensa, mas não quer concretizar para já. Na entrevista a Piers Morgan, o futebolista assumiu que o tema está em cima da mesa: “Merecemos”, considerou. Mas a celebração não está no horizonte, pelo menos para já.

As polémicas

Cristiano Ronaldo está envolvido num escândalo de assédio sexual. A modelo Kathryn Mayorga alegou ter sido violada pelo futebolista português em 2009 num hotel em Las Vegas e exigiu uma indemnização de 64 milhões de dólares por danos emocionais. Em 2010, Kathryn Mayorga e Cristiano Ronaldo terão celebrado um acordo de sigilo extrajudicial em troca de 325 mil euros, mas a alegada vítima avançou com um processo jurídico em 2018, afirmando que foi coagida a assinar o acordo oito anos antes. Ronaldo sempre negou estas acusações e o caso acabou arquivado nos Estados Unidos em junho. Mayorga recebeu 355 mil euros do futebolista português dos 64 milhões que exigia, e que a justiça norte-americana recusou.

Um ano antes de o caso Mayorga, Cristiano Ronaldo foi acusado de fraudes tributárias alegadamente cometidas entre 2011 e 2014. O Ministério Público espanhol afirmou que o jogador não tinha pago os impostos devidos pelas receitas de direitos de imagem, tendo defraudado o Estado em 15 milhões de euros. Ronaldo assumiu a culpa e acordou um plano de pagamentos com as Finanças espanholas, a quem também teve de pagar uma multa. Ficou assim livre de cumprir pena de prisão.

O luxo, das férias aos carros

CR7 é um apaixonado por automobilismo e é em carros que gasta boa parte da fortuna. Quantos tem? Ninguém sabe — nem mesmo ele, já admitiu o próprio. O mais caro será um Bugatti Chiron que custa entre 19 e 22 milhões de dólares. Mas a coleção incluirá também automóveis como o Porsche 911 Carrera S, Ferrari F12 TDF, Bugatti La Voiture Noire, Bentley Continental GT Speed, Audi R8 ou um Aston Martin DB9.

Das estradas para o mar, os iates de luxo são uma das preferências de Cristiano Ronaldo nas férias de verão. O capitão da seleção portuguesa tem um iate de luxo avaliado acima dos sete milhões de dólares — o Azimut Grande 27 Metri. Ronaldo, família e amigos já zarparam para Palma de Maiorca (Espanha), Portofino (Itália), Mónaco e Saint-Tropez (França). Sempre no seu jato privado, mais eficaz para viajar, sobretudo quando se tem uma família numerosa: um Gulfstream 200, avaliado em cerca de 20 milhões de euros e que é rentabilizado por cerca de três mil euros/hora quando não o usa. Férias que costumam passar também pelo Dubai, onde Ronaldo tem aliás uma casa (na famosa Palmeira Jumeirah) e é amigo do príncipe herdeiro do emirado: foi aliás lá que festejou o aniversário de Giorgina, com imagens projetadas no edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa.

O luxo não está reservado para as férias. Cristiano Ronaldo é o dono daquela que será a vivenda mais cara de Portugal — uma mansão com nove mil metros quadrados na Quinta da Marinha, em Cascais, avaliada em 20 milhões de euros — e do apartamento mais valioso do país, que fica na Rua Castilho e custa mais de sete milhões de euros (a tal onde teve de demolir a famosa ‘marquise’).

A tragédia da perda de um filho

A 18 de abril, Georgina Rodríguez e Cristiano Ronaldo anunciaram a morte de um dos gémeos durante o parto. Num comunicado colocado nas redes sociais, o casal comunicou o falecimento do menino (Angel) no mesmo dia em que a gémea Bella Esmeralda veio ao mundo. “É a maior dor que quaisquer pais podem sentir. Só o nascimento da nossa bebé nos dá forças para viver este momento com alguma esperança e felicidade”, confessaram no Instagram.

Na polémica entrevista que concedeu a Piers Morgan, e que veio a culminar com a saída por mútuo acordo do Manchester United, Cristiano Ronaldo admitiu o sofrimento que a perda de um dos filhos lhe trouxe. “Foi a pior fase da minha vida desde que o meu pai morreu”, descreveu: “Foi duro. Eu e a Georgina passámos por momentos muito difíceis. Porquê a nós? Não percebíamos. E o futebol não parou, muitas competições… Passar por isto, nessa fase, foi a fase mais difícil da minha vida”. Depois acabou ainda a dizer como foi difícil contar ao filho mais velho e como ambos choraram no quarto (Ronaldo Júnior já mostra bastantes qualidades como jogador) e aos mais pequenos, a quem foi dito uma semana depois, pois não paravam de perguntar pelo outro bebé. Acabou a confessar que guarda as cinzas do filho ao lado das do pai e que todos os dias fala com ele.

Os segredos

Água, peixe e sestas, sim senhor. Mas também muito e muito trabalho

Já se sabe que Ronaldo leva a carreira a sério. E há segredos para manter a forma que tem quase aos 38 anos. A genética é um deles. O que come e bebe também ajudam. A família é um pilar importantíssimo. A mentalidade de campeão deu-lhe uma força de aço. Mas depois vem o trabalho árduo, muito árduo: antes e depois dos treinos, em casa e até nas férias.

Não falha uma sesta porque sabe que o sono é a alma do negócio

A importância de um bom descanso é cada vez mais fundamental nos jogadores. Um exemplo prático: no Mundial do Qatar, a Costa Rica, que não surge propriamente como uma das equipas de proa da competição, colocou um software debaixo das camas dos seus atletas para perceber como é o seu sono, quantas horas na verdade descansa e quantas vezes se mexe de um lado para o outro. Ronaldo sempre teve essa preocupação, tendo aproveitado os ensinamentos do especialista Nick Littlehales quando trabalhou com o Real Madrid para melhorar esse aspeto mesmo não seguindo à letra o que o britânico defende. Assim, e ao contrário dos cinco períodos de sesta de 90 minutos, o avançado tem a sua noite normal apontando para as oito horas de descanso e acrescenta a isso alguns períodos de descanso durante a tarde a seguir ao almoço. Outra das "ferramentas" que alguns jogadores usam são as camas hipobáricas, que simula um ambiente a mais de 2.000 metros de altitude e faz com que a concentração de oxigénio seja menor do que é normal.

Seis refeições, carnes brancas e o peixe que nunca dispensa todos os dias

A alimentação é outro dos grandes segredos para forma e longevidade de Ronaldo, mais uma vez dando o mote para que mais jogadores façam o mesmo como é o caso de Erling Haaland, num episódio contado pelo pai do norueguês recentemente num documentário. E se quando estava no Real Madrid se falava muito de uma alimentação com muita fruta, sumo e batidos, agora o plano passa por ter seis refeições diárias cada um com o seu propósito: um pequeno-almoço mais à base de queijo, presunto e iogurtes com baixo valor de calorias; um primeiro almoço onde dá primazia a carnes brancas como o frango acompanhado por salada; uma espécie de "segundo almoço" onde aponta mais para ovos, tomates e atum; um lanche entre tostas e fruta; um primeiro jantar mais com peixe grelhado também com salada; e o tal "segundo jantar" que pode ser carne ou peixe sem grandes acompanhamentos. As opções entroncam também nos gostos do jogador mas sobretudo nas suas necessidades perante os treinos físicos que vai fazendo ao longo do dia (que não é apenas aquele treino típico de hora e meia no relvado com os companheiros de equipa, longe disso).

Coca-Cola nem na mesa da conferência, saídas à noite e álcool também não

Se dúvidas ainda existissem, tudo o que Ronaldo demora pouco a correr mundo e ser replicado. O exemplo mais recente foi o da nova celebração do golo, que de Portugal a Itália via Rafael Leão passando por equipas femininas não demorou a tornar-se viral. No ano passado, no Campeonato da Europa, o mesmo aconteceu com uma garrafa de Coca-Cola que estava na mesa da sala de conferências de imprensa e foi escondida pelo jogador, dando o mote para quem mais jogadores fizessem depois o mesmo com outras bebidas. Podia ser uma mera brincadeira, que foi, mas mostra aquilo que é Ronaldo: até pode gostar de outras coisas que não água mas evita bebidas com gás e tudo o que seja fritos. Em paralelo, não costuma sair à noite, preferindo manter a sua vida mais recatada e, em algumas ocasiões, fechar espaços para estar com os mais próximos.

Uma genética que ajuda o trabalho de um "animal" de ginásio (a qualquer hora)

Quando estava ainda na formação entre escalões, dos iniciados para os juvenis e dos juvenis para os juniores (desde cedo que foi colocado a jogar com miúdos um ano mais velho), havia sempre discussão entre técnicos sobre a relação ginásio-Ronaldo. Uns consideravam que sim, que era importante, tendo em conta que era alto e que precisava começar a ganhar "cabedal" para estar mais preparado para a agressividade que teria de enfrentar perante a sua forma de jogar; outros achavam que não, que não era relevante, porque podia perder a velocidade de ponta que tinha e que era uma das suas principais armas sem bola ou em condução. O próprio "votava" sim e, muitas vezes às escondidas, ia sempre que podia para as máquinas fazer ferro, numa diferença que ainda se tornou mais substancial a partir do momento em que chegou a Manchester. Ainda agora, duas décadas depois, o avançado é obcecado pelo ginásio, tendo apenas a diferença de fazer cargas e exercícios adaptados a uma fase da carreira em que tem tendência para ficar mais esguio.

A importância da recuperação, a natação e como o pilates ganhou peso

As histórias são muitas, contadas por companheiros, ex-jogadores e preparadores físicos, mas entroncam sempre no mesmo: o cuidado que Ronaldo tem com o físico é anormal em comparação com todos os outros jogadores, ainda que isso obrigue a alguns sacrifícios. Por exemplo, até mesmo em dias de jogo em que chegue mais tarde, o capitão da Seleção tão depressa pode ir fazer trabalho de ginásio como para uma sessão de crioterapia, a banheira de gelo que acelera a recuperação dos tecidos musculares. A par disso, há ainda mais duas atividades que o número 7 tem por hábito para completamentar o seu treino: natação, que para muitos é o desporto mais completo a nível de trabalho de músculos, e pilates, uma forma de adaptar a carga de treino que queira fazer mediante o dia em causa e complementar os outros exerícios de ginásio.

A estabilidade familiar que é a rede para qualquer capítulo da carreira

Outro dos grandes segredos na evolução de Ronaldo passou pela parte familiar e pela estabilidade que foi criando para ter o que sempre sonhou (uma família grande) conciliando com o que sempre quis (estar ao melhor nível no futebol). Essa tem sido uma imagem de marca nos últimos anos, entre Madrid, Turim e Manchester, com o jogador a aproveitar todos os momentos livres para estar com a namorada e os cinco filhos numa altura em que Cristianinho, o mais velho, vai começando também a dar os seus primeiros passos mais a sério no mundo do futebol. Foi também neste núcleo, a que se juntou a mãe, os três irmãos e alguns amigos mais próximos, que Ronaldo mais se apoiou no momento da morte do filho, um episódio que marcou bastante o capitão da Seleção como ficou bem expresso na recente entrevista a Piers Morgan.

Uma mentalidade de campeão para quem desde miúdo não conhece a palavra "impossível"

Desde a adolescência que Ronaldo fazia mais do que sonhar com a possibilidade de vir a ser um dos maiores jogadores do mundo (quando estava ainda na formação do Sporting ambicionava "apenas" jogar no Real Madrid, mas sabendo que isso era quase meio caminho andado para a Bola de Ouro) – trabalhava para isso. Não é normal por exemplo um rapaz de 15/16 anos ter a perceção que se atasse pesos aos tornozelos para subir a correr do Marquês de Pombal para o Rato iria aumentar a sua velocidade e capacidade de explosão. Tudo o que Ronaldo é foi porque fez para ser e essa mentalidade de vencedor acabou por ser um dos grandes segredos para alcançar a carreira que conseguiu entre vários recordes que eram vistos como "impossíveis". Aliás, para alguns esse está a ser agora até um problema e não uma solução: aos 37 anos Ronaldo sonha tanto como quando tinha 17 e quer tanto como quando tinha 27. Foi por isso também que se encontrou recentemente com o psicólogo Jordan Peterson, para falar de "obstáculos que está a enfrentar".

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