Alfredo di Stéfano. Único. Único treinador a ganhar o campeonato argentino pelos dois maiores (Boca e River), único Bola de Ouro a treinar em Portugal (Sporting-74), único a marcar em cinco finais da Taça dos Campeões (e seguidas), único em muuuuuuitos mais registos. Lá em casa, por exemplo, o meu pai admira-o como mais ninguém. “Ele jogava com todas as partes do corpo, aquilo é que era um jogador completo. E recuava, ia lá atrás, roubava a bola ao adversário e iniciava um ataque. Às vezes, até o concluía com um golo. Garanto-te: um fenómeno sem igual!” Quando se cresce a ouvir falar de Di Stéfano como o indiscutível número um, é fácil absorvermos o ídolo. Mesmo sem nunca o ter visto em acção. Resultado: obrigatório entrevistar o Di Stéfano. Sim, “o” porque já o conheço de ginjeira, tantas as vezes que ouço falar dele lá em casa.
A ideia é engraçada e nem é preciso ir a Madrid. O Madrid é que vem até nós, por ocasião de um jogo de veteranos na Luz, em mil-nove-e-troca-o-passo. No aeroporto da Portela, há uma série de vedetas do antigamente como Buyo, Chendo, Camacho, Martín Vázquez, Butragueño e por aí fora. O treinador é Alfredo Di Stéfano. Chamo-o alto e bom som. Nada, claro. Persigo-o até ao autocarro mas qual quê. Entro no autocarro do Real Madrid, pela porta do meio, e, surpresa, Di Stéfano afugenta-me com a bengala desde o seu lugar. “Quem és tu? Não podes entrar aqui.” Vim de mãos a abanar, está visto, só que a chama continua intensa. Di Stéfano, obrigatório entrevistá-lo. Só assim é que me considero jornalista a sério. E resolvo telefonar-lhe.
Boa tarde, é da casa do senhor Di Stéfano?
É sim.
Posso falar com ele?
Espere só um minuto.
(…)
Sim, quem fala?
Sou Rui Miguel Tovar, jornalista do…
Não falo com jornalistas. (…)
Errrrrr, e agora? Nada, estou de mãos a abanar. Quando o vejo partir em 2014, reformulo a lista de prioridades. Viro-me para outras figuras da bola. E, de repente, uma da política. E se entrevistasse Alberto João Jardim? A troca de e-mails com a Dom Quixote, editora do livro “Relatório de Combate”, é eficaz e marca-se a entrevista para 9 outubro, no Funchal. É-me dado o nome da rua e lá apareço dez minutos antes da hora marcada. Toco à campainha, ouço uns passos, a porta abre-se e é o próprio Alberto João. Fiel ao seu estilo bonacheirão, dá um valente passou-bem, senta-me na primeira sala, onde está um retrato xxl de Sá Carneiro com um olhar sonhador, e começa a desbravar caminho. É ele quem faz as perguntas, eu faço de entrevistado. Disseram-me que vinha cá o Rui Miguel Tovar. Você é alguma coisa ao Rui Tovar da RTP?
[vou responder e tchau aí]
Desculpe lá antecipar-me e desculpa a expressão muito madeirense, mas você tem as ventas do seu pai. É o seu pai?
É, pois.
Eisch, muito bem. E veio cá entrevistar-me?
Vim, pois.
E isto é para onde?
Observador.
Ah, sim, sim, conheço. Trabalha lá?
Sou free lance.
Se tivesse a sua idade, fazia o mesmo.
Gosto de trabalhar em casa.
Isso comigo é que já não dá. Em casa, tenho de estar a mexer naquilo que é meu, muito privado, pessoal. Arrumo, depois desarrumo, depois arrumo outra vez. Quando estudava era ao contrário.
Então?
Só conseguia estudar dentro de casa. Se estivesse num café, perdia-me nas palavras das outras pessoas espalhadas pelas mesas. Bem, vamos lá começar, esteja à vontade. [aviso prévio, cada gargalhada de Alberto João é um mimo em extensão e graça, muito parecia com a do Jabba the Hutt]
O Alberto João nasce em 1943. Como era a Madeira nos anos 40/50?
Olhe, nasci nesta casa. Que foi da minha mãe, depois vendi-a à Fundação e veja a ironia do destino vim aqui parar outra vez. Claro, a casa estava diferente. Era uma Madeira atrasada do ponto de vista económico, no seu sentido mais duro do termo, e a situação social era uma coisa horrível. Basta dizer que o destino do madeirense era a emigração. Depois, só havia ensino secundário no Funchal. Quando tinha 17 anos, só havia 80 finalistas do ensino secundário no arquipélago da Madeira. O analfabetismo na ordem dos 70%. A luz elétrica, encontrei eu num arquivo, era de 30% no 25 Abril. Portanto, atrás ainda era pior. A situação era indescritível. Muita gente vivia em furnas.
Furnas?
Havia tipos que se davam ao luxo de alugar furnas para as pessoas. Sim, sim. A coisa é de tal ordem que, às vezes, os meus filhos estudavam a história da Madeira e perguntavam-me se era mesmo assim. E era, claro que sim. Digo-lhe uma coisa: há pessoas que me encontram na rua e dizem ‘ah sô doutor, a obra que você deixou.’ Repare, a minha maior obra não é a física. Claro que não havia nada disto que há agora. Basta dizer que fiz 4850 inaugurações em 37 anos. Sabe qual é a minha maior obra?
Diga.
Com as virtudes e os erros, porque ninguém faz uma política 100% perfeita, a maior obra é a mudança social. Antes, o estatuto social era medido conforme era recebido em casa: se fosse de um determinado grau social, era recebido na sala; se não fosse desse determinado grau social, era recebido na cozinha; e se fosse de grau social inferior, nem passava da porta da rua. De maneira que havia uma forte hierarquia social e lembro-me que os nossos pais, quando íamos na rua e cruzávamos com colegas da escola, não perguntavam o nome dos colegas e sim o dos pais. O pai deste chama-se tal, a mãe daquele chama-se tal. A mudança social foi o mais importante. Ensino secundário por todo o lado, a Universidade da Madeira. O haver mais gente licenciada implicava maior distribuição do rendimento. E hoje, claro, já ninguém vive em furnas.
E o seu dia-a-dia nesses tempos?
Vivia aqui, na zona antiga da cidade. A casa de baixo também nos pertencia e tinha transformado um corredor em área para jogar futebol.
Ai é?
Eheheheheh, gostava.
E jogava com quem?
Com primas que nos visitassem ou com amigos. Como sou filho único, sempre tive muitos amigos. Se calhar por isso, sempre me dei bem no meio de muita gente. Há filhos únicos que se isolam. Eu, não. Só me sentia bem assim. Então acontecia uma coisa engraçada. Uma não, duas.
A primeira.
O meu pai oferecia-me uns livros em espanhol, os dibujos da Walt Disney, aquilo que se chama de livro de quadradinhos. Tinha o Cavaleiro Andante, o Mosquito e toda essa tralha que as minhas primas adoravam ler.
A segunda.
A minha mãe tinha uma cozinheira, que era uma senhora analfabeta do Machico, fora do Funchal, e ainda assim conhecia todas as histórias tradicionais infantis, desde os irmãos Grimm à Branca de Neve. Deve ter aprendido pela tradição oral. Ela tinha uma cultura enormíssima de contos para crianças, sabia todos os clássicos de cor e salteado. Ainda hoje, interrogo-me com as minhas primas como é que ela adotou aquela forte tradição oral? O que eu fazia então só para jogar futebol com as minhas primas? Pedia à cozinheira para não contar as histórias e trancava os Cavaleiros Andantes e Mosquitos num baú dentro do meu quarto, também trancado à chave. Sem nada para as entreter, elas brincavam comigo com a bola de futebol.
Bola normal?
Normal, tinha de ser normal. Se fosse de competição, partia a casa.
Gostava mesmo de futebol.
Ainda hoje gosto, nunca perco um bom jogo de futebol. Tanto na televisão, como aqui no estádio. Sou um ferrenho maritimista. Costumo brincar quando se fala de sociedades secretas e maçonarias e todas essas coisas que há para aí, a minha única sociedade secreta é o Marítimo.
Ia ao estádio?
Aos 11 anos, perdi o pai, que era funcionário das finanças. Era ele quem me levava sempre ao futebol. Depois disso, o irmão do meu pai tinha o cuidado de prolongar essa tradição de ir ao futebol, só que também morreu muito cedo.
E depois?
Continuei a ir, claro.
E jogava?
No liceu.
Nunca se aventurou num treino de captação do Marítimo?
Tenho a consciência das minhas limitações, eheheh. É aquele princípio de vida básico que transferi para o futebol.
Jogava a quê?
Sempre ao ataque. De vez em quando, quando via que a defesa metia água, vinha cá para trás e começava a lavar [Alberto João faz o gesto de desbastar com a mão direita].
Lembra-se de algum jogo mais lendário?
Na altura, as equipas das ilhas não estavam no campeonato nacional. Assim que a emoção maior era a Taça de Portugal, quando se viam jogos diferentes do habitual. Lembro-me perfeitamente do Marítimo eliminar o Barreirense do José Augusto. E lembro-me dos jogos da Taça com o Porto e ainda o Belenenses do Matateu.
E mais?
Se for ao museu do Marítimo, vai ver a taça do Campeonato de Portugal. Em 1926, no meio daquela confusão toda com a mudança de regime, o Marítimo ganhou-a com inteiro mérito. Diz o meu pai, claro, eheheheheh. Que os jogadores foram recebidos com toda a pompa e circunstância.
E é sócio?
Sócio do Marítimo e tenho convites para ir à tribuna em todos os jogos. Sabe, o estádio do Marítimo foi para o Marítimo na altura em que eu era presidente do Governo Regional da Madeira e foi um excelente negócio, porque aquilo custava uma enormidade de dinheiro por dia.
O Marítimo sobe à 1.ª divisão pela primeira vez no seu primeiro ano de presidência?
Quase, quase. Está ela por ela. Quem tem o mérito dessa subida é o Dr. José Miguel Mendonça, que era então o presidente do Marítimo e ainda hoje é o meu médico, eheheheh.
Imagino a festa da subida?
Foi uma coisa nunca vista. Acho que só vi aquele estádio a abarrotar nesse dia e o dia da visita do Papa.
O Papa veio cá quando?
Ora bem, mil-novecentos, mil-novecentos e, isso agora é uma boa pergunta. Olhe, já não me lembro bem. Diria 1991, veja lá se foi ou não [ding ding ding, bingo: 1991, dia 12 maio].
Como é que foi essa aventura?
Aventura, diz bem. Engraçada, devo dizer-lhe. Primeiro, ele recebeu-me numa audiência privada no Vaticano. Hoje, os papas só recebem chefes de Estado. Na altura, ele abriu essa excepção, porque o Dom Teodoro Faria, bispo do Funchal, tinha estado uma série de anos na Curia do Vaticano e chegou a ser professor de português de João Paulo II. Como ele se mexia bem naqueles meandros, fui recebido pelo Papa.
E?
Havia uma segurança extrema. Só para ver, eu entrava numa sala e era entrevistado uma meia-hora. Depois, lá autorizavam a entrada da minha mulher e mais uma boa meia-hora a responder a perguntas. Só depois é que entrava o restante da comitiva, composta por jornalistas, empresários e o embaixador de Portugal na Santa Sé. Por uma questão protocolar, o dom Teodoro Faria avisou-me que se devia falar com o Papa na língua do bispo ali presente. Perguntei então de que nacionalidade era ele e responderam-me Malásia. Bom, preparei-me para falar inglês.
E correu bem?
Aconteceu uma coisa engraçadíssima: comecei a falar inglês e ele [o Papa] pegou-me na mão. Repare uma coisa, fui diretor do Jornal da Madeira, um diário católico, na altura do 25 Abril e aguentei ali o gonçalvismo todo. Dizia eu, ele pegou-me na mão, levou-me para a secretária e, sem qualquer formalismo, sentei-me ao seu lado. Disse-me ‘se falares português devagarinho, eu percebo tudo’. E assim foi, dialogámos em português e ele estava dentro de todos os assuntos. Tinha um papel à sua parte com uma série de temas: o separatismo, a evolução de Portugal, o regionalismo da Europa, a África do Sul, a emigração. Nunca mais me esqueço de uma frase dele: regionalismo sim, independência não. Isto bate com o que se passa agora na Catalunha, eheheheh.
E a viagem do Papa a Portugal?
Lembro-me do sentido de soberania do Dr. Mário Soares em acompanhar o Papa para todo o lado: Madeira, Açores, Fátima e Lisboa. E achei um piadão quando o João Paulo II fez-me uma oferta, já no aeroporto.
Uma oferta?
Deu-me um terço de prata. Os homens da casa do Mário Soares estavam espantados e diziam ‘isto é muito estranho, porque o dr. Sousa Amaral, presidente dos Açores, é um homem mais comprometido com a Igreja e o Papa não lhe deu nada’. E eu saí-me com esta: ‘Há mais alegria no céu com a entrada de um pecador do que 99 justos’. Eheheheh.
Qual foi a sua primeira viagem para fora da Madeira?
Saí no quinto ou sexto ano de liceu. Andava na Mocidade Portuguesa e fui para um acampamento nacional, ali no Vale do Jamor. Como ainda não havia aeroporto, fomos nuns barcos argentinos, que passavam por aqui com destino a Buenos Aires. Primeiro sucesso: arranjámos umas medalhas de bombeiros e pusemos nas fardas da Mocidade. Foi um sucesso nas duas noites de farra. Está a ver, não? Rapazes de 16 anos já condecorados. Éramos os reis da pista. Fomos parar ao acampamento e a equipa da Madeira resolveu abraçar o estatuto de convidados.
Convidados?
Os oficiais viravam-se para nós e davam-nos ordens para montar barracas, só que nós alegávamos sempre o estatuto de convidados. Eheheheheh. Eles ficavam fulos e até ameaçavam recambiar-nos para a Madeira. Como não havia barcos todos os dias, sabíamos que essa ameaça era um pouco vã. Então tirávamos partido disso, eheheheh. Bom, aquilo foi um inferno e, por isso, fugíamos à noite.
Fugiam para onde?
À noite, o acampamento era vigiado pela Milícia, que era aquela malta mais velha que nós, sem ainda terem ido para a tropa. Diga-se em abono da verdade, eles levavam aquela missão da vigilância muito a sério. E nós, vestidos de castanho, enganávamo-los a torto e a direito.
Como assim?
Saíamos pelo acampamento a rebolar. A farda era castanha, o chão era de terra, a luz era mínima, ninguém se apercebia da nossa saída, eheheheh. Tomávamos o elétrico na Cruz Quebrada, vínhamos para Lisboa, fortes noitadas e voltávamos antes do sol nascer. Foi o regabofe, imagine a loucura. Depois deu-se o grande golpe anti-fascista.
Porquê?
Eles disseram que a última noite ia ser especial, no Estádio do Jamor, com a presença do Presidente do Conselho, e que cada região tinha de cantar uma música. O grupo da Madeira reuniu-se e ficámos ali na dúvida sobre o que cantar, quem vai cantar, quem isto e quem aquilo. Bom, eles disseram-me ‘cantas tu e a gente faz o coro’. Pronto, está bem. A nossa ideia era divertirmo-nos, porque aquilo tudo era uma chachada.
E essa canção era?
Não sei se sabe esta, mas aqui vai:
Casei com uma velha da Ponta do Sol
Deitei-a na cama, e o raio da velha
Mijou-me o lençol
Tornei a deitar, tornou a mijar
Perdi a cabeça e atirei
Com a velha de pernas pró ar
Foi mesmo esta a música [detalhe: a versão original é rasgou-me o lençol e só isto merece mais uns eheheheheheh]. Na tal noite, a gente lá distinguia um vulto igual ao Salazar lá ao fundo. Só o vulto, não conseguíamos ver as fuças dele. Quando chegou a minha vez, interromperam-me aquilo. Se calhar, o mijou-me era forte demais para o regime. E ainda bem que me interromperam, porque estava desafinado e aquilo tudo era anti-estético. Bem, pensámos que agora é que seríamos recambiados.
Pois.
Qual quê, ofereceram-nos mais uma semana no Continente.
O quê?
Mais uma semana, sim senhor. Fomos ao Convento de Tomar, a Fátima, a Coimbra, demos uma Volta a Portugal à conta da Mocidade. Isto é a minha primeira ida ao Continente, eheheheh.
E o que era Lisboa naquela altura?
Ainda há dias fiz essa comparação. Fiz um cruzeiro com a família desde as Ilhas Baleares até à Escandinávia e um dos pontos de passagem era Lisboa. Disse à minha mulher, à minha filha e ao meu genro que não ia desembarcar em Lisboa, não vou ver aqueles gajos. Só que a minha mulher tanto me chateou que saí com ela, até para visitar a família do meu genro. Ao entrar e ao sair do Rio Tejo, eu disse ‘esta coisa é bem bonita; entrei aqui pela primeira vez há 50 anos e continua lindíssimo’. Sabe o que fiz em Lisboa?
Nem ideia.
Andei pela primeira vez de tuk-tuk. O barco chegou a Lisboa às 8 da manhã e saiu às quatro da tarde. Nunca percebi o porquê desta paragem de pouco tempo. Bom, como as mulheres perdem-se nas horas, sempre tive receio de ser pouco tempo. Apanhámos um táxi, fomos ao Chiado, bebemos um café na Suíça e descemos a Rua do Ouro porque era preciso fazer umas compras e aparece a malta dos tuk-tuk. Aquilo era só para fotografias para aqui e para ali. Como tal, aproveitei a boleia sem nunca sequer ter sugerido nada. A minha mulher acompanhava-me o pensamento. Eu só queria chegar ao barco e ela ‘sempre tive curiosidade em andar nisto’. Fizeram-me um preço espetacular, que só deve ter dado para pagar a gasolina, e deram uma volta bem engraçada. Deu para visitar uma série de locais da minha juventude, do tempo em que fiz quatro cadeiras em três anos.
Quatro cadeiras em três anos? Nem eu consigo bater isso.
Ia aos santos populares, sempre. A todos os bailaricos da Mouraria, da Graça, do Alfama. Uma vez, falhei um exame porque estava num baile na Rua do Capelão às seis da manhã. Bom, fomos de tuk-tuk e visitámos muitos miradouros, como a do Senhora do Monte e o da Graça. Fez-me bem ir a Lisboa, que é uma cidade linda. Muita gente pensa que não gosto de Lisboa pelas declarações políticas. Irrita-me, e desculpe que também lhe vou tocar, irrita-me é a classe política e a comunicação social. São os meus inimigos fidagais. Desculpe-me, mas é assim mesmo. Sem a classe e a comunicação social de Lisboa, adoro falar com as pessoas de Lisboa e tenho boas recordações. Veja bem, fui para a Universidade aos 17 anos.
E que tal?
Nem lhe conto, foi uma farra. Daquelas em grande.
Onde era a farra?
Conheci de tudo, desde os meios mais finesse de Cascais até aos bairros tradicionais de Lisboa. Dei-me com toda a gente, fui a todas as festas. Foi uma farra incrível.
E cadeiras que é bom?
Zeeeeero. Naaaaaada. Nem comprei os livros. Naaaaaada.
E ia às aulas?
Tinha de ir. Era ponto de honra não chumbar por faltas.
Ah bom.
No segundo ano em Lisboa, comprei os livros e fiz o primeiro ano da universidade. Só que fiquei cansadíssimo.
Das farras?
De fazer aquele primeiro ano, eheheheheh.
E depois?
Voltei ao de sempre e voltei a não comprar os livros, no terceiro ano de Lisboa.
E agora?
Fui para Coimbra.
Coimbra? Não era mais farra ainda?
Nãããão, Coimbra era mais sossegado.
Mais sossego?
Coimbra não tinha os atrativos de Lisboa.
Vivia onde em Lisboa?
Numa residência da Mocidade, ali na Visconde de Valmor. E o engraçado é que aquilo estava em autogestão. Posso testemunhar que vi uma experiência de autogestão dentro do regime.
E em Coimbra, vivia onde?
Fui para uma República, a do Farol das Ilhas. Só de madeirenses. Ainda está lá. Sabe quem ia lá visitar-me?
Quem?
A minha mãe. Em maio, lá ia ela. Dizia-me que ia fazer-me estudar e tirar-me da rambóia. E a verdade é que isso realmente acontecia. Ela hospedava-se numa residencial e eu ficava com ela, no quarto. Resultado: os gajos da República não me chateavam e eu estudava a sério. Claro que a minha mãe, de tanto ir a Coimbra, já tinha as suas amigas e, claro, o Alberto João era uma figura secundária, eheheheheheh.
[o telefone toca]
[continua a tocar]
[mais uma vez]
(Alberto João solta ‘chato este telefone, desculpe lá’, levanta-se e vai para outra sala, no outro lado da casa)
[ouvem-se passos cada vez mais próximos]
Desculpe, era o Guilherme Silva com aquelas confusões do PSD.
Estava a falar dos tempos de estudante.
Sabe com quem estudei em Lisboa, no primeiro ano?
Quem?
[Joaquim] Chissano e [Pascoal] Mocumbi. Foi o primeiro ano em Lisboa de nós os três.
Amigos?
Amizade eterna.
Já aí eram pessoas com carisma?
Sim, sim. O Mocumbi brilhava mais que o Chissano e tinha sido o melhor aluno do liceu em Lourenço Marques.
E quando é que vinha à Madeira?
No Natal e nas férias grandes. Só os muito ricos é que vinham na Páscoa. Era caro, mesmo de barco. De avião então nem se fala.
Aí já havia aeroporto?
O aeroporto foi inaugurado comigo em Coimbra, só que as viagens eram caríssimas. Aliás, proibitivas. Ainda hoje o são, é um autêntico escândalo. Ainda há pouco, contou-me uma pessoa que o filho dela trabalha em Palma de Maiorca e sabe quanto lhe pediram por um bilhete Lisboa-Funchal no dia 18 dezembro às quatro da tarde? Pediram-lhe 200 euros. O rapaz foi então ver viagens mais baratas e acabou por dar 80 euros por Madrid-Lisboa-Funchal. Estão a brincar connosco? Agora atrevo-me a dizer ‘eles não faziam isto no tempo do Alberto João’ e mais não digo.
E a sua primeira viagem de avião?
Foi para Porto Santo.
Porto Santo?
O impropriamente auto-denominado Estado Novo meteu-se-lhe na cabeça fazer um aeroporto em Porto Santo e depois mandavam as pessoas para o Funchal de barco, num mar terrível, porque a profundidade é enorme, na ordem dos quatro mil metros. Portanto, os turistas chegavam aqui mortos. Não havia camarotes, nem salas. As pessoas ficavam entregues à sua sorte e apanhavam com a água do mar. Imagine bem, hã? Uma desgraça. A minha primeira viagem foi então Lisboa-Porto Santo, num daqueles Dakotas da TAP. Depois apanhei o cacilheiro para o Funchal, numa viagem de quatro/cinco horas. Era um dia inteiro naquilo e que dia: chegava-se de Lisboa antes do almoço, almoçava-se em Porto Santo e vomitava-se o almoço durante a viagem para o Funchal, eheheheheh. Os peixinhos agradeciam, eheheheh.
Era um dos que vacilava?
Não, sempre me dei bem no mar. Prefiro viajar de barco do que de avião.
Assusta-se lá em cima, é?
Nããão. Muitas vezes, os comandantes convidavam-me a aterrar dentro do cockpit e é curioso que a experiência acumulada fazia-me sentir como um deles.
Então?
Às tantas, já mandava bocas.
Como por exemplo?
Atenção que há três luzes vermelhas e só uma branca. Ou o contrário, já não me lembro. Sabia como se devia aterrar em perfeitas condições e até dizia ao comandante se não devia dar mais um bocadinho de motor e tal. Eles ficavam espantados e até me convidavam a pegar na manete.
Nos anos 80, o aeroporto já era na Madeira e a pista era curta, não era?
Agora já tem 3 mil metros, a nova pista foi inaugurada em 2000. Para comprovar isso, convoquei um Jumbo, um AirBus A-40 e mais um grande. Trouxe os maiores aviões do mercado e eles fizeram uma demonstração aérea. Lembro-me do Mota Amaral dizer-me ‘só tu para fazeres a loucura deste aparato’. O problema do aeroporto foi sempre os ventos, nunca a localização geográfica.
Estabeleceu-se no Funchal em que ano?
No final dos anos 60. Acabei o curso de advocacia e dava aulas na Escola Industrial.
Como é que soube do 25 Abril?
Conto isso no meu livro. Estava a dormir, tocou-me o telefone, era um primo meu, casado com uma prima minha. Sabes que há uma revolução em Lisboa? E eu ‘mas quem é que está a fazer a revolução?’ Do outro lado, dizem Spínola. Quis lá saber, fui dormir outra vez e só acordei às oito, arranjei-me, cheguei à Escola Industrial para uma aula às nove e, olhe, já eram todos democratas e não havia aulas. Eheheheheh.
Qual foi o pior insulto que lhe fizeram?
Boa boa, nunca me fizeram essa pergunta. Não estou a ver, sabe? Quer dizer, fui insultado, claro que sim, mas não estou a ver o pior insulto. Coitados, são os pobres coitados, esses que me insultaram.
Sente-se na reforma?
Assumo que estou reformado. Procurei foi encontrar um estilo de vida que gostasse. Portanto, vou todos os dias ao mar, exceção feita aos sábados e domingos. Nesses dias, gosto de dormir.
Qual é a sua rotina?
Olhe, às nove e meia, ando uma hora a pé, dou umas braçadas no mar, naquela água quente de 23/24 graus, e leio um bocado. Quando o sol já queima e os turistas começam a fazer-se notar, venho para casa, faço a barba, tomo um duche, almoço com a família e faço uma série de coisas por aqui em casa, entre escrever, receber pessoas e telefonar. Vivo como gosto. Procuro é que ninguém me contrarie nem me chateie.
E essas braçadas no mar é até quando?
Há um ano, a última ida ao mar foi a 8 de dezembro. Há dois anos, foi 18 de dezembro. Aqui a temperatura está boa até janeiro. Daí até à Páscoa, a água é fria comò raio. No resto do ano, uma maravilha.
Falou dos turistas. Quando era pequeno, a Madeira já estava cheia de turistas?
O turismo na Madeira já existe há 200 anos. Os navios ingleses passavam por aqui, na ligação Southampton-Cidade do Cabo. Aqui, chamavam-se o vapor do Cabo, era um barco da Union Castle Line. A Madeira sempre foi um porto de afluência grandiosa e só foi ultrapassado em importância pelas Canárias, fosse Tenerife ou Las Palmas, por teimosia do Salazar. Claro que o facto de o Franco apostar forte nas Canárias também teve a sua importância neste capítulo. Mas respondendo à sua pergunta, como é que nasce o turismo na Madeira? Nasce assim: havia o império britânico e muitos oficiais encontravam-se aqui com as mulheres que já não viam há dois anos. Há 200 anos, veja bem. Quando cheguei ao Governo [março 1978], a Madeira nem tinha dez mil camas. Hoje já tem mais de 30 mil.
E o Alberto João mais miúdo esbarrava nos turistas?
Aqui no Funchal, nem por isso. Com a morte do pai, passei a viver com a minha mãe e o meu avô. Em agosto e setembro, para fugir à humidade do Funchal, fechávamos esta casa e íamos para uma casa alugada na Freguesia do Monte, um local turístico. Aí, sim, via muitos turistas.
A propósito da Catalunha, alguma vez lhe passou pela cabeça a independência da Madeira?
Sou um federalista europeu. Entendo que todo o território português deve ser federalizado para que o poder seja, de facto, devolvido ao povo português. Senão as oligarquias de Lisboa vão dominar o país. Percebi conceber a Madeira como uma Nação e não como um Estado.
Porquê?
Porque a Nação está unida, é culturalmente algo de semelhante, que faz força na mesma direção, com as mesma motivações. O Estado já não, tem os seus mecanismos de poder. Nas suas liberdades e na sua lógica de funcionamento, é fraccionante. O independentismo não nos serve, é preciso que a Europa se federalize. Fui um dos fundadores da Assembleia das Regiões da Europa, que evoluiu para o Comité das Regiões em Bruxelas. Fiz um bom trajeto nas organizações regionais. E acho que isto da Catalunha é mau serviço para a própria regionalização, porque os Estados são hipócritas. Todos falam da construção europeia, só que cada um vai ao seu. Como são hipócritas, nunca aceitam a descentralização e dificultam a federalização. Quando se deu a grande crise económica-financeira de 2008, foi o pretexto para o Estado se centralizar mais ainda. Ainda há dias ouvi o Paulo Portas dizer esta enormidade ‘ainda bem que não se fez a regionalização em Portugal’. Trocado por miúdos, ainda bem que não se devolveu o poder ao povo, senão era só Catalunhas em Portugal. Muita gente diz que Portugal é um país pequeno, só que a Suíça é mais pequena ainda e é um sucesso. Não é federal, é co-federal. Essa do somos um país pequeno e não nos podemos federalizar é um argumento para papalvos. Só quem for tonto é que enfia isso. Esta história da Catalunha é, primeiro, mal feita. Se queriam a independência, não deviam ter feito assim. Segundo, é péssimo para o federalismo, porque dá um pretexto aos Estados centrais para impedir a federalização. Eu dividia o território nacional em sete regiões: Minho, Trás-os-Montes, Vale do Douro, Beiras, Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Sete Estados federados.
No Portugal de hoje?
Veja bem, os partidos portugueses são hoje um verdadeiro albergue espanhol: quem quiser, inscreve-se. O que é que isto dá? Dá para manipular votos, manipular grupos que se apossam do poder. Passou-se no Continente e na Madeira. Nenhum dos cinco partidos aceita mudar o sistema deles, das oligarquias que os têm na mão.
E a gerigonça?
Foi importante, pacificou o país. Agora, a gerigonça… O que penso é que o PC está a ser comido e o Bloco da Esquerda, mais dia menos dia, está dentro do PS. Como diria o Álvaro Cunhal, o Bloco é o radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista. O problema da geringonça é que transformou o Estado numa ONG. Isto é, nós não podemos abdicar do investimento para começar a dar dinheiro para mais uma cervejinhas. Temos de ver primeiro quais são os sectores sociais onde a ação é prioritária.
Onde?
Onde há fome, onde não há casa para viver. Temos de atacar socialmente. Depois, sabemos que um país com poucos recursos tem de ter a construção civil ativa para ter a moeda em circulação. Em terceiro, para ter circulação é preciso investimento. Porquê? O investimento gere emprego e moderniza. Não se faz uma escola onde há uma escola nem uma estrada em cima de outra estrada. Temos de nos modernizar. Se Portugal deixa de investir, voltamos aos anos 70 em que estávamos atrasados em relação ao resto do mundo. Se você consegue dar sete, dez euros, o tal dinheiro para a cervejinha, mais vale dar dinheiro para melhorar as condições de vida daqueles que necessitam. Se tenho um gajo reformado a ganhar 2000 euros, não lhe vou dar mais 100 euros. Está errado esta política está errada. É o existencialismo mal-feito. A política da gerigonça não cria emprego, afasta os jovens universitários e não vai às classes desfavorecidas porque dá dinheiro aos mais favorecidos. Ou seja, a gerigonça não trata dos mais novos, porque há uma emigração em massa, e também não trata dos mais velhos. Andamos para aqui numa política existencialista. Não se investe nem se moderniza. Tal como não concordo com a política de Passos Coelho também não concordo com a política da gerigonça.
Qual o momento mais dramático à frente do Governo Regional?
Dois momentos. O primeiro é uma viagem à República Dominicana em que um cameraman da RTP morre ali mesmo, de ataque cardíaco. Foi como estar em combate e perder um homem. Nem queira saber a minha aflição. O segundo é o aluvião da Madeira em 2011, quando morreram 47 pessoas. Foi preciso reconstruir tudo, com todos a dizerem que não era assim e não era assado. Felizmente, sempre fiz ouvidos de mercador aos tolos de quem não gosto e a obra lá está, feita e bem feita. Dois momentos muito difíceis.
Para acabar, só uma frase ou duas ou, vá, meia sobre alguns políticos.
Força.
Salazar?
Nosso Senhor lhe perdoe.
Álvaro Cunhal?
Nosso Senhor lhe perdoe.
Mário Soares?
Portugal deve-lhe muito. Tinha o seu feitio, mas gostava muito dele.
Sá Carneiro?
Foi o maior político e mais amigo da Madeira que conheci. E foi aquele que mais me ajudou.
Era carismático, o Sá Carneiro?
Embora fosse de famílias da alta burguesia portuense, era um homem que fez um partido nacional. Isto é, enquanto nós dizíamos que o Dr. Soares do PS e o Dr. Freitas Amaral do CDS procuravam construir o partido conforme o catecismo da Internacional Socialista e da Internacional da Democracia-cristã, nós tínhamos a noção de que o Sá Carneiro tinha as suas motivações em dar prioridade às motivações mais sentidas do povo português. Foi isso que compreendeu como ninguém o povo português.
Como é que foi saber da notícia?
Estava no parlamento regional, durante a discussão do orçamento. Aquilo tinha continuado depois do jantar. E lembro-me de uma colega sua entrar lívida no parlamento com a notícia ‘houve um desastre de avião e morreu um político muito importante’. Saí-me logo esta ‘foi o Sá Carneiro, nâo foi?’. Suspendi a sessão e procurei saber mais coisas.
Foi ao funeral?
Claro que fui. E lembro-me de ver muita gente a fazer-se à fotografia. Parecia uma feira das vaidades.
O que a morte provocou no imediato?
Não houve tempo de pensar na morte. Começaram primeiro as mexidelas no partido. A minha decisão e a do Mota Amaral foi a de apoiar o Balsemão, o político que mais garantias dava às Regiões Autónomas.
Cavaco Silva?
Um grande estadista, devo-lhe muito o desenvolvimento da Madeira. Ele bateu-se em Bruxelas pelo aeroporto. Ele bateu-se em Bruxelas pela zona franca na Madeira.
Guterres?
Um homem interessante, só não compreendo como é que ele, no início, se deixou levar pelas críticas à Madeira. Ora bem, isso obrigou-me a ser violentamente desagradável.
Jorge Sampaio?
Gosto dele, é um verdadeiro senhor. Simplesmente é o principal responsável pelo engenheiro Sócrates ser o primeiro-ministro.
Curiosamente, é a próxima pergunta: Sócrates?
Não quero falar. Não é não querer falar. Vamos lá ver. Sobre o engenheiro Sócrates, tratou-me de uma maneira violenta e insuportável nos primeiros tempos. Quando nos conhecemos pessoalmente, começámos a darmo-nos bem. No dia da posse do governo do Passos Coelho, ele disse-me isto em pleno Palácio da Ajuda: ‘Você tinha problemas comigo, mas agora é que vai saber o que são problemas.’ Aí, ele acertou.
Durão Barroso?
Depois de Sá Carneiro, deve ter sido o primeiro-ministro que mais me ajudou.
Marcelo Rebelo de Sousa?
Um bom amigo, gosto do estilo dele. Atrevo-me a dizer que é o meu estilo. Tenho uma certa admiração pela capacidade invulgar.
António Costa?
Fomos colegas no comité das regiões e fiquei surpreendido com ele, sob o ponto de vista político como humano. É inteligente. Pronto, já deu para falar da gajada toda.
Só mais um: se isto fosse futebol, qual o cartão que mostrava ao Passos Coelho?
Vermelho, mas já é tarde.
O Marítimo foi a duas finais do Jamor. O Alberto João também foi?
Fui às duas, primeiro com o Sporting, depois com o Porto. E falhei, sabe porquê?
Porquê?
Disse que ganharia a terceira final. Afinal de contas, saí do Governo sem a taça. Falhei, foi pena.
E aquela ideia de juntar os três clubes da Madeira?
Foi um realidade. Eles é que não quiseram, agora aguentem-se
Eles?
Eles, os três presidentes dos clubes. Foi até a massa associativa.
Dos três ou só de um?
Particularmente do Marítimo, particularmente do Marítimo. Mas isso são histórias feias de pessoas a roer a corda, de dar o dito por não dito, de dizerem uma coisa à minha frente e depois falharem nas minhas costas. Mas tudo bem, o povo não quis agora assumem as consequências. Sabe, o madeirense é muito individualista, é muito complicado fazer fusões por aqui.
E como se chamaria essa equipa?
Marítimo Nacional União Madeira SAD.
A sério?
O Marítimo estava em vantagem, por currículo. Claro que as pessoas não iam dizer golo do Marítimo Nacional União. Era golo do Marítimo, fácil.
Para acabar, agora é que é: um grande jogo de futebol que tenha visto?
Houve um que me soube bem, o Marítimo-Benfica de há um ano, no dia da inauguração das obras dos Barreiros. Ia a chegar ao estádio e os jornalistas perguntaram-me sobre a dificuldade do jogo. A minha resposta foi automática ‘o Benfica é um clube de bairro’ e entrei. Achei piada, porque o Oliveira, o que tem a SportTV, disse-me com um ar triunfante ‘ò Doutor, já está no ar a sua declaração’. No dia seguinte, falei ao telefone com o Pinto da Costa, de quem sou amigo, e ele disse-me ‘até fiquei preocupado, porque era uma barracada se o Marítimo não ganhasse e você ficava com cara de tolo; assim, ganhou e encaixou bem a do clube do bairro’. Esse 2-1 foi a minha última alegria. Há outras, claro. Olhe, muito obrigado por ter vindo cá, gostei de o conhecer.
Posso só pedir-lhe para tirar uma fotografia?
Uma selfie?
É para um amigo meu?
Boa desculpa, amigo.
Eheheheheh, a sério. Um amigo madeirense.
A sério? Como se chama?
[dá-me uma branca daquelas] Só me lembro do nome artistísco, DJ Flama.
Flama? A-do-ro e quero conhecê-lo. Flama é a Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira, foi um movimento forte. Envie-lhe lá a foto e, já agora, saiba lá o nome do rapaz. Grande abraço e obrigado.
Alberto João dá-me mais um valente passou-bem, abre-me a porta e pergunta-me ‘vai para onde?’ Ainda não sei bem. ‘Se virar à esquerda ali ao fundo da rua, desce e vai parar ao centro do Funchal. Aquilo é uma maravilha, vai divertir-se pela certa.’