Os motores socialistas para as eleições autárquicas do próximo ano já começam a aquecer. Com o ciclo de Rui Moreira prestes a terminar, o Observador sabe que o ex-ministro da Administração Interna José Luís Carneiro fez saber à direção do PS que tem “disponibilidade” para essa disputa e que estará aberto à ideia de que o seu nome seja testado ao lado de outros potenciais candidatos, para que o PS possa escolher a figura que lhe dê maiores hipóteses de voltar a governar a autarquia do Porto.
Segundo apurou o Observador, o antigo ministro, que disputou a liderança do partido com Pedro Nuno Santos em dezembro, transmitiu a elementos da direção do PS que está disponível para que o partido faça uma “avaliação” do seu nome, incluído num leque mais alargado, para que se possam medir fatores como a notoriedade — e sobretudo a notoriedade “positiva”, ou seja, que não gera rejeição — dos vários possíveis candidatos.
Há semanas que o nome de José Luís Carneiro vai circulando nos bastidores, incluindo entre alguns apoiantes de Pedro Nuno Santos, que acreditam que esta poderia ser uma boa opção: por um lado, por já gozar de bastante notoriedade (como ex-ministro e como candidato à liderança do PS) e conhecer bem o Porto, tendo já liderado a federação socialista do distrito; por outro, porque entregaria ao adversário de Pedro Nuno uma tarefa de relevo que ajudaria a assegurar que está em sintonia com a direção. Isto de apesar de Carneiro continuar a gerar anticorpos em parte do PS portuense, como acontece desde os tempos em que era apoiante de António José Seguro.
A esta distância há, no entanto, vários nomes que circulam nos corredores. Além de Carneiro, os socialistas vão mencionando Manuel Pizarro, que foi candidato em 2013 e 2017 e continua a ser a opção principal para muitos militantes do Porto, embora gere rejeição nalguns setores pelo acordo que esteve prestes a fazer com Rui Moreira; também se vão colocando como hipóteses viáveis figuras como Elisa Ferreira (que seria bem vista em partidos mais à esquerda do PS), o ex-diretor executivo do SNS Fernando Araújo ou o reitor da universidade do Porto, António de Sousa Pereira.
A ideia dos carneiristas seria que alguns destes nomes pudessem ser testados nos estudos que o partido quer encomendar para perceber quais podem ser mais bem recebidos, no eleitorado de esquerda mas também no do centro, com o objetivo de voltar a conquistar uma autarquia que o PS não consegue governar desde 2001.
Como o Observador contava aqui, a ideia não se aplica, de resto, exclusivamente ao Porto: há uma série de capitais de distrito relevantes — desde logo Lisboa, Porto, Coimbra, Braga ou Setúbal — que estão fora das mãos do PS, com algumas das atuais governações a cumprirem o terceiro e último mandato, tornando-se assim alvos particularmente apetecíveis para os socialistas.
Ainda assim, para a linha menos afeta à atual direção do PS, para partir à reconquista será preciso que o partido não se “feche” em nomes acarinhados pelo aparelho, havendo mesmo quem defenda que um processo de eleições primárias nas maiores cidades poderia ser uma forma eficaz de escolher nomes mais populares junto do eleitorado.
O argumento também passa por defender que, se o PS tem hoje em dia dificuldades em convencer o eleitorado jovem, isso acontece também porque não governa autarquias urbanas — aquelas onde os jovens estão mais concentrados.
“O PS não pode brincar com autárquicas”
“O partido não pode brincar em autárquicas” e “tem de ser profissional” a abordar estas eleições, vai-se avisando no PS, onde estas autárquicas se encaram como uma “luta decisiva”. Com o partido a habituar-se à ideia de uma possível viabilização do Orçamento do Estado — ou à ideia de que, mesmo que o documento chumbe, o Governo pode continuar a governar em duodécimos — os socialistas vão começando a preparar-se para as autárquicas como o próximo desafio, caso o calendário eleitoral se mantenha.
Em paralelo vão surgindo, como o Observador dava conta aqui, as abordagens à esquerda sobre possíveis coligações em Lisboa — uma conversa que parece mais bem encaminhada, em grande parte graças ao objetivo comum de derrotar Carlos Moedas — e no Porto — onde parece mais difícil pôr os partidos em sintonia, pelo menos para já.
Até ver, as eleições locais internas do PS vão correndo (as novas direções das concelhias foram eleitas no princípio do mês, as das federações serão escolhidas em setembro) com promessas de paz interna. “O partido deve evitar fraturas desnecessárias em ano de preparação das autárquicas. E todos devem estar mobilizados para esse objetivo”, defendiam ao Observador fontes próximas da candidatura de José Luís Carneiro, no início de julho.
“O secretário-geral tem de ter tempo para pôr em prática a sua estratégia”, garantiam. E para isso contará com todos, incluindo o próprio Carneiro, “assim o queira”. A vitória nas europeias assegurou a Pedro Nuno mais tempo para executar a sua estratégia e consolidar a sua liderança; resta saber se os próximos desafios eleitorais terão o mesmo efeito.