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Polícia fala com delegados de assembleias de voto que não receberam pagamento pelos partidos que os contrataram
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Polícia fala com delegados de assembleias de voto que não receberam pagamento pelos partidos que os contrataram

REUTERS

Polícia fala com delegados de assembleias de voto que não receberam pagamento pelos partidos que os contrataram

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Luanda, um dia depois das eleições: tumultos em alguns musseques e expectativa no bairro rico

Gás lacrimogéneo, tiros para o ar, pânico. Uns protestam porque partidos não lhes pagam. Outros porque duvidam dos resultados. A 30 minutos dos tumultos, discute-se moda. E está-se baralhado.

Primeiro um grito: “Goooooolooo”. Depois uma algazarra imparável. No dia a seguir às eleições angolanas, o MPLA e a UNITA disputam um jogo de futebol no Parque dos Heróis de 4 de Fevereiro, no Cazenga, subúrbio de Luanda.

A equipa vestida a preceito, com calções e camisola vermelhos e um grande MPLA amarelo nas costas, enfrenta a outra que nada tem que a distinga. Segundo golo marcado sem baliza, chuteiras ou ténis, e o grupo vencedor duplica, depois triplica com a assistência e juntos correm desenfreadamente a lançar a vitória da UNITA na manhã do bairro Marco Histórico.

Não são homens nem mulheres, não são jovens nem políticos. Não sabem nada de percentagens, de atas, de sondagens, não conhecem a palavra impugnar nem o que quer dizer credível. São só miúdos que enchem o campo de terra batida a poucos metros da tenda azul forte da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), já na parte empedrada. Está vazia, depois de na quarta-feira ter funcionado como a assembleia de voto número 346.

Ou melhor, acabou de ficar totalmente vazia — cinco homens estão a arrancar um papel colado com as letras azuis da CNE de umas pequenas malas pretas, com pega, para transportar documentos. Passado o primeiro embaraço quando veem o Observador, explicam que as pastas estavam por ali e que seriam úteis para guardarem coisas, por isso estavam a levá-las. “Em Angola aproveita-se tudo”, diz meio sem jeito um dos homens de meia idade.

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Um outro revela com tristeza não ter votado na véspera: é funcionário de uma empresa de recolha de lixo, e quando deixou o seu turno e chegou à mesa de voto um “pouco depois das 17h”, já não foi a tempo. “Se tivessem feito como no passado que o período era maior, podíamos votar até às 20h00, eu tinha conseguido exercer o meu direito de voto”, lamentou, criticando o reduzido período de votação destas eleições (das 7h às17h).

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E é aqui que o bando de crianças (e alguns adolescentes) reparam no microfone azul claro do Observador e não há quem os controle: “UNITA vai ganhar, UNITA vai ganhar, não queremos mais o MPLA no poder”. Nenhum tem idade para votar mas a nenhum falta a certeza de que o resultado 2-1 que há minutos alcançaram vai ser o mesmo das eleições desta quarta-feira.

Acertaram em Luanda, onde o partido do “Galo Negro”, segundo os dados provisórios da CNE, teve 62,6% contra 33,3%. Porém, não em todo o país. Com 97% dos votos já escrutinados, a CNE anunciou a vitória do MPLA com 51,7% dos votos, e uma maioria absoluta de 124 deputados na Assembleia Nacional. Além de Luanda, a UNITA vence em Cabinda e Zaire e totaliza 44,05% no cômputo geral.

Angola. MPLA perde deputados face a 2017, mas mantém maioria absoluta

Resultados que o partido de Adalberto Costa Júnior e a plataforma eleitoral que formou — a Frente Patriótica Unida — já contestaram. O centro de escrutínio paralelo que criaram, apoiados por uma empresa informática israelita, dá-lhes outros valores: o maior partido da oposição tem 46,89% dos votos, contra 47,99% do MPLA.

UNITA insiste que obteve uma “provável vitória” e diz que resultados da CNE “não correspondem à realidade”

Estes dados da UNITA baseiam-se em apenas 39,8% das atas contadas pelo que prevê vir a ter resultados mais altos. As atas das mesas de voto, onde estão os resultados ali alcançados, tornaram-se no grande cavalo de batalha deste ato eleitoral. Com o movimento “votou, sentou”, a oposição conseguiu um controlo extra ao dos delegados, já que depois do fecho das urnas as pessoas não arredaram pé e, em alguns casos protestaram veementemente, até que as atas fossem afixadas e elas viram, fotografaram e inundaram as redes sociais com as imagens.

 A rua e o hospital que têm o nome de uma empresa portuguesa: a Somague

Essa foi a luta da noite anterior, que para Costa Segunda Simões não acabou na noite anterior. Acordou nesta quinta-feira com a notícia de que o MPLA tinha vencido com mais de 60%, não acreditou e decidiu ir fiscalizar as atas.

“Não faço parte de nenhum partido, mas vi que o país precisa muito, então estou a passar em todas as escolas onde há mesas de assembleia e estou a ver onde colaram as atas”, explica ao Observador, à porta do Parque Heróis do 4 de Fevereiro. “Estou a notar que não estão afixadas todas as atas. Há assembleias onde há duas mesas, estão a colar uma e as outras atas estão a desaparecer, como aqui, está a da mesa nº. 346, para onde foi a da 345? Para onde é que levaram as atas? Onde é que estão?”, interroga-se, receando que estejam a ser retiradas “para esconder a derrota”.

O mesmo cepticismo habita em João Sandro, de 24 anos, que está à porta do hospital municipal de Cazenga mas que os habitantes chamam o “hospital da Somague”, porque foi construído pela empresa portuguesa. Aliás, a estrada aberta para dar acesso à infraestrutura acabou por também se chamar Somague.

Até aqui se chegar, os olhos cansam-se de tanta miséria, enquanto os solavancos do carro numa via em terríveis condições, fazem oscilar as imagens das casas de adobe e zinco, as crianças descalças junto ao lixo e às águas sujas. “O MPLA não fez nada. Está à frente da UNITA, por batota”, acredita João Sandro, mas não quer deixar que isso lhe estrague o gosto da vitória em Luanda.

"Se é UNITA se é MPLA, isso não interessa. O importante é melhorar as coisas, temos de viver com uns e outros, vamos fazer mais o quê, se a vida é assim? É aceitar e pronto".
Angolana à porta do "hospital da Somague"

“Sinto-me feliz porque a UNITA ganhou”, diz, com o mesmo sorriso que Ariete dos Santos, do outro lado da rua, junto à farmácia, mostra. “Por mim, eu estou contente, muito, muitíssimo”, sublinha a jovem de 30 anos. Ao lado, uma senhora com umas longas tranças louras frita uns pastéis de peixe numa frigideira que já foi de alumínio e agora está negra de tanto histórico de gordura. Esquece o óleo assim que vê o microfone do Observador e foge para dentro de um corredor, entre risos: “Não gosto muito de falar de política”. Abaixo do bidão onde o óleo borbulha, o filho de três anos esquece as maçarocas no fogareiro e fixa os olhos na bacia verde que Natália Pedro leva na cabeça. Está cheiínha de pacotes de bolacha.

“A UNITA matou muita gente, eles mataram os meus avós, não gosto mesmo”

Num equilíbrio perfeito, apesar de mais fácil do que o de outra zungueira que desce a rua com pilhas de paletes de ovos na cabeça, Natália é uma das pessoas que queria que Cazenga, com dois milhões de habitantes e atualmente considerado o mais perigoso município da zona de Luanda, se mantivesse o bastião tradicional do MPLA.

A vendedora ambulante não está nada contente com os resultados. “Preferia que fosse o MPLA a ganhar. A UNITA teve muita guerra, eles mataram muita gente, muitas tribulações, mataram meus avós, por isso eu não gosto, não quero mesmo que a UNITA ganhe, não”, frisa. “Não mesmo”, repete antes de se afastar nas suas calças azul forte, de braço dado com uma lata cor-de-rosa de tinta vazia.

“Se é UNITA se é MPLA, isso não interessa” irrita-se uma mulher mais velha que mostra o dedo pintado com tinta indelével, prova de que votou, mas não revela o nome. “O importante é melhorar as coisas, temos de viver com uns e outros, vamos fazer mais o quê, se a vida é assim? É aceitar e pronto”.

Tumultos nos mercados e protestos de delegados a quem os partidos não pagaram

Não pensam como esta “mamã” (forma como o povo angolano trata as mulheres mais velhas) os quatro homens armados dentro de duas carrinhas Nissan que lançaram o pânico no Mercado dos Congoleses, no bairro do Rangel, dentro de Luanda. “Estavam a protestar por causa dos resultados das eleições, não sei se favor ou contra a UNITA”, conta ao Observador uma das testemunhas do que se passou.

“Entraram aqui na rua aos tiros para o ar e as pessoas todas do mercado fugiram por todo o lado e as das ruas próximas também”. A polícia chegou meia hora depois, ao mesmo tempo que o Observador, com oito carros cheios de agentes armados, e um com cães. Ficaram alguns minutos no meio da rua literalmente atapetada de lixo do mercado, e depois retiraram-se.

Angolanos observam atas com os resultados eleitorais afixadas junto às assembleias de voto onde decorreram as votações para as eleições gerais de Angola 2022, no município de Viana, Luanda, Angola, 25 de agosto de 2022. As eleições gerais angolanas, quinto escrutínio da história política do país, contaram com candidaturas de oito formações políticas e elegem o Presidente e vice-Presidente da República de Angola. (ACOMPANHA TEXTO). PAULO NOVAIS/LUSA

Este não é o único mercado a registar tumultos em Luanda e nas zonas periféricas. Raquel tinha ido tratar do cabelo ao mercado de São Paulo, no Sambizanga, quando teve de correr e refugiar-se numa casa, conta, ainda assustada, por telemóvel, ao Observador. Não sabe o que se passou, viu toda a gente a fugir, e ela correu também e escondeu-se. Uma moradora num dos prédios em frente adianta que atiraram pedras a carros que iam a passar.

No maior mercado da província de Luanda, o 30, em Viana, três dezenas de agentes da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) angolana tiveram de intervir. “Os da UNITA vieram cá armar confusão e tivemos de chamar a polícia”, disse o administrador, António Domingos, à Lusa.

Segundo a agência de notícias, a PIR afastou centenas de pessoas que estavam do outro lado da rua recorrendo a gritos e ordens para recuar, batendo com os bastões em objetos de chapa no caminho e intimidou quem estava nas casas a ficar no interior.

Também os mercados do Kicolo, e o de Hoji Ya Henda, no Cacuaco, fecharam mais cedo depois de ter havido distúrbios e a polícia ter disparado para o ar para dispersar, bem como nos bairros de Sequele, Estalagem, Malueca e Samba disseram residentes ao Observador.

"Tenham juízo na cabeça, se voltarem não será com porrete mas ao soco"
Polícia no portão do APN para grupo de 5 delegados a reclamar o dinheiro do partido

Mas o pior deu-se mesmo dentro de Luanda e não teve a ver com os resultados das eleições, mas sim com os delegados contratados pelos partidos para os representarem nas mesas.

Em Kinaxixi, centenas de delegados zangaram-se em frente à sede da Aliança Patriótica Nacional (APN), atiraram pedras e vandalizaram carros até a polícia chegar e os dispersar com gás lacrimogéneo.

António Manuel é um destes delegados do APN. Ainda está por ali, com o seu capacete na mão, já depois de tudo ter acalmado — apenas um grupo de polícias permanece no portão que dá acesso ao prédio. Aceitou o trabalho sem saber quanto ia ganhar, neste espírito cívico de ajudar, não teve qualquer ajuda para comida ou transportes e apesar de lhes ter sido prometido o pagamento no próprio dia das eleições ou, o mais tardar, no seguinte, isso não aconteceu. Por isso, não entregaram as atas das mesas em que trabalharam.

Condutor de “moto-táxi”, António Manuel revela ainda que, para além de trabalharem nas mesas, lhes terá sido exigido que votassem no partido de Quintino Moreira: “Toda a gente que estava aqui, 99%, votou na APN, com essa condição”. O Observador sobe ao segundo andar do prédio do tempo colonial que está a precisar de algumas obras, mas ninguém do partido está disponível para responder a questões. Quando desce, um grupo de cinco delegados está junto ao portão e ouve um dos polícias dizer-lhes calmamente para levarem as atas no sábado ao presidente do partido, a Viana, para lhes ser pago o devido. Dois minutos depois, o mesmo agente está a tentar dissuadi-los de voltarem e grita-lhes: “Tenham juízo na cabeça, se voltarem não será com porrete mas ao soco”.

Chegaram a circular nas redes sociais vídeos que mostravam um morto no chão mas a polícia garantiu a Observador que não houve mortos nem feridos mas não adiantou o número de detidos.

“Se persistirem nessa atitude cair-lhes-á a mão pesada da PN”

Houve mais protestos de delegados à porta de outros partidos, como o Partido Humanista junto ao mercado dos Congoleses — apesar de logo de manhã, quando o Observador se dirigiu ao PH, não haver qualquer confusão. Mais tarde, no bairro Nelito Soares, junto ao mercados dos Congoleses, o partido de Florbela Malaquias já tinha dois polícias à porta enquanto os jovens aguardavam pelo pagamento.

Também o PRS (Partido de Renovação Social) e a FNLA estão a ser acusados de não pagarem. Junto ao Bairro Popular, a histórica Frente Nacional para a Libertação de Angola ouviu dezenas de pessoas a reclamarem o pagamento devido com forte proteção policial.

Questionada pela Lusa sobre qual o valor que tinha sido prometido aos delegados, uma jovem do partido disse apenas: “Estamos a conversar”.

Delegados dos partidos políticos exigem o pagamento da participação na campanha e no dia das eleições, Luanda, 25 de agosto de 2022. As eleições gerais angolanas, quinto escrutínio da história política do país, contaram com candidaturas de oito formações políticas e elegem o Presidente e vice-Presidente da República de Angola.  AMPE ROGÉRIO/LUSA

AMPE ROGÉRIO/LUSA

Os delegados queixam-se de nada terem recebido depois de um dia de trabalho que em alguns casos começou às cinco e seis da manhã e acabou às dez da noite. A Lusa relata que algumas pessoas, por não terem transporte, pernoitaram perto dos locais de voto, uns para chegarem cedo, outros como Jardel Ndunguidi, que esteve em Talatona, por não terem táxi para voltarem a casa.

Daniel António Afonso, coordenador da comissão eleitoral da FNLA, reconheceu a importância do “trabalho patriótico e cívico” dos delegados de lista, mas remeteu a responsabilidade para o governo. Argumentou, em declarações à Lusa, que em eleições anteriores a responsabilidade pelo pagamento foi sempre assumida pelo Estado.

O mesmo já tinha feito Moisés Sandoco, do PRS, que disse ainda que só estão a fazer o pagamento de 1.500 kwanzas, pois anteriormente era o governo, através da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), a cobrir esta despesa, o que não aconteceu nesta eleição.

A "tensão não se resolve com a força nem apontando o dedo ao outro"
Gestor empresarial, militante do MPLA

Daniel Afonso reconheceu que o partido não tem fundos para pagar aos 52.000 delegados que inscreveu, entre efetivos e suplentes. “Estamos à espera que o governo se pronuncie. Temos uma recompensa mínima que é insuficiente, mas vamos dar 15.000 kwanzas (35 euros), pensamos que não vai ficar ninguém sem receber”, garantiu o responsável à Lusa. O Observador sabe que o MPLA já pagou aos seus delegados, 30 mil kwanzas.

A Polícia Nacional de Angola acabou por fazer um apelo os partidos para que “sejam responsáveis” e regularizem essas situações, ao mesmo tempo que o comissário deixava um aviso aos desordeiros: “Se persistirem nessa atitude cair-lhes-á a mão pesada da Polícia Nacional”.

A paz de Talatona “o bairro dos ricos de Luanda e dos expatriados”

Deixam-se os musseques das periferias e de Luanda, abandona-se Kinaxixi, no centro da capital,  com os seus degradados prédios do tempo dos portugueses e depois de fazer a avenida Samba, com o mar ao lado, entra-se num outro mundo.

As estradas são perfeitas, os passeios limpíssimos, há placas a indicar direções, jardins, prédios modernos, ruas e ruas de condomínios privados com altos muros e arame eletrificado, shoppings com ar condicionado, sedes de empresas, bancos, lojas e…. sossego.

O trânsito é quase inexistente e mesmo assim há uma mota policial a abrir caminho para o carro de um deputado que não pode perder tempo. Não há zungueiras, não há candongueiros, não há pessoas no meio da estrada a vender gravatas, vassouras, cartões para telemóvel ou pastas dos dentes, não há pilhas de fruta coloridas nem mandioca à venda. Na verdade, não se vê quase ninguém na rua. Não há ruído.

“Talatona é o bairro dos ricos de Luanda e dos expatriados” conta ao Observador um morador que prefere manter-se no anonimato. Tal como duas senhoras vestidas com dois dos últimos modelos da Zara, em sandálias altas e douradas, que não falam “de política”. Nem do bairro. Nem do futuro de Angola. “Preferimos não falar dessas coisas, não queremos confusão”, explicam com um sorriso educado. Entram tranquilamente no Mazuika Office Plaza, sentam-se no Matabicho, com vista para uma empresa de diamantes, a Cotoca, e uma delas ainda acrescenta: “Falar de eleições? Não, preferimos discutir moda”.

Construído por brasileiros, este município na periferia de Luanda, “é um dormitório fino”, explica um empresário. “Aqui não há tumultos ou distúrbios por causa das eleições”, garante enquanto passamos pela loja da Emirates. Talatona foi pensada “para descentralizar os serviços estatais”, mas isso acabou por não acontecer, “basicamente só existe o CIAC, uma espécie de loja do cidadão”.

Não há gritos pela UNITA, nem vendedoras a defender o MPLA, nem pedras contra os carros, nem tiros para o ar, mas o tema das conversas neste Mazuika Office Plaza são as eleições.

“Isto não é protesto, é arruaça”

“Estamos muito baralhados”, diz ao Observador um gestor empresarial de fato e gravata sofisticados e militante do MPLA. “Deitei-me ontem [quarta-feira] depois de ver dezenas de atas de mesas de assembleia divulgadas pela UNITA, a pensar que a coisa estava renhida”, conta.

“Quando acordei tinha um claro líder, o MPLA e com um gap grande para o adversário 60% um, 30 e tal% outro. Bom vai-se à procura do detalhe dos números, do critério, não há”, critica. “Uma das partes disse estão aqui as atas e não digo que ganhei, a outra diz quem ganhou foi B e não apresenta dados. Estamos baralhados. Depois, o que liderava perdeu 10% e o que perdia subiu 10%. Nunca vi nenhum processo eleitoral, nenhum em que isto aconteceu. Vamos ao site da CNE carregamos nos resultados e nada, a informação não foi granular, não houve detalhe”.

Elementos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) angolana foram hoje chamados ao mercado dos 30, o maior mercado de Luanda, para dispersar multidões, alegadamente instigadas por elementos do maior partido da oposição, um dia depois das eleições gerais de Angola 2022, no município de Viana, Luanda, Angola, 25 de agosto de 2022. As eleições gerais angolanas, quinto escrutínio da história política do país, contaram com candidaturas de oito formações políticas e elegem o Presidente e vice-Presidente da República de Angola. (ACOMPANHA TEXTO) PAULO NOVAIS/LUSA

PAULO NOVAIS/LUSA

O gestor critica claramente a divulgação de uma sondagem pela Televisão Pública Angolana a meio do ato da votação, feita por uma empresa espanhola, sem revelar como foi feita e em que “CNE viola as próprias regras estabelecidas, estavam proibidas as sondagens”. Ou seja, acrescenta “a audiência foi engravidada” pela TPA com a conivência da CNE. Aliás, diz, “os primeiros números da CNE são muito iguais aos da projeção da TPA”.

Considera que o tempo que a UNITA demorou a avançar com resultados foi bom, “para falar com mais propriedade” e os “ânimos estarem mais serenos”, considera. “Já viu um balão vazio rebentar?”

Sustenta que “o momento atual é de expectativa”. Vai tudo depender muito da posição da UNITA e em dois momentos. “No primeiro tem três hipóteses: ou vai dizer que está tudo bem, ou que não está tudo bem mas não conseguem apresentar provas sistematizadas e organizadas, ou então não está tudo bem e estão aqui as provas”. Depois é preciso ver que decisão Adalberto Costa Júnior vai tomar. “Vai sair à rua ou não?”, pergunta. O que se passou nesta quinta-feira em Luanda não “foram protestos, foram arruaças e o mais grave nem teve a ver com resultados eleitorais”.

“A UNITA se quiser põe o país de patas para o ar”

Com o dedo indicador pintado da votação de quarta-feira, o militante do MPLA avisa que o “país está a passar por uma crise e todos estamos a precisar de dar um passo em frente, a insistência em manter práticas que não estão de acordo com as perspetivas dos angolanos não é um caminho para a prosperidade”.

A “tensão não se resolve com a força”, salienta, “nem apontando o dedo ao outro”. No entanto, este é um momento muito interessante, no meio do caos, é muito positivo, mostra uma nação mais madura, que sabe o que quer e que se controla melhor. Há uns tempos já estaríamos todos aos tiros há muito tempo”.

Mas atenção, pede: “Estamos num processo muito delicado, uma linha muito fina que esticada pode rebentar. A UNITA se quiser põe o país de patas para o ar”. Para este gestor, o argumento de a oposição não ter armas não colhe. “É mais fácil lutar comigo sem armas do que com armas. Porque se matar o primeiro qual a justificação para matar o segundo? Por se sentir ameaçado? Isso não dá direito à morte no século XXI. Este é um tempo de expectativa”.

Há seis horas, no Parque Heróis do 4 de fevereiro, Casimiro Júnior, um dos miúdos que estava no grupo que gritava “UNITA, UNITA, UNITA” correra atrás do microfone do Observador. “Tia, quero dizer uma coisa.” Gravador ligado e chega o anúncio: “Eu estou a estudar porque quero ser o futuro Presidente de Angola”.

— Para quê?
—”Para trazer paz e segurança no [sic] país”.
— Mas o teu país não está em guerra…
— “Quero que o país se desenvolva”
— Quantos anos tens?
— “14, estou no 8º ano.”
— Então, já que queres ser Presidente de Angola, diz-me, o que vai acontecer agora, depois das eleições?
— “Vamos esperar”.

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