(Artigo originalmente publicado a 17 de julho e republicado agora, a 27 de setembro, a propósito dos resultados da 1.ª fase de acesso ao ensino superior)
Engenharia e Medicina podem ser tiros certeiros quando se procura cursos do ensino superior com desemprego zero. Mas não são os únicos. A licenciatura de Ortóptica, no Instituto Politécnico do Porto, Música, na Universidade de Aveiro, ou Farmácia, na Universidade do Algarve, também garantem emprego a todos os seus diplomados. Só que enquanto Medicina forma 5.464 universitários, Ortóptica distribui 35 diplomas, Farmácia 52 e Música 183.
Se a taxa de empregabilidade for importante na hora de escolher um curso superior, importa saber quais são as 68 licenciaturas e mestrados integrados que prometem emprego no fim dos estudos (consulte no gráfico todos os cursos). No entanto, os números, disponíveis no portal Infocursos desde a meia-noite deste sábado, olham somente para os diplomados registados como desempregados no Instituto do Emprego e Formação Profissional. Assim, os que estavam a trabalhar podiam não estar a fazê-lo na área em que se formaram ou os números podiam ser superiores, já que nada obriga um jovem sem emprego a informar o IEFP.
Feita a ressalva, resta dizer que para calcular a taxa de desemprego olhou-se para os diplomados entre os anos letivos de 2015/16 e 2018/19, fazendo-se uma média, e não apenas os valores de um ano letivo.
Dito isto, quais são afinal os cursos com menos estudantes desempregados? Na lista há um pouco de tudo, desde Conservação e Restauro, Música, Agronomia ou Estatística Aplicada. E, claro, Engenharias e cursos de Medicina. Nos dados mais recentes, há uma novidade — Enfermagem, um curso habitual desta lista, ultrapassa Medicina em número de cursos representados.
Se olharmos para a natureza do ensino, a rede estatal fica a ganhar já que representa 57,4% do total dos cursos com desemprego zero. A maioria (39) das licenciaturas e mestrados são ministrados em universidades e politécnico públicos, só havendo 29 de instituições de ensino privado.
Entre estas últimas destaca-se a Universidade Católica. Embora apareça na listagem do Ministério do Ensino Superior como uma instituição privada, tem um regime jurídico especial — é uma universidade pública não estatal, que pertence à Conferência Episcopal Portuguesa. Tem 8 cursos que oferecem emprego pleno, mais 5 do que no ano passado — o de Teologia continua a ser o mais representativo, tendo formado 173 alunos divididos por 3 cursos.
Segue-se o ISEC de Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências) com 3 cursos — Engenharia de Segurança do Trabalho, Gestão Aeronáutica e Óptica e Optometria, este último uma nova entrada em relação aos cursos com emprego zero que oferecia no ano anterior.
Quando o filtro é feito entre politécnicos e universidades, a balança pende para as segundas. Na lista de cursos com desemprego zero só 24 são de politécnicos, contra 44 de universidades. Entre eles, o curso que aparece mais vezes repetido é, tal como no ano anterior — o de Enfermagem.
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Entre as universidades públicas, a que tem mais cursos sem desemprego é a Universidade de Lisboa, num total de 9, mesmo assim uma grande queda em relação aos 24 do ano passado.
Destes, 5 são do Instituto Superior Técnico (no ano anterior eram 8) e passam por diversos cursos de Engenharia e um de de Arquitetura. Já a Faculdade de Ciências surge com dois cursos na lista, Estatística Aplicada e Matemática. E, claro, o mestrado integrado de Medicina.
A segunda instituição pública mais representada é a Universidade de Coimbra com 5 cursos (mais 3 do que o ano passado), de diferentes faculdades: Física, Medicina, Química Medicinal, Ciências Bioanalíticas e Português.
Com três cursos cada, aparecem ainda a Universidade do Porto (+1 do que em 2019), do Minho (+2) e a Universidade Nova de Lisboa. Esta última não tinha nenhum curso neste ranking no ano passado e agora surge com o de Conservação e Restauro, Matemática e Medicina.
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A Universidade do Porto, tal como no ano anterior, mantém o mestrado integrado de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar na lista de desemprego zero. Da Faculdade de Ciências, surgem os cursos de Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos e a licenciatura de Física.
Mais a norte, na Universidade do Minho, só o curso de Medicina não tinha desemprego no ano passado. Agora junta-se a este a licenciatura de Negócios Internacionais (regime pós-laboral) e o mestrado integrado de Engenharia de Telecomunicações e Informática.
Olhando para os cursos, Medicina tem seis lugares — falta referir o da Universidade da Beira Interior — e o único curso que fica fora da tabela é o da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. No entanto, tem uma taxa de desemprego de 0,2% o que em termos estatísticos equivale a dois diplomados e meio num total de 1.156 estudantes que terminaram o curso.
Embora os cursos de Medicina apareçam menos repetidos do que os de Enfermagem ou Engenharias, representam um universo muito maior de diplomados. Os seis cursos com desemprego zero correspondem a 5.464 diplomados, enquanto os 7 de Enfermagem (eram 3 o ano passado) deram canudo a 1.081 universitários.
Os 12 de Engenharia — vencedoras em números absolutos no ranking do desemprego zero — referem-se a um total de 1.223 estudantes, bastante distante do número de diplomados que sai das faculdades de medicina. Esta dúzia de cursos — quatro deles do Técnico — passa pela engenharia de Produção Industrial, Naval e Oceânica ou de Física Tecnológica. Mas é a engenharia na área da informática que mais se repete, com 8 cursos.
Há 62 cursos com desemprego acima de 10%
Olhando agora para o fundo da tabela, para os cursos com maior taxa de desemprego, os valores estão bastante abaixo dos do ano anterior e em nenhum caso ultrapassam os 15%. Apesar disso, há 62 cursos com desemprego acima de 10%. Da mesma forma que o desemprego no país tem vindo a baixar (pelo menos até à pandemia de Covid-19, que terá consequências no emprego dos portugueses) é normal que a empregabilidade dos recém-diplomados também melhore.
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Assim, a percentagem de recém-diplomados que se encontram inscritos no IEFP têm estado em queda. Na informação agora disponibilizada, a taxa total de desemprego fica nos 3,3% para os estudantes do ensino superior público, subindo para os 3,9% no privado. Há 4 anos, os valores estavam em 8,1% e 8,8%, respetivamente.
Um bom exemplo dessa queda é o curso de Serviço Social da Universidade Católica: há um ano tinha uma taxa de desemprego de 25,8% e que agora desce para os 15,4% (e fica em 3.º lugar).
Tal como para os cursos que parecem oferecer emprego garantido, também para calcular os que têm maior desemprego se olhou apenas para um indicador: os licenciados inscritos como desempregados no IEFP.
Este ano, os valores mais elevados estão todos nos 15% e são de 5 licenciaturas. A Católica cede o lugar do topo ao Politécnico de Braga que, para além do 1.º lugar, fica também com o segundo e o quarto — Energia e Ambiente (15,6%), Gestão de Recursos Humanos (15,4%) e Marketing (15,3%). Entre os cursos com mais de 15% de desemprego, encontra-se ainda Administração de Publicidade e Marketing (15,2%) do Politécnico de Portalegre.
Continuando a descer na tabela (veja no gráfico todos os 62 cursos com desemprego acima de 10%), há ainda 10 cursos (só um é mestrado integrado) com desemprego acima dos 14%. O curso que mais se repete é o de Serviços Sociais — dois do Politécnico de Portalegre, e um da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Estes valores são proporcionais ao número de diplomados. Assim, apesar de estar em 1.º lugar, o curso de Energia e Ambiente do Politécnico de Braga tinha apenas 5 desempregados. No Serviço Social da Católica, em números absolutos, o valor era maior: 12,5 diplomados sem emprego.
Sem fazer a conta proporcional, o primeiro e segundo lugar iriam para duas Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, uma da Universidade do Porto, outra de Coimbra, onde os desempregados dos cursos de Psicologia foram 47 e 46, respetivamente.
Por último, filtrando os resultados por tipo de instituição, vê-se uma alteração de padrão se comparado com os cursos que garantem emprego.
Entre os cursos com mais desemprego aparecem mais politécnicos do que universidades, embora a diferença seja curta (32 contra 30). E é na rede pública que são oferecidos 41 deles contra 21 ministrados no ensino privado (o ano passado a diferença era menor, 19 versus 12).
Depois de ver a taxa de empregabilidade, vale também a pena olhar para as médias de entrada do curso, para ver se tem hipótese ou não de conseguir um lugar no mais desejado. Os números agora divulgados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência são os mesmos que foram divulgados depois de terminadas as colocações no ensino superior no ano letivo passado, e que o Observador divulgou então.
Nota mais alta de acesso foi a Engenharia Aeroespacial no Técnico
As quatro melhores notas de entrada foram todas para cursos de Engenharia: Engenharia Aeroespacial (189,5) e Engenharia Física Tecnológica (188,8) do Técnico e Bioengenharia (186,5) e Engenharia e Gestão Industrial (186,5) da Faculdade de Engenharia do Porto.
Medicina ficou com o quinto lugar com o curso do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (185,0), habitualmente aquele que tem notas mais altas.
Olhar para a concorrência também é importante e as Engenharias continuam a estar no topo da procura. Mais de sete mil alunos (16,9% do total), encontraram vaga num dos 213 cursos oferecidos nesta área que vão da engenharia Biomédica à Têxtil. Atenção que é preciso médias altas: entre os 44 cursos em que o último colocado entrou com nota superior a 17, meia dúzia foram de Engenharia.
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A área de estudo que se segue é a de Ciências Empresariais, onde se encontram os cursos de Gestão. Saúde fica em terceiro lugar: em Medicina entraram 1.441 alunos e em Enfermagem 1.909 alunos, um pouco mais de metade dos 6.126 lugares ocupados naquela área de estudo.
A partir da meia-noite de 18 de julho fica disponível a versão de 2020 do portal Infocursos com estatísticas sobre cerca de 3.800 cursos ministrados em 109 instituições de ensino superior — 465 cursos técnicos superiores profissionais (TeSP), 1.671 licenciaturas e mestrados integrados e 1.695 mestrados 2.º ciclo.
Para além dos dados de empregabilidade de cada curso, pode consultar, por exemplo, o número de estudantes inscritos nos três anos letivos mais recentes, a situação dos estudantes um ano após iniciarem o curso e a distribuição das classificações finais dos diplomados.