Vencedor
João Cotrim Figueiredo
Se o grande objetivo de João Cotrim Figueiredo para esta Convenção era ter um partido unido e pacificado, então conseguiu concretizá-lo: houve críticas, mas foram poucas; houve polémicas, mas foram esvaziadas; houve afastamentos, mas foram discretos. E houve uma votação de dimensões norte-coreanas que não deixou margem para qualquer dúvida: a moção de estratégia do líder foi aprovada com 94% dos votos. E não há sombra de qualquer oposição interna. Por tudo isto, João Cotrim Figueiredo é um dos vencedores do fim de semana.
Mas há um “mas” — um enorme “mas”. É que, como o próprio Cotrim Figueiredo assinalou no seu discurso de encerramento, estamos a sete semanas de umas eleições legislativas. Nessas eleições, a IL precisa de votos. E, para ter votos, precisa de ter propostas e ideias. Ora, nesta Convenção, as ideias e as propostas andaram entre o vago e o vaguíssimo. No discurso de domingo, o líder disse que a IL quer “pôr a saúde ao serviço dos portugueses” — mas não explicou como executará essa meritória proposta. Disse que a IL defende uma Justiça mais célere, sem atropelar garantias da defesa — mas não deu pistas para se perceber como é que, sem recurso à magia ou a escolhas difíceis, conseguirá as duas coisas. E disse que o ambiente é “uma importante causa” — mas não deu justificações para que essa causa tão importante apareça apenas numa frase tímida da sua moção.
Tiago Mayan Gonçalves
Tiago Mayan Gonçalves é uma espécie de person of the year de 2021 da Iniciativa Liberal e teve no fim de semana a consagração da sua popularidade em Convenção. Num ano foi candidato presidencial, foi eleito presidente de junta no Porto e é apontado como um dos ativos valiosos para a lista de deputados à Assembleia da República (que não se sabe se irá integrar). Apesar de ter ido várias vezes ao púlpito em fugazes minutos liberais — e de não ter feito nenhuma intervenção memorável — foi louvado várias vezes no palco, incluindo pelo líder do partido. Sempre com estrondo e aclamação. O Mayanismo até já tem fiéis seguidores: um membro da IL confessou no palco que aderiu ao partido inspirado pela prestação do liberal nas presidenciais. Provou que é um dos rostos do partido e, ao contrário de outros, mesmo fora do Twitter.
Vencidos
Miguel Ferreira da Silva
Miguel Ferreira da Silva, presidente-fundador da Iniciativa Liberal, é um dos vencidos da VI Convenção do partido, depois de ter visto chumbada a moção “Manifanti”, que sugeria um afastamento daquilo a que chamou “partido de protesto” e uma colagem mais fugaz à ideia de “alternativa”. O ex-dirigente liberal chegou à reunião magna como um dos críticos da atual liderança, escreveu na moção que o “capital de protesto, popular mas populista, prejudica o crescimento da IL” e pretendia contribuir para inverter aquela que diz ser a postura do partido. Durante a Convenção subiu mais do que uma vez ao palco — numa delas para desafiar a comissão executiva a regressar a uma “lógica colaborativa” e chegou até a pedir que a declaração de princípios não fosse votada e que essa discussão ficasse para outra fase. No palco, até foi aplaudido por grande parte da sala por diversas vezes, mas acabou com defraudado pelos colegas de partido no momento da votação, não tendo levado a melhor em nenhuma das tentativas. Contudo, a moção que apresentou ainda dividiu os convencionistas: 233 votos a favor, 167 abstenções e 261 contra.
Catarina Maia
A dada altura, no primeiro dia da Convenção da Iniciativa Liberal, não se falava noutra coisa. Quase todos os membros do partido que subiam ao palco sentiam a necessidade ou a obrigação de declarar de que lado estavam: a favor ou contra a moção “Em defesa da liberdade”, assinada, entre outros, por Catarina Maia, da Comissão Executiva do partido. Alguns estavam apaixonadamente a favor; outros estavam radicalmente contra. E até houve um orador que, tendo começado o dia a favor, estava agora perplexo com o facto de haver tanta gente contra e até admitia que, se calhar, precisava de reler o texto para perceber a razão para tanta polémica. João Cotrim Figueiredo e os seus mais próximos estiveram calma e discretamente contra a moção. O documento é profundamente crítico de todas — ou quase todas — as medidas de combate à pandemia, das restrições nos transportes públicos, ao encerramento de estabelecimentos comerciais. E até usa uma expressão que fica no ouvido: “pânico moral”. Mas, no final das contas, foi muito ruído por nada. Somados os votos, a moção foi rejeitada. Mais e pior: além dos 55 subscritores, houve apenas outros 12 liberais a votarem a favor. Se o objetivo era mudar, ou condicionar, o discurso da Iniciativa Liberal, falhou: apesar do som e da fúria, só conseguiu pregar aos convertidos.
Ausentes
Maria Castello-Branco
“A Maria”, como muitos a tratam na IL sem necessidade de apelido, era até esta convenção uma das figuras do partido com palco mediático (mesmo para além do habitat natural dos liberais: o Twitter). Mas era mais do que isso: integrava a direção de Cotrim, o órgão de cúpula da IL. Em maio, Maria Castello-Branco deixou o líder numa situação desconfortável, ao cancelar a presença na Convenção do MEL (a chamada “Aula Magna das direitas”) em protesto com a participação de André Ventura. Desde aí houve um afastamento. A estudar em Londres, Maria Castello-Branco optou por não participar na Convenção, apesar de poder fazê-lo remotamente. Foi, no entanto, uma ausente-presente, já que, em declarações ao Observador, sugeriu que João Cotrim Figueiredo não lhe justificou a saída (não tem de “dar satisfações sobre as escolhas que faz”) e ainda deixou uma frase que mostra que vai estar longe dos fóruns de decisão do partido: “Desejo a maior sorte ao partido que me acolheu”. Num partido sem muitos críticos do líder, Maria Castello-Branco ganha, senão o estatuto de oposição interna, pelo menos o rótulo de não-alinhada.
Carlos Guimarães Pinto
Carlos Guimarães Pinto, ex-presidente da Iniciativa Liberal, um dos nomes mais fortes do partido e um dos rostos que se mantém em cima da mesa como um possível candidato a deputado, optou por assistir à VI Convenção à distância e ficou em silêncio durante os dois dias. Muitos foram os membros que fizeram intervenções online — alguns deles até bastante aplaudidos — mas nem uma palavra de Carlos Guimarães Pinto. Totalmente em silêncio. Ao Observador, justificou que os outros convencionistas têm menos palco e devem aproveitar estas oportunidade para serem ouvidos pelo partido. “Eu, felizmente, ainda vou tendo outras oportunidades para expressar publicamente o que penso”, argumentou, destacando ainda que — com a saída da liderança — assumiu o “compromisso de não [se] intrometer em discussões internas” e tenciona continuar a fazê-lo. Se esta ausência vai ou não ter repercussões nas decisões de João Cotrim Figueiredo, é ainda impossível definir.