Índice
Índice
Uchida estava sentada num lugar com janela no Airbus A350 da Japan Airlines que aterrou esta terça-feira no Aeroporto Internacional de Tóquio. Assim que o avião pousou na pista, a passageira com cerca de 40 anos, oriunda da prefeitura de Chiba, ouviu o que parecia ser uma explosão, indicou ao jornal JapanTimes. Mas ignorou, pensando que a aterragem tinha sido bem-sucedida. Contudo, o seu estado de espírito alterou-se numa fração de segundos. Quando olhou para a janela, apercebeu-se de que a aeronave estava em chamas. “Eu pensava que era o fim. Pensava que ia morrer.”
Na mesma posição que Uchida estiveram outros 366 passageiros, que tinham saído do Aeroporto New Chitose, em Hokkaido, rumo à capital nipónica nesta terça-feira à tarde (madrugada em Lisboa). Quando o Airbus A350 aterrou no principal aeroporto de Tóquio, colidiu com outra aeronave, um Bombardier Dash-8 da Guarda Costeira japonesa, que tinha como destino a cidade de Niigata, para a qual levava ajuda humanitária para as vítimas do terremoto, que sacudiu aquela localidade na segunda-feira.
A Airbus, fabricante da aeronave, e o governo japonês estão a investigar o que esteve na origem deste acidente. Para já, as respostas ainda são poucas. À Rádio Observador, o ex-comandante da TAP, José Correia Guedes, considerou “anormal” esta colisão, apontando para a hipótese de um “erro humano”.
Praticamente todos os passageiros do avião pertencente à Guarda Costeira morreram, à exceção do piloto, que se encontra hospitalizado em estado grave. Em sentido inverso, todos os que viajavam no Airbus A350 da Japan Airlines sobreviveram, havendo apenas o registo de 14 feridos — mas nenhum se encontra em perigo de vida. Ainda assim, alguns daqueles que estavam à bordo relatam um cenário que descrevem como um “inferno”, enquanto outros tentaram manter a calma.
A explosão: “Todo o avião estava cheio de fumo. Parecia o inferno”
A família sueca Deibe estava a bordo do Airbus A350. Ao jornal Aftonbladet, Anton, de 17 anos, recordou que, assim que o avião aterrou, “ficou com muito calor”. Em poucos minutos, começou a aparecer fumo, que rapidamente se alastrou por toda a aeronave. “Olhei para a janela e ela estava a dissolver-se. Os camiões dos bombeiros chegaram e tentaram apagar o fogo.” O jovem contou ainda que ouviu uma mensagem da tripulação, mas que a sua família não a conseguiu compreender, uma vez que estava em japonês.
Um passageiro de 49 anos, natural de Tóquio, relata uma experiência semelhante. Estava na parte de trás do avião e ouviu uma “explosão” após a aterragem. Em declarações ao jornal Yomiuri Shimbun, o homem assinala que o que mais o alarmou foi o cheiro intenso a queimado. “Se não fugir agora, vou morrer”, lembra-se de ter dito a uma hospedeira de bordo, isto apesar de a tripulação ter apelado à calma.
Ao mesmo jornal japonês, outra passageira de 47 anos dá conta da mesma sequência: explosão, cheiro e fumo. “As janelas estavam a ficar laranjas por causa do fogo. Havia caos no avião e as crianças estavam a chorar. Após ter fugido, vi o avião em chamas. Deixei tudo no avião: a minha família, dinheiro e chaves, mas fiquei tão contente por ter sobrevivido”, diz.
Contudo, outros passageiros tiveram uma experiência menos traumática. À CNN internacional, Satoshi Yamake disse que o avião “aterrou normalmente”: “Não sentimos nem um choque, nada”. Pouco antes de ouvir um anúncio que ordenava a evacuação, o homem viu fumo a sair da aeronave. “Achei estranho. Tal como achei [estranho] haver fogo”, frisa, garantindo que “não ficou nada assustado”. “Podíamos cheirar o fumo, mas os passageiros não estavam em pânico.”
“Uma vez que tínhamos aterrado, pensei que o avião provavelmente não explodiria. Deveríamos ficar bem desde que todos saíssem do avião de forma ordeira”, acrescentou, à CNN internacional, Satoshi Yamake.
Quem também teve uma experiência semelhante foi Ryosuke Sakamoto: não ficou em pânico, nem reparou que outros à sua volta tenham ficado alarmados, embora tenha visto (e cheirado) fumo. Ao Japan Times, o homem de 55 anos reconhece, ainda assim, que os passageiros que estavam na retaguarda tiveram uma experiência diferente — e mais assustadora.
O resgate: “Não fazíamos a mínima ideia para onde estávamos a ir, só corremos”
Após a mensagem da evacuação da tripulação, Jonas Deibe — o pai de Anton — contou ao Aftonbladet que todos se ajoelharam no chão. “Depois, as portas de emergência abriram e nós saímos rapidamente”, acrescenta. O filho fala num cenário de “caos”. “Não fazíamos a mínima ideia para onde estávamos a ir, portanto, nós apenas corremos.”
Ao Japan Times, Uchida sinalizou que ainda demoraram alguns minutos para que todos saíssem da aeronave. Quando isso aconteceu, todos foram depois transportados para uma zona longe do avião, que continuou em chamas durante duas horas. Já seguros e longe do caos, os passageiros foram contados e foi-lhes pedido, segundo a mulher, para que dessem as mãos em grupos de dez, em círculo, e esperassem sentados no chão.
No X (antigo Twitter), a passageira Haruka Fujikawa publicou uma foto desse momento. E partilhou a informação, momentos mais tarde, de que tinha regressado “salva” a casa. “Contudo, deixei o meu telemóvel e outros bens no avião.”
乗ってました。無事です。よかった????#羽田 pic.twitter.com/MGKIsAEdbw
— フジカワハルカ (@fujikawaHaruka) January 2, 2024
Depois de terem estado naquela parte do aeroporto, outro passageiro, o britânico William Manzione, partilhou nas redes sociais que os que estavam a bordo do Airbus foram levados para o terminal. “Todos estão a salvo, a equipa de assistentes de bordo conseguiu evacuar a aeronave rapidamente”, disse. Mais tarde, também escreveu no X que chegou a casa “são e salvo”. “As crianças e a família foram resistentes ao stress emocional”, revelou, deixando elogios ao “trabalho fantástico” da Japan Airlines. “Tomaram conta de todos os que estavam a bordo.”
Os que viram de fora do avião: “Fiquei chocado”
Num lugar com janela, Guy Mestre estava a bordo de um outro avião, que se preparava para descolar, no aeroporto de Tóquio. De um momento para o outro, ouve uma “grande explosão”. À CNN internacional, o francês, que vive no estado norte-americano da Pensilvânia, disse ter ficado “chocado” com o que viu do seu lugar: “Um enorme rastro de chamas a percorrer a pista.”
Desde o cais de observação do aeroporto internacional de Tóquio, várias pessoas viram o acidente em tempo real. Um deles foi um homem de negócios de 40 anos. “Eu ouvi um barulho estridente e começou logo um incêndio no avião. Fiquei chocado ao ver um acidente destes em frente aos meus olhos”, assinalou ao jornal Yomiuri Shimbun, que também recordou que começou um incêndio na pista.
Por sua vez, longe do aeroporto, Mika, mulher de Satoshi Yamake, ia buscar o marido. Soube da notícia da colisão enquanto estava a caminho, mas só se apercebeu da dimensão do acidente quando “viu as imagens”. “Primeiro, pensei que era apenas fumo, mas depois vi imagens do fogo e fiquei mais preocupada”, relata à CNN internacional, acrescentando que apenas teve conhecimento de que o marido estava no voo do Japan Airlines quando ele “lhe telefonou” desde a aeronave.
“Ele ligou-me desde dentro do avião e disse-me que viu fumo a sair [da aeronave]. Fiquei aliviada por ele estar bem”, continua Mika Yamake. Durante a chamada telefónica, o marido saiu do avião — e apenas trouxe consigo o seu telemóvel: “Teve de deixar tudo para trás.”