A ministra da Saúde venceu um prémio jurídico, o primeiro-ministro foi demasiado inclusivo na mensagem, Mendes Bota ficou com um prémio musical e Sebastião Bugalho com um prémio bíblico. Rodrigo Gonçalves venceu o prémio sempre em pé e Rui Rocha (não esse que está a pensar) é o protagonista do prémio wishful thinking. Aí estão as “Laranjas de Ouro”, os prémios criados pelo Observador para o 42° Congresso do PSD.

Prémio “Eu não sou jurista”: Ana Paula Martins

A ministra da Saúde já é era das governantes mais contestadas e o primeiro-ministro não parece querer facilitar-lhe a vida. Colocou-a à frente de um dos órgãos mais difíceis de gerir: o Conselho de Jurisdição Nacional. Além de exigir um trabalho intenso e permanente, o órgão (embora não seja obrigatório) costuma ficar entregue a um jurista, já que é preciso um domínio do Direito e um relativo à vontade na interpretação das leis. Ana Paula Martins podia utilizar a expressão que se popularizou no Parlamento: “Eu não sou jurista”. Passa, no entanto, a ser uma espécie de juíza, já que vai liderar o “tribunal” do PSD.

Prémio Finalmente: Luís Montenegro

transformista
trans.for.mis.ta

adjetivo de 2 géneros
referente ao transformismo

nome de 2 géneros

  1. pessoa partidária do transformismo
  2. ator que se disfarça rapidamente mudando sucessivamente de traje
  3. alguém que sente prazer em vestir roupas normalmente associadas ao outro sexo; travesti

Estas são entradas do dicionário que, claramente, Luís Montenegro ignorou. O primeiro-ministro estava a enumerar e a elogiar os antigos primeiros-ministros quando enalteceu o “transformismo de Aníbal Cavaco Silva”. Ora, o que Montenegro pretendia elogiar era a capacidade transformadora do Governo do antigo primeiro-ministro e não o que acabou por fazer. O transformismo até pode ter mais significados do que os acima enunciados (como por exemplo, espécies de animais e vegetais que se transformam em novas espécies), mas nenhum era aquele que Montenegro quis dar.

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Prémio “Quem diz a verdade, não merece castigo”: Mendes Bota

O 42.º Congresso do PSD foi, digamos, pouco interessante. Os congressistas, mais ou menos conhecidos, iam desfilando pelo palco sem grande rasgo ou brilho. O partido está coeso, a possível crise política foi ultrapassada, e não havia muito mais para dizer. Seria Mendes Mota, histórico social-democrata, a dizer a verdade: a reunião magna decorreu ao ritmo de uma “morna de São Tomé”. Não merece castigo.

Prémio “Wishful Thinking: Rui Rocha

Quando Luís Montenegro anunciou Rui Rocha como novo vice-presidente do partido instalou-se alguma confusão no Fórum Braga: estaria Montenegro a anunciar finalmente a fusão entre o PSD e a Iniciativa Liberal? Não era, naturalmente, o caso. Rui Rocha foi líder distrital do PSD/Leiria e agora chega a vice de Montenegro. A coligação entre Montenegro e Rui Rocha, essa, só chegará nas próximas eleições.

Prémio Mestre de cerimónias: Miguel Albuquerque

Miguel Albuquerque entrou como presidente da Mesa do Congresso do PSD e sai exatamente com a mesma função. O processo judicial que o envolve (e que ainda decorre na justiça) podia ter levado Luís Montenegro a afastar o presidente do Governo da Madeira, até porque quando o caso surgiu foi amplamente questionado sobre se o iria ou não. Albuquerque recandidatou-se, não teve a presença de Montenegro na campanha, e acabou com uma nova vitória. Nunca foi propriamente discreto, à entrada da reunião magna até deixou nas entrelinhas que Montenegro terá de se esforçar para agradar à Madeira e aos Açores no Orçamento do Estado, mas nada impediu o líder do PSD de lhe entregar o cargo para o qual parece destinado. É uma espécie de mestre de cerimónias, que obriga ao cumprimento de horas e não está para grandes fretes. Montenegro disse que demonstrou uma “especial vocação neste dois anos” e assim permanecerá.

Prémio Bodas de Caná: Sebastião Bugalho

Em julho, em entrevista à Vichyssoise na Rádio Observador, Sebastião Bugalho citou o episódio bíblico em que Jesus transforma a água em vinho para dizer que tinha outras prioridades antes de se tornar militante do PSD. Agora, no arranque da reunião magna, Luís Montenegro tirou do bolso dois novos militantes: Sebastião Bugalho e Ana Gabriela Cabilhas, que foi eleita deputada como independente. Sebastião Bugalho diz que aceitou o desafio por “gratidão e não por ambição”. O partido não estranhou: já tinha acompanhado Bugalho na caravana das europeias e aplaudiu o novo militante. Mas se o eurodeputado ainda não tirou senha para suceder a Montenegro, depois de ter “transformado a água em vinho”, Sebastião Bugalho já prometeu entrar na rota da carne assada, disponibilizando-se para fazer campanha junto dos autarcas do PSD.

Prémio Sempre em Pé: Rodrigo Gonçalves

Rodrigo Gonçalves vai entrando e saindo das listas para os órgãos do PSD mediante o mediatismo dos casos em que está envolvido. Foi assim com Pedro Passos Coelho, depois com Rui Rio e agora com Luís Montenegro. Quando menos se espera eis que um representante da família Gonçalves surge para lembrar que as bolsas de votos no PSD ainda valem alguma coisa. Veremos agora até quando se aguenta Rodrigo Gonçalves sem ter que pôr novamente o lugar à disposição ou ter que ser empurrado.