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José Mota, 54 anos de idade: dois títulos de campeão da 2ª divisão e mais duas subidas; agora o sonho do Jamor
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José Mota, 54 anos de idade: dois títulos de campeão da 2ª divisão e mais duas subidas; agora o sonho do Jamor

OCTÁVIO PASSOS/LUSA

José Mota, 54 anos de idade: dois títulos de campeão da 2ª divisão e mais duas subidas; agora o sonho do Jamor

OCTÁVIO PASSOS/LUSA

José Mota. "Dou-me bem com o Sporting, tanto em casa como em Alvalade"

O treinador do Aves fala das sete vitórias, três delas em Alvalade, e ainda do título de campeão nacional como júnior do Porto, do Portugal-Inglaterra no Euro-2000, do JJ (Jacinto João) e do outro JJ

A movida é engraçada, cheia de pit stops: Saldanha, Alameda, Olaias, Bela Vista, Chelas, Olivais, Cabo Ruivo e Oriente. Depois, comboio: Lisboa Oriente, Vila Franca de Xira, Santarém, Entrocamento, Pombal, Coimbra B, Aveiro, Ovar, Espinho, Gaia-Devessas e Porto Campanhã. Stop. Muda de linha, para o comboio urbano e o regabofe é mais pitoresco ainda: Contumil, Rio Tinto, Águas Santas/Palmilheira, Ermesinde, Travagem, Leandro, São Frutuoso, São Romão, Portela, Trofa, Lousado, Santo Tirso, Caniço e Vila das Aves. À saída da estação, é só virar à direita e seguir em frente até ao estádio.

A movida é engraçada. A minha única vez na Vila das Aves é do século passado, mais precisamente a 9 Maio 1999. É dia de um Aves-Esponsende para a 2.ª divisão. Abro um dossier verde (isto não é provocação, é mesmo verde) e baralho-me todo. Então o Aves tem dois Vitinhas? Ya, tem: um é médio e outro é avançado, ambos entram na segunda parte, por ordem do professor Neca. Então o Esposende tem o Petit? E eu nada, nem uma palavra sobre ele na crónica do jornal Record? Duplo ya, nada de nada. Vi o Petit antes de tempo, paciência. Ganha o Aves por 1-0, golo do terceiro suplente (Nené). Quase 20 anos depois, eis-me de volta à cidade. O interesse de agora é entrevistar o treinador da moda, José Mota. Há dois anos, sobe o Feirense à 1.ª divisão. Há um, repete o feito pelo Aves. E agora chega à final do Jamor. É obra.

Por falar nisso, é obra também a azáfama da dupla imparável do departamento de comunicação. Tanto o extremo-direito Pedro Cunha como o interior-esquerdo Pedro Sá recebem-nos com categoria e apresentam-nos o mister José Mota, na ressaca de mais um treino antes da final do Jamor. Ao todo, uma entrevista de 26 minutos antes do arroz de pato, o prato do dia na cantina do Aves. Carreeeeeeeeeega José Mota. Ao todo, sete vitórias em 21 jogos vs Sporting: quatro pelo Paços, duas pelo Vitória FC e uma pelo Leixões. Que equipa de vermelho e branco, como o Aves.

Bom dia, tudo bem?
Você é a cara do seu pai. Imagino que já lhe tenham dito umas mil vezes, vou só reforçar. Lembro-me tão bem do seu pai, sabe? Ainda falámos umas vezes, na RTP. Como é que está tudo?

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Impecável.
Ainda bem, o que o traz cá por cima?

Ahahahahah.
É a final?

Tem de ser, Jamor à vista.
Pronto, está bem. Vamos a isso.

Tira-lhe o sono?
A mim? Nããããão, nada me tira o sono. Nem o Jamor. Quando vou para dormir, durmo. A minha mulher até fica espantada. Nããão, já vivi muitas situações de decisões e estou preparado para mais uma.

Situações de decisão, quais?
Olhe, comecei a jogar com 11/12 anos no Aliados do Lordelo, depois fui para o Porto e ganhei o campeonato nacional de juniores antes de voltar ao Aliados.

Calma, calma, calma. Foi campeão nacional de juniores no Porto?
Ah pois, em 1981-82.

A jogar a quê?
Lateral-direito e, às vezes, médio defensivo.

E ganharam a quem?
Nessa altura, era final four com um representante do Norte, outro do Sul, mais um da Madeira e outro dos Açores.

No caso?
Nós, Belenenses, Marítimo e Praiense. Veja bem, o Belenenses suplantou Benfica e Sporting.

Fomos campeões nacional de juniores em 1982, numa final four com Belenenses, Marítimo e Praiense. Festejámos o título em Belém, com vitória por 2-0, e a festa foi imensa, até porque o Porto estava viciado em ganhar títulos nas camadas jovens. Esse, veja lá bem, foi o quarto título seguido nos juniores. A própria equipa dos seniores estava cheio de jogadores da formação, como Zé Beto, Vítor Nóvoa, João Pinto, Gabriel, Jaime Pacheco, Quinito, Jaime Magalhães e por aí fora.

Pois é, verdade. Campeonato a duas voltas?
Sim senhor. A minha primeira viagem de avião foi nessa final four.

Até onde?
Funchal.

E festejaram o título?
Em Belém, ganhámos 2-0.

Houve festa ou…?
Festa imensa, até porque o Porto estava viciado em ganhar títulos nas camadas jovens. Esse, veja lá bem, foi o quarto título seguido nos juniores. A própria equipa dos seniores estava cheia de jogadores da formação, como Zé Beto, Vítor Nóvoa, João Pinto, Gabriel, Jaime Pacheco, Quinito, Jaime Magalhães e por aí fora.

Da equipa campeã, era o Mota e mais quem? À baliza, por exemplo.
O Tozé, que foi internacional sub-14 e sub-16.

E o Mota foi internacional?
O máximo que cheguei foi à seleção da AF Porto.

E mais craques dessa equipa?
Aquele que mais despontou foi o Semedo.

Quem era o avançado?
Pereira [apenas seis jogos na 1.ª divisão entre Boavista e Espinho antes de fazer dez épocas nos regionais].

E vocês iam treinar com os seniores?
Ai íamos, íamos [José Mota refastela-se na cadeira, todo contente]. O treinador era o Herman Stessl e jogávamos aqueles jogos de reserva que serviam para limpar os cartões amarelos. Grandes tardes de bola, lá íamos nós com os craques,

Quem, por exemplo?
Walsh, Jaime Pacheco, Jacques, Gomes, Gabriel, uma série de estrelas. Tudo gente boa. Ainda João Pinto, Jaime Magalhães, Bandeirinha.

E usavam-se caneleiras nesses treinos?
Ai usavam-se, usavam-se [José Mota ri-se com vontade] Caneleiras, ah pois. E o nosso treinador era muito muito exigente, o António Feliciano.

Eisch, uma das Torres de Belém?
Esse mesmo.

Simpático?
[pausa, a única da conversa] O quanto baste. Era muito obcecado com o trabalho e era muito exigente. Muito, muito mesmo. E nós tínhamos-lhe aquele respeito, como se ele fosse um polícia, porque ele era a autoridade. Outros tempos, não é? Verdade seja dita, naquela altura, só havia ele e outro a tomar conta de tudo dos juniores. A organização era escassa, ainda.

E mais figuras dessa equipa de juniores?
É como lhe digo, nenhum deles atingiu a notoriedade por aí além. Fora o Semedo, claro.

O José Mota ainda chegou, e bem, à 1.ª divisão?
No Paços, é verdade. Grande epopeia, fiquei 23 anos entre jogador e treinador.

É quase metade da sua vida.
Pois é, já tenho 54 anos.

Conte lá esses grandes momentos.
Grandes momentos? Olhe, fomos campeões da primeira edição da Liga de Honra, em 1990-91, comandados pelo Vítor Oliveira.

Qual era o segredo?
A nossa mística era simples: jogávamos com alma, fosse em casa ou fora. E isso notou-se na época seguinte, quando jogámos na 1.ª divisão. Nesse ano, a maior parte do plantel não tinha experiência de 1.ª divisão e esse detalhe fez a diferença porque queríamos mostrar ao país que éramos de confiança.

Tenho uma série de histórias com o Jaime. Quando fui para o Porto, o Jaime já era um jogador de eleição e era ele quem me dava boleia todos os dias desde o Lordelo. Ainda hoje é um dos meus melhores amigos. No futebol, é o melhor amigo no futebol. Tinha uma paixão por ele, queria muito jogar com o Jaime. E não é que o apanho no Paços? Ahahahahah.

Assim com experiência, só me lembro do Jaime Pacheco.
Tenho uma série de histórias com o Jaime. Quando fui para o Porto, o Jaime já era um jogador de eleição e era ele quem me dava boleia todos os dias desde o Lordelo. Ainda hoje é um dos meus melhores amigos. No futebol, é o melhor amigo no futebol. Tinha uma paixão por ele, queria muito jogar com o Jaime. E não é que o apanho no Paços? Ahahahahah!

Dá-se aí nessa época 1991-92 o primeiro duelo José Mota vs Sporting.
Ahahahahah, ganhámos 1-0, ali entre o Natal e o Ano Novo.

Golo do Sérgio Cruz.
Golo do Sérgio Cruz, de cabeça, e eu fiz penálti sobre o Cadete.

Acaba 1-0, por isso
Falha o Leal.

Como lateral-direito, imagino os extremos-esquerdo que lhe passaram pela frente.
Há muitos. O Artur do Boavista/Porto era muuuuuito difícil, muito rápido. Quando metia a quinta, desaparecia. Tinha de lhe dar umas porradas para ver se ele abrandava. Um génio era o Balakov. Que toque de bola. E o Figo. Há uma história engraçada. Em 1993-94, só dava Figo, Figo, Figo, Figo. O Sporting foi ao Paços e o Vítor Urbano disse-me que ia ser o lateral-esquerdo se o Figo jogasse pela direita ou o lateral-direito se ele alinhasse pela esquerdo. Resultado, foi um corre-corre o tempo todo, ahahahahah! O Kostadinov era outro quebra-cabeças, como o Paneira. E também vi muita gente a começar como Rui Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Peixe. Gostei de tudo, foram tempos incríveis.

E depois?
Joguei mais uns dois anos na 1.ª divisão e descemos à Honra. Um ano e tal depois, convidaram-me a abandonar porque sentiam que era uma mais valia para outras funções. Estive um ano, ano e meio como adjunto e coordenador do futebol juvenil até ser chamado para treinador da equipa principal.

E então?
Dá-se o feito mais interessante da minha carreira: tomo conta da equipa em Fevereiro 2000 e estávamos em 10.º lugar à falta de 14 jornadas. Nesse percurso, fazemos 12 vitórias e dois empates. Na última jornada, 1-0 em Chaves e fomos campeões da 2.ª Honra.

Uauuu.
Aos 32 anos, já tinha o nível IV. Enquanto jogava, preparei-me para o futuro. Se as coisas acontecessem, queria estar preparado para o desafio. Naquele tempo, os treinadores eram sempre os mesmos, daí que a minha estreia na 1.ª divisão fosse ao lado de Manuel José, Vítor Manuel no Salgueiros, Cajuda no Braga, Mário Reis, Jaime Pacheco. Todos com imensa experiência. E eu, ali no meio daquele pessoal todo, com 35 anos.

Foi bicampeão da 2.ª divisão pelo Paços.
E ainda tirámos dois sextos lugares no Paços mais um sexto pelo Leixões e mais duas subidas de divisão por Feirense e Aves. Agora, o sonho de criança.

Jamor?
Sempre tive a ideia do Jamor, porque era o jogo que dava na televisão, porque é uma final, porque é a possibilidade de qualquer um ter o seu dia de festa.

O jogo que mais gostei de ver no estádio foi o Portugal-Inglaterra do Euro-2000. O Figo fez aquele golo monumental. O estádio estava cheio, só com malta do futebol e a maioria era inglesa. Sentiu-se isso, quando eles fazem os dois golos a abrir. Depois, Figo. Depois, João Vieira Pinto. E, finalmente, Nuno Gomes. Esse 3-2 foi na minha baliza. Vi o golo da vitória à minha frente. Que emoção.

Alguma vez esteve perto do Jamor?
Em 2002-03, quando o Leiria vai à final com o Porto, vamos jogar lá e perdemos com um golo do Bilro aos 92′. Fomos eliminados pelo União do Cajuda, lá se foi o sonho. Mas Deus é grande e cá estamos nós a falar sobre o Jamor.

Alguma vez foi ao Jamor para ver finais da Taça?
Vi três finais, a do Porto-Benfica nos anos 80 com vitória do Benfica por 3-1 e o Jaime Pacheco a jogar pelo Porto, a do Paços com o Porto em 2009 e a da Académica com o Sporting em 2012.

https://www.youtube.com/watch?v=tMn7I3rImWk

E mais jogos ao vivo?
Acompanhei as finais europeias de Porto e Sporting. Mas o jogo que mais gostei de ver no estádio foi o Portugal-Inglaterra do Euro-2000. O Figo fez aquele golo monumental. O estádio estava cheio, só com malta do futebol e a maioria era inglesa. Sentiu-se isso, quando eles fazem os dois golos a abrir. Depois, Figo. Depois, João Vieira Pinto. E, finalmente, Nuno Gomes. Esse 3-2 foi na minha baliza. Vi o golo da vitória à minha frente. Que emoção.

E na televisão, é de vibrar?
Nunca mais me esqueço de um jogo, Vitória de Setúbal-Inter para a Taça UEFA 1972. Foi a primeira vez que vi jogar o JJ, o Jacinto João, que jogador fantástico. Há coisas que nos ficam na memória. Acho que o treinador do Vitória era o Pedroto e fiquei maravilhado com o JJ mais o Carriço. Foram nomes que me ficaram desde daí.

E, agora, outro JJ.
É verdade, já nos encontrámos muitas vezes.

A estreia é em 2001, um Vitória-Paços.
Ai é? Esse é engraçado, porque o calendário deu-nos dois jogos seguidos no Bonfim. Um para a Taça, na quarta-feira. Outro para o campeonato, no domingo. E o Paços ganhou os dois: primeiro 3-1, depois 2-1. Ficámos essa semana a estagiar em Setúbal e o Jorge Jesus foi despedido menos de um mês depois.

Esse já é o grande Paços. Lembro-me de um 3-1 em Alvalade.
Ao Sporting, já ganhei umas sete vezes, acho. Dou-me bem com o Sporting, tanto em casa como em Alvalade. Falta ver no Jamor, ahahahahah. Esse 3-1 em Alvalade é especial porque é na segunda volta de um campeonato em que ganhámos 1-0 ao Porto em casa, 3-2 na Luz e 3-1 em Alvalade. Foi especial, claro. Nessa noite em Alvalade, lembro-me que estava 3-0 à meia-hora, bis do Rafael, que foi expulso deitado na maca. Depois, o Glauber também foi expulso. Acabámos com nove e o Sporting jogava com Schmeichel mais Acosta O treinador era o Manuel Fernandes. Foi uma época muito boa, acabámos em sexto, salvo erro.

Em menos de um ano, mete o Aves na 1.ª e vai ao Jamor. Pelo meio, a Tunísia.
Faço sempre um ano de contrato. Sempre foi assim. Com o Aves, não foi excepção. Fiz um ano e subi. Depois saí, mas as gentes daqui sempre me trataram bem, com elevação e acabei por voltar. A tempo de ir ao Jamor.

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