Estava a meio da pesquisa intensa para escrever uma biografia quando lhe caiu no colo a ideia para um romance. Mestre dos Batuques (publicado pela Quetzal) materializou-se na cabeça de José Eduardo Agualusa em cinco minutos, coisa que nunca tinha acontecido ao premiado escritor.
Esta é a história de amor entre Jan e Lucrécia, mas também uma versão do colonialismo muito pouco conhecida. No Bailundo (Planalto Central), longe da ocupação portuguesa em Luanda, Angola, a realidade não foi a mesma. Na sua nova obra, o autor de O Livro dos Camaleões e Teoria Geral do Esquecimento junta na mesma viagem temas de pertença, nação, raça e cultura.
É da minúscula e idílica Ilha de Moçambique, onde vive agora, que nos fala de uma Angola com memórias e história diferentes, da importância de reescrever o período do colonialismo, das restituições às ex-colónias e da atualidade política em Moçambique, que vai agora a votos, e em Angola, a que está sempre atento.
Tão atento que é legítimo perguntar se não se imaginaria a ter um cargo político. “Seria a pior coisa que me podia acontecer”, garante. Detesta reuniões e gravatas — aliás, só usou o adereço uma vez na vida e foi emprestado para tirar uma foto para o bilhete de identidade.
O nacionalismo linguístico é algo que não compreende e, aos 63 anos, confessa continuar atormentado pelos mesmos temas que lhe tiravam o sono aos 20, como as alterações climáticas e os conflitos armados. Da militância nas ruas pelo clima à política, passando pelo processo de escrita de um novo livro, foi assim a conversa com José Eduardo Agualusa.
Mestre dos Batuques passa-se no Planalto Central, mais precisamente no Bailundo. Nessa zona de Angola o colonialismo não foi tão marcante?
Ali a realidade foi muito diferente de Luanda, onde se fala de uma ocupação de 500 anos. Ali foram sete décadas, é muito diferente. O nacionalismo angolano no Planalto Central foi muito marcado pelas missões protestantes. Essas missões incentivaram a reação contra o domínio colonial português. Os portugueses sabiam disso, viviam numa situação sempre de incomodidade, vamos dizer assim. Essas missões — ou parte delas — eram americanas e o governo português tinha dificuldade em lidar com elas. As autoridades portuguesas sabiam que os missionários estavam envolvidos na génese do movimento nacionalista. Por outro lado, Portugal tinha de manter boas relações com os EUA. A duplicidade foi sempre uma constante até à independência.
É uma história de amor, mas também de autodescoberta e de pertença. Esta pertença é algo pessoal neste livro, uma vez que o José Eduardo Agualusa nasceu no Planalto Central. Isso teve algum peso?
Tem sobretudo a ver com um outro livro muito diferente, mas que me marcou há muitos, muitos anos. Quando era estudante de Agronomia, lembro-me de ter comprado uma edição portuguesa do Ada ou Ardor, do Vladimir Nabokov. Foi um dos primeiros que li dele, mesmo antes de ler o Lolita. No livro, ele faz uma coisa engraçadíssima que é colocar a ação num país que é a Rússia e os EUA. Formam um único país na visão de Nabokov. Porque o Nabokov tinha esse duplo pertencimento. Sentia-se ao mesmo tempo americano e era um russo-americano. O que fiz neste livro foi semelhante. Tenho este personagem [Jan Pinto] que nasceu no Bailundo, filho de um português e de uma mãe boér [colonos holandeses na África do Sul], e que depois tem uma história de amor com uma menina de Luanda. O que fiz foi algo semelhante ao inventar a possibilidade de um país no qual o Planalto Central acaba por se unificar com Angola, mas já após a independência.
Apesar de se passar durante o colonialismo, a história é contada por uma narradora atual. Como é que encontrou esta voz?
Normalmente tenho uma ideia muito vaga quando começo a escrever um romance. Às vezes é uma personagem, outras vezes é uma frase, mas sempre muito vago. Depois, as personagens é que me vão ajudando a construir o romance. Neste caso foi diferente. Eu tinha terminado o meu livro anterior, que é uma biografia do Abel Chivukuvuku, um homem do Planalto Central de Angola cuja família está diretamente ligada às famílias reais daquela região, em particular do Bailundo. Deu-me muito trabalho a escrever e, portanto, vivi muitos meses mergulhado na história do Bailundo. Tinha lido muitos livros, inclusive de visitantes portugueses e ingleses. Um dia, estava a fazer uma viagem entre Lisboa e Braga e a história caiu-me assim, quase completa, no colo. Talvez não tivesse ainda a narradora, mas em poucos minutos tinha a história. Mas é sempre difícil encontrar a voz que vai contar a história.
Neste caso, quem é a voz que conta a história?
É uma mulher que está no presente e que, de alguma forma, herda uma certa sabedoria ancestral. O livro também é um pouco sobre isso, porque aquilo a que chamamos magia são muitas vezes conhecimentos que não dominamos.
Mas não podemos falar muito sobre isso por causa dos spoilers.
Sim, aquilo que era visto como magia, hoje é visto como ciência. E mais não podemos dizer.
O Planalto Central de Angola foi o berço para a formação da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola]. Isso faz com que a zona ainda hoje se destaque em termos de ideais ou reivindicações?
Em termos culturais, sem qualquer dúvida. A formação cultural do Planalto Central é muito diferente daquilo que acontece em Luanda. Aliás, Angola é um país muito grande e tem realidades muito diferentes. Evidentemente, o Norte de Angola também tem uma outra realidade. O Sul tem uma outra realidade. Aquela é bem particular. Agora, até do ponto de vista político, acho que houve uma integração. Se nós pensarmos nas últimas eleições, aconteceu esta situação interessante que foi a UNITA ganhar em Luanda, que sempre foi território do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]. Foi ali que o MPLA nasceu, se formou, etc. E o MPLA ganhou no Bailundo. De um ponto de vista político, podemos falar de uma integração surpreendente. De um ponto de vista cultural, é mais complicado.
Complicado como?
No Huambo, até hoje a ligação à língua portuguesa é diferente. A maior parte das pessoas fala umbundo como língua materna. Quando os portugueses começaram a estabelecer-se comercialmente lá, tinham de ter a autorização do rei do Bailundo e muitas vezes já encontraram angolanos que falavam inglês muito bem, que sabiam escrever. Muitas vezes os portugueses não sabiam ler nem escrever, eram analfabetos e chegavam ao Huambo e contratavam angolanos letrados como secretários. Estes tinham sido precisamente educados nas missões protestantes. Isso, do ponto de vista espiritual, também altera tudo. Estes angolanos têm uma formação mais calvinista, ao contrário dos angolanos de Luanda, que são essencialmente católicos. A mentalidade dos angolanos do Planalto Central é mais próxima daquela que encontramos em países anglófonos, como a África do Sul, por exemplo.
O José Eduardo Agualusa conhece agora outra realidade muito bem, Moçambique, onde vive, que vai a votos a 9 de outubro para escolher o próximo Presidente da República, o Parlamento e as lideranças provinciais. O que se espera que aconteça?
Acho que ninguém tem grandes ilusões. O partido do governo vai ganhar de novo, até porque não existe oposição em Moçambique. Em Angola hoje há uma oposição forte e credível, acho que ninguém em Angola contesta isso, podia estar no poder amanhã.
Se em Moçambique é expectável que o partido no poder ganhe de novo e, tendo em conta todas as fraturas no país, como é que se pode mudar alguma coisa?
O presidente vai ser outro, portanto vamos ver o que vai fazer. A maior parte das pessoas com quem falo dizem que [Daniel Chapo, da FRELIMO] parece ser uma pessoa séria, não ligada à grande corrupção. Se for assim, já será bom. Moçambique é, de facto, um país com linhas de fratura muito sérias — religiosas, étnicas —, com um conflito em curso muito perto daqui onde me encontro agora [Ilha de Moçambique]. Temos esperança que esta pessoa nova possa alterar alguma coisa, mas não é nada fácil. Vimos isso em Angola com o João Lourenço. Acho que os anos de presidência dele não têm comparação com os de José Eduardo dos Santos, mas evidentemente continua prisioneiro do próprio sistema e do próprio partido. Portanto, combater a corrupção tendo como sustentação o partido que criou a corrupção não é fácil, não é?
Porque escolheu viver em Moçambique?
Por razões pessoais, mas também porque gosto muito da Ilha de Moçambique, que não é Moçambique. É um espaço muito particular. Conheci-a através da poesia, é uma ilha na qual nasceram muitos poetas e outros tantos passaram por aqui, incluindo Luís de Camões, que tem uma estátua e que viveu cá dois anos. Bocage também passou pela ilha. É um território muito pequeno mas com uma história profunda. Quando os portugueses chegaram aqui, a ilha era governada pelo sultão de Zanzibar e já era um entreposto comercial muito, muito importante que ligava África e todo o Oriente. Aqui os meus vizinhos da frente são arqueólogos subaquáticos e estão a fazer um levantamento dos navios naufragados ao redor da ilha. Há naus portuguesas, mas também navios chineses e indianos. As crianças todos os dias retiram da areia fragmentos de porcelana chinesa de navios que naufragaram e com ela fazem colares. A ilha unia o Oriente, depois África-Oriente e também o Ocidente. Em Portugal às vezes não se tem esta perceção mas, antes de chegarem os portugueses, passaram por cá os chineses. Não se estabeleceram porque não quiseram. Criaram uma rota até Omã e foram fazer comércio. A ligação de toda esta zona à Índia também é muito antiga. Os árabes estão aqui presentes até hoje com uma história riquíssima. Os portugueses foram só um acidente, foram um dos povos que por aqui passou. Esta é uma ilha muito pequena, são três quilómetros de comprimento por 300 metros de largura, mas tem mesquitas ao lado de igrejas católicas, ao lado de um templo hindu enorme. Para um escritor, tudo isto é fascinante.
Voltar a viver em Angola faz parte dos planos?
Gostaria, sobretudo, de passar mais tempo em Angola. Nos últimos anos tenho ido com mais frequência porque estou mais perto. Mas, enfim, tenho a família aqui e comprei um casarão antigo, por isso a minha vida agora está aqui.
É uma voz muito ativa sobre questões políticas, quer em Angola, quer em Moçambique. Nunca foi hipótese um cargo político?
Por amor de Deus, não, acho que seria a pior coisa que me poderia acontecer. Tenho um horror absoluto a esse tipo de situações. Odeio reuniões e compromissos e tudo isso. E gravatas. Nunca na vida vesti uma gravata.
Nunca?
Não, mentira… uma vez em Angola tive de tirar uma foto para fazer o bilhete de identidade e era obrigatório usar gravata. Então, havia umas casas onde era possível tirar a fotografia e eles alugavam a gravata. Portanto, tenho uma fotografia no bilhete de identidade com uma gravata que é a gravata do povo, deve ter servido a um milhão de angolanos. Mas, quanto à política, não tenho vocação nem o menor interesse. Acho que sou mais útil como escritor.
Há pouco descrevia a ilha onde vive como um cenário quase idílico onde convivem, lado a lado, mesquitas, igrejas católicas e templos hindus. Isto na mesma altura em que crescem movimentos radicais, em que há um aumento dos discursos de ódio e racismo. Vive nessa bolha ou não consegue desviar-se do que se passa à volta?
Não consigo, acho que estamos a viver um momento de refluxo. Ainda há poucos dias estive a ler um relatório sobre a democracia no mundo e há um recuo democrático, ou seja, há menos países hoje com democracias plenas do que havia há alguns anos. Isto é assustador, até porque, na nossa ingenuidade, acreditávamos ou gostávamos de acreditar que este movimento histórico teria uma única direção [faz um gesto ascendente com as mãos] e seria imparável. Mas não é. Há momentos de refluxo, mas ainda quero acreditar que nunca se recua tanto quanto aquilo que já vivemos. Gosto sempre de lembrar que ainda há pouco tempo, não há tantos anos, havia escravatura legal, não é? Eu, como escritor, li muitos, e ainda leio, jornais antigos, do século XIX, por exemplo. São jornais que nos trazem um mundo muito semelhante ao nosso. Começamos a ler aqueles jornais e, em muitos aspetos, podia ser hoje, inclusive na publicidade. E, de repente, no meio daquela publicidade, daquelas caixinhas sobre pomadas dentífricas ou sapatos, aparece uma caixinha a dizer que se vendem escravos, que se vendem pessoas. Isto é absolutamente assustador. Ainda conheci uma senhora em Angola que tinha sido escrava.
Estamos a ver regressões em realidades que pareciam adquiridas, como por exemplo os direitos das mulheres. Quando isso acontece em locais do mundo teoricamente instruídos e civilizados, o que é isso pode querer antecipar?
Acho que nem um louco, enfim, uma pessoa que não pensa muito, como o Donald Trump, se atreveria a defender coisas como a escravatura. Nem em Portugal o Chega alguma vez se atreveria a defender o regresso da escravatura, seria absurdo. Agora, acho que há uma resistência à mudança no geral. Relativamente ao papel da mulher na sociedade, por exemplo, há homens que se sentem inseguros e resistem a essa afirmação. Acho que, aqui e ali, haverá sempre recuos, mas no conjunto vamos sempre evoluir. Se não, não sobrevivemos. Se não aceitarmos que existe uma emergência climática, não sobreviveremos, o planeta vai livrar-se de nós no conjunto da humanidade. Ou nós enfrentamos os problemas que criamos, ou não sobreviveremos.
As questões climáticas não estão entre as principais preocupações na maioria dos países.
Acho que há sempre mais disposição para pensar neste tipo de assuntos quando temos a barriga cheia, não é? As pessoas que estão preocupadas com o que vão por amanhã na mesa para comer não estão preocupadas com a possibilidade de o mar subir e engolir esta ilha.
Defende que a história do colonialismo devia ser reescrita por todos os implicados em conjunto. O que falta para isso acontecer?
Quando for a Lisboa quero comprar uma biografia do Vasco da Gama escrita por um historiador indiano. Tenho visto muito boas referências dizendo exatamente isso, é importante ler a história com os olhos dos outros. Para mim, isso é absolutamente fundamental, tentar olhar o mundo não apenas com a nossa perspetiva, mas tentando ouvir a versão do outro sobre esses mesmos episódios. É uma questão de inteligência, vamos ser francos, porque isso me dá uma visão mais correta da minha realidade.
O tema das restituições e compensações às ex-colónias, abordado pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa em maio, já caiu no esquecimento?
Falou-se de muita coisa nessa altura, as restituições foram apenas um item. Terminei agora um livro que vai sair em Portugal em breve e que aconselho muito. É de um autor nigeriano de que gosto muito, Teju Cole, e chama-se Homeward. A dada altura ele faz uma defesa inteligentíssima da restituição de artefactos de arte do Benim, que está em museus americanos e europeus. Faz uma defesa muito lúcida e tranquila.
O que defende?
Ele diz que em relação a outras realidades mais próximas, os europeus aceitam muito facilmente — por exemplo, em relação aos judeus — a restituição da arte que foi roubada pelos nazis. Pouca gente põe em causa. Mas a arte do Benim, que foi saqueada depois de violências muito grandes e que tem um valor enorme, está em vários museus do Ocidente e as pessoas resistem a fazer esse gesto de entregar aos seus legítimos proprietários. Não faz muito sentido.
O mesmo acontece com Portugal?
A mesma coisa em Portugal. Quando os portugueses decidiram, e muito bem, dar passaporte português aos judeus que foram expulsos da Península Ibérica há 500 anos, mas depois se insurgem contra qualquer política de tentar fazer justiça com as pessoas que foram escravizadas — ainda no século XIX a escravatura era legal nos territórios sob administração portuguesa —, há dois pesos e medidas. Indemnizar não significa dar dinheiro.
O que poderia ser feito?
Pode ser isso que se fez com os judeus, dar os passaportes. Significa ouvir o outro e a sua história, reconhecer-lhe a importância. Porque é que as mesmas pessoas que aceitam que é justo atribuir passaportes portugueses às famílias de judeus que foram expulsas há 500 anos da Península Ibérica não conseguem aceitar que é preciso reconhecer que foram cometidas atrocidades relativamente aos africanos? É um pouco isso que o Teju Cole questiona. O livro vai sair na Quetzal em Portugal, mas já está publicado no Brasil.
Falando no Brasil, é um país que conhece bem, onde também viveu. Como é que todos estes mercados literários de língua portuguesa e os respetivos autores se relacionam atualmente?
Acho que a ligação é maior hoje entre todos os países de língua portuguesa. Por um lado, as novas tecnologias facilitam a circulação de ideias. Por outro lado, há muito mais circulação de pessoas. Acho que os autores são bastante próximos. Em outubro vou a Portugal com o Mia Couto, que vai apresentar o meu livro, e depois seguimos juntos para o Brasil. Às vezes ouço falar da questão das variedades da língua portuguesa e é sempre um choque ouvir portugueses que se exaltam contra o brasileiro, contra a variedade do português no Brasil. É um absurdo completo porque o português que se fala no Brasil é, em larga medida, aquele português que se falava em Portugal há 200, 300 ou 400 anos. Aquilo que, muitas vezes, surge aos ouvidos de um português como uma coisa exótica, na realidade era o português antigo do tempo de Camões. Para ler Os Lusíadas, a métrica só funciona se lermos com o sotaque brasileiro, não funciona com o sotaque português atual. Enfim, o nacionalismo linguístico sobressalta-me. Isso e a ignorância das pessoas.
Haver tantas variantes da língua portuguesa deveria ser um enriquecimento?
Se você gosta da língua portuguesa, tem que amar a língua portuguesa de Angola, a que se fala em Moçambique e aquelas muitas variedades que se falam no Brasil. Se me perguntarem: “Você escreve em que variedade de português?” Para mim, escrevo no português global. Todas as variedades do português me interessam, são minhas. Não devia haver discussão sequer. Claro que esse nacionalismo linguístico também existe no Brasil, existe em todos os países. A estupidez é muito popular. Hoje, as redes sociais e as novas tecnologias permitiram uma democratização da estupidez. Muitos dos problemas que temos têm a ver com isso. Sempre houve pessoas estúpidas, mas não tinham tanta facilidade de comunicar. Outra coisa é a quantidade de notícias absurdas que se propagam e que podiam ser desmontadas em cinco minutos. Antigamente, quando não havia Internet, se eu queria pesquisar alguma coisa, ia tardes inteiras para a biblioteca. Agora basta fazer uma pesquisa rápida para tirar uma dúvida. Porque é que as pessoas não fazem isso?
Por preguiça? Porque tudo lhes é oferecido?
Sim, de facto, é oferecido, está ali à frente e as pessoas aceitam, mas é realmente assustador. Isso explica depois a existência de fenómenos políticos como o Trump. Porque não há este trabalho, não há inteligência para procurar. Os jovens, por exemplo, não deixaram de ler livros, mas deixaram de ler jornais. Isso é preocupante.
Também veem cada vez menos a televisão linear, telejornais, canais noticiosos.
Informam-se através das redes sociais, imagino eu, o que não é muito bom. Não estão treinados para ler artigos de fundo, ler ensaios. Acho que há cada vez menos esse hábito.
Nesta fase da vida, o que é que o inquieta agora que não o inquietava aos 20 anos, por exemplo?
As questões que me inquietavam quando tinha 20 anos são as questões que me inquietam hoje, sabe? São o aquecimento global, os conflitos armados. Nessa altura, eu militava em grupos ecologistas, lembro-me de sair à rua a alertar para o aquecimento global, que naquela época parecia quase uma fantasia. As minhas inquietações, infelizmente, não mudaram muito.