O Presidente da República acredita que o Orçamento do Estado para o próximo ano vai ser viabilizado, embora mantenha como plano B a convocação de novas eleições. A leitura de Marcelo Rebelo de Sousa, explicou ao Observador fonte de Belém, é a de que a viabilização Orçamento é uma “situação win-win” para os líderes de PSD e PS porque Montenegro “continua a governar” e Pedro Nuno Santos “aguenta-se porque ganhou as europeias e vai ganhar as locais [autárquicas], apesar de o PSD se poder vir a aproximar”.
Marcelo Rebelo de Sousa, sabe o Observador, considera que governar em duodécimos “é teoricamente possível, como disse o Presidente Cavaco Silva numa entrevista [ao Observador] , mas “realisticamente, olhando para a realidade que existe”, não é exequível. O Presidente, segundo a mesma fonte de Belém, tem a convicção que “o Governo não aceitaria governar em duodécimos, porque empata a governação e sem orçamento não ficava a governar numa corda, mas num fio de nylon.”
Outra das preocupações de Marcelo Rebelo de Sousa, sabe o Observador, é que a não aprovação do Orçamento poderia “empurrar um anti-sistémico para Belém”. “Sem Orçamento do Estado, um candidato que diz ser fora do sistema ganharia com isso. O candidato do Chega [André Ventura] não tem força para ganhar, mas há outro que tem e que pode ir buscar votos ao Chega, ser mais abrangente e ganhar”, diz fonte de Belém, numa alusão ao almirante Henrique Gouveia e Melo.
O chefe de Estado, continua a mesma fonte, acredita que os partidos não vão arriscar ter um Presidente da República vindo de fora do sistema, preferindo que a escolha “se mantenha entre dois que já se percebeu que vão ser [candidatos]: Mário Centeno e Marques Mendes”. “Se não viabilizarem o Orçamento, eles [PS e PSD] correm riscos, porque nem um nem outro estão muito fortes e ainda podem criar uma situação que favorece a eleição desse candidato [Henrique Gouveia e Melo]”, acrescenta.
PSD não quer duodécimos (nem eleições)
O líder parlamentar do PSD, em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, sugeriu esta quinta-feira que governar em duodécimos seria prejudicial para o país: “Eu não sou ministro das Finanças, teria de ter uma conversa com o ministro das Finanças sobre essa matéria, mas ouvi Fernando Medina — e ele foi ministro das Finanças — dizer que seria uma má opção para o país governar em duodécimos.” A posição de Hugo Soares vai ao encontro daquela que é a leitura de Belém: de que dificilmente Montenegro aceitaria estar a ser queimado em lume brando numa governação em duodécimos.
O próprio Hugo Soares já disse que o primeiro-ministro deverá dizer publicamente, antes da aprovação do Orçamento, o que fará caso o documento não seja aprovado. Será provavelmente nessa altura que Luís Montenegro dirá que não aceita governar em duodécimos. Mas, mesmo aí, terá cautela com as palavras: nunca se irá demitir nem dar a ideia que está a fugir (ou de ser ele a provocar a saída). Esse ónus será, depois, de Marcelo (ou desejavelmente para os sociais-democratas, deve ficar do lado de quem não viabilizar o Orçamento). Antes do verão ainda havia uma parte do Governo que acreditava que a solução de duodécimos seria possível, mas a hipótese (que já não era popular no topo do PSD) foi descartada pelo evoluir do contexto político.
Um alto dirigente do PSD garante ao Observador que o partido “não quer mesmo” eleições antecipadas até porque tem a convicção de que se iria desgastar com uma campanha eleitoral e que “provavelmente iria reforçar a votação, mas não chegar a uma maioria”. Hugo Soares segue a mesma linha e, em entrevista ao Observador, rejeita haver um desejo no PSD e no Governo de eleições antecipadas: “O que eu quero é que o OE seja aprovado. E, do meu lado, vou fazer tudo para que Portugal tenha um Orçamento para o ano de 2025.”