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Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, em entrevista para o Observador. 16 de Novembro de 2021 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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A jurista Sofia Marques coordena o Serviço de Escuta lançado esta quinta-feira

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A jurista Sofia Marques coordena o Serviço de Escuta lançado esta quinta-feira

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Jesuítas querem desvendar abusos sexuais não investigados. Casos vão ser “averiguados” e crimes encaminhados para a polícia

Entre colégios e campos de férias, os jesuítas chegam a mais de 10 mil menores em Portugal. Agora vão investigar crimes sexuais que ficaram por conhecer. Entrevista à coordenadora da nova estrutura.

De todas as instituições católicas que operam em Portugal, a Companhia de Jesus é uma das que chegam a mais crianças e jovens no dia-a-dia. Entre colégios, campos de férias e outras iniciativas, mais de 10 mil menores estão frequentemente ao cuidado dos jesuítas portugueses. Agora, ao fim de quatro décadas com a crise dos abusos sexuais de menores a marcar a história contemporânea da Igreja Católica, a ordem religiosa vai abrir os seus armários em busca dos seus próprios esqueletos: a Província Portuguesa da Companhia de Jesus lançou esta quinta-feira (em que se assinala o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual) o Serviço de Escuta, uma iniciativa destinada a receber denúncias de crimes de abuso sexual praticados nas instituições ou atividades dos jesuítas.

Em entrevista ao Observador, a coordenadora deste serviço, a jurista Sofia Marques, explica que o objetivo é oferecer a vítimas, familiares e outras pessoas que tenham informações sobre abusos sexuais cometidos dentro da Companhia de Jesus um canal seguro para denunciarem os casos, independentemente da data em que ocorreram, do perpetrador (padre, trabalhador ou voluntário das instituições) ou do local. O novo grupo de trabalho incluirá especialistas de várias áreas, que estarão disponíveis para ouvir, acompanhar e aconselhar as vítimas, mas, garante Sofia Marques, todas as situações que envolvam possíveis crimes de abuso serão encaminhadas para as autoridades policiais.

O novo serviço dos jesuítas portugueses é criado quase um ano depois de, em Espanha, a Companhia de Jesus ter divulgado as conclusões de um estudo interno sobre o problema. O relatório dava conta de crimes sexuais cometidos por 96 jesuítas contra pelo menos 81 menores de idade e 37 adultos vulneráveis. A revelação deu origem a um controverso processo de pagamento de indemnizações — algo que, em Portugal, ainda não está no âmbito de atuação da nova estrutura criada pelos jesuítas. O anúncio surge também uma semana depois de a Conferência Episcopal Portuguesa, o órgão máximo da Igreja Católica em Portugal, ter confirmado que vai criar uma comissão para investigar os abusos sexuais de menores ao longo das últimas décadas (um trabalho sobre o qual ainda há mais perguntas do que respostas).

O Serviço de Escuta dos jesuítas enquadra-se numa outra iniciativa lançada pela Companhia de Jesus em 2018, o Sistema de Proteção e Cuidado — um sistema integrado e transversal a todas as instituições da ordem religiosa, com o objetivo de coordenar a formação dos trabalhadores e voluntários, de encaminhar eventuais denúncias recentes, articular a comunicação entre a ordem e as autoridades civis e fomentar, no geral, um ambiente de bom-trato e de relações saudáveis entre os adultos e os menores ao cuidado da Companhia de Jesus. Desde 2018, o sistema já sinalizou vários casos de crianças em risco (em diferentes contextos), mas nenhum caso de abuso sexual nem nenhum caso cometido por jesuítas. O único caso histórico que chegou ao conhecimento da Companhia de Jesus diz respeito a um padre que já morreu há mais de 25 anos — e foi a própria vítima que deu conta do caso, unicamente para efeitos de registo, explica Sofia Marques.

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Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, em entrevista para o Observador. 16 de Novembro de 2021 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A jurista Sofia Marques é a coordenadora do Serviço de Escuta dos jesuítas portuguese

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Em Espanha, os jesuítas identificaram pelo menos 96 abusadores na sequência de um estudo deste âmbito. Os jesuítas portugueses estão preparados para os resultados que poderão surgir deste novo serviço?
Este serviço, que agora começa, tem esse único objetivo: realmente transmitir a quem possa ter sofrido, nas obras da Companhia de Jesus, algum abuso, que não tenha denunciado — ou que até tenha denunciado e não tenha sido devidamente tratado. Não temos ideia do que possa surgir com a abertura deste serviço. Temos a grande vontade de que não fique ninguém por poder vir relatar por não serem criadas as condições, e a genuína disponibilidade para escutar quem tenha vivido alguma situação destas. Em termos de dimensão, não conseguimos calcular.

Mas os estudos recentes noutros países — tanto específicos da Companhia de Jesus, como em Espanha, como outros casos, o de França, por exemplo —, têm tido em comum esta característica de surpreenderem pela magnitude dos números. Partem para este trabalho dispostos a aceitar o que quer que venha a ser contado sobre a história dos jesuítas em Portugal?
Isso sem sombra de dúvida. Totalmente. Os passos que decidimos dar são aqueles passos que estão à altura da nossa perna, [estamos] disponíveis para nos prepararmos e nos adaptarmos àquilo que for necessário. Neste momento, sentíamo-nos em condições, precisamente por ser a consequência natural daquilo que o Sistema de Proteção e Cuidado já tem vindo a fazer, de abrir esta porta e nos sentirmos verdadeiramente preparados para acolher quem vem. Sabendo que a dimensão que está estruturada para o Serviço de Escuta é uma dimensão contando com essa imprevisibilidade — mas totalmente disponíveis para nos adaptarmos e criarmos a estrutura com a dimensão que for necessária e com aquilo que surgir como necessário, face à dimensão que vier a ser a real.

Para já, o que é que pode contar sobre como vai funcionar o Serviço de Escuta? O que é, a quem responde dentro da organização e como vai funcionar?
Estamos preparados para receber, através da equipa provincial do Sistema de Proteção e Cuidado, da qual eu sou coordenadora, as sinalizações, as denúncias, através de um e-mail que foi especificamente criado para esse efeito: escutar@jesuitas.pt. Esse e-mail só vai ser recebido por mim, para fazer uma triagem e identificar se a denúncia respeita a uma situação passada na Companhia de Jesus ou se é alguma situação que não esteja diretamente relacionada com a Companhia de Jesus. Caso em que faremos tudo para certificar de que não se trata de um mero encaminhamento da pessoa para outro serviço, mas assegurar que a pessoa consegue — e tem os meios adequados para conseguir — sinalizar ao sítio indicado.

Portanto, qualquer pessoa pode enviar um e-mail para esse endereço, contando uma história que lhe possa ter acontecido.
Este serviço está direcionado às situações de abuso sexual, sabendo que, naturalmente, as situações de abuso sexual não são, ou podem não ser, isoladas. Pode não ser um facto que consubstancie um abuso sexual e que possa ter, na história da relação e da aproximação entre as duas pessoas, outros tipos de acontecimentos e outras condutas abusivas. Outras formas de abuso de poder que não sejam exclusivamente abuso sexual — e, portanto, vamos receber todas.

E o que é que vai ser feito quanto às denúncias que forem chegando? Imagino que serão de diferentes naturezas.
Sim. Essa é uma certeza que temos de todo o trabalho de preparação que temos feito. Cada situação é uma situação porque cada pessoa é uma pessoa. Mais do que cada caso, é precisamente cada vítima. Claro que cada vítima tem uma história — até pode ter mais do que uma história — e, relativamente aos acontecimentos, eles vão ter um caminho e vão ser averiguados.

"Não temos ideia do que possa surgir com a abertura deste serviço. Temos a grande vontade de que não fique ninguém por poder vir relatar por não serem criadas as condições, e a genuína disponibilidade para escutar quem tenha vivido alguma situação destas."

Averiguados por quem?
A estrutura que já existe — e essa não é nova, o Serviço de Escuta é uma porta. Não vou deixar de explicar o caminho dessas denúncias, só explicar que este serviço que é criado agora é precisamente para que a estrutura do Sistema de Proteção e Cuidado tenha uma equipa de pessoas, com várias formações e experiências, para poderem acolher quem vem, escutar quem vem, e conseguir circunscrever os factos denunciados, para que depois estes factos venham a ser investigados e averiguados. Hoje em dia, nós já temos previsto, no âmbito do Sistema de Proteção e Cuidado e da forma como este sistema se articula com o padre provincial (que é o responsável máximo da Companhia de Jesus), que temos sempre de distinguir consoante a situação seja atual, recente, ou seja uma situação passada. Dentro destas, se há prescrição, se não há prescrição. Dentro destas, se o visado está vivo ou se é uma pessoa que já faleceu; se a própria pessoa está em alguma situação de perigo hoje ou não. Todas estas variantes vão determinar atuações diferentes. No essencial, a averiguação vai ser naturalmente determinada pelo padre provincial, mas este Serviço de Escuta abre-se a factos que tenham ocorrido dentro da Companhia de Jesus cometidos por jesuítas, mas também por leigos — professores, voluntários, colaboradores, trabalhadores ao serviço das várias obras da Companhia de Jesus. Seja por uns, seja por outros, o procedimento vai envolver as próprias obras e perceber, naturalmente, a quando é que estes factos reportam, qual foi o período, o percurso, que o visado ou suspeito fez, por onde andou, e a partir daí perceber se há outros registos e se estamos perante situações que não foram denunciadas, ou que foram e não foram devidamente tratadas.

Portanto, também é um processo de autoanálise dos próprios procedimentos internos.
Sem dúvida nenhuma.

Se chegarem denúncias que digam respeito a coisas que aconteceram há 50 ou 60 anos, imagino que seja feito um estudo de âmbito mais histórico, sobre o que se passou. Mas se houver uma denúncia que diga respeito há três, quatro ou cinco anos, há alguns meses, qual será o primeiro passo? Encaminhar para a polícia?
Com certeza. Estes processos correm de uma forma simultânea. Já está definido como é que eles se vão articulando. Aqui o objetivo é que haja uma colaboração ativa e que esta estrutura — quer o Sistema de Proteção e Cuidado, quer o grupo de escuta, quer um grupo consultivo que criámos de apoio a este serviço — seja um apoio profissional, de independência e isenção, para irmos avaliando passo a passo e perceber o que é que está a ser feito, quais são os canais e as instâncias corretas para, em cada momento, o assunto estar a ser tratado. Não significa que não possa estar a ser das duas formas, porque pode haver ainda um processo civil a decorrer ou a ser instaurado e, simultaneamente, se for um suspeito que esteja vivo ou em funções, tem de haver uma atuação disciplinar imediata. Não fica à espera de qualquer conclusão de um processo civil.

Mas essa é uma garantia que podem dar? Todas as denúncias que vos chegarem e digam respeito a potenciais crimes vão ser enviadas por vocês para a polícia?
É uma garantia.

Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, em entrevista para o Observador. 16 de Novembro de 2021 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sofia Marques diz que os jesuítas estão preparados para aceitar a história que resultar do novo serviço da Companhia de Jesus

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Qual é o universo de abrangência da atuação dos jesuítas em Portugal? Escolas, colégios, instituições… Quantas são, e de quantas crianças e jovens estamos a falar no país todo?
A Companhia de Jesus em Portugal tem dois colégios grandes, em Lisboa e em Santo Tirso. Em Santo Tirso é um conjunto de escolas, não é um só estabelecimento de ensino, são vários, e portanto tem crianças desde os mais pequeninos, do jardim de infância, até ao ensino secundária; e também outras formações, uma escola relacionada com o ensino artístico. Além disso, a Companhia de Jesus também está em algumas paróquias e tem a gestão de centros paroquiais, que têm também as valências como as creches, por exemplo, o apoio fora de horas, apoio escolar e atividades de ocupação de tempos livres. Mas não têm só atividades com crianças e jovens. Têm também atividades neste âmbito paroquial e obras sociais dirigidas a outros públicos, que também têm outros fatores de vulnerabilidade, nomeadamente a idade, as condições socioeconómicas, também há obras que trabalham com reclusos, com sem-abrigo e com população migrante. Além destas, nós distinguimos entre as obras jesuítas e as inacianas. As que pertencem e as que estão ligadas. Há um conjunto destas outras obras inacianas que têm a sua autonomia estatutária, mas têm esta ligação à Companhia de Jesus — nomeadamente, campos de férias, que abrangem centenas de crianças e de jovens por ano, no verão.

Portanto, estamos a falar de um universo com milhares de crianças e jovens.
Não temos assim um número exato, mas rondam as 10 mil crianças e jovens, diria mais. Pelo menos 10 mil.

Já desde 2018, têm em funcionamento o Sistema de Proteção e Cuidado na Companhia de Jesus, que pretende acolher denúncias, encaminhar e acompanhar, promover a proteção. Destes três anos que o serviço está em funcionamento, quantas denúncias é que já surgiram e o que é que foi feito quanto a elas?
No âmbito do Sistema de Proteção e Cuidado, todas estas obras jesuítas e inacianas estão a implementar este sistema internamente. Foi um sistema criado para levar esta preocupação do safeguarding, da proteção e do cuidado para dentro das organizações. Esta preocupação tem muito a ver com o cuidado, a promoção e a cultura de um ambiente de bom-trato. É uma preocupação com o dia-a-dia, com o presente, com o que se faz, com a forma como as crianças, os jovens e os adultos em situação de vulnerabilidade são tratados em sala de aula, em ambiente não só educativo, mas desportivo, cultural, fora de sala de aula, nos campos de férias, em contexto pastoral. A preocupação sobre a qualidade da relação. E isto é preventivo. O maior âmbito que tem o Sistema de Proteção e Cuidado é a identificação das áreas de risco. Existe um instrumento que é o mapa de risco, com a identificação das áreas de risco dentro de cada obra, e um código de conduta que orienta quem vem, quem trabalha, quem é voluntário. O que é esperado de mim? O que é esperado que eu faça, que não faça, que evite fazer? E temos feito formações. Fizemos no início, antes do lançamento e da entrada em vigor deste Sistema de Proteção e Cuidado, e temos feito todos os anos, durante todo o ano, antes dos campos de férias. Estão aí quase duas mil pessoas formadas, e agora temos uma formação para novembro e dezembro. Estamos sempre a dar esta formação para garantir que não há pessoa a trabalhar ou ligada à Companhia de Jesus que não tenha esta sensibilização.

Quem faz essa formação e que tipo de conteúdos é que inclui?
A formação é orientada pela equipa provincial. Por mim, que sou jurista, pelo padre José Maria Brito, que é jesuíta, e pela Fátima Perloiro, que é psicóloga. Esta é a equipa provincial e somos nós que habitualmente ministramos essa formação, que é uma formação de sensibilização. Tem três áreas essenciais. Está dividida em três sessões de duas horas cada, com uma diferença de uma semana entre cada sessão, para que possa haver uns vídeos para verem, uns trabalhos para responderem, uns casos práticos para solucionarem. E tem estas três grandes áreas: a área do enquadramento conceptual dos maus-tratos e do mapa de risco; uma segunda sessão ligada ao código de conduta, à volta de casos práticos para os formandos avaliarem, classificarem se é uma conduta a promover, a evitar ou proibida, e de cada caso gera-se um tema (a qualidade da relação, se é educativa, a proximidade, o uso das redes sociais, os espaços onde as atividades são feitas para serem espaços seguros); e a terceira sessão é sobre o tratamento de suspeitas e denúncias. As obras têm, à frente, um delegado SPC. Em função da dimensão da obra pode ter um subdelegado, não é obrigatório, e pode ter uma equipa de apoio, uma equipa normalmente multidisciplinar, que apoia o delegado.

E fazem o ponto de contacto com a estrutura nacional.
E, dentro de cada obra, são as pessoas responsáveis por fazer a gestão do tratamento de alguma suspeita, denúncia ou ocorrência de mau-trato ou abuso. Dizemos sempre em sentido lato, porque a abordagem nestes últimos anos tem sido feita sempre no sentido dos maus-tratos e abusos. Tudo o que são condutas abusivas, aquelas até mais subtis, para atendermos àquilo que é o mais subtil. Um grito em sala de aula. Um castigo que não é razoável ou é desproporcional. No tratamento de suspeitas e denúncias, nós distinguimos, no âmbito do SPC, dois tipos de ocorrências: as internas e as externas. Porque as obras são, de acordo com a legislação de proteção de menores, entidades com competência em matéria de infância e juventude. São entidades de primeira linha, porque são aquelas que estão mais próximas das crianças, jovens e seus familiares. Nesta pirâmide da subsidariedade, são as entidades de primeira linha aquelas que têm competência para, perante uma situação de perigo, atuar. Fazem-no de forma consensual com aqueles que são os responsáveis pelas crianças — e damos, nesta formação, o conhecimento de quais são os momentos em que há limite da nossa intervenção enquanto primeira linha, porque esgotámos a nossa atuação, porque não há consenso para a atuação, ou porque há algum crime. E, nesse caso, há as comunicações obrigatórias. Portanto, nessa sessão, não só levamos essa sensibilização e essa consciencialização, mais conhecimento, mais uma aproximação pela relação com a equipa provincial, para algumas dúvidas que existam no tratamento destas suspeitas e denúncias. Na verdade, o que tem acontecido, em termos de registo, é que as obras estão atentas àquilo que se passa dentro e atentas ao que se passa fora. E as obras estão inseridas em contextos diferentes e há algumas em que há mais ocorrências externas — que são aquilo que acontece nas famílias —, que são sinalizadas e encaminhadas; e há obras que estão em contextos de algumas maiores vulnerabilidades sociais, que têm uma grande articulação com as comissões de proteção de crianças e jovens.

"Há o conhecimento de uma situação que foi sinalizada há cerca de dois anos, mas que é uma situação bastante mais antiga, em que o suspeito já está falecido há mais de 25 anos e a própria vítima pretendeu apenas que fosse dado conhecimento."

Não me respondeu à pergunta que era: se me consegue dar um número de ocorrências que tenham sido sinalizadas.
No site do Sistema de Proteção e Cuidado, está publicado um relatório que abarca os últimos dois anos de funcionamento. É normalmente em outubro, até ao final do ano, que nos são enviados os dados. Nesse relatório que nos foi enviado, estão sinalizadas as ocorrências internas e externas: mais ocorrências externas do que internas e, destes últimos anos, há algumas informações — porque cada obra tem a sua estrutura e a sua independência — de que a coordenação provincial não tem conhecimento, e está a melhorar para que nos próximos anos nos seja enviada, talvez, menos informação e mais completa sobre cada situação. Não há ocorrências relacionadas com abusos sexuais. Não há ocorrências relacionadas com jesuítas. Sabemos o tipo de ocorrências, porque as classificamos em formas de maus-tratos, mas com toda esta abrangência.

Violência física…
Física, emocional, outras formas de abuso de poder. Tudo pode ser… Por exemplo, um exercício do poder disciplinar em contexto educativo pode entrar dentro do conceito de abuso de poder. Isso tem sido um trabalho nosso de melhoria para que o apoio que é dado a cada uma das obras seja mais efetivo — e também estarmos ao corrente mais no dia-a-dia, e não recebermos só informação no final do ano. Vamos sempre acompanhando.

Portanto, até hoje a Companhia de Jesus não tem nenhum caso de abuso sexual cometido dentro das instituições?
Nos últimos anos, recebido pelas obras, sinalizado pelas obras, não há conhecimento. Há o conhecimento de uma situação que foi sinalizada há cerca de dois anos, mas que é uma situação bastante mais antiga, em que o suspeito já está falecido há mais de 25 anos e a própria vítima pretendeu apenas que fosse dado conhecimento. Foram abertos todos os canais, foi transmitido por uma pessoa que fazia esse acompanhamento espiritual, e portanto foi feito aquilo que era pedido por parte da própria vítima — e possível, dado aquilo que nos foi relatado.

A Companhia de Jesus dá até um passo a mais e colabora neste processo de sinalização de casos, de modo transversal à Companhia, e também internos e externos. Não estão apenas atentos a potenciais crimes cometidos pelos padres ou pelos trabalhadores, mas também à realidade das crianças.
Sim. Este sistema de proteção de crianças e jovens é um sistema que já tem muitos anos, e tem sido feito um trabalho de grande sensibilização, de todas as entidades que trabalham próximas das crianças e dos jovens, precisamente porque estes maus-tratos e estes abusos — os que são ocorridos em contexto familiar — é através de sinais, da proximidade e da relação de confiança, que podem vir a ser sinalizados. Quem tem relação de confiança, por exemplo num contexto educativo, tantas vezes são os auxiliares, os professores, os psicólogos ou voluntários, com quem a criança sente essa confiança para pedir ajuda.

Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, em entrevista para o Observador. 16 de Novembro de 2021 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Sofia Marques trabalha na área da proteção de crianças e jovens há cerca de 20 anos

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Deixe-me recentrar no Serviço de Escuta. Quem vai ser a equipa, que especialidades têm, além da Sofia?
Este serviço tem três peças novas, além da estrutura que já existe. A equipa provincial vai coordenar este Serviço de Escuta, que tem um um grupo consultivo, tem um grupo de escuta e tem uma psicóloga, que vai dar aqui um apoio, não só de formação e supervisão, mas também de autocuidado de todas as pessoas envolvidas neste serviço. O grupo de escuta é composto por pessoas das várias áreas: psicologia, direito, espiritualidade, comunicação. Homens e mulheres, pessoas que nos trazem, pela sua experiência, essa garantia de independência e isenção — e que estão, tal como nós, focadas neste mesmo propósito, com a mesma motivação, e nos vão querer ajudar a fazer melhor e exigir, se algum dia tivermos, por ser um serviço da Companhia de Jesus, alguma dúvida do que fazer, termos um olhar externo e profissional que nos ajuda. O grupo de escuta, neste momento, tem cerca de oito pessoas, entre homens e mulheres, mais novos e mais velhos, das várias áreas da medicina, do direito, da psicologia, da espiritualidade. Também com este objetivo de podermos, perante uma pessoa que percebemos que quer denunciar e que não está já devidamente acompanhada, e que este serviço vai ser a porta de entrada e vai fazer esta escuta ativa, empática, perceber com a própria vítima se faz sentido que seja escutada por um homem ou por uma mulher, e qual a área que faz mais sentido. Não pretendemos que este grupo vá, cada um deles, prestar o apoio especializado, psicológico, jurídico, especial de que a pessoa precisa.

É uma primeira abordagem.
É uma primeira abordagem. Ajuda a identificar as necessidades e aquilo que a pessoa procura.

E o caminho a seguir?
O caminho a seguir não vai ser definido pelo grupo de escuta. O grupo de escuta é como se fosse a pessoa que escuta, quase como se fosse o representante da pessoa junto da Companhia de Jesus. É a pessoa que vai fazer sempre a ponte, que vai saber como o processo está. Claro que a equipa provincial vai fazê-lo, mas não o poderíamos fazer sozinhos.

Como é que gere a questão da confiança que as pessoas poderão ter na instituição para poderem avançar com uma denúncia? As pessoas que, eventualmente, tenham sido vítimas de um abuso sexual dentro da Igreja Católica e tenham até sofrido aquilo que o Papa Francisco tem evidenciado muito — terem visto o seu trauma desvalorizado, terem sido manipuladas no sentido de não divulgarem —, muitas delas, e é uma expressão que tem sido usada pelos papas, sentem-se traídas pela Igreja. Como é que poderão confiar na Igreja para exporem a sua denúncia e a sua intimidade mais uma vez? Como podem ter a certeza de que a Igreja não as vai trair novamente?
No fundo, este serviço que nasce não é exclusivo. As vítimas têm a possibilidade de recorrer a outras portas de entrada. Não queríamos era deixar de abrir também a nossa porta e de tentar transmitir, por palavras e depois por atos. No início é por palavras, por apresentarmos a equipa e a motivação.

"Há pessoas que querem que o assunto seja conhecido e tratado, não querem mal à paróquia, ao colégio ou à Companhia. Desejam é que aquele assunto seja devidamente tratado e, se o suspeito está vivo, também têm esta vontade e este sentido de missão de que, sendo conhecido, possa ser preventivo e que não haja outras vítimas."

Acha que é importante, por exemplo, estar a Sofia à frente desta equipa, e não um padre, para gerar confiança?
A minha presença, que sou mulher, sou jurista, sou leiga e tenho experiência na área da proteção de crianças e jovens há vinte anos; a minha formação e o meu perfil, certamente, foi importante para a Companhia de Jesus ter estes contributos, como têm tantas outras obras contributos de leigos. Nós não deixamos de ter jesuítas nas equipas, e o Serviço de Escuta é um serviço da Companhia de Jesus. É importante que as pessoas deem esse voto de confiança. É preciso dar esse voto de confiança, quererem acreditar e quererem… Eu não queria dizer “arriscar”, porque para quem não confia, pode-se sentir um risco. Mas é dar esse passo, sabendo que há pessoas que procuram estes serviços — e a experiência de Espanha, que tem uns espaços de escuta, é essa —, há pessoas que procuram falar precisamente com outros jesuítas, porque têm uma relação de confiança. O sentirem-se traídos, muitas vezes, pode ter a ver com o acontecimento, e não com a estrutura. Pode haver pessoas que se afastaram, outras pessoas que continuam próximas. Há pessoas que querem que o assunto seja conhecido e tratado, não querem mal à paróquia, ao colégio ou à Companhia. Desejam é que aquele assunto seja devidamente tratado e, se o suspeito está vivo, também têm esta vontade e este sentido de missão de que, sendo conhecido, possa ser preventivo e que não haja outras vítimas.

Inspiraram-se no modelo de Espanha?
É muito interessante, porque a nossa parceria com o Entorno Seguro, de Espanha, já é antiga. Mas, curiosamente, o Entorno Seguro nasce a partir do Sistema de Proteção e Cuidado. O manual foi criado com o apoio e a partir do manual do Sistema de Proteção e Cuidado. A nossa relação é muito próxima, temos um projeto agora com um financiamento para trabalhar em conjunto, Portugal e Espanha. O trabalho que vai sendo feito é muito em conjunto. Claro que Espanha acabou por dar alguns passos, nomeadamente esta abertura destes espaços de escuta, que são anteriores ao nosso. É uma formação que está já pensada precisamente entre quem está nos espaços de escuta em Espanha e este nosso grupo de escuta, para que haja esta partilha de experiência. E a abertura deste serviço tem em conta a experiência de Espanha e os últimos anos de funcionamento, as situações que chegaram, as necessidades identificadas, aquilo que as vítimas procuravam. Isso ajuda-nos a preparar o caminho. Não significa que não surjam outras necessidades que não estavam identificadas em Espanha.

Este Serviço de Escuta vai ter também a missão de produzir algum relatório, com algum prazo, que ajude a dar uma noção estatística do problema? Ou vai ser apenas destinado à receção das denúncias?
Não há dúvida de que, do funcionamento do Serviço de Escuta, vai ser elaborado um relatório. Não consigo adiantar agora, exatamente, a data. Neste grupo consultivo, um dos temas é a área da comunicação — e, portanto, há algumas coisas que ainda estão a ser pensadas e definidas. Sempre com o intuito de [perceber] qual é que é a altura certa, mas com a missão correta de levar informação útil no momento certo. Não é nem adiar nem antecipar; nem ser impulsivos, nem adiar. O relatório anual do Sistema de Proteção e Cuidado já existe. Agora, vamos receber as ocorrências até ao final do ano, normalmente em janeiro é produzido. Não há dúvida de que este funcionamento do Serviço de Escuta está dentro do âmbito do SPC, mas tem uma vida própria. Vai ser objeto ou de um relatório próprio ou de um capítulo próprio dentro do relatório do Sistema de Proteção e Cuidado.

E qual vai ser o grau de proatividade deste sistema para ir ao fundo das questões? É uma questão que também tem sido debatida a propósito da comissão anunciada pela Conferência Episcopal: pretendem também ir aos arquivos da Companhia de Jesus, em busca de histórias que possam ter ficado enterradas nos arquivos, ou vão só esperar que as pessoas venham ter convosco?
Neste momento, nós vamos começar através do Serviço de Escuta e da escuta das pessoas, investindo o esforço, os conhecimentos e o tempo que nos levam a que a comunicação seja realmente proativa. Ao longo destes tempos, no site do Ponto SJ, no separador do Sistema de Proteção e Cuidado, estava sempre o contacto direto do SPC, até o meu número de telemóvel e o meu nome. Portanto, os dados estão lá. Se a comunicação não for ativa… Estamos a fazê-lo com o Serviço de Escuta; não podemos dizer que até agora tínhamos uma comunicação ativa para a escuta das vítimas.

Bom, essa é uma comunicação passiva, porque espera pela comunicação das pessoas. A minha dúvida é se vão atrás das histórias.
A forma como a comunicação está a ser feita, a divulgação que está a ser feita, é muito diferente do que alguma vez foi. Através das obras, todos os canais. Foi pedido a cada uma das obras que divulgasse por todos os seus beneficiários, familiares, as associações de antigos alunos, associações de pais, para que se chegue ao maior número de pessoas. Claro que a comunicação social também vai ajudar a que esta divulgação do Serviço de Escuta chegue a outras pessoas que não estão, neste momento, à volta das obras da Companhia de Jesus.

Sofia Marques, coordenadora do Serviço de Escuta da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, em entrevista para o Observador. 16 de Novembro de 2021 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A coordenadora do novo serviço dos jesuítas assegura que do trabalho do Serviço de Escuta vai resultar um relatório final

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Os dados que forem recolhidos por este grupo de trabalho vão também ser fornecidos à Conferência Episcopal, para que possam fazer parte das estatísticas nacionais? Ou não está pensada essa articulação?
É necessário que seja feita essa articulação. Os termos exatos em que vai ser feita não estão totalmente definidos, mas que a articulação tem de ser feita, tem de ser feita.

Como viu esta recente decisão da Conferência Episcopal de criar uma comissão que também se dedique a olhar para a história dos abusos na Igreja? Acha que já vem tarde ou vem no momento certo? Vai ser útil?
Nós podíamos desejar estar uns anos à frente. Como está França, por exemplo. Não podemos ignorar que França está como está — e tomou as decisões que tomou — também com um percurso, que sinto que a Igreja em Portugal também está a fazer. Portanto, não sei se teria condições de, algum tempo atrás, ter tomado decisões que está agora a tomar. Há agora uma disponibilidade, uma maior consciência, um esforço de sensibilização, de levar consciência a quem não ainda não está perfeitamente consciencializado, um olhar diferente. Isto faz-se caminhando. Portanto, o momento não poderia ter sido outro, ou dificilmente poderia ter sido outro. É interessante perceber, mesmo com as comissões diocesanas, que começaram a ser criadas há dois anos, o funcionamento efetivo: se as vítimas estão a responder a esta abertura.

Pergunto-lhe isto na sua qualidade de especialista na proteção de crianças e jovens, e também de figura ativa na Igreja Católica: parece-lhe que o facto de muitas destas comissões serem compostas ou presididas por padres poderá ter desmotivado pessoas de abordarem a Igreja? Perguntando-se porque é que há de ser diferente agora?
À partida, não me parece que a composição em si seja a questão. O funcionamento e a qualidade do funcionamento tem de revelar que o problema da composição não existe. De facto, as comissões são dotadas de pessoas das várias áreas. A importância da multidisciplinaridade é consensual. Portanto, havendo equipas multidisciplinares, com pessoas com experiência profissional nestas várias áreas, a área do apoio espiritual e do conhecimento, por dentro, da realidade pode e deve ser uma mais-valia. Na prática, o funcionamento das comissões tem de mostrar às vítimas que vai além das questões concretas, porque pode haver um leigo que seja a pessoa que não está a conseguir, tecnicamente, pessoalmente, animicamente, ou em termos de vocação, que o processo avance — e não ter a ver com o estatuto.

E como é que foi vendo, ao longo dos últimos anos e até à semana passada, alguns bispos portugueses dizerem que Portugal era uma exceção, que só havia alguns casos pontuais? Pareciam-lhe credíveis essas afirmações?
Nós temos feito sempre este raciocínio estatístico. E que, do raciocínio estatístico, pudéssemos ter esta consciência de que Portugal não seria um país paraíso para este aspeto. Gostávamos que fosse, como gostávamos que o ambiente familiar fosse um paraíso de segurança e de referência — daí este dia 18 ser um dia em que o slogan tem mesmo a ver com a proteção e o cuidado com estas relações, que são as relações de referência da criança, e que deveriam ser aquelas relações onde a criança se sente protegida e que, depois, acabam por ser uma fraude. Em cada um de nós, há um caminho, um desejo de que na nossa família não haja estes problemas, mas de que realmente é difícil que não haja. Então, havendo, vamos explorar. Às vezes tenho usado esta imagem: quando nós sentimos que no nosso corpo há algum sintoma, pode ser pequenino, de que alguma coisa não está bem, podemos dispor-nos a fazer um check-up geral. Fazer análises, exames. E desejamos não encontrar.

Mas os bispos portugueses não estiveram dispostos a fazer esse check-up durante algum tempo — e dentro da Igreja, talvez para pessoas como a Sofia, isso não fosse muito compreensível. Não?
De facto, há aqui todo um esforço, em que a comunicação social tem um papel tão importante, de ajudar a que as vítimas sintam essa confiança, partilhando as situações que correm bem, não partilhando aquilo que não é suposto ser partilhado — e que é intrusivo e abusivo da própria situação da vítima. Isto faz com que não possamos ignorar. Se continuarmos a dizer que uma determinada comissão, em não sei quantos anos, recebeu uma ou duas sinalizações, admitindo e assumindo que é verdade, significa que não há ou que as pessoas não estão a chegar? Nós já tivemos conhecimento de uma situação em que o maior receio, a maior dificuldade que a vítima tem, em termos de revelar a sua identidade, é o medo de que a situação apareça exposta. Como se diz na área da proteção de menores, é preciso toda uma aldeia, uma cidade, uma vila para cuidar, proteger uma criança; também é preciso que toda a sociedade — a comunicação social, a área da saúde, a área da justiça — se envolva na proteção da vítima

Fez-me agora lembrar justamente um jesuíta, o padre Hans Zollner, que é um reputado especialista nesta questão dos abusos sexuais e dirige, em Roma, o centro de proteção de menores da Universidade Gregoriana. Ele já disse em entrevistas que nos sítios em que se diz que não há abusos sexuais é porque, ali, não se fala dos abusos sexuais. Porque existem em todo o lado. Parece-lhe que a Igreja em Portugal deu agora este passo de reconhecer que aqui não é o tal paraíso de que se falava?
Esse sinal e essa mensagem são importantes. E é importante que se vá fazendo este caminho e esta verbalização em todos os fóruns, nas formações que são dadas. Se estatisticamente podemos concluir que num auditório com 100 pessoas pode haver alguma pessoa que tenha sido vítima de abuso, no seio da Igreja ou não, se a comunicação numa formação de sensibilização — e nós temo-lo feito — passar pela importância de cada um saber, não é pôr uma capa de herói naquilo que tem conhecimento de outro e vamos lá, sem saber como, comunicar, sinalizar, porque essa capa de herói pode ser irresponsável e pôr uma determinada vítima em perigo… Saber o que me está a ser pedido, se eu tenho conhecimento. Não é só se eu fui vítima. Se eu tenho conhecimento, se tenho algum familiar que foi vítima, se faço parte de alguma estrutura de alguma destas obras e tenho conhecimento. No fundo, que haja uma cultura do falar. Isto, como qualquer cultura, acho que estamos a semear.

E este Serviço de Escuta que criam agora tem essa missão, também, de receber todo o tipo de comunicações? Não apenas de vítimas, mas qualquer pessoa que queira falar sobre alguma situação de que suspeita terá essa liberdade para falar convosco?
Sendo o objetivo do Serviço de Escuta o acolhimento, a escuta e o apoio a qualquer pessoa que tenha sofrido esse abuso, os destinatários principais, diretos e primários são as vítimas. Com certeza que, se alguém tem conhecimento, queremos escutar e queremos conhecer, qualquer pessoa pode fazer essa denúncia. Não vamos conseguir acompanhar e vamos, seguramente, incentivar esse denunciante a transmitir à vítima, depois de conhecer e poder ser esse mensageiro, que pode vir falar e tentarmos o mais possível que sejam as vítimas a fazê-lo. Mas, com certeza, qualquer pessoa pode vir se tiver conhecimento direto.

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