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CERU Europa

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Há 55 anos, "o fim do mundo" passou em Portugal. O dia em que um sismo devastador matou 13 pessoas

A 28 de fevereiro de 1969 o país tremeu com um sismo de magnitude 7,9, o maior do século XX. No mar "era como se os barcos levantassem voo", conta quem o viveu. Mas porque aconteceu? E vai repetir-se?

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Texto publicado originalmente em 2019 e republicado a propósito do sismo de magnitude 5,3 (Richter) registado em Portugal a 26 de agosto de 2024 — que não fez vítimas nem provocou danos materiais.

Primeiro foi em Lisboa.

Sexta-feira, 28 de fevereiro de 1969. Três horas, 41 minutos, 20 segundos. Jorge Miguel Miranda, agora presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, tinha 16 anos e vivia na Calçada da Estrela com os pais e os irmãos. Estava a dormir “como todos os jovens daquele tempo, agora as coisas já mudaram um bocadinho”, comenta.

De um momento para o outro “um forte abanão acordou toda a gente”. Havia um barulho “bastante grande que vinha de todas as direções” a invadir a casa. As loiças caíam das mobílias e os quadros desprendiam-se das paredes. Fugiram todos para a rua. Jorge Miguel Miranda lembra-se de estar de pijama e de ver toda a vizinhança com roupa de dormir a enfrentar a noite fria de inverno. O abanão sentiu-se durante um minuto. Depois dissipou-se e todos voltaram para casa.

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De um momento para o outro "um forte abanão acordou toda a gente". Havia um barulho "bastante grande que vinha de todas as direções" a invadir a casa. Jorge Miguel Miranda lembra-se de estar de pijama e de ver toda a vizinhança com roupa de dormir a enfrentar a noite fria de inverno. O abanão sentiu-se durante um minuto.

Depois foi em Coimbra.

Três horas, 41 minutos, 41 segundos. Lucília e Humberto Ferreira estavam em casa a dormir quando ouviram um “som muito forte, como se houvesse lume debaixo da varanda”, recorda ela. Humberto julgou que a casa estava a ser assaltada, por isso decidiu levantar-se. Mas “quando me levanto da cama senti que não estava seguro e cambaleava”, descreve. Estava tudo a abanar. Deitaram-se no chão, mas “o tapete parecia que escorregava”, conta Lucília. Foi então que decidiram fugir.

Lucília foi chamar a mãe, Floripes, enquanto Humberto foi buscar o filho de quase dois anos, Rui, ao berço. “Peguei-o ao colo para irmos todos para o carro. Mas ia batendo de parede em parede à medida que avançava pelo corredor em direção à porta”, explica ele. Dali fugiram para a Praça da República, em Coimbra.

Humberto estacionou o carro em cima de uma linha do elétrico julgando que, se a terra ruísse, ele pudesse ficar suspenso em cima dos ferros. A Praça estava “empestada de gente”, retrata o casal. Havia pessoas em cuecas e enroladas em lençóis, outras de camisa de noite. Poucas estavam vestidas, mas todas ficaram lá à espera que as coisas acalmassem.

Pessoas de pijama fogem dos edifícios. Créditos: Jornal de Notícias

Dormiram em casa da mãe de Humberto durante aproximadamente uma semana, na Rua Doutor António José de Almeida. “Tínhamos medo”, explica Lucília. Só depois de um funcionário ter ido inspecionar o prédio onde viviam é que ela e o marido regressaram a casa. Não estava em risco, e ainda hoje está habitado, mas ainda hoje guarda as rachas daquele dia.

Lucília foi chamar a mãe, Floripes, enquanto Humberto foi buscar o filho de quase dois anos, Rui, ao berço. "Peguei-o ao colo para irmos todos para o carro. Mas ia batendo de parede em parede à medida que avançava pelo corredor em direção à porta", explica ele. Dali fugiram para a Praça da República, em Coimbra.

E a seguir foi o Algarve.

Três horas, 42 minutos. Manuel Candeias era faroleiro do Cabo de São Vicente em Sagres e estava em casa, em Vila do Bispo, quando o sismo ocorreu. Em 2014, contou à agência Lusa que “pensou que ia morrer com as pedras que lhe rolaram pela cabeça abaixo dentro de casa”: “Eu senti uma pedrada na cabeça e pensei: olha, já morri”.

Ainda assim, correu para o berço onde a filha de dois anos dormia, mas já não a encontrou lá. A mulher e o sogro, o primeiro a aperceber-se de que estava a haver um tremor de terra, já tinha fugido para fora de casa. Foi por pouco que Manuel Candeias sobreviveu. A casa havia de ruir, deixando uma família de quatro pessoas desalojada. Acabaram por ficar a viver numa casa prefabricada em Vila do Bispo.

Ali perto, na Fonte dos Louzeiros, Mário Rosa Pedro lembra-se de ver os sogros a lutar pela vida: “A minha sogra estava deitada na cama e dois paus caíram ao lado dela. Ela ficou no meio das traves”.

A destruição em Fontes Louzeiro. Créditos: CERU Europa

Ali perto, na Fonte dos Louzeiros, Mário Rosa Pedro lembra-se de ver os sogros a lutar pela vida: "A minha sogra estava deitada na cama e dois paus caíram ao lado dela. Ela ficou no meio das traves".

Ninguém no país tinha memória de um terramoto assim. O último tinha sido a 23 de abril de 1909, quando a região ribatejana entre Benavente e Salvaterra de Magos foi atingida por um sismo de magnitude 6,3 na escala de Richter com origem na falha geológica do Vale Interior do Tejo, a mesma que provocou um terramoto em 1531. Morreram 42 pessoas à época.

Há 54 anos morreram 13 — duas atingidas pelos destroços dos edifícios, outras 11 entre o pânico de querer fugir. O sismo de 28 de fevereiro de 1969 foi considerado o mais forte do século XX a atingir Portugal. Pior só o de 1755.

Agora, passado mais de meio século, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera está a pedir à população que partilhe os relatos dos acontecimentos daquela noite através de um inquérito online. Até às 19h40 de esta quarta-feira, a página já tinha recolhido 790 testemunhos vindos de todos o país, mas também de Marrocos, Espanha e Itália. A ideia é fazer o que não foi feito — tentar perceber o que se passou e em que regiões — e preparar as pessoas para o que ainda pode acontecer — Portugal está numa zona sísmica e espera um grande terramoto.

O país que tremeu “de ponta a ponta”

No dia seguinte ao sismo, o Jornal de Notícias escrevia que “durante quatro minutos sem fim o país tremeu de ponta a ponta” e que “milhares de pessoas em trajes menores” tinham “ido para a rua ou fugiram de carro”. “Lisboa viveu ontem sob o signo do sismo”, arranca a reportagem: “Ruíram chaminés e cimalhas, racharam junturas em inúmeros prédios, ruas juncadas de destroços eram o espetáculo desolador com que o último dia de fevereiro brindou a capital”.

O Hospital de São José teve de ser evacuado porque “verificou-se que as fendas provocadas pelo tremor de terra abriram ainda mais e outras estão a seguir”. Em Coimbra uma mulher de 59 anos, Delmira de Jesus Ferreira Neto, “salvou-se por um triz”: “Caiu-lhe uma parede sobre a cama logo que dela se levantou”, relata o jornal.

Delmira mostra a cama onde dormia quando o sismo começou. Créditos: Jornal de Notícias

E prossegue: “Foi ela, poderá dizê-lo, a única pessoa que em Coimbra esteve em risco de perder a vida. Estava deitada, aliás como praticamente toda a gente e por sorte, afinal, acordou logo que se iniciou o abalo. Para mais que imediatamente se desprendeu uma pedra da parede do seu quarto, caindo-lhe ao pé da cama. Foi pela cama fora, prontamente a correr para longe do quarto, ela com mais razão que ninguém tomada pelo pânico. E logo a seguir, menos tempo do que leva a dizer, ruiu totalmente a parede precisamente sobre a cama”. “Fugiu pela vida perseguida pela morte”, concluiu o jornal.

Mas terá sido o Algarve "a província mais assolada pelo tremor de terra", disse o Jornal de Notícias. "Da ponta de Sangres à foz do Guadiana, uma onda de pavor e destroços" registou-se em todo o sul do país. "Às três horas e 42 minutos, o velho relógio do Arco da Vila, em Faro, parou como que a cronometrar o momento dramático por que todos os algarvios passaram".

Mas terá sido o Algarve “a província mais assolada pelo tremor de terra”, disse o Jornal de Notícias. “Da ponta de Sangres à foz do Guadiana, uma onda de pavor e destroços” registou-se em todo o sul do país. “Às três horas e 42 minutos, o velho relógio do Arco da Vila, em Faro, parou como que a cronometrar o momento dramático por que todos os algarvios passaram”.

“Foram 126 segundos, que pareceram horas infindáveis, durante os quais o sismo com bateria infernal foi marcando crescendos enervantes, temerosos”, concluiu o jornal. Centenas de casas caíram. O Século concluiu até que “o fim do mundo passou pelo Algarve”. A culpa? “A utilização de argamassa pobre em argila” nas construções.

“Tive a sensação que o barco estava a levantar voo”

O sismo tinha chegado sem aviso. Conta o Jornal de Notícias de 1 de março que “o primeiro homem a chegar ao Instituto Geofísico D. Luís foi o funcionário senhor Henrique Flores”. “Cinco minutos volvidos chegou o senhor Guilherme Borges Pinto, também funcionário, e logo a seguir os senhores doutor Alfredo Mendes, diretor do Serviço de Geofísica, o engenheiro Guerín Vieira, geógrafo, e o professor doutor Pinto Peixoto, catedrático de meteorologia”.

Quando lá chegaram “os sismógrafos já tinham os registos interrompidos”. Não havia dados de que aquele sismo de magnitude perto do 8 tinha dado sinal de que estava prestes a chegar. No entanto, conclui o Jornal de Notícias, “a experiência tem demonstrado que em Lisboa os grandes terramotos não se fazem anunciar por outros de mais fraca intensidade”.

Os catálogos sísmicos português e espanhol não detetaram qualquer agitação nos dias ou semanas anteriores ao sismo de 28 de fevereiro de 1969, explicou Ana Isabel Ribeiro, investigadora no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, ao Observador: “A zona próxima do epicentro, que se localizou na Planície Abissal da Ferradura, esteve relativamente calma antes do grande sismo de 28 de fevereiro. Houve apenas um pequeno sismo registado a 17 de janeiro”.

Em terra, a destruição viu-se depois do medo. Em Lagos, uma pessoa morreu devido ao desabamento de uma das paredes da habitação degradada onde vivia. Estima-se que 420 casas tenham desabado à conta do terramoto. As telhas saltaram dos tectos e havia rachas pelas paredes. Em Lisboa caíram chaminés de edifícios e paredes pouco consolidadas, que depois destruíram os carros estacionados. Parte da cidade ficou sem energia e comunicações telefónicas.

O navio Esso Newcastle em trânsito no Atlântico, na posição 36°31´ Norte, 12°33´ Oeste, sofreu uma vibração repentina: "O incidente mais estranho e assustador aconteceu esta manhã. Fui abanado para fora da cama por um tremor severo, um barulho vibrante parecido com um ronco, com a sensação que o barco estava a levantar voo".

Em mar, o medo veio antes da destruição. Pouco antes de as ondas sísmicas chegarem a terra, o navio Esso Newcastle em trânsito no Atlântico, na posição 36°31´ Norte, 12°33´ Oeste, sofreu uma vibração repentina: “O incidente mais estranho e assustador aconteceu esta manhã. Fui abanado para fora da cama por um tremor severo, um barulho vibrante parecido com um ronco, com a sensação que o barco estava a levantar voo. A minha primeira reação foi de que tinha perdido um propulsor ou partido uma hélice. Ou que estava a ser atingido por um objeto subaquático”, contou o capitão.

O navio Esso Newcastle em 1969. Créditos: Wikimedia Commons

A mesma sensação foi registada pelo terceiro piloto do barco Manuel Alfredo, que passava naquele momento, de raspão, pelo epicentro do sismo. “Parecia que estávamos a andar por cima de rochas, que o navio subia escadas. Não recebendo ordens de cima parei as máquinas por julgar que encalháramos. Não sabia onde, mas dava a sensação de que o barco trepidava em cima de lajes”, descreveu João Rocha ao Diário de Lisboa.

Segundo o tripulante do barco, “ondas descomunais envolveram o barco, submergindo a proa”: “Era uma água castanha e espessa. E logo depois do tremor o mar ficou picado, com uma ondulação miudinha na crista das ondas, que também não é habitual. Entretanto e durante horas, vagas anormalmente grandes balançaram o Manuel Alfredo. Eram ondas diferentes das usuais, mesmo as alterosas”, expliCA o piloto.

Navio Manuel Alfredo. Créditos: Finisterra

Aquilo que os dois pilotos viram em mar seria o tsunami que dali a uns minutos chegaria à costa portuguesa. Uma notícia publicada na Finisterra, uma revista portuguesa dedicada à geologia, desvenda que as ondas viajaram a uma velocidade de 400 quilómetros por hora e foram registadas em toda a costa atlântica da Península Ibérica e do norte de África, nas Canárias, Açores e Madeira. Mas acabou por não ser ameaçador, explica o artigo: a maior onda de tsunami a chegar à costa portuguesa tinha apenas 41 centímetros de altura. A maior de todas tinha 60 centímetros e atingiu Casablanca, em Marrocos. Em 1755 tinha chegado aos 20 metros.

"Era uma água castanha e espessa. E logo depois do tremor o mar ficou picado, com uma ondulação miudinha na crista das ondas, que também não é habitual. Entretanto e durante horas, vagas anormalmente grandes balançaram o Manuel Alfredo. Eram ondas diferentes das usuais, mesmo as alterosas", explica o piloto.

Nas horas e nos dias seguintes ao sismo houve várias réplicas, realça a investigadora, que faz trabalho de pesquisa em parceria com Ana Paula Correia e José Rodrigues Ribeiro — ambos professores de Físico-Química na Escola Secundária de Henrique Medina, Esposende. O catálogo do Instituto Português do Mar e da Atmosfera desvenda que, só no dia do terramoto houve 89 réplicas registadas. O número aumentou para 256 até ao dia 11 de março e só só começou a diminuir.

“Algumas réplicas foram suficientemente fortes para também serem sentidas pelas pessoas, como a que houve às 4h25 da madrugada, menos de duas horas depois do sismo principal e que teve uma magnitude de 5,7 ou mesmo 6,2”, descreve Ana Isabel Ribeiro.

Gorringe. O berço dos sismos devastadores em Portugal

A origem do terramoto esconde-se ainda hoje debaixo dos nossos pés. Portugal está condicionado pela interação entre três placas tectónicas, peças que compõem a litosfera da Terra e que se movimentam entre si: a euroasiática, a norte-americana e a africana.

A placa euroasiática e a placa norte-americana estão a afastar-se uma na outra, num movimento de divergência que é responsável pela intensa atividade sísmica registada nos arquipélago dos Açores. Mas a placa africana roça na euroasiática porque há entre elas um limite a que os cientistas chamam transformante: não destrói nem cria nova crosta terrestre, mas acumula tanta energia nas rochas que cria sismos devastadores quando se liberta.

Portugal fica numa zona muito particular da placa euroasiática. Chama-se microplaca ibérica, movimenta-se para leste e está a soldar-se à placa asiática. Essa microplaca, no entanto, é influenciada pela placa africana, que se está a mexer para noroeste. À medida que a placa africana se mexe, ela comprime a microplaca ibérica.

É essa compressão que está a rachar o solo português, cravando-o de falhas que têm provocado sismos como os registados em Arraiolos, em Sines ou em Melgaço. E também foi ela que levou à formação da Crista Gorringe, um maciço montanhoso submerso a 120 milhas marítimas do Cabo de São Vicente que fica precisamente na zona onde a placa ibérica cavalga a africana numa taxa de quatro milímetros por ano.

É essa compressão que está a rachar o solo português, cravando-o de falhas que têm provocado sismos como os registados em Arraiolos, em Sines ou em Melgaço. E também foi ela que levou à formação da Crista Gorringe, um maciço montanhoso submerso a 120 milhas marítimas do Cabo de São Vicente.

Pelo menos dois dos grandes terramotos que sacudiram o país no passado tiveram origem no Banco de Gorringe. Foi lá que, a 1 de novembro de 1755 às 9h40, nasceu o sismo de magnitude 9 na escala de Richter (talvez um dos maiores do mundo de que há registo) que destruiu a cidade de Lisboa e atingiu com severidade Setúbal e o Algarve. Dezenas de milhares de pessoas morreram com a queda dos edifícios, com o tsunami que pode ter atingido os 20 metros de altura e com o grande incêndio de deflagrou durante seis dias na capital.

A destruição no Algarve

E foi lá também que começou o terramoto de 28 de fevereiro de 1969, o maior em 214 anos em Portugal e o mais forte e devastador do século XX. Segundo o comunicado do Serviço Meteorológico Nacional — o órgão que antecedeu o Instituto Português do Mar e da Atmosfera — emitido no dia do desastre, “foi registado um sismo nas estações sismográficas de Coimbra e Lisboa com o epicentro a cerca de 230 quilómetros a sudoeste de Lisboa”.

“A magnitude do sismo atribuída é de 7,3 na escala de Richter, tendo sido sentido com intensidade VI-VII da escala Mercalli modificada em Lisboa e noutras localidades do continente”, prossegue o documento. Mais tarde veio a determinar-se que o epicentro do sismo — o local na vertical da origem dele — foi nas coordenadas 36.01º N, 10.57º W, mesmo encostado do Banco de Gorringe. E que a magnitude tinha sido maior do que o estimado: 7,9 na escala de Richter.

E se acontecer outra vez?

A probabilidade de ocorrer um sismo em Portugal é grande por causa das falhas sísmicas que existem no país. Em Portugal Continental, a origem dos sismos é diferente da dos arquipélagos portugueses: neste caso, a culpa é das falhas tectónicas abertas dentro da microplaca ibérica à conta das pressões exercidas nela pela placa africana, explica ao Observador o geólogo Pedro Proença Cunha. Essa pressão provoca as falhas existentes na crosta.

A placa africana está a rachar o país e mais uma dúzia de dúvidas sobre sismos

À conta disso, a ocorrência de um sismo é iminente. Segundo o geólogo da Universidade de Coimbra, a placa africana tem exercido cada vez mais compressão sobre a microplaca ibérica. Isso tem provocado a abertura de mais falhas em Portugal Continental e, consequentemente, mais sismos e com maior magnitude nos últimos milhares de anos.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera diz contudo que “é pouco provável” que o número de sismos esteja a aumentar, até porque a média anual de ocorrências sísmicas mais significativas à escala global entre 2007 e 2011 foi a mesma que a registada desde 1900. “O que aumentou consideravelmente nas últimas dezenas de anos foi a capacidade técnica de deteção sísmica e o número de equipamentos sísmicos instalados no mundo inteiro”, explicam os geólogos.

Mas para saber se estamos preparados para enfrentar um sismo como o que sacudiu o país em 1969 (ou 1755) é preciso dividir o país em partes. De acordo com João Cabral, geólogo do Instituto D. Luís, o centro e sul do país são regiões com perigosidade sísmica moderada porque, por serem rasgadas por muitas falhas tectónicas, é mais provável que sejam sacudidas por sismos com magnitude mais considerável do que o norte do país.

Mas o risco sísmico em Lisboa é mais elevado porque, se ocorrer um terramoto na capital, há mais infraestruturas passíveis de serem destruídas e mais vidas humanas em perigo. No Alentejo, por exemplo, a perigosidade sísmica é semelhante à que existe em Lisboa, mas por ter menos infraestruturas e uma densidade populacional mais pequena, o risco sísmico é mais baixo.

Já o risco sísmico em Lisboa é mais elevado porque, se ocorrer um terramoto na capital, há mais infraestruturas passíveis de serem destruídas e mais vidas humanas em perigo. No Alentejo, por exemplo, a perigosidade sísmica é semelhante à que existe em Lisboa, mas por ter menos infraestruturas e uma densidade populacional mais pequena, o risco sísmico é mais baixo.

A mesma lógica aplica-se ao caso do Algarve, onde a perigosidade sísmica é sempre a mesma, mas onde o risco sísmico tende a aumentar no verão. Isso acontece porque é nessa época do ano que o sul de Portugal é mais procurado, portanto há mais pessoas em risco caso haja um sismo considerável nessa região.

É por isso que Daniel Oliveira, professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, defendeu em entrevista ao Observador que “devemos, por isso, concentrar os nossos esforços onde a perigosidade é mais alta e onde existem mais pessoas, como a Área Metropolitana de Lisboa, o Vale Inferior do Tejo e o Algarve”. E isso não está a ser feito: a perigosidade sísmica cresce à medida que vamos de norte para sul, mas o nível de preparação dos edifícios para resistir aos sismos são equivalentes.

Desde 1958 que há uma legislação que prevê a resistência antissísmica dos edifícios. No entanto, esta legislação aplica-se apenas aos edifícios construídos depois desta data. E isso é um problema porque, de acordo com dados da Câmara Municipal de Lisboa, 67% das infraestruturas na capital do país foram erguidos antes de 58. Além disso, demorou entre 10 e 20 anos até que os projetos de construção passassem a contemplar a resistência antissísmica.

Desde 1958 que há uma legislação que prevê a resistência antissísmica dos edifícios. No entanto, esta legislação aplica-se apenas aos edifícios construídos depois desta data. E isso é um problema porque, de acordo com dados da Câmara Municipal de Lisboa, 67% das infraestruturas na capital do país foram erguidos antes de 58. 

Mais: “O regulamento é bom, mas falta a verificação. Não há garantias que o projeto, ainda que tenha previsto a resistência antissísmica, seja respeitado”, alertou Daniel Oliveira.

Ou seja, não se sabe que capacidade tem o edificado nacional para resistir a um terramoto de grandes dimensões. Mas uma avaliação de 2010 feita pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil concluiu que Arroios seria a zona mais afetada com perdas económicas por causa da vulnerabilidade dos prédios. E seria também aí, tal como nas Avenidas Novas, Anjos, Penha de França e São João de Deus, que se contariam o maior número de vítimas mortais.

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